07
O primeiro sonho
Adormecer
O céu estava estrelado e as poucas nuvens marrons o decoravam com figuras indefinidas. Uma luz azul intermitente piscava de forma inconveniente e no fundo um constante zumbido acompanhado de estalos aumentavam a consciência de Alixandra. Era uma paisagem devastada e desolada, estava quente e abafado, ao mesmo tempo em que um vento frio a atingia. Estava em uma mesa cirúrgica, cheia de aparatos tecnológicos em volta. Pareciam ser muito avançados mesmo assim tinham um aspecto velho com marcas de idade e ferrugem. Ela vestia um uniforme fino e colante cheio de rasgos.
Em volta havia seis pessoas, duas delas muito familiares Cassandra e Medhal. Quando percebeu melhor Medhal usava um tapa olho e não tinha a mão direita, havia um tridente no lugar e Cassandra parecia um pouco mais velha. Uma das pessoas não era uma pessoa de verdade, sua aparência era cadavérica e usava um manto tentando esconder seu rosto, não possuía pés, o manto flutuava no ar.
Sentado no chão um homem grande e musculoso com uma barba branca monitorava as máquinas com atenção. Um homem de cabelos brancos e cicatriz no rosto usando um velho e remendado uniforme dos arcanos se destacava vigiando ao redor muito preocupado. Uma mulher de cabelos brancos, olhos leitosos e pele escura com uma aparência muito preocupada se aproximou dela.
- Você esta bem? – Perguntou a mulher.
- Meu corpo todo esta dormente. – Respondeu. – A onde estou?
- Pergunte a ela! – Disse o homem de cabelos brancos impacientemente.
- Você reconhece algum de nós?
- O senhor Medhal, mas... Acho que é... Cassandra?
- Ela se lembrou de mim. – Cassandra se aproximou e lhe deu um longo abraço bem apertado. Alixandra pode ver claramente que ela aparentava ter em volta de vinte anos.
- Ainda não temos certeza que é ela. – Comentou a mulher de cabelos brancos.
- Já funcionou uma vez. – Disse o homem de barba.
- Ela te chamou de Medhal. – Disse Cassandra. - Há quantos anos ninguém te chama de Medhal?
- É ela mesma. – Confirmou Medhal.
- Lumina tem razão. – Disse o sujeito de uniforme. – Pode ser apenas uma regressão.
- Já falamos nisso antes. – Reclamou o homem de barba com uma voz cavernosa. – Eu gostaria que parassem de questionar a funcionalidade do meu plano.
- É! – Disse o homem de cabelos brancos. - mas você mesmo disse que foi diferente.
- Vocês não estavam lá! – Reclamou Cassandra abraçando Alixandra. – Só eu e Nicole nos lembramos, nenhum de vocês sabe o que aconteceu.
- Parem! Gritou a mulher de cabelos brancos e olhos leitosos. – Não é a hora nem o lugar pra isso.
- Nicole? – Procurou Alixandra. – Aonde esta a Nicole?
- Aqui criança. – Respondeu a figura cadavérica com uma voz tenebrosa que fez todo o corpo de Alixandra se arrepiar.
- Nicole? – Alixandra tentou identificar a amiga na criatura. – O que aconteceu com você?
- O mesmo que aconteceu com este mundo. – Respondeu.
- Este mundo? – Alixandra olhou em volta e começou a reconhecer os escombros, o formato das montanhas era inegável. – Sephirot? Estamos na ilha das maças?
- Vocês estão assustando ela. – Disse Cassandra. - Acalme-se vai ficar tudo bem.
- Eles não entendem. – Disse Nicole. – Eles não a vêem como nós. Esqueceram de ver as coisas com seus corações e se tornaram sombrios e sem esperanças.
Ela se aproximou de Alixandra e esticou a mão cadavérica com um pedaço de espelho sujo. Alixandra se esforçou para reconhecer Nicole naquele rosto cinza e ressecado que se escondia sob o manto. Alixandra olhou para o espelho e tomou um choque, seu reflexo estava velho e machucado, seu rosto estava coberto de manchas e cicatrizes.
- O que é isso? – Alixandra verificou suas mãos e seu rosto. Estavam jovens e normais. – Que tipo de feitiçaria é essa?
- É assim que eles a vêem. – Disse Nicole com sua voz horrível. - Todos esses anos sem usar magia os enfraqueceram e agora são dominados pelas ilusões das aparências. Se voltarem a olhar com seus corações... Virão como realmente é.
Os quatro olharam para ela como se procurassem alguma coisa. Aos poucos seus rostos começaram a mudar como se finalmente a reconhecessem. A mulher de cabelos brancos começou a chorar e o homem de cabelos brancos não parecia acreditar no que via.
- O que esta acontecendo? – perguntou Alixandra.
- Nós estamos no futuro. – respondeu Cassandra com uma pausa dramática.
- Isso eu pude perceber. – Alixandra. – mas o que aconteceu aqui? Como eu cheguei aqui?
- Nós a trouxemos aqui. – Disse o homem de barba com um sorriso.
- Isso eu também já imaginava, mas... Por que?
- Você não deve estar nos reconhecendo. mas apesar de estarmos velhos, ainda somos nós. – Disse a mulher de cabelos brancos e os apresentou
- Marco Antonio. – Medhal envelhecido.
- Janus. - O homem de cabelo.
- Edson. - O homem de barba branca sentado e mexendo nas máquinas.
- Nicole. - O espectro sombrio.
- Cassandra. - A mulher sorridente.
- Lumina. – A mulher de cabelos brancos e olhos leitosos. – Somos nós.
- Os Arcanoides.
- Quem?
Houve um silencio mortal.
- Você se lembra da ultima coisa que aconteceu? – Perguntou A mulher de cabelos brancos.
- Eu me lembro de acordar no trem e conhecer o senhor Medhal depois chegamos no castelo, Nicole me levou pro clube de estética, demos uma volta no castelo, arrumamos nossas coisas, depois preenchi o questionário pro professor Kazam, conversamos um pouco e fomos dormir... – Ela pensou mais um pouco.
- Espera ai! – Gritou o homem de cabelos brancos. – Ela nem conheceu a gente ainda?
- Tem alguma coisa errada! – Alertou Edson. – O mostrador indica que seu corpo original esta sofrendo de muito estresse. Só temos mais alguns minutos.
- Como assim? – Reclamou Janus. – Você mesmo disse que o corpo dela aos quatorze anos era jovem e saudável o suficiente pra agüentar isso durante dias.
- Saudável? – Disse Medhal. – Vocês estão brincando não é mesmo?
- Do que esta falando? – Perguntou Lumina.
- Eu acabei de sair do hospital. – Disse Alixandra.
- Ela quase morreu há muito pouco tempo. – Disse Medhal. – Ficou em coma por cinco dias. Ainda esta convalescença.
- O que? – Disse Lumina revoltada. – Não podia ter esperado mais alguns dias?
- A data foi definida pelos eventos importantes que aconteceram. – Reclamou Edson. – Não temos o luxo de nos preocupar com esses mínimos detalhes.
- Mínimos detalhes? – Reclamou Cassandra.
O homem de cabelos brancos correu para Alixandra e segurou firme em seus ombros.
- Preste atenção. Estamos no que seria o ano de 276 da era de Windsor se Avalon não tivesse caído. 30 anos depois do seu tempo. Entendeu?
- Sim! – Alixandra prestou o Maximo de atenção possível.
- Analisamos todos os eventos e tudo culminou em um único momento da historia. Edson teve essa idéia maluca de que podia mandar você de volta no tempo e mudar a historia. Durante quinze anos ele criou uma tecnologia para fazer isso. Dietrich matou Rembrandt que possuía um vinculo de vida com o professor Kazam, isso iniciou uma reação em cadeia que deixou o mundo esta bagunça, Avalon caiu, o castelo de Sephirot foi destruído e nós bruxos somos caçados e queimados em fogueiras.
- Dietrich matou Rembrandt? – Alixandra achou aquele nome familiar.
- Você ainda não o conheceu. – Disse Janus.
- Conheceu sim! – Corrigiu Medhal. – Foi ele quem pediu que eu a levasse para Sephirot.
- Você se lembra? – Disse Nicole por baixo de seu manto. – No dia em que nos conhecemos você disse que não gostava do selo em seu braço, pois parecia uma tatuagem. Eu comentei que conhecia uma pessoa com tantos selos que parecia que tinha o corpo todo tatuado. Então você se lembrou de Rembrandt.
- Sim! – Alixandra se lembrou de Rembrandt, mas tinha quase certeza que Nicole nunca tinha dito isso quando se conheceram.
- A primeira tentativa foi quase um sucesso, infelizmente mudou o presente e metade do trabalho dele nunca foi concluída e nos últimos cinco anos tivemos que improvisar isso que você esta vendo. – Explicou Cassandra. – Porque eu e Nicole existimos em duas realidades diferentes nos lembramos de como era o mundo antes da mudança no tempo.
- O que? Mas... – Alixandra levou um tempo pra digerir a informação. – Estão me dizendo que isso já aconteceu? Vocês já me trouxeram pro futuro antes?
- Não! – Esclareceu Cassandra. – Da primeira vez foi você que mandou a sua consciência para o passado. Infelizmente ainda havia alguns erros e não foi possível sobrepujar a sua consciência. Como era possível controlar uma parte do seu corpo individualmente você criou uma forte manifestação: Mera; quando Dietrich estava na sua cidade assim atraiu os Arcanos. Graças aos procedimentos da época não estariam preparados para enfrentá-la e poderia facilmente liquidá-los com uma Merazoma. Infelizmente descobriram Belle e ela fez aquela confusão antes que você pudesse matar Dietrich.
- Matar Dietrich? O filho do diretor? mas por que? Eu nunca mataria ninguém. – Por alguns instantes ela começou a se lembrar de tudo o que aconteceu. Todas as peças do quebra cabeça se encaixaram. Ela jogou Cassandra e explodiu em fúria.
- Vocês! Tudo isso é culpa de vocês! Vocês destruíram a vida de Belle. Por culpa de vocês pessoas poderiam ter morrido. Vocês destruíram a minha vida.
- Quando você voltou no tempo eu servi de ancora para sua consciência. – Cassandra falou em um tom serio e assustador. – Você ia se matar foi por isso que eu permiti que enviassem toda aquela força que poderia destruir o seu corpo. Você estava com a mão mergulhada na banheira, morrendo quando eu dei a ordem.
- Eu só fiz aquilo por culpa de vocês. Se não tivessem feito aquilo na minha mão eu ainda estaria bem, estaria com a minha mãe.
- Calma. – Gritou Edson. – Se continuar com isso você vai voltar antes da hora.
- Não se iluda criança. – A voz sombria de Nicole paralisou o corpo de Alixandra. –Sua mãe morreu prematuramente de uma doença boba que há muito já havia cura por conseqüência da guerra. Você se prostituiu e se entregou ao vicio e exploradores para negar a sua dura realidade. Quando a encontramos em sua outra vida não passava de um farrapo do que um dia foi parecido com um ser humano. Por vontade própria você decidiu se sacrificar antes de sua mãe.
- Isso é verdade. – Concordou Cassandra. – Graças a isso você foi a Sephirot e nos tornamos amigas.
- mas eu fui mandada para Holloway não deveria ir para Sephirot. – Alixandra falou com Medhal. – Por isso que o senhor me mandou pra lá.
- Não! – Respondeu Medhal. – Graças a Rembrandt eu te levei a Sephirot. O objetivo era matar Dietrich. Se Rembrandt não o tivesse salvado você estaria em Holloway e Rembrandt estaria vivo.
- Escute! – Explicou Janus olhando preocupado para as máquinas. – Quando você voltar Dietrich vai arrumar uma briga com Rembrandt e vai ficar a beira da morte. Neste momento você tem que matá-lo. Encoste a marca da sua mão no corpo dele e espere-o morrer.
- Eu não posso simplesmente matar uma pessoa assim a sangue frio.
- Naquele mundo a maior de todas as bruxas só descobriu suas habilidades quando era tarde demais para aproveitá-las.– Esclareceu Nicole. – Você mesma escolheu voltar no tempo e matar Dietrich.
- Mesmo assim não foi uma decisão minha. O tempo mudou e eu me tornei outra pessoa. – Alixandra abaixou a cabeça compreendendo tudo. Eu sei o que estão tentando fazer. Eu nunca mataria um ser humano. Eu sei que me sacrificaria, mas não entendo o que pode ter acontecido para que ela... Ela esta lá não é mesmo?
Os rostos começaram a ficar preocupados.
- Garota esperta. – Medhal deu um sorriso malicioso.
- Por isso que ele falou sobre continuar durante dias. Vocês não conseguiram me controlar daquela vez por isso me trouxeram aqui. Não queriam me convencer a matar Dietrich. Enquanto eu estou aqui ela esta lá para matar Dietrich.
- Ela esta voltando. – Gritou Edson. – Não vai dar pra evitar!
- Alix! – Gritou Cassandra desesperada. – Ele tem que morrer. O mundo todo depende disso. Durante a corrida Dietrich vai matar Rembrandt. Você tem que impedir.
Foi um sonho bem estranho.
06:30H.
Torre leste de Netzah. Quarto andar dos dormitórios.
Belle acordou com Nicole a apertando em sua cama.
- O que esta acontecendo? – Perguntou Belle incomodada. – Porque esta dormindo na minha cama?
- Eu tomei muito suco de melancia ontem à noite e não queria fazer xixi na minha cama.
- O que? Ainda tinha outra cama vazia ali.
- Hummmm... Acho que eu vou fazer agora! – Nicole abraçou Belle bem forte.
- Saia de perto de mim! Saia de perto de mim!
- Não acredite nela. – Alertou Cassandra. – Esta só provocando você.
- Por que dormiu aqui então? – Reclamou Belle.
- Por que você é muito fofa! – Nicole agarrou os peitos de Belle e apertou.
Aparentemente Belle havia voltado à vida. Nicole era a pessoa mais alegre e que já tinha visto em toda a vida. Aquele fantasma sombrio naquele sonho esquisito não tinha nada a ver com a realidade.
- Nicole! – Chamou a atenção. – Por acaso vai haver alguma corrida no castelo?
- Claro. – Respondeu Nicole. – Uma porção no festival do equinócio de outono. Eu te contei sobre ele ontem.
- E existe alguma possibilidade de alguém se machucar ou morrer?
- Com certeza! Tem gente que morre escorregando no chão do banheiro.
- Quer me largar? – Reclamou Belle.
As garotas começaram a se vestir. Tinham feito uma bela bagunça na noite anterior e não conseguiam mais achar as suas roupas.
- Alguém viu as minhas luvas? – Perguntou Alixandra.
- Há é! – Comentou Nicole. - Você não gosta de mostrar o seu selo pra todo mundo.
- Não quer que saibam que você não controla a sua mágica? – Perguntou Cassandra.
- Não! É que parece uma tatuagem. Eu não gosto de tatuagens.
- Eu não me importaria em ter uma tatuagem. – Respondeu Cassandra.
- Eu sempre achei que você era do tipo que usasse tatuagem. – Comentou Belle. – Eu sei que a sua mãe usa.
- Nada contra. mas eu não gosto da idéia de ter alguma coisa que vai ficar no meu corpo pra sempre.
- mas isso não é um selo de magia? Quem colocou pode tirar.
- Mesmo assim. Eu não sei! Eu só não gosto.
- Eu conheço um sujeito que tem tantos selos no corpo que parece que tem o corpo todo tatuado. – Falou Cassandra.
- Rembrandt! – Alixandra se lembrou do sonho.
- Você o conhece? – Perguntou Nicole.
- Mais ou menos...
- Algum problema?
- Não! Só um déjà vu.
- O que acontece agora? – Perguntou Belle se vestindo com uma terrível falta de entusiasmo.
- Vamos tomar café da manhã. Depois vamos pra aula.
Alixandra pegou o cartão que o professor Kazam lhe deu.
- Nós ainda temos que fazer mais alguns testes físicos hoje. Espero não ter que tirar a roupa de novo.
Belle parecia incapaz de se vestir. Agora seu olhar passara de vazio para melancólico e de vez em quando dizia alguma coisa, era um grande avanço.
Alixandra acostumada a se vestir rápido e acordar cedo estava pronta antes de todo mundo. Nicole avisou que havia um congestionamento das salas moveis no horário do almoço e muitas paravam longe do refeitório por isso deviam pegar uma sala bem cedo.
A porta da sala móvel se abriu, revelando novamente a sala Tulipa.
- Srta. Alix como fico feliz em vela. Eu pensei que a perderia para aquele desagradável da sala dos kiwis, todo aquele verde enjoado deixa ele sempre resmungão.
- Como assim me perderia? – Perguntou Alixandra.
- Quando a garça do corredor viu que você estava vindo, avisou para a armadura falasse às aldravas que me avisassem que você estava vindo. Quando soube que kiwi estava por perto...
- Você esta me espionando pelos enfeites das portas?
- Absolutamente! Estou aperfeiçoando a minha habilidade em servi-la melhor.
- Que meigo.
- Aonde esta a sua graciosa irmã?
- Esta falando da Belle? Ela não é...
Neste instante as três garotas cruzaram o corredor.
- Alix! – Gritou Nicole. – Você chamou uma sala pra nós.
- Não! Ele veio sem ser chamado.
- Srta. Belle! Srta. Nicole! mas que maravilha encontrá-las novamente e a Srta. Cassandra se juntou ao grupo. Vou chamá-las de as quatro beldades ou o quarteto gracioso.
- Podemos ir a pé? – Perguntou Belle.
- Leva mais de uma hora para ir daqui até o centro do castelo a pé. - Respondeu Cassandra.
- Não estou com fome. – Disse Belle entrando na sala.
- Dormiram sem calcinhas como eu sugeri?
- Não! – Responderam em coro.
06:45H.
Torre Norte de Kéter. Piso térreo.
O refeitório do castelo era no mínimo majestoso, centenas de mesas de madeiras postas e espalhadas entre as gigantescas colunas, divisórias decoradas com prateleiras e espelhos, o teto era formado por abobadas e esculturas de serpentes enroladas, iluminavam levemente com seus olhos flamejantes, a luz de fora entrava através dos belos vitrais e as grandiosas portas que levavam para os jardins. Algumas piras providenciavam o calor necessário para se sentir confortável.
- Chegamos cedo. – Observou Cassandra.
- Acho que é a primeira vez que eu entro através da sala móvel do refeitório.
- E curioso que bruxos que são considerados criaturas demoníacas morem em um lugar que se parece tanto com uma igreja. – Observou Alixandra.
Até mesmo Belle levantou o rosto pra apreciar o lugar.
- São seis horas. – Cassandra apontou para o relógio.
- São quase sete. – Corrigiu Alixandra.
- Puxa! Acho que eu nunca acordei tão cedo na minha vida.
- Que horas os bru... Magos acordam então? – Perguntou Alixandra.
- Eu sou do clube de eventos, não do clube de pescaria. – Informou Nicole.
- Vocês têm um clube de pescaria? – Perguntou Alixandra.
- Nós temos um clube de pescaria. – Corrigiu Nicole. – Você é uma de nós agora. Eles devem estar no lago há essa hora.
As quatro foram até o grande balcão aonde pegaram a comida. A principio o refeitório realmente tinha uma disposição militar, mas a comida era muito mais variada e servida por umas estranhas e simpáticas criaturas parecidas com crianças.
- O que são elas? – Belle perguntou o mais discreto possível? – Fadas?
- Mais ou menos. – Respondeu Nicole. - São Dijins, possuem poderes elementais. Tome cuidado com elas, pois elas podem controlar o vento e fazer ilusões. Adoram pregar peças e fazem uma ótima comida.
- Sim! mas porque elas estão peladas?
- Identidade! Com roupas elas ficam parecendo umas crianças esquisitas. Você vê muitas deles pela Inglaterra e nem se toca que são criaturas mágicas.
- Espere um pouco! - Disse a escultura de um passaro que estava no balcão. – Você é a garota que chegou ontem não é mesmo?
- Sim! – Respondeu Alixandra um pouco constrangida de falar com uma estatua. – Eu sou Alixandra.
- Você esta doente. – Reclamou a ave. – Tem que comer comida especial.
Um sujeito pequeno parecido com uma criança com longas orelhas espetadas usando um chapéu cuca entregou uma bandeja a Alixandra enquanto as outras garotas escolhiam a comida.
No caminho para a mesa Alixandra e Belle repararam atentamente nos alunos a sua volta. Apesar de todos usarem os mesmos uniformes, havia características exclusivas de cada individuo para assegurar sua individualidade, cintos, chapéus, bolsas, coletes e até mascaras demonstravam a individualidade visual de cada. A maioria dos alunos aparentava ser pessoas normais, mas não uma maioria significativa.
Muitas pessoas que em uma multidão passariam desapercebidos ficavam evidentes suas características mágicas e outros simplesmente não eram humanos. Alixandra mal podia segurar sua excitação ao ver às fadas e duendes, outros alunos ela não fazia a mínima idéia do que eram, uns possuíam aparência de animais talvez por alguns feitiços, outros eram animais, não era difícil encontrar raposas, guaxinins e ursos enormes sentados à mesa. Provavelmente eram Brownies. Outros alunos eram esbranquiçados e transparentes como fantasmas, um deles ela podia jurar que era todo feito de madeira e seu cabelo um musgo verde.
Algumas mesas eram distintas por só haver alunos com um determinado uniforme, outras só com alunos acompanhados de criaturinhas e havia mesas só com bichinhos como a mesa das raposas logo ao lado delas.
Elas se sentaram à mesa e Cassandra arrumou sua varinha ao lado da bandeja.
- Por que trouxe sua varinha? – Perguntou Alix.
- Nunca se sabe.
- Essa coisinha de madeira realmente faz mágica? – Belle perguntou analisando a sua própria varinha.
- Não é feito de madeira. – Corrigiu Cassandra. - É um chifre de unicórnio esculpido envolto em folhas de carvalho embebidas em um óleo a base de grifo. Dentro dele tem uma pena de Fênix ou bigode de dragão embalsamado em uma poção secreta.
- Você não espera que eu acredite mesmo nisso não é? – Belle lambeu discretamente a varinha.
- Eu acredito que qualquer coisa feita de unicórnio tenha poder mágico. – Respondeu Alixandra.
- E como isso funciona? – Perguntou Belle. – Aonde se coloca a pilha.
- A energia vem de uma lagrima de fada transformada em um diamante virgem.
- Romântico! – Comentou Alixandra. – mas não me parece eficiente.
- Quais as circunstâncias em que ela derrama a lagrima? – Perguntou Nicole
- Eu não sei. – Respondeu Cassandra.
- Será que é quando ela perde a virgindade? – Divagou Alix
- Por quê? Ela foi estuprada? – Perguntou Nicole
- Ela não precisa ser estuprada por derramar uma lagrima. – Corrigiu Cassandra. - Pode ser uma lagrima de alegria.
- Ou de dor. – Completou Nicole. – Perder a virgindade dói não é mesmo?
- Não! Eu quis dizer que deve ter uma razão pro diamante ser virgem.
- Vai ver é uma pedra não esculpida.
- Belle! Você entende dessas coisas. Existe diamante virgem?
- Não! – Respondeu sem entusiasmo. – Diamante sem lapidação é chamado de bruto. Diamante bruto.
- Então o que é um diamante virgem? – Perguntou Nicole.
- Um diamante feito de uma lagrima. – Respondeu Cassandra.
- Diamantes são feitos de carbono. Não tem carbono numa lagrima.
- E a lagrima de uma virgem? – Perguntou Nicole com desconfiança.
- Eu sou virgem. – Reclamou Belle. – Não da pra fazer um diamante com as minhas lagrimas.
- mas não estamos falando de você. – Corrigiu Nicole. – Estamos falando das lagrimas de uma fada.
- Uma fada normal ou uma fada virgem? – Perguntou Alixandra.
- Não deveria ser o contrario. – Ponderou Nicole. – Afinal as fadas começam virgens e depois deixam de ser virgens. Então o correto não seria dizer que as normais são as fadas virgens?
- mas não dá na mesma? Não vai continuar normal sendo ou não sendo virgem? – Perguntou Alixandra.
- Depende do que você considera normal? È normal você estar casada a mais de seis meses e ainda continuar virgem?
- VOCÊS PODIAM POR FAVOR, FALAR DE OUTRA COISA? – Gritou Belle.
- Do que estão falando? – Perguntou uma voz simpática por trás das garotas.
- Diamantes. – Respondeu Nicole.
O sujeito deu um beijo no rosto de Cassandra e logo Nicole ofereceu o rosto em seguida. – Aonde esta o meu beijo. – Ele prendeu a respiração e ficou avermelhado.
E ele tinha toda razão. Como a sala Tulipa dizia Nicole era uma beldade. Novamente começou a se sentir um pouco inferiorizada, havia muitas garotas magras e bonitas, mas nenhuma magra esquelética como ela. Belle sempre fora disparado, a garota mais bonita da cidade, mas por ali ela passava desapercebida. Era mais provável ela mesma chamar a atenção por causa da sua feiúra. Deveria ser uma inveja subconsciente que fez com que sonhasse com Nicole desfigurada, nunca tinha visto uma pessoa tão bonita de perto. Os sonhos têm significado. Todo mundo sabe disso. E ela como bru... Maga seus sonhos deveriam ter mais significado do que o normal. Um pouco chateada se encolheu no chapéu.
- Existem aulas de interpretação de sonhos? – Perguntou Alixandra.
- Sim. - Disse Nicole. - Tem tido algum sonho interessante?
- Não! Não é nada não.
- Quem são essas suas amigas? – Perguntou o rapaz.
- O! – Disse Nicole cobrindo um sorriso com as mãos. – Me desculpe. Onde estão as minhas maneiras?
Nicole se virou formalmente.
- Alix! Belle! Esse é o irmão mais velho da Cassandra. Janus.
O nome foi um choque para Alixandra. Imediatamente ela o reconheceu era o sujeito de uniforme do seu sonho.
- Algum problema? – Perguntou Janus revelando que ela estava olhando para ele de uma forma estranha.
- Não! Não! – Disfarçou. – Eu só estava pensando. Quantos anos você é mais velho do que a Cassandra?
- Cinco anos. – Respondeu com um sorriso.
Alixandra e Belle olharam para os dois em silencio, não tinha como ele ter cinco anos a mais do que ela.
- Entendi! Entendi! Justificou Janus. Acontece que no semestre passado ela foi seqüestrada por um ser de um mundo paralelo onde por causa de um fenômeno de distorção do tempo ainda não explicado por lá passou cinco anos enquanto aqui foram apenas alguns minutos.
As duas continuaram olhando para eles com descrédito.
- É verdade! – Afirmou Nicole. – É um caso famoso. Alguns estudiosos dizem que isso comprova algumas teorias de viagem no tempo.
- V-viagem no tempo? – Gaguejou Alix.
- Isso! Deixe-me explicar. - Explicou Janus. – Um portal para esse mundo foi aberto em uma segunda feira e na quinta foi aberto de novo. Em ambos os dias se passaram apenas quatro dias. Outro dia um portal foi aberto às duas horas e depois outro portal foi as duas e meia, só que de alguma forma neste mundo havia se passado cinco anos. Isso significa que o tempo não passou mais rápido e que na verdade o portal é que levava para tempos diferentes.
- Sendo assim. - Continuou Alixandra. – Se controlassem esses portais poderiam viajar no tempo?
- Até agora ninguém fez nada tão avançado. – Contou Janus. - Existem muitas bobagens sobre viagens no tempo que espalham por ai. Viagens astrais aonde pessoas do futuro falam com pessoas do passado em sonhos. Ouvi até uma historia de um sujeito que voltou no tempo para o seu próprio corpo jovem. Pessoas do futuro que alteraram a passado e não podem mais voltar. Tudo sempre com o problema do efeito contra tempo.
- O que é esse efeito contra-tempo?
- Vejamos. – Pensou Janus. - Você esta no futuro certo? Então você faz alguma coisa para alterar o passado. Só que quando você mudou o passado também eliminou o motivo pelo qual voltou no tempo. Então quando o futuro se tornar presente você nunca vai ter voltado no tempo, porque nunca existiu o motivo para voltar no tempo. Então relativamente à viagem no tempo nunca existiu e não há nenhuma prova dela e o mundo antes da tal viagem no tempo nunca existiu.
- Complicado. – Comentou Nicole. – Você é muito inteligente Janus.
- mas então é possível? – Insistiu Alixandra.
- Dizem que houve já fez viagens no tempo e tem provas disso, mas nada de importante graças ao efeito contra-tempo que elimina as provas de qualquer grande mudança. mas é claro que também existe o paradoxo do avô que contrapõe o efeito contra-tempo.
- Paradoxo do avô? – Perguntou Alixandra.
- O paradoxo de avô é uma inconsistência aparente muito simples, baseada na ficção científica e que está no coração da idéia de viagem no tempo ao passado. Muito simplesmente é que você viaja ao passado e assassina seu próprio avô antes dele conceber sua mãe ou seu pai, e onde isso o deixa então? Você some imediatamente de existência porque você nunca nasceu? Ou você está em um esquema de causalidade novo no qual, já que você está lá, e os eventos no futuro que conduzem à sua vida adulta são agora muito diferentes? O coração do paradoxo é a existência aparente de você, o assassino de seu próprio avô, quando o próprio ato de você assassinar seu próprio avô elimina a possibilidade de que você venha a existir. Entre as soluções sugeridas está a que você não pode assassinar seu avô. Você atira nele, mas no momento crítico ele se agacha para amarrar o cadarço do sapato, ou a arma engasga, ou de alguma maneira a natureza conspira para prevenir o ato que interrompe o esquema de causalidade que conduz à sua própria existência.
- Acho que eu estou com dor de cabeça. - Reclamou Nicole. - Chega desse papo vocês são dois Nerds.
- O que foi que eu disse de Nerd? – Perguntou Alixandra.
- Tem razão. Você não disse nada de Nerd. – Nicole se virou para Janus. – O Nerd por aqui é você.
- E você gosta de Nerds? – Perguntou com um sorriso.
- Não.
Janus aparentemente ficou desolado.
- mas afinal o que é todo esse interesse em viagens no tempo? – Perguntou Janus.
- Bom... – Alixandra pensou no que ia dizer. – Digamos que eu tenha um sonho com você. E neste sonho eu conheça você, seu nome, seu jeito. mas na realidade eu nunca te vi na minha vida. Então um dia eu te conheço e você é exatamente a mesma pessoa que eu conheci no sonho.
- Isso não é um caso de viagem no tempo. – Corrigiu Cassandra. – Isso é um caso de premonição.
- Temos aulas de Divinação. – Comentou Nicole. – Você já se inscreveu nelas?
Vejamos às 08:00h. Temos um exame medico. - Alixandra pegou o cartão de aulas. –Aqui! Na terça e na quinta. – Continuou procurando no cartão. – Aulas de divinação. De manhã... Aulas de reforço?
Belle rapidamente pegou o cartão pra ver também.
- mas porque eu tenho que fazer aulas de reforço? – Reclamou indignada.
- Bom. – Disse Nicole – Vocês perderam um semestre inteiro.
- Perderam um semestre inteiro? – Perguntou Janus
- Elas chegaram ontem. – Explicou Cassandra.
- Entendo... mas não se preocupem, tem bastante gente que chega no meio do ano. Vocês são magas novas não é?
Ambas concordaram com a cabeça.
- Recomendo que fiquem longe da turma de copas. Eles são todos de famílias de feiticeiros, são um saco com novatos.
- Eu pensei que você vinha de uma família de feiticeiros. – Disse Nicole.
- Você também e é uma pessoa muito legal. – Elogiou Janus.
Nicole deu um sorriso que derreteu Janus. Estava muito na cara que ele gostava de Nicole. Alixandra o achou muito meigo. Que inveja! Ela se lembrou da imagem de Nicole e se incomodou. A pior coisa possível era uma bru... Maga colocar olho gordo em alguém. Nicole era uma pessoa maravilhosa seria muito ruim pensar qualquer coisa ruim dela.
Falando em beleza surgiu a garota mais deslumbrante e maravilhosa que Alixandra vira em toda sua vida. Ela parecia flutuar e olhando bem ela realmente estava flutuando, vestia o mesmo uniforme que elas estavam usando, mas parecia mais bonito e elegante. Provavelmente havia alguma magia que os hipnotizava não era possível exista uma pessoa tão bonita no mundo.
08:00H.
Torre Norte de Kéter. Primeiro andar.
Belle e Alixandra esperavam pacientemente na poltrona do corredor da área hospitalar. Era tudo branco e tinha um cheiro de remédio no ar.
- Ela é bonita não é? – Perguntou Belle pegando Alixandra de surpresa.
- Quem?
- Nicole!
- É! Ela é muito bonita.
- Érika também.
- Essa sim é bonita.
- Eu queria ser como ela.
- Quem não queria.
- Até a Cassandra é bonita.
- Verdade.
- Será que é algum tipo de mágica?
- Espero que sim.
Fez-se o silencio por algum tempo.
- Eles são bonitos. Não é mesmo?
- Quem?
- Rembrandt... Janus...
- Há é.
- Eles acham que somos irmãs.
- É! As irmãs pudim.
- Eu não acho tão ruim.
- Eles se enganarem?
- Não.
- ...
- Ter uma irmã.
- ...
- Eu... Não sabia sobre a sua mãe.
- ...
- Ela... Esta bem?
- Melhorou.
- Foi difícil?
- Foi.
- ...
- mas já passou.
- Que bom...
- ...
- Aqui é um lugar bom.
- É.
- As pessoas são boas.
- É o que parece.
- ...
- ...
- Eu não sou muito boa...
- ...
- Pra falar.
- Nunca me pareceu.
- Mesmo?
- Você estava sempre falando.
- Mas...
- ...
- Eu nunca soube o que dizer.
- ...
- Você sempre soube fazer amigos.
- Eu nunca tive muitos amigos.
- mas você teve amigos.
- Você também já teve amigos.
- Eu não sinto isso.
- ...
- Hoje no café...
- Foi bom.
- Foi diferente.
- Você ficou quieta?
- ...
- Geralmente eu faço isso.
- Você fica quieta?
- É!
- Mas... Ninguém te acha uma chata?
- É mais chato quem fala.
- E...
- ...
- Alix.
- O que é!
- Posso te chamar de Alix?
- Já chamou.
- Eu...
- ...
- Me desculpa.
- ...
- Pelo que?
- Eu...
- ...
- Eu não sei.
- Tudo bem.
- Por tudo eu acho.
- Eu já disse. Tudo bem.
- Eu...
- ...
- Alix.
- ...
- Obrigada.
- ...
- ...
- Não foi nada.
- ...
- ...
08:14H.
Após uma longa espera Alixandra e Belle entraram no consultório da doutora Tibiriçá, parecia um típico consultório médico, exceto pelo estranho esqueleto usando uma roupa de enfermeira. Não havia sinal da doutora.
- Acho que a doutora não esta. – Comentou Belle.
- Sim a doutora não está. - Respondeu o esqueleto com uma voz enjoada. – Vão ao trocador e coloquem as roupas que estão lá.
Ambas não sabiam o que pensar. Ficaram paradas olhando o esqueleto que pacientemente esperava que as duas entrassem no trocador. Alixandra tomou uma atitude e puxou Belle pro trocador.
Os exames não foram tão mágicos quanto ela esperava, muito pelo contrario, eram bem comuns.
Um comentário:
Como assim a professora violou uma aluna??? Que mulher safada!
Apesar de gostar da sua historia, acho que as coisas neste capítulo ficarama explicitas demais. Acho que nao ficou legal voce explicitar tanto a questao da masturbaçao da Belle na frente de outras pessoas, e a submissao dela à professora.
No mais eu continuo gostando da historia, mas acho que ela pode melhorar e acredito que voce tem talento pra fazer essa historia ficar fantastica.
Espero que nao leve meu comentário a mal, pos o que quero com ele é apenas expressar minha opiniao sobre sua historia.
Parabens pelo que voce ja criou e sorte para que consiga melhorar.
abraço,
Angélica.
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