Capitulo dezessete

17

O olho da bruxa


Ciclo Um

Alix caminhava pelos já familiares corredores a procura da cozinha do dormitório feminino. Pela primeira vez desde que chegara ao castelo podia comer comida de verdade. A comida especial tinha a incrível característica de ser rapidamente absorvida pelo organismo e deixar uma sensação de vazio completa. Estava faminta e perdera o almoço por causa da bronca de Medhal.

A cozinha do dormitório feminino era usada para fazer desde lições de casa a petiscos para as reuniões nos salões. O problema que Alix não sabia é que os alunos forneciam seus próprios ingredientes e a despensa estava cheia de potes e tigelas com nomes de alunas anotados, mas nenhum sinal do que tinha dentro.

Rita uma das garotas do clube de eventos estava preparando alguma coisa com um cheiro muito bom. Alix se sentiu um pouco acanhada, pois não se lembrava do nome dela a principio.

- Se quiser eu posso te dar alguns ingredientes pra você fazer alguma coisa. – Rita ofereceu depois que Alix explicou o que estava fazendo. – mas depois vai ter que dar alguma coisa em troca.

- Principio da troca equivalente. – Lembrou Alix.

- Primeira lei da alquimia. – Rita complementou com um sorriso. – Tudo se transforma.

Antes que pudesse acender o fogo as duas perceberam uma estranha borboleta cintilante que aparentemente tentava chamar sua atenção.

- Acho que essa borboleta quer falar com você. – Observou Rita.

- O que uma borboleta esta fazendo aqui? – Estranhou Alix.

- Não sou uma borboleta. – Uma voz flutuou no ar.

- Essa voz é familiar. – Alix tentou se lembrar.

- Professora Divina. – Reconheceu Rita.

- Professora Divina? – Alix se surpreendeu.

- Medhal pediu para que eu falasse com você. Venha imediatamente aos meus aposentos.

- É melhor você seguir a borboleta. – Recomendou Rita pegando a panela das mãos de Alix.

Alixandra seguiu a borboleta pelos enormes corredores e escadarias da torre. A professora divina morava na torre feminina a alguns andares acima. Ela ficou um pouco espantada, pois achava que os professores morassem em algum lugar da cidade. Como ficava perto ela foi ver sozinha e Belle continuou no quarto.

- Pode entrar! – Uma voz por trás da porta disse antes mesmo que pudesse bater.

Para sua surpresa o quarto da professora era muito semelhante a sua sala de aula, a porta para seu quarto dava para uma porta no meio do nada em um vasto campo verdejante com o céu azul e uma grande tenda. Ela sabia que era mágica, mesmo assim era estranho atravessar uma porta no meio da noite dentro de um prédio e sair em uma planície no meio do dia. Curiosamente não havia sol naquele céu.

Alix entrou na tenda cheia de véus como a sala de aula e seus pés sempre em contato com a grama. Ela pode ver a silhueta da professora divina se arrumando provavelmente para dormir.

- Pode me entregar meus tapa-olhos que estão no banquinho?

Alixandra pegou dois simpáticos tapa-olhos vermelhos em formato de coração e os apanhou, quando moveu o véu teve uma visão que congelou seu coração por alguns instantes. A professora divina com o peito nu ela possuía quatro braços e seus olhos eram costurados.

- Normalmente eu não permito que meus alunos me vejam assim. – Explicou com um sorriso apanhando os tapa-olhos como se visse muito bem. – Eu tive uma visão de que você me veria assim e você também precisa se preparar para novas experiências.

Alix se sentou e aceitou o chá que ela acabara de fazer. O choque inicial passou e em poucos instantes ela superou o choque, apesar dos olhos da professora serem uma coisa bem chocante.

- Como você é discreta demais pra perguntar eu lhe responderei. Para tudo existe um preço e no mundo da magia raramente dinheiro é interessante em uma barganha. – A professora colocou os dois tapa olhos e se aconchegou em sua pilha de almofadas. – Eu nasci com habilidades especiais. Era capaz de ver coisas e por isso meus olhos eram muito valiosos. Eu os troquei pela habilidade de ver alem do meu corpo, não apenas ver o futuro, mas principalmente outros lugares. Como deve ter imaginado minha aparência não me tornava muito apta a sair por ai e sempre tive anseio por conhecer o mundo.

- Então você não via o futuro com seus olhos antigos?

- O futuro não é o tipo da coisa que se vê com os olhos. Eu podia ver através dos olhos das pessoas e outras coisas que não me orgulho que podia fazer nem gosto de lembrar, agora eu posso olhar com os seus olhos e por mais que valorizem minhas habilidades antigas eu prefiro dessa maneira.

Alixandra não tinha nada a dizer, tudo no que ela estava pensando desapareceu ao ver a aparência da professora Divina. Educadamente tentou servi-la, mas divina recusou chá e começou a beber de uma garrafa com um longo canudo.

- Você veio a pedido de Medhal não é mesmo?

- Quem? – Alixandra perguntou distraída.

- O Capitão Goði Meðal Mikit Stór-Ljón Oddhinsson. – Respondeu a sorridente professora. – Você não esperava mesmo que ele se chamasse apenas Medhal não é?

- Não! Não. – Alixandra disfarçou um sorriso amarelo, ela nunca pensou que o nome dele fosse outra coisa. – É um nome bem complicadinho não é?

- Como eu já lhe disse saber o verdadeiro nome de alguém da poder para pessoas como nós.

- O professor... Digo! O Capitão lhe contou o que aconteceu?

- Até as pausas em sua conversa. Medhal é aborrecidamente meticuloso em seus relatos.

- Então a senhora não acha que ele esta exagerando?

- Medhal esta apenas sendo precavido a sua maneira. Ele já viu coisas o suficiente pra saber que uma pequena labareda pode ser o sinal de uma grande fogueira.

- É que eu mesma não acredito nesse sonho, quero dizer... Eu acreditava, mas agora eu não consigo acreditar que eu acreditava, mas agora eu não consigo acreditar que eu acreditava. É difícil de explicar. Eu sei que na hora ele parecia real e eu acreditava nele. mas agora parece um sonho e já não sei mais.

- Compreendo. – A professora deu um longo gole e permaneceu com um sorriso extasiado.

- Mas... – Alixandra não sabia mais o que dizer. – E agora? O que eu digo para o Capitão?

- Nada!

- Nada? Como assim nada?

- Medhal é uma pessoa honesta. Talvez a mais honesta que exista. Muito provavelmente porque ele é descendente de samurais e guerreiros nórdicos. Os antigos vikings. Ele nunca mente e sempre acredita nas pessoas. Apesar de ser crédulo e até um pouco ingênuo, acima de tudo Medhal é conhecido por ser um perseguidor implacável e sua fúria cruel e irascível. Da mesma forma que ele é incapaz de mentir ele também é incapaz de perdoar. Perdão é uma palavra inexistente em seu vocabulário. Ele nem ao menos compreende o conceito. Provavelmente teria um cargo muito melhor se não fosse tão temido pelos políticos. Ele veio para Sephirot para ficar fora do caminho, como instrutor. Quando Derek e Kazam o colocaram como mestre das casas de espadas muita gente ficou incomodada. Apenas continue com o que você planejou.

– mas eu não planejei nada. - Alixandra se assustou um pouco, realmente não queria irritar ninguém, muito menos Medhal que já havia atirado nela.

- Não foi o que ele me disse. - Novamente Divina voltou a beber. – Medhal me contou que você bolou um plano pra vigiar Derek.

- Aquilo? mas eu não estava levando muito a serio. E eu não queria envolver mais ninguém.

- Tarde demais. Por acaso você vai ter muitos problemas em fazer esse time pro festival?

- Eu acho que não.

- Você vai se machucar ou coisa parecida?

- Não! Provavelmente não.

- Então eu recomendo que apenas se divirta com seus amigos.

Alix se sentiu mais tranqüila.

Ciclo dois

Thomas sorriu sentado em sua cadeira giratória com um sorriso no rosto, quase esquecendo sua complexa montagem de feitiços para uma agenda mágica que organizasse informações sozinha. Após todos esses anos lendo aventuras fantásticas e jogando rpgs pela primeira vez havia vivido uma aventura emocionante e cercado de garotas. Mal pode evitar uma risada.

Seus colegas ficaram espantados quando ele voltou do suposto castigo, o Major Medhal era o instrutor mais temido de todo o castelo. Lumina, Janus e Rembrandt estavam na lista dez vinte alunos mais problemáticos do primeiro ano e apesar de nunca os ter visto já escutara algumas alguns rumores sobre eles, principalmente porque eles tinham algum envolvimento com as irmãs Pudim. Era impossível não ter ouvido falar das irmãs Pudim desde que explodiram a torre de Kéter, sem falar que elas dividiam um quarto com Lady Nicole de Newcastle a garota mais bonita que não tinha país ou avós que fossem elfos ou fadas.

Ele teve seus 15 minutos de gloria e pode se vangloriar de escapar ileso do temível Medhal. Apesar de ser bastante assustador ele até queria que tivesse durado um pouco mais de tempo só pra ficar mais tempo perto das garotas.

Thomas nunca foi muito de falar com garotas, sempre preferiu ficar em casa com seus livros e jogos. Seus amigos geralmente eram como ele e não ficaram muito surpresos quando descobriram suas habilidades. Sempre tivera um interesse pelo místico e sobrenatural.

Quando chegou a Sephirot logo se espantou ao encontrar Soleil Cartright uma colega de escola por quem nutria uma quedinha nos últimos anos. A principio ele pensou que poderia ser o destino tramando para que ficassem juntos, principalmente depois que caíram na mesma turma de estudos. Ela não era mais linda do mundo, nem se comparava as ninfas, mesmo assim ele não achava que era merecedor dela. Principalmente pelo fato de ser tão rechonchudo. Claro que nenhuma barriga era capaz de resistir ao rigoroso condicionamento físico de Sephirot, após alguns meses nem mesmo sua mãe foi capaz de reconhecê-lo em uma foto. Ainda assim não tinha coragem de falar abertamente com ela e esperava que um dia mais apropriado ou o momento perfeito chegasse.

Apesar de não rejeitar sua paixão por Soleil, não podia deixar de esquecer das garotas que conhecera, Yuki era um exemplar da beleza oriental com sua pele branca e seu jeito delicado, Lumina fazia o tipo da garota guerreira forte e misteriosa com seus traços de ninfa, Cassandra era pequena e nutrida de deliciosas curvas com um jeito meigo que dava vontade de agarrar, Nicole era uma verdadeira princesa que desfilava ao invés de caminhar, já as irmãs Pudim eram uma maravilhosa mistura disso tudo, Ambas graciosas e delicadas Alix com uma certa força e determinação e Belle com uma sofisticação.

Ele gostaria de poder agarrar e apertá-las para sentir seu cheiro e como eram macias. Mesmo que por alguns segundos podia se lembrar de Alix enquanto eles se abraçavam um ao outro em cima do tapete e em meio a nuvem de Lumina. mas tudo aquilo era passado, provavelmente elas já haviam se esquecido dele e em pouco tempo ele mesmo já não seria mais capaz de se lembrar do nome delas.

Seus pensamentos foram atrapalhados por uma algazarra no corredor.

Charles um de seus colegas de quarto colocou a cabeça para dentro do quarto com um sorriso malicioso. - Seus amigos estão ai fora!

- Amigos? – Estranhou Thomas. – Que amigos?

Para sua surpresa Janus surgiu bem mal humorado logo atrás do seu colega.

- Ai esta você meia dúzia. – Reclamou. – Tem idéia de quantos Thomas tem nessa escola alem de você?

- Seis? – perguntou Rembrandt chafurdando a prateleira.

Janus olhou com um ar de desaprovação pra Rembrandt e voltou sua fúria contra Thomas. – E tivemos que falar com todos eles antes de achar você.

- Pegue seu baralho e vamos embora. – Rembrandt jogou o pacote de cartas de Thomas para ele. Por alguns instantes se perguntou como ele sabia qual era o seu baralho entre o dos outros colegas que estava na prateleira.

- Vamos logo. – Apressou Janus.

- Se não for muito incomodo eu queria...

- É muito incomodo sim! – Interrompeu Rembrandt pegando ele por um braço.

- Você não tem querer nada! – Janus declarou levantando ele pelo outro braço. – Medhal mandou e eu não quero problemas com aquele maluco, reclamações fale com ele.

Thomas ficou surpreso e atordoado, não sabia o que falar enquanto era arrastado pelos corredores.

Ciclo três

No fim do dia Foram até o bairro oriental jantar na casa de Yuki. Pela primeira vez Alix e Belle eu comeram com palitinhos.

O bairro oriental também estava todo enfeitado pro festival, só que com enfeites orientais. Yuki explicou que o bairro oriental era uma confusão só, misturando elementos típicos chineses e nipônicos. Os outros eram bem ignorantes neste aspecto e não faziam a mínima idéia da diferença entre as culturas do estremo oriente.

As garotas gostaram muito de saber mais sobre a amiga. Yuki era adotada por Medhal que é descendente de samurais. A casa parecia um castelo japonês, um jardim de pedras, um lago com carpas e um pequeno santuário com as fotos dos descendentes de Yuki. Como todos os alunos residentes da cidade, no final do dia ela voltava pra casa ao invés de ir para o dormitório feminino.

O quarto dela era bem vazio e ela dormia no chão, Belle estranhou um pouco, pois a casa era luxuosa e tinham vários empregados. Medhal chegou para o jantar, mas não se sentou a mesa. Ele teve uma rápida conversa com a filha e saiu apressadamente para continuar com os planos de refazer a segurança do castelo.

Yuki já havia comentado de que desde o momento que Alix abriu um rombo no castelo ele ficou ansioso para refazer a segurança do castelo. Afinal só faltava uma semana para o festival. Yuki se sentou à mesa visivelmente aborrecida e jogou uma pesada pasta de papeis na mesa. - É oficial! Estou fora da quadra de espadas.

- Não é tão ruim assim. – Lumina observou sem muito interesse.

- Quantos Juniores do primeiro ano vocês conhecem que fazem parte da elite de uma casa?

- Derek, Maria, Grace, Fabian... – Nicole começou a enumerar.

- Todos eles têm parentes influentes. – Reclamou Yuki mais zangada ainda.

- A Maria não. – Lumina defendeu a colega de quarto.

- Seu pai não é o Mestre da casa de Espadas? – Provocou Cassandra.

- Vocês têm alguma idéia de como é difícil pertencer a elite de uma das casas? – Rosnou Yuki.

- Eu tenho idéia de como é difícil não pertencer. – Respondeu Rembrandt. - Seu pai vive forçando a barra pra gente entrar. – Janus e Lumina concordaram com a cabeça.

- Vocês três são delinqüentes. – Yuki ficou possessa. – Estão sempre arranjando problemas e agora finalmente conseguiram me meter no meio.

- Eu não tive nada com isso. – Rembrandt se defendeu e todos da mesa olharam pra Alixandra.

- Por favor. – Gemeu Alix. – Eu não esperava que ninguém fosse obrigado a isso.

- Ela esta certa. – Concordou Nicole.

Nesta deixa Érika e as outras garotas do clube de eventos chegaram entusiasmadas. – O que vocês estão tramando? – Érika perguntou sob uma chuva de risinhos e gracejos. – Eu quero participar.

- Vamos fazer um grupo pra competir no festival. – Respondeu Nicole.

- É mesmo? – Érika ficou surpresa. – Nós queremos participar também. As garotas concordaram com risinhos.

- Já estão participando! – Respondeu Yuki puxando uma folha da pasta. – O clube de eventos vai apoiar as arcanoides.

- As Arcanoides? – Érika evitou criticar o nome. – mas eu nem estava sabendo que apoiávamos seu grupo. Nem sabia do seu grupo.

- Está assinado pela professora Divina. – Completou Yuki.

- Professora Divina? – Estranhou Alix. – O que ela tem a ver com isso?

- Ela é a responsável pelo clube de eventos. – Respondeu Nicole. – Todos os clubes precisam de um professor responsável.

- Assim como os times e grupos. – Lembrou Lumina. – Quem é o professor que nos apóia?

- Temos que arranjar um ou então meu pai vai fazer. – Yuki puxou uma outra folha e entregou pra Lumina.

- Seu pai? – Érika perdeu o sorriso do rosto e as outras garotas se silenciaram. – Vocês não estão fazendo um grupo de verdade. Vocês estão de castigo.

- Nada disso. – Protestou Nicolle. – Eu só quero brincar no festival, posso voltar as minhas funções no clube de eventos quando eu quiser.

- Não pode não. – Yuki puxou mais papéis. – Você esta restringida de suas funções no clube como detenção até o festival.

- O que? – Nicole ficou indignada. – Ele não podia fazer isso comigo eu não fiz nada.

- Foi o que eu disse. – Érika riu-se. – Foi por causa da bagunça que vocês aprontaram na pista de corrida não é mesmo?

- Não fique tão sorridente assim. – Yuki puxou mais uma folha com uma certa satisfação. – Meu pai os quer sob supervisão constante e adivinhe quem ele escolheu.

- Eu e Derek? – Érika olhou espantada.

- E toda sua turma de discos. – Completou Yuki.

- Legal! – Gritou Érika animada com as outras garotas. – Agora eu vou ser uma das Bad girls.

- A idéia é exatamente o contrario. – Reclamou Yuki mais zangada ainda.

- Só pode ser brincadeira. – Janus quis ver o papel por si só. – E não é que é verdade mesmo.

Finalmente as garotas perceberam a presença de Tomas e o cercaram.

- mas quem é esse aqui? – Perguntou uma das garotas.

- Esse é o meia-dúzia. – Respondeu Janus. – Apenas o ignore, todo mundo faz isso.

- Se comportem que estamos de olho em vocês. - As garotas se afastaram com uma chuva de comentários e risadas.

- O que significa isso Yuki? – Reclamou Janus. – O Derek e os capangas dele na nossa cola?

- Se existe alguma suspeita contra ele meu pai acha que é a melhor maneira de vigiá-lo sem que ele perceba. – Yuki respondeu desanimada. - Fazendo com que pense que ele é quem esta nos vigiando.

- E Érika entra nessa pra não chamar a atenção. – Completou Rembrandt. – mas afinal quem vai pensar que estamos vigiando o Derek porque ele acidentalmente me matou num sonho que a Alix teve.

- Você não sabe? – Estranhou Belle.

- Não sei o que? – Resmungou Rembrandt.

- Por que... – Alix se intrometeu. – Por que Érika estava tão feliz de se juntar a nós.

- É que Érika foi a única que não se envolveu nas confusões do trio LRJ. – Nicole respondeu.

- Quem? – Perguntou Alixandra.

- Lumina, Rembrandt e Janus. – Cassandra resmungou timidamente.

- Essa é nova pra mim. – Comentou Rembrandt.

- Não é nenhuma novidade que vocês vivem aprontando e quebrando regras da escola. – Acusou Yuki. – Quer que eu dê uma lista?

- Vamos decidir tudo o que podemos fazer antes de qualquer coisa. – Sugeriu Rembrandt mudando de assunto. – Já decidimos que todos nós vamos entrar no concurso de cartas.

- Como é que funciona isso? – Perguntou Belle olhando para as cartas.

- Cada um de nós recebe alguma coisa, tipo uma medalha que vamos apostar nos duelos. – Explicou Rembrandt. - Quem perder está fora e quem ganha vai juntando mais medalhas em outros jogos. Vai ter uma quantidade limite pra entregar e poder participar do dia seguinte. As ultimas batalhas são feitas no estádio usando as convocações.

- mas eu ainda não sei nem jogar. – Reclamou Belle.

- Tudo bem! – Consolou Cassandra. – Ninguém espera chegar no final, mesmo. A idéia é só competir.

- Vamos ter o jogo de Conjurabol, o que mais vocês vão fazer? – Rembrandt perguntou.

- Eu vou participar o concurso de beleza. – Anunciou Nicole.

- Eu vou ganhar a corrida de tapetes. – Lumina anunciou sem nenhuma humildade.

- Existe um campeonato de esgrima. – Alixandra viu no folheto do festival e Belle tirou de suas mãos. – Você pode fazer.

- Belle sabe lutar esgrima? – Cassandra ficou impressionada.

- Eu vou fazer uma exibição de artes marciais. – Anunciou Yuki.

- Ela vivia me enchendo com os troféus e medalhas dela. – Respondeu Alix.

- Finalmente alguma coisa que eu posso fazer. – Pela primeira vez em muito tempo Belle sentiu uma luz no fim do túnel.

- Ainda temos tempo pro pessoal ir pensando em outras coisas que possam fazer. – Comentou Rembrandt – Nós mesmos precisamos de mais gente pro time de Conjurabol.

- Eu não acho que eu possa ajudar. – Thomas anunciou envergonhado. – Eu estou trabalhando em uma experiência com o clube de psicociência, alem disso eu venho ajudando na montagem de alguns aparelhos pro festival e isso vem ocupando todo o meu tempo.

- Pois não vem mais. – Yuki puxou um outro papel da pasta. – Você está afastada dos serviços do evento como todo mundo.

Thomas olhou espantado para aquilo, até aquele instante podia achar a idéia de receber uma punição divertida, mas se confrontar com o papel lhe encheu de raiva.

- Ei! Meia-dúzia! – Janus chamou com um olhar pensativo. – Vocês desse clube de psicociência entendem dessas máquinas meio mágicas não é mesmo?

- Sim! – concordou ainda atônito pelo papel em suas mãos.

- Você sabe alguma coisa sobre os carros experimentais?

- Sim! Eu tenho uns amigos que trabalharam em alguns modelos o semestre todo.

- Então você sabe pilotar essas coisas? – Rembrandt entrou no meio entusiasmado. – Eu sempre quis dirigir um trambolho desses.

- Sim! Eu já pilotei uma vez. mas não são trambolhos, são protótipos de desenvolvimento militar. A idéia da corrida é testar as melhorias propostas pelos alunos em aula. Estudamos o projeto original detalhadamente em...

Rembrandt e Lumina se jogaram na mesa roncando alto, logo seguidos por Cassandra. Alixandra e Belle não conseguiram segurar uma risada.

- Nicole, taca ele de piloto. – Anunciou Janus enquanto Nicole anotava rapidamente.

Thomas tentou argumentar que ele não era um piloto experiente e que era uma decisão arbitraria já que não tinha experiência nem mesmo uma equipe, sem falar que esses projetos eram planejados com meses de antecedências, mas todos se debruçaram na mesa roncando alto, com exceção de Yuki que estava ocupada demais com as permissões da pasta. Já não estava mais feliz em estar naquele grupo só por causa das garotas.

- Agora acho interessante encontrarmos um professor que nos autorize como um time oficial. – Lembrou Yuki. – Não acho uma boa idéia deixar pra depois ou esperar que seja tarde demais porque meu pai pode arranjar alguém pra isso.

- Eu não vejo nenhum problema no seu pai arranjando um professor pra ser o nosso tutor. – Alixandra respondeu com um sorriso.

- Eu não sei. – Cassandra estava ressabida. – Eu sinto alguma coisa de errado em deixar isso com ele.

- Qual é o problema com o meu pai? – Reclamou Yuki.

- Nada! Nada! – Cassandra ignorou o assunto pra evitar discussões.

- Nós temos que comprar o material que o diretor mandou. – Lembrou Alixandra. – Belle você vai chamar ele pra ir com a gente.

Belle concordou com a cabeça.

- Não! – Choramingou Janus. – Vocês não podem fazer isso.

- Qual é o problema? – Belle perguntou um pouco surpresa. Já fazia tempo que ela estava cismada com essa pergunta.

- É mesmo! – Provocou Nicole. – Qual é o grande problema?

- Qual é o grande problema? Você ainda pergunta? – Janus se indignou. – Essa flor eslávica delicada saindo com aquele bruto? Por favor. Já viu como ele anda? Ele tem um prego enfiado na bunda que segue pelo reto rumo norte acompanhando a coluna cervical. Ele não sabe apreciar as qualidades de uma bela donzela.

- Rapazes! – Pediu Nicole com uma sutil e significativa piscadela. – É melhor vocês tirarem ele antes que comece com aquela ladainha de novo. E quando eu digo rapazes vocês duas estão no meio. – E apontou pra Lumina e Yuki que contrariadas agarraram Janus e o levaram embora.

- Nãããããããooooo Nicole! – Berrou enquanto estava sendo arrastado. – Acredite em mim. Ele é um bruto, não pode ser deixado sozinho com ela. Ele não gosta dessas coisas não.

- Seu irmão é bem dramático. – Observou Alix.

- Agora que eles se foram eu quero falar uma coisa. – desabafou Belle.

- Eu imaginei que você queria. – Sorriu Nicole.

- Afinal. – Belle respirou fundo, pois estava tremendo de nervoso. – Quem sabe que você sonhou que Derek planejava matar o Rembrandt de propósito?

- Nós quatro, a professora divina e Medhal. – Respondeu Alix.

- Você contou pro Medhal? – Nicole se surpreendeu.

- Não! Eu contei pra professora divina que contou pra ele. Pelo menos ela me deu a entender que contou pra ele e como pagamento por contar pra ele ela me disse o verdadeiro nome dele.

- Faz sentido. – Cassandra observou pensativa.

- O que? – Nicole e Belle exclamaram juntas. – Onde que isso faz sentido?

- É Cassandra! – Concordou Alix. – Vai ter que explicar isso melhor pra gente depois. O que importa é que a professora divina esta de olho através do clube de eventos.

- Isso até parece uma conspiração. – gemeu Belle.

- Então Medhal deve estar extasiado. – Sorriu Nicole. – Vocês têm mais é que se divertir com isso. Afinal mesmo que o sonho de Alix fosse de verdade, já havia acabado, o acidente foi evitado.

Ciclo quatro

Alix acordou um pouco entusiasmada de encontrar Derek, era a primeira vez que ia sair até a cidade do castelo. Todas as garotas planejaram alguma coisa pra fazer nesse dia. Belle vestiu seu uniforme branco e Alix colocou o uniforme básico com seu chapéu de bruxa.

Haviam combinado de encontrar Derek em uma das saídas de Tifereth e saíram bem cedo para encontrá-lo. Ele estava parado como um guarda usando o uniforme de passeio dos cadetes com o brasão especial da casa de discos. Ficava tão bem que parecia como se o uniforme fosse feito exclusivamente para ele.

Alixandra já havia se encontrado com Derek varias vezes na ala hospitalar e por algum estranho motivo se sentia deslocada com Belle por perto e o contrario acontecia com Belle que se sentia mais confortável com Alix ao lado. Janus surgiu subitamente extremamente cordial.

- O que vocês estão fazendo?

- Vamos dar uma volta na cidade. – Alix respondeu, como se ele não soubesse.

- mas então vocês vão precisar de companhia para protegê-las de eventuais ameaças. – E apontou para Derek. - Como se tivesse alguma aqui.

Janus esperava uma resposta de Derek, mas esse estava obviamente distraído, perdido em pensamentos.

- Algum problema? – Perguntou Janus.

- O que? – Acordou Derek.

- Eu acabei de provocar você. Não vai dizer nada?

- É mesmo? – Derek estava a milhões de quilômetros dali.

Convenientemente Rembrandt, Cassandra e Nicole apareceram. Acompanhados do pequeno Imp Sapão.

- Amigos o que estão fazendo? – Nicole cumprimentou todos com sua costumeira alegria radiante.

- O Derek andou cheirando maionese e gostou. – Respondeu Janus.

- Hein? – Aparentemente Derek não entendeu.

- Estamos em um encontro em duplas, vem com a gente. – Convidou Rembrandt já puxando o amigo e discretamente piscando pras garotas.

- Vamos indo então? – Belle segurou o braço de Derek mais animada.

- Não! Eu chamei a minha irmã já que a sua vem junto.

- Não somos irmãs. – Alix resmungou entre os dentes.

- Vamos com a Érika? – Belle procurou por ela. – Eu pensei que ela tinha o que fazer com o clube de eventos.

- Não! Estamos esperando Zelda minha irmãzinha.

- Eu não sabia que você tinha outra irmã. – Alix se espantou.

- Ela é fica com os juniores ao nos encontramos no fim de semana.

Zelda apareceu com o uniforme dos juniores, era bem mais simples que o uniforme dos seniores, ela não era uma versão menor de Érika como as duas tinham imaginado, também não lembrava Derek. Zelda era alegre e sorridente, em uma foto facilmente se percebia a semelhança, mas sua atitude era de longe diferente.

- Kinho! Kinho! – Zelda surgiu gritando.

Alix realmente não podia imaginar alguém chamando o imponente Derek Dietrich de Kinho.

- Quem são essas duas? – olhou enrabichada.

- Elas são amigas minhas, eu as conheci na minha ultima missão.

- Então vocês vem do mesmo lugar que aquelas vadias das irmãs pudins que mandaram meu irmãozinho pro hospital?

- Vadias? – Belle ficou chocada.

- É está todo mundo falando delas. – Zelda falava pelos cotovelos com um ar de extrema prepotência. - Rembrandt as trouxe só pra provocar o Derek. Detesto ele! No final elas acabaram explodindo a torre de Kéter. Não sei como é que o meu pai deixou aquelas duas ficarem aqui. Sabem que meu pai é o diretor não é mesmo? Eu espero mesmo que elas estejam de castigo até a volta do cometa Halley. Quando eu encontrar elas vou chutar a bunda das até a lua.

O clima ficou relativamente estranho com a presença de Zelda. Derek não falou nada e as garotas preferiram deixar assim. Alixandra não falou seu nome inteiro e deixou bem claro que Belle Trufeau não era sua irmã. Pela primeira vez desde que chegaram ao castelo. A serelepe irmãzinha queria contar tudo o que pensava sobre o mundo e o que fizera na área infantil.

Eles passearam tranqüilamente pela praça, olharam as lojas. Realmente existiam muitos alunos de outras faixas etárias que as garotas não encontravam usualmente. Tanto alunos mais novos como mais velhos e apesar de semelhantes os uniformes eram diferentes. Em meio aos alunos podiam se ver muitas outras criaturas mágicas e até alguns adultos fora de forma e crianças pequenas, provavelmente famílias de moradores da cidade.

- Nós ainda não estamos na área das cidades. – Zelda informou um pouco surpresa pela ignorância de Alix.

- Não?

- Não! Apesar de existirem lojas e até casas de família ainda estamos nas dependências da academia. A área das torres preenche um grande terreno circular, ainda não estamos nos distritos residenciais.

- Não? – Alixandra ficou espantada. – Puxa! Eu nunca sai da área do castelo.

- Na verdade saiu, existem 22 distritos na área do castelo. – Explicou Belle. – Alguns como Aleph são belos bosques com esculturas e plantas raras guardadas pelo castelo, outros como Samekh são áreas comercias que não tem nenhuma ligação oficial com o castelo e que são pouco freqüentados pelos alunos, cheios de lojas e casas.

- Isso mesmo. – Zelda concordou com a cabeça. – Meu irmão não me deixa ir até Samekh. Diz que não é pra turistas. Como se eu não morasse aqui.

- Aqui apesar de dizerem que aqui é o distrito de Zain só estamos nos arredores. – Continuou Belle. – Sephirot é bem maior do que se imagina. Muitos distritos são perigosos, pois estamos ligados diretamente a outros mundos.

- Como você sabe de tudo isso? – Perguntou Alix desconfiada.

- Eu me informei. – Belle com sua usual altivez. – Andei perguntando e lendo livros sobre o castelo.

Andando um pouco chegaram a uma enorme estatua de um lobo com uma cauda de serpente ao lado de um homem com cabeça de passaro, uma longa e florida cerda florida delimitava a área da academia. As ruas eram de pedras alternando com áreas de gramado verde e arvores, havia velhos e crianças nas ruas, as portas das casas eram abertas, antigos postes de luz e bancos de madeira tornavam o lugar aconchegante. Derek e Zelda conheciam muita gente e cumprimentavam quase todos que encontravam.

- Puxa! – Alix comentou sorridente. – O pessoal por aqui parece tranqüilo e alegre.

- Deve ser por causa do festival. – Respondeu Zelda.

- Eu não tinha pensado nisso. – Ponderou Alixandra. – Todas essas pessoas também vão aparecer para o festival, não é mesmo?

A tranqüilidade foi interrompida por um afobado grupo carregando equipamentos, como se fossem acampar e armados até os dentes. Alguns estavam cansados e machucados, mesmo assim pareciam entusiasmados. Eles passaram correndo e desapareceram de vista em uma curva.

- O que foi isso? – Tanto Belle quanto Alixandra se espantaram.

- Deve ser algum grupo em uma busca ou missão. – Respondeu Derek pela primeira vez o dia todo. – O centro de Zain é conhecido como a “cidade da espada” por ser especializada em armas e armaduras. Eles devem estar indo comprar alguma coisa ou trocar algum item.

- Missão? Busca? – Alixandra e Belle ficaram atordoadas.

- Vocês não sabem? – Zelda ficou indignada. – Ainda não foram em uma missão? A coisa que eu mais quero na vida é me tornar uma Arcanoide pra poder ir às missões, matar monstros e viajar por outros mundos.

- Eu já fui em uma busca. – Respondeu Alixandra com más lembranças. – mas eu apenas andei pela floresta, não tive que correr pela cidade.

- Só fez uma missão? – Reclamou Zelda. –Existem milhares de tipos de missões, quem faz as missões mais legais são os cadetes, alguém de nível real como meu irmão faz buscas tão perigosas que arrisca a própria vida.

- Ei! – Reclamou Alix. – Eu quase... Eu quase perdi a minha vida por lá.

- Logo na sua primeira missão? Não minta pra mim. Teria que ser muito incompetente ou fazer alguma coisa muito idiota pra morrer em uma busca de primeiro nível.

Alix apenas preferiu permanecer de boca fechada com lembranças desagradáveis.

Ciclo cinco

Chegando a praça principal podiam ver muitas barracas espalhadas entre belas esculturas de guerreiros, as lojas possuíam símbolos de armas trabalhados e algumas armas e armaduras do lado de fora.

O lugar estava cheio de gente e empolgado, muitos aparentemente estavam no meio das chamadas buscas e missões e por toda parte se via gente com bichinhos ao lado.

- Eu não sabia que os Brownies saiam com o pessoal, lá no castelo eles não são muito comunicativos.

- Brownies? – Estranhou Zelda. – Que brownies?

- Esses que estão ai com o pessoal.

- Você não sabe de nada mesmo. – Zelda balançou a cabeça com as mãos na cintura. – São mascotes familiares.

- Mascotes? – Estranhou Alix. – Pra mim mascotes são cães e gatos.

- Alguns têm a forma de cães e gatos. – Zelda Explicou. - Eles são companheiros mágicos que acompanham magos e bruxas. Existem dois tipos: os familiares tradicionais que possuem vontade própria, pois são espíritos independentes e animas que são na verdade representações do seu próprio subconsciente. Você pode saber muito sobre as pessoas pelo familiar dele.

- E como é que se arranja um desses?

- Pra isso você tem que fazer uma busca! – Cantarolou Zelda. – Ainda teria que ter habilidade pra montar sua própria incubadora. Não acho que alguém como você conseguiria.

Alix ficou com vontade de esfregar na cara dela que ela era a terrível garota que colocou seu irmão no hospital e explodiu a parede de uma das torres do castelo. mas aquilo poderia magoar Derek. Derek que estranhamente parecia mais avoado aquele dia, mas Alixandra não conhecia muito sobre ele e não podia dizer se isso era normal ou não. Principalmente porque Zelda não via nada demais.

Belle foi abordada por um simpático vendedor com uma sexta de estranhas moedas de madeira que pareciam biscoitos recheados. Ele explicou que eram feitiços prontos, era simplesmente jogá-los e quebrá-los que o feitiço aconteceria. Alix ficou muito tentada a usar um feitiço contra prisão de ventre na esperança de causar uma diarréia em Zelda.

As barraquinhas vendiam as mais variadas bugigangas, desde meias que não deixavam o pé feder a pulgas de brinquedo que coçavam suas costas automaticamente. A maioria eram armaduras e enfeites de proteção, como Derek falou a especialidade na cidade das espadas eram as armas e armaduras.

A loja em que entraram era uma das mais visitadas de todas. Uma livraria com muitos baralhos na vitrine, todos estavam interessados nos últimos livros e baralhos sendo lançados.

- Porque estamos justo nesta loja? – Perguntou Zelda.

- Por que essa é uma das lojas especializadas em cartas com menos pessoas e possui um acervo mais variado. – Derek explicou. – Mostrando alguns pacotes expostos na parede. Aqui não vendem aquelas cartas de mentira, sem poderes mágicos.

Enquanto Derek e Zelda conversavam Alix foi abordada por uma velha vendedora que parecia uma bruxa que tinha pulado fora de algum dos livros de contos de fadas. - Eu posso sentir que você é uma feiticeira muito interessada em laminas mágicas.

- Eu já tenho a minha. – Alixandra mostrou timidamente a bolsa de couro presa em seu cinto. – Estou aqui por causa da minha irmã que vem comprar um pacote pra ela.

- Você também? – Reclamou Belle.

- Desculpe até me acostumei. – Alix se desculpou envergonhada.

- Eu fiz um teste em um livro. - Belle entregou o cupom que o professor lhe deu. – Disse que o baralho das fadas é o que mais combinaria comigo.

A velha a olhou de cima a baixo desconfiada. Não acho que você deveria escolher suas laminas por um livro. As laminas de uma pessoa são intransferíveis, cada autor criou o seu baralho com o seu próprio coração e é assim que você deve escolhê-las. Aqui na loja do olho vendemos laminas para bruxas de verdade, não para esses joguinhos bobocas. Laminas básicas, avançadas ou para iniciantes não possuem nenhum sentido para nós. Eu quero que você olhe em volta e escolha aquele que seu coração chama.

- Eu gostei daquele que tem um livro vermelho com um olho. – Belle respondeu sem pestanejar.

A velhinha deu uma risadinha e foi pegar o livro, era grande e as ilustrações muito bonitas.

- Você não espera mesmo que eu permita que entregue isso a ela não é mesmo? – Reclamou Derek.

- Qual é o problema? – Perguntou Belle olhando o livro e as cartas.

- Sabe porque ela pegou o livro que estava em exposição? Porque não existe outro, o baralho do olho das bruxas teve sua confecção proibida.

- Isso não é verdade. – Reclamou Zelda. – O olho das bruxas é um dos baralhos avançados mais famosos. Dizem que foi baseado no baralho de Morgana Lê Fey.

- Em jogos inofensivos. – Explicou Derek. – Como cartas mágicas ele é muito perigoso. Já viu que ele possui cartas do elemento morte? São feitiços de necromancia.

- É mesmo? – Belle se espantou. – mas essas cartas são tão bonitas. Cartas de morte não deveriam ter esqueletos, zumbis e essas coisas?

- Muitos usuários dessas cartas sofreram os efeitos colaterais de seus contra-feitiços. Metade das cartas precisam de sacrifícios e outras coisas pra funcionar.

- Em parte você tem razão meu rapaz. – Respondeu a velhinha. – Esse baralho realmente parou de ser confeccionado, mas a pedido do seu criador e não por uma lei ou proibição. Realmente existem muitos poucos que possuam esse baralho e menos ainda com o que é preciso para usá-lo, mas quando se sabe o que esta fazendo ele é terrível. A dona desse baralho só foi derrotada uma vez e pelo próprio criador dele. Você não pode ir contra o destino meu rapaz. Foi o destino que conferiu a esta garota este documento que lhe garante qualquer carta não importa quão rara ela seja. Foi o destino que trouxe esse baralho para minha loja, assim como essa garota para que se unissem e seus olhos me dizem que o destino dela é ter esse baralho.

- Aonde você conseguiu isso? – Derek perguntou pra Belle.

- Foi o seu pai quem me deu. – Respondeu Belle.

- Acho que era um desconto porque ele me deu esse aqui. – Belle mostrou o seu.

- Posso vela? – A velha olhou muito interessada para a bolsa como se fosse muito valiosa.

- O que tem demais? – Perguntou Zelda.

- Esse é o Baralho dos sonhos original. – A velha parou para respirar emocionada. – Feito pelo próprio Mestre Pendragon.

- Mestre Pendragon? – Perguntou Alix. – Esse nome é comum.

- Mais ou menos. – Respondeu Zelda. – O Mestre Pendragon foi o antigo diretor antes do meu pai. Ele fez um monte de cartas mágicas.

- Na verdade ele só fez uma. – Corrigiu a velhinha. – Todos vocês sabem que antigamente as Laminas mágicas eram exclusivas, feitas pelos próprios feiticeiros e muitas vezes heranças de família. Depois que tiveram a idéia de produzir cartas mágicas em serie o mestre Pendragon começou a adaptar as cartas para a produção em massa. Muitas cartas foram descartadas, alteradas e até mesmo proibidas. Só houve um baralho que dizem que ele se arrependeu de fazer.

- O olho das bruxas? – Belle perguntou abraçando seu livro.

- Dizem que a dona desse livro pediu para que o Mestre fizesse esse baralho com algumas modificações do baralho anterior exclusivamente para ela e a própria fez esse livro baseado na versão anterior do baralho. – Contou a velha. – Em posse desse baralho ela se tornou invencível e para tristeza de Pendragon ela se tornou terrível. Então decidido a derrotá-la e após centenas de laminas que ele adaptara de outras pessoas decidiu fazer o seu próprio baralho, um baralho invencível que derrotaria o olho das bruxas.

- Esses baralhos não são tão bons assim. – Reclamou Zelda. – Eu mesma tenho esses baralhos e nunca vi nada de extraordinário em nenhum deles.

- Como eu já disse pequenina. – Sorriu a velha. – Cada pessoa tem seu próprio baralho. Esses baralhos nas mãos originais se tornaram invencíveis, mas nas mãos de outras pessoas podem não ser tão útil assim. O destino fez com que esses baralhos se reencontrassem depois de tanto tempo e nas mãos dessas duas jovens.

A velha entregou o livro e o baralho para Belle e expulsou todos da loja dizendo que precisava descansar.

Ciclo seis

Dentro do castelo de Sephirot, existiam muitos distritos urbanos que formavam a cidade do castelo, a maioria dos distritos, eram separados pelas edificações interligavam as torres chamadas de caminhos. Nem todos os caminhos eram construções, alguns realmente eram grandes caminhos como grandes alamedas que separavam os distritos. Cada um dos 22 distritos foi construído com temas bem distintos para abrigar membros de cada uma das culturas mágicas que se uniram na construção do castelo.

Zelda pediu para que fossem até o parque da sabedoria no centro da cidade pra ver os enfeites do festival. O chamado centro da cidade era formado por sete distritos interligados em volta do parque do conhecimento onde ficava Igdrasil a arvore da vida e onde seria o centro nervoso do festival.

Assim que entraram no centro as duas garotas ficaram maravilhadas, o céu estava repleto de pessoas voando em tapetes, cajados e asas mágicas. Alix adorou andar no meio de tantos magos, feiticeiros e criaturas mágicas. Havia muito mais civis do que estudantes, desde fadas a famílias de feiticeiros passeavam pelas ruas e ajudavam a preparar os enfeites pro festival.

O parque da sabedoria era o lugar aonde mais se encontravam estudantes de Sephirot, Belle não conseguia tirar os olhos da gigantesca arvore enfeitada. Derek contou que era uma arvore de mana muito comum antigamente, ela se alimentava de energia mística e seus frutos eram muito valiosos. Como precisam de muita energia mística para se desenvolver e levam centenas de anos para começarem a dar frutos se tornaram extremamente raras, principalmente porque seus frutos possuem tantas utilidades que se considera um desperdício plantá-la quando não se sabe se ela vai sobreviver e se tem certeza que não vai viver para ver os seus frutos.

- Ela é mais criança do que eu. – Zelda criticou Alixandra. – Parece que ela não conhece nada de nada.

Zelda corria tentando desesperadamente controlar o comportamento de Alix que realmente parecia uma criança que vai pela primeira vez em um parque de diversões encantada com tudo o que via. Ela se sentia dentro de um conto de fadas.

- Ela sempre gostou de coisas mágicas. – Comentou Belle.

- Eu tenho uma coisa pra você. – Derek retirou um pacote de dentro da sacola que carregava. – Eu comprei na loja, antes de sermos expulsos.

- O que é isso? – Alixandra abriu o pacote excitadíssima. Era uma agenda rosa com uma caneta bem enfeitada ao lado.

- É uma agenda mágica. – Explicou Derek. – Se qualquer pessoa que não seja você ou quem você quiser ler não vai conseguir. A caneta se identifica com você e ninguém mais pode escrever com ela.

- Puxa! – Belle realmente gostou do presente. – Meu primeiro presente mágico.

- Vocês realmente se surpreendem com tudo que é mágico não é mesmo? – Observou Derek.

- E você não? – Agora foi Belle que se surpreendeu. – Esse lugar é fantástico, nunca vi nada tão incrível em toda minha vida. Essa gente voando, essa arvore gigante. Eu sei que você mora aqui, cumprimenta as pessoas e tudo o mais. mas nada disso te surpreende?

- Não! – Derek sorriu. - Você se esqueceu que meu pai é o diretor do castelo. Eu nasci na torre de Kéter e morava a algumas quadras daqui. O que me impressiona são aquelas construções gigantes em Nova Iorque. Como fizeram aquilo sem magia?

- Você morava aqui? Não me admira que conhece todo mundo na cidade.

- Zelda ainda mora com meu pai, eu só me mudei pro castelo esse ano quando me tornei um cadete.

- Existem muitos alunos que moram na cidade?

- Uma quantidade razoável. Muitos profissionais do castelo se mudaram pra cá e trouxeram suas famílias. Nem todas as pessoas por aqui têm poderes mágicos, alguns professores de matérias tradicionais como matemática e gramática são sonâmbulos normais.

- Sonâmbulos? Eu já escutei isso antes. Porque chamam as pessoas sem poderes de sonâmbulos?

- Muitos acreditam que não existe essa diferença entre ter ou não ter mágica e é simplesmente uma questão de despertarem. A convivência com pessoas com maior sensibilidade mágica tende a estimular habilidades latentes e não é raro que pessoas diagnosticadas como ineptas um dia despertarem com essas habilidades.

- ... – Belle ficou pensativa com seus novos objetos mágicos na mão.

- Vamos lá que sua irmã e Zelda já estão lá na frente.

- Ela não é minha irmã.

- Isso! Ë melhor Zelda não saber ainda.

Ciclo sete

Enquanto brincava de guia turístico com Alix, Zelda foi repentinamente atacada por um antigo conhecido que esfregou seu cabelo.

- PIOLHO!

Zelda se virou vermelha de raiva e tentou atacar com toda sua fúria, mas Rembrandt facilmente a dominou segurando sua cabeça.

- Eu não tenho piolho! – Gritou enfurecida.

- claro que não tem piolho. Você é um piolho. . – Zombou Rembrandt. - Era lêndea agora virou piolho

- Rembrandt o que você esta fazendo? – Belle tentou censurá-lo, mas não conseguiu ser muito convincente.

- Vejo que já conheceu a piolha. Que pena que você não a conheceu antes. Era uma gracinha, daí alguém alimentou depois da meia noite e deu nisso.

- Rembrandt! – Zelda apontou o dedo, ela é do tipo que fala apontando o dedo. – Eu já estou cheia de você seu pintado. Eu vou pegar aquelas duas pudins que você trouxe e vocês vão ver o que eu vou fazer. Haaaaa! Eu nem te conto o que eu vou fazer.

Por alguns instantes Rembrandt, Janus, Cassandra e Nicole ficaram aturdidos até que Nicole perguntou. – Você não sabe onde estão as pudins?

- Não. – respondeu Zelda zangada.

- E quem é essa ai então? – Apontou Janus.

- Essa é a Belle Trufeau. Uma amiga do meu irmão.

- E essa outra é a irmã dela? – Perguntou Nicole.

- Não! É só uma amiga de infância dela.

- Então você não tem idéia de onde estão as irmãs Pudim? – Rembrandt perguntou serio.

- E você sabe onde elas estão? Me diga!

- Se você não sabe, não sou eu quem vai contar. – Rembrandt e os outros saíram na gargalhada. – Tchau amigas que não são irmãs.

Zelda saiu pisando forte e cheia de raiva. As garotas a levaram pra tomar um sorvete, mas seu humor não tinha sinais de que ia mudar. Derek parecia muito preocupado e as garotas não puderam deixar de se sentirem tocadas pela preocupação do irmão.

Duas garotas animadíssimas interromperam o lanche.

- Zelda! Zelda! – Gritavam as duas.

- O que foi? – Perguntou Zelda excitada.

- Acabamos de descobrir que as irmãs Pudim estão por aqui. Viram elas conversando com o Rembrandt aqui mesmo no parque.

- mas eu tenho que achar elas. – Zelda se levantou obstinada. – Tchau Trufeau, tchau Alixandra, tchau Derek a gente se encontra daqui a pouco.

Belle respirou aliviada ao ver as três correndo, suas pernas estavam completamente moles. Alix não pode deixar de sentir um certo alivio.

- Quem eram aquelas garotas? – Belle nervosamente tentou puxar assunto com Derek.

- Cinder e Ashley! São colegas de classe da Zelda.

- Puxa! – Outra novidade pra Alix. – Eu pensei que as garotas compartilhavam as classes com gente da mesma idade.

- Sim! – Concordou Derek. – Elas têm a mesma idade da Zelda.

- Quantos anos a Zelda tem então?

- Treze!

- O que? – Alix se revoltou. Aquela pirralha com atitudes infantis era só um ano mais nova do que ela? – Eu pensei que ela tinha doze anos. – Na verdade era mais pra onze. Por alguma razão aquilo irritou muito Alix.

- Espero que o livro não tenha te incomodado muito. – Belle se desculpou.

- Tudo bem. – Derek suspirou. – A culpa foi minha de te levar até aquele lugar eu sabia que a madame Olho fazia essas coisas.

- Talvez você possa me ensinar a jogar esse jogo de cartas mágicas.

- Não com essas cartas. Daqui a pouco eu compro u baralho das fadas pra você e te ensino. Era baralho das fadas que saiu no livro não é mesmo?

- Isso mesmo. – Belle sorriu. – Você estava prestando atenção.

Sem Zelda por perto a conversa continuou mais agradável e Belle cada vez mais se sentia confortável. Derek continuava mais avoado e atencioso do que era quando conversava com Alix na ala hospitalar. Por algum motivo aquilo estava incomodando muito. Belle não gostava de Derek, pelo menos não mais do que se gosta de um desconhecido bonito. Ele era bonito isso ninguém ia negar, mas o único interesse delas era provar que Derek não tinha nenhum interesse na morte de Rembrandt. Nada alem disso. Também não era o caso dela gostar de outra pessoa, Cassandra já gostava de Rembrandt e Janus gostava de Nicole. Alem disso ela tinha acabado de chegar no castelo, existiam milhares de outros garotos que ela podia conhecer. Por que ela se incomodava com Belle e Derek se dando bem? Nenhum de seus amigos gostava dele, apesar dele ser irmã da Érika e tudo indicar que ela era uma pessoa maravilhosa. mas Zelda também era irmã dele, se casassem ela também seria sua cunhada e o diretor seria seu sogro. Talvez pudesse chamar sua mãe para morar no castelo e ela se tornaria uma professora. mas o fato do pai de Derek ser o diretor não quer necessariamente dizer que ele também vai se interessar em uma carreira em Sephirot. Ele bem que podia ter uma carreira fora e mesmo assim criariam seus filhos na cidade do castelo. mas ele estava tão entretido falando de cartas mágicas com a Belle. Afinal, quem disse que ele queria ter filhos com ela e não com a Belle. Quem havia dito aquilo e porque ela estava pensando esse monte de besteiras?

- Eu preciso dar uma volta! – Alix se levantou.

- O que? – Obviamente Belle estava tão entretida contando suas impressões que nem percebeu a presença de Alix.

- Eu já vi que vocês estão bem. Eu tenho que ir. Não estou me sentindo muito bem.

Alix nem podia imaginar que no momento em que deixou Belle sozinha com Derek ela também começou a ficar nervosa e ter pensamentos muito semelhantes até ser interrompida por um:

Seu sorvete estava derretendo e escorrendo pela roupa.


Continua...

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