Capitulo um

01

A menina mágica

Era uma vez uma menina.

Às vezes quando se sentia melancólica se lembrava com saudades de um sonho que teve quando era criança, um sonho com um menino mágico que tinha um olho de cada cor. Um menino que prometeu que um dia voltaria e a levaria para seu mundo mágico. Muitas vezes ela queria que aquele menino aparecesse para levá-la para um mundo maravilhoso aonde ela aprenderia magia e se tornaria uma bruxa boa, mas a menina havia crescido e pensava que crianças crescidas não deveriam mais acreditar em mágica.

Ela adorava todas as coisas mágicas, mas não acreditava nelas. Não podia. Afinal mágica era coisa de criança. Mesmo que o menino tivesse existido já não se lembraria mais dela. Não existem coisas como crianças que não crescem, lugares maravilhosos, fadas e bruxas.

Quando se cresce deve se parar de acreditar nessas coisas. Era isso que ela acreditava que era o que diferenciava as crianças dos adultos.

Só que ela estava errada.

Ciclo Um

Alixandra acordou com uma terrível dor nas costas e nas pernas. Ela olhou para a Janela que estava com os vidros quebrados; os casacos felpudos e cobertas que lhe cobriam durante a noite caíram durante seu sono e estavam ao lado da cama. Não queria se levantar, nem mesmo para se cobrir novamente. mas ela tinha que se levantar. A dor em seu corpo causada pelo frio durante a noite, continuaria por todo o dia. Olhou para sua mão direita, que estava no balde vazio ao lado da cama. A água evaporara durante a noite, ia precisar de mais para se esquentar na noite seguinte.

Logo ao entrar no banheiro, se deparou com sua figura magra e cadavérica no espelho, escovou seus dentes, fracos e amarelos, então se lembrou porque evitava sorrir. Tinha vergonha deles. Ela achou aquilo engraçado por alguns momentos, sentir vergonha era algo que não podia se dar ao luxo há muito tempo. Com um pouco de maquiagem escondia suas olheiras; aparentava ser do tipo de garota que usa um estilo mais sombrio. Ela tinha muita maquiagem. Assim como roupas.

Na gigantesca pilha de roupas, escolheu roupas novas e quentes para usar por baixo das roupas de escola, esquentava bastante e impedia que as pessoas percebessem como ela estava magra. No quarto de Alixandra podia se encontrar as mais refinadas maquiagens e perfumes, as mais valiosas jóias e vestidos, assim como raras tapeçarias e obras de arte. Os bens mais cobiçados podiam ser encontrados em sua casa espalhados no chão.

Quando ouve o terrível bombardeio surpresa que praticamente devastou todas as cidades litorâneas por toda a costa do mar negro, muitas pessoas abandonaram suas casas com tudo dentro temendo novos ataques. Em meio aos saqueadores Alixandra aproveitou para “ajudar” seus vizinhos e guardar suas coisas até que voltassem. O que não aconteceu.

Todos os dias, saia com os saqueadores para ver se ainda encontrava alguma coisa. A cada dia havia mais soldados nas ruas e as fronteiras fortificadas já diminuíam a ameaça de um novo ataque aéreo. Nos últimos meses havia recolhido tanta coisa que sua casa parecia até um deposito de coisas usadas. Como morava em um bairro considerado nobre, recolheu os mais valiosos bens que qualquer um poderia cobiçar. mas estavam em tempos de guerra, em uma cidade devastada e sem recursos, artigos de luxo não valiam nada. Logo surgiu o arrependimento de não ter pegado o que realmente importava... Comida.

O dia estava frio e nublado, não haveria sol para entrar pela janela e provavelmente choveria durante o dia, com muito esforço ela empurrou o armário para tapar a janela. A cada dia ela estava mais fraca e com tonturas. Por dois dias não comera nada, precisava comer alguma coisa.

Foi à cozinha preparar o café da manhã, no armário só havia a comida da sua mãe e ela não podia ceder a tentação. No quintal não havia nada na horta ou no pequeno pomar para comer. No inicio dos saques quando pode entrar livremente nas casas abandonadas para recolher comida, nunca imaginaria que acabaria nesta situação. Ela acreditava que tinha comida suficiente para anos, todos os perecíveis como carnes e vegetais tiveram que ser comidos antes que estragassem e boa parte da comida foi perdida graças a sua mão direita.

Ela colocou a comida da mãe na panela, geralmente levaria horas até o prato estar pronto, mas ela tinha a mão direita, a maldita mão direita que tanto lhe causava problemas, era o único momento em que tinha alguma utilidade. Ela tocou a palma da mão no fundo da panela e em poucos segundos estava pronto. Ela sentiu o fundo da panela amolecer por alguns instantes... Sua mão estava ficando pior.

Lagrimas escorreram por seu rosto quando lembrou de toda a comida meio estragada que ela jogou fora nos primeiros meses, mas que ainda era comestível. O ultimo vez fora terrível, ela comia apenas na escola e toda comida que conseguia guardava para sua mãe. Não queria que soubessem a situação terrível em que estavam e guardava toda comida para ela para fingir que tinham fartura.

Estava cedo o suficiente, ela podia verificar o lixo das outras casas a procura de alguma coisa. Os tempos não andavam muito bons pra ninguém e desperdício de comida não estava na moda, o Maximo que podia contar era com os restos de comida no fundo de uma embalagem. Alguns ratos estavam reunidos aquilo geralmente era um bom sinal. Aquela manhã não foi tão ruim uma caixa de leite coalhado e soro. Os ratos estavam em cima de algumas verduras que cheiravam forte, mas ainda tinham muitas partes boas.

A manhã tinha sido gloriosa, ha muito tempo não tinha uma refeição tão boa só precisava de um pouco de carne. Ha muito tempo ela não comia carne, lembrava de ter ouvido que na china comiam carne de rato. Talvez...

Ciclo dois

Galita era uma cidade litorânea cheia de belas construções antigas cercada por montanhas, florestas e um belo mar azul. Um verdadeiro paraíso que vivia basicamente do turismo. O mundo parecia em paz. Para os moradores de Galita, a guerra havia sido nos últimos anos uma idéia vaga, quase uma ficção. Coisa de tempos remotos ou de lugares distantes, dos quais mal se ouvia falar.

Um lugar maravilhoso onde a Senhora Anne todas as manhãs enquanto o céu ainda estava um pouco escuro saia para passear com seu cachorrinho August um belo basset com pedigree que já tinha participado de vários concursos. As pessoas andavam dizendo que depois da guerra aquele bairro já não era tão seguro para se andar sozinha pelas ruas. Mesmo depois do bairro se desvalorizar e de todos os vizinhos mudarem, mesmo depois do bombardeio, a senhora Anne não fugiu.

- Podemos não ser um país muito rico, mas temos um povo muito forte. Logo a guerra terminará. – Anne era muito patriota e sempre conversava com seu cachorro enquanto passeava. – Muitos fugiram com medo e as ruas andam cheias de pedintes.

Só para confirmar suas expectativas, encontrou uma das piores desclassificadas chafurdando no seu lixo.

- Olhe para isso August. – O cachorrinho fungou concordando. - Aqueles marginais jamais me expulsarão de minha própria casa. Alem disso já estou velha demais pra sentir medo. Não é mesmo.

August concordou. Anne se aproximou e começou a reconhecer a triste figura.

- August! Aquela não é a filha daquela mãe solteira? Abryele Putin! Ela desgraçou o nome de uma da mais respeitável família da cidade, não era de se espantar que tenha esse final. Sempre fora uma criança largada que corria pelas ruas sem nenhuma classe ou supervisão.

A senhora Anne não pode evitar um mal estar e uma vontade de vomitar ao ver aquela garota raquítica lambendo as embalagens de comida. Enojada ela esperou discretamente que a garota fosse embora para evitar o encontro com tão patética figura. Ela era uma mulher educada, sua família apesar de um começo humilde se tornou muito importante na alta sociedade e uma coisa que aprendera todos esses anos era a ter descrição e evitar qualquer tipo de escândalo ou mesmo inconveniência.

- Também não é de se espantar que escolheu nosso lixo para furtar. – Comentou para o cachorro. - Mesmo com todos os problemas do país eu me recuso a sacrificar qualquer conforto que meu dinheiro possa proporcionar nesse fim de vida.

Por uma mórbida curiosidade espiava com o canto dos olhos como se observasse ratos comendo.

- A menina evita usar a mão direita e não tinha muita habilidade com a esquerda. Talvez esteja machucada. – August concordou. – Se estavam com tantos problemas eu ajudaria com o maior grado. Até mesmo acolheria a menina se fosse o caso. Qual é o nome dela? Alessandra... Alixandra... Eu sou uma velha sozinha e aquela menina precisa de educação, desde como se portar a como se vestir. E ela podia ser uma boa companhia pra você. Gostaria de ter uma amiguinha August?

A senhora Anne não era uma pessoa ruim e nunca negaria um prato de comida ao pior dos criminosos se pedisse. Ela ficou por alguns instantes imaginando o bem que faria para aquela garota e teve uma terrível vontade de abordá-la.

A menina não percebeu que uma ratazana grande e ameaçadora se aproximava do seu rosto. Aterrorizada a velhinha ficou sem palavras a única coisa que a menina podia fazer era tentar aparar o terrível animal com sua mão direita.

Naquele instante, milhares de coisas passaram pela cabeça da pobre senhora, a idéia da menina agonizando em um hospital por causa de um daqueles ratos apertou seu estomago. Nem ao menos entendeu o que aconteceu.

Uma lufada de ar quente a jogou pra trás e a fez cair no chão no instante seguinte viu uma terrível fogueira aonde antes era seu lixo.

Por alguns instantes ela procurou os aviões que estavam bombardeando, mas não havia nada.

A menina levantou e saiu correndo desesperada.

A velha tentou compreender o que estava acontecendo, estava machucada e teve dificuldade em se levantar.

Quando se aproximou seu coração disparou e compreendeu o que estava acontecendo, no asfalto derretido a marca da mão da menina. Tudo fazia sentido.

Ela correu desesperada para chamar as autoridades. Só uma coisa ecoou em sua mente e pela primeira vez em 30 anos ela sentiu medo.

Bruxaria.

Ciclo três

Alixandra estava sentada espantada olhando pra o inferno flamejante que ha poucos segundos era uma pilha de lixo. Olhou para o animal que a atacara e a assustara. O rato não passava de um torrão de carvão irreconhecível. Então olhou para sua mão direita, suas unhas estavam longas e podia ver as marcas dela na pele de tanto que forçava para manter o punho cerrado.

Seu coração batia acelerado, sem pensar apoiou sua mão direita no chão e escorregou, sujando sua roupa com o asfalto líquido. Seu queixo doeu e doeu com a batida. Com toda velocidade se levantou e correu para a casa antes que alguém a visse, pelo menos ainda tinha o leite talhado.

Chegando em casa o pânico diminuiu e voltou a pensar quando teve que colocar o leite no chão para abrir a porta, só podia usar a mão esquerda, estava muito ansiosa, deveria ter verificado se alguém a tinha visto. mas agora já era tarde demais. Para seu terror havia uma pessoa quase em frente a sua casa. Como ela não o tinha visto? Era um rapaz, talvez um pouco mais velho do que ela. Ele estava olhando pra ela. Ele tinha visto tudo... Como podia ter sido tão descuidada. Alixandra perdeu o equilíbrio derrubando o leite. Todo o trabalho havia sido em vão. Aquele garoto havia visto tudo, ia contar sobre sua mão. Sua vida estava acabada.

Quando a garota voltou a si, percebeu que ele estava a sua frente com a mão estendida, oferecendo ajuda pra se levantar. Era um estrangeiro, alto e bonito, seu cabelo era comprido, coisa que os garotos de lá não usavam, vestia roupas diferentes. Tinha um olho de cada cor, um mais belo que o outro. mas o que fez sua respiração parar foram as marcas em sua pele. Metade do seu rosto, descendo pelo seu pescoço e sua toda mão estendida era coberta por tatuagens. Não apenas tatuagens de marinheiro ou de algum jovem rebelde. Aqueles símbolos pareciam ser de bruxaria.

Ele se aproximou e ela recuou assustada, novamente perdeu o equilíbrio e com o susto tentou se segurar com sua mão direita. Aconteceu novamente. Mal se deu conta e parte dos pequenos degraus que ficavam na frente de sua porta estavam enegrecidos e queimados assim como parte do chão, a grade do portão que tentou se segurar havia se derretido como uma lamina incandescente em manteiga. Nem pode se firmar. O rapaz continuou olhando com uma certa curiosidade e permaneceu oferecendo sua mão para ajudá-la a se levantar.

- Oi! – O rapaz sorriu. - Não precisa ter medo de mim. Tenho certeza que você é mais do que capaz de se defender.

Alixandra ficou estática sem saber o que fazer.

- Até quando vai me deixar esperando?

Receosa ela esticou o braço e apanhou sua mão. Com muito cuidado ela fechou a mão direita e a afastou dele.

- Puxa! Minha mão... Eu... ela...

- Tudo bem! Eu vou tomar cuidado.

Alixandra estava gelada e tremia como um cachorrinho recém-nascido.

- Você esta com frio? – Perguntou o rapaz.

- N-Não.

- Posso perguntar por que esta tremendo?

- E-eu não sei.

- Então somos dois! Já temos alguma coisa em comum.

- V-você veio me levar?

- Se quiser que eu te leve para algum lugar eu posso te levar.

Ele deixou Alix desconcertada.

- V-você viu... Você viu... Vai contar pra eles? Você vai contar pra eles que você viu o que eu fiz?

- Se quiser que eu guarde segredo eu não conto pra ninguém.

- Eu... Eu quero sim. Eu posso te pagar... Espere! Espere!

Alixandra correu para dentro da casa. Ela pegou muitas coisas nas casas dos vizinhos. A maioria eram coisas para garotas, mas todas tinham valor. Os vasos eram muito grandes, havia troféus, medalhas e pequenas estatuas de ouro. Jóias... Ela tinha jóias em sua prateleira, tantas jóias que não tinha mais aonde guardar. Ela pegou um pequeno baú e o encheu até a boca de jóias. Aquelas jóias não tinham documentos, por isso não tinham muito valor de troca. Era difícil negociar jóias sem documentos e as com nomes gravados tinham que ser alteradas. Mesmo assim tinham valor. E ele era estrangeiro. Teriam que ter mais valor em outro país. Ele tinha que aceitar aquelas jóias.

- Tome! – Alixandra entregou a caixa nervosa. – Eu peguei algumas coisas das casas abandonadas. Se isso não for o suficiente eu posso oferecer outra coisa.

- Não precisa!

- Eu posso conseguir mais. Se quiser volte outro dia que eu consigo mais.

Ele olhava para ela com interesse. Talvez estivesse interessado em seu corpo. Garotos são assim. Alixandra sorriu com a intenção de agradá-lo, foi um reflexo voluntário, ela não queria que ele visse seus dentes. Ninguém se interessaria por uma garota em estado tão deplorável.

- Posso perguntar quem são eles? – O garoto a interrompeu.

- Os caçadores de bruxas.

- Então é disso que você tem medo?

Ele tinha um sorriso simpático. Não estava nem um pouco interessado ou preocupado com os caçadores de bruxas.

- Você é um bruxo?

- Não!

- O que são essas coisas no seu rosto?

- Isso? Eu tenho desde que era bebê. Colocaram em mim pra fazer um sacrifício ou qualquer coisa assim...

- Foram bruxas? O império do Sol? Escutei que faziam sacrifícios, mas pensei que era bobagem.

- Foi o que me disseram.

- Deve ter sido horrível! Você odeia bruxas por causa disso?

- Não! Nem me lembro.

- Me desculpe! Eu tenho medo de você. Eu... Eu tenho que ir agora!

- Se você tiver algum problema e eu puder ajudar. Sua mão...

- Ela já esta sob controle! Eu me assustei, foi só isso.

- Espere! – O garoto retirou um pacote que carregava dentro de uma sacola, que Alixandra nem mesmo tinha percebido. - Por minha culpa você derrubou seu leite. Não é muito, mas espero que...

Timidamente o rapaz foi embora carregando a caixa de jóias sem nem ao menos olhar o que tinha dentro. Alixandra abriu a caixa que ele tinha lhe dado. Havia uma pequena caixa de leite achocolatado, dois sanduíches embrulhados, um salgadinho, uma barra de cereais e uma fruta. Para ela aquilo valia mais do que todo seu armário de jóias.

Ciclo quatro

O quarto de dona Abryele era alegre e aconchegante diferente do resto de toda casa que era triste maltratado.

Fazia muito tempo que ela estava doente e se movimentava apenas entre o quarto e o banheiro. Dormia tanto que já não conseguia distinguir o dia da noite. Ela ficava muito triste ao ver sua dedicada e amorosa filha cuidando dela, mas sempre se esforçava pra dar um sorriso.

Alixandra a acordou para tomar o café da manhã e seus remédios como fazia toda manhã, provavelmente voltaria a dormir por mais algumas horas enquanto sua filha estava na escola, por isso com muito esforço se mantinha acordada para ficar com sua filha.

O sorriso das duas era maravilhoso e por alguns instantes esqueciam de todos os problemas e conversavam sobre o futuro glorioso que em breve teriam quando Alixandra terminasse os estudos e sua mãe melhorasse.

Abryele tinha muita dificuldade de comer, mas se esforçava e não deixava sua filha perceber nenhum problema mesmo que doesse muito para engolir.

Alixandra estava sentada ao lado da cama de sua mãe muito feliz, quando se levantou escorregou no tapete. Com um sorriso Abryele se virou para ampará-la segurando sua mão direita quando para sua surpresa sua filha virou o corpo abruptamente e atingiu o chão com o rosto.

Abryele ficou espantada com aquela atitude, seu nariz sangrava abundantemente e tinha uma expressão de horror. Com lagrimas nos olhos ela correu para fora do quarto.

Ela não entendeu nada, nem tinha forças pra correr atrás da filha, apenas ficou se perguntando o que aconteceu e porque havia um cheiro de queimado no quarto.

Ciclo cinco

Alixandra segurava o cutelo enquanto olhava para sua mão direita, a maldita mão direita. Ela era culpada por tudo de ruim que acontecia.

Sua mãe sempre lhe contou historias sobre os bruxos como eram maravilhosos e faziam coisas fantásticas. Dizia que seu pai era um poderoso feiticeiro e que provavelmente estava com problemas, mas um dia voltaria. Quando pequena seu sonho era se tornar uma bruxa e sempre se zangava quando as pessoas diziam que os bruxos eram malignos e emissários do demônio. Conforme os anos passaram foi deixando de acreditar nessas bobagens. Ela tinha os ouvidos bem afiados e quando se é criança as pessoas tem o habito de falar como se você não estivesse por perto ou não pudesse compreender. Seu pai não era um bruxo. Não passava de um aventureiro que abandonara sua mãe quando ela era apenas um bebê. Bruxaria era coisa de contos de fada e pessoas ignorantes e supersticiosas.

Ha poucos anos ouvia falar sobre os Magos do Reino unido, da rainha de Avalon e a guerra de Camelot contra o império do Sol, mas sempre achou que não passava de títulos pomposos de militares contra um bando de fanáticos religiosos.

Mesmo quando a guerra chegou, a histeria sobre o ataque das bruxas não fez com que acreditasse. Os aviões que invadiram a cidade e as bombas que caíram eram criações do homem. Não havia nada de sobrenatural naquilo. A caça as bruxas dos militares não passava de uma desculpa para acabar com possíveis rebeldes ou opositores políticos. Todos que eram educados sabiam disso. Ela era uma garota educada ia fazer faculdade e se tornar uma pessoa importante, não era uma ignorante que culpava coisas como o demônio. Existiam muitos motivos racionais para a guerra e bruxos malignos não era um deles.

Mas á poucos dias isso mudou. A palma da sua mão direita esquentou assustadoramente como se fosse um ferro de passar e a cada dia piorava. Ela era uma bruxa e não havia nada de bom nisso. Tudo o que diziam sobre os bruxos serem malignos e possuídos pelo demônio era verdade. Não podia mais usar a mão direita, não podia pedir ajuda a ninguém se descobrissem ela seria levada para um campo de concentração e sua mãe ficaria sozinha. mas o pior de tudo era que aquilo estava ficando muito perigoso se tivesse tocado em sua mãe ela estaria com uma queimadura terrível ou talvez coisa pior.

Ela só teria que baixar o cutelo e tudo estaria resolvido, já não usava essa mão há muito tempo, seus dedos já estavam atrofiados de tanto forçar o punho fechado. Poderia falar que sofrera um acidente, todos sabiam quanto ela trabalhava duro, que sua mãe estava doente e todos os seus sacrifícios. Todos teriam pena dela e seria bem tratada, teria ajuda. Nunca precisara de ajuda quando tinha as duas mãos, mas agora...

Até então ela pode cuidar da mão e até ter alguma utilidade, mas agora ela um perigo para sua mãe. Sua mãe que fez tanto por ela e que a amava. Ela não podia permitir que nada de machucasse sua mãe, nem ela mesma.

Ela baixou o cutelo com toda força.

Não foi o suficiente.

Ciclo seis

Lumina Mwangaza olhava desanimada pela janela fazendo desenhos com sua respiração. Em meio aos comportados jovens cadetes da improvisada central dos Arcanos ela se destacava como uma rosa vermelha em buquê de margaridas. Tinha olhos azuis bem puxados, cabelos brancos e pele morena, além de sua aparência exótica, o que mais chamava a atenção era sua falta de porte militar. Quem visse acreditaria que não passava de uma bagunceira fantasiada debruçada no sofá.

- mas que frio! – Resmungou. – Eu pensei que Galita fosse o balneário da eslavia. Nem parece que estamos no final do verão.

- São as conseqüências do ataque do Império do Sol. – Explicou A comportada Maria Mercedes que sentava ao lado. – Existe uma camada de partículas magnéticas bloqueando o sol.

- Se eu soubesse disso não teria vindo. – Bufou desanimada.

- Rembrandt chegou! – Maria comentou apontando para o garoto alto com um olho de cada cor entrando no salão, terminando de abotoar sua farda. Lumina teve menção de chamá-lo, mas ele foi abordado por uma garota oriental com olhar de poucos amigos que ela conhecia muito bem.

- Por onde você andou? – Yuki Ogami perguntou visivelmente irritada.

- Eu dei uma volta. – Respondeu com muita tranqüilidade. – Eu não fui muito longe. Só quis esticar as pernas.

- O que é que você tem na cabeça? – Bufou dando um tapa na testa dele. – Tem idéia da situação deste lugar? Não faz muito tempo que este lugar foi atacado pelo Império do Sol, também conhecido como Império da Magia! Magia! Compreende? As pessoas estão assustadas e entram em pânico só com a menção da palavra bruxa. A ultima coisa que precisam é de um cabelo com símbolos de bruxaria estampados na cara. E ainda saiu com suas roupas civis. O que você tinha na cabeça?

- Desculpe! – Rembrandt se lamentou. – Eu deveria ter pensado nisso.

- Deveria mesmo! – Concordou a garota menos zangada. - Ainda bem que eu e Lumina te acobertamos. Se Derek descobrisse estaria fazendo um escarcéu até agora.

- Então eu agradeço.

- Eu não te acobertei de graça. – Yuki gemeu curiosa. - Como é que esta lá fora?

- Estatisticamente falando o lugar não esta tão destruído assim. mas os poucos lugares atingidos foram feios o bastante. Parece que miraram em áreas com muitos prédios ou grandes construções como mansões e mercados. Nenhum alvo em particular. Acho que queriam apenas aterrorizar a população e conseguiram. Praticamente não há ninguém nas ruas.

Lumina se aproximou e se dirigiu a Rembrandt.

- E então? Encontrou o que procurava?

- Acho que sim! – Respondeu pensativo.

- Trouxe alguma coisa pra mim? – Lumina já esticou a mão.

- Encontrei uma caixa de jóias numa pilha de escombros. – Rembrandt puxou um bracelete de prata com pequenos diamantes. – Acho que vai gostar disso.

- E o meu? – Yuki o intimou e recebeu um colar. Não era tão valioso quanto o bracelete. - Como é que ninguém achou isso antes?

- Estava em uma área delimitada ao lado de uma bomba que não detonou.

- E o que você estava fazendo chafurdando uma pilha de escombros ao lado de uma bomba que não detonou? – Yuki perguntou desconfiada.

- Pegando um presente pro seu pai. – Rembrandt tirou do casaco um pequeno dispositivo metálico.

- Um cartucho incendiário! – Yuki começou a ficar dando pulinhos de ansiedade. – Acho que é uma FG-40 ou 48.

- Cuidado! – Disse Maria aflita. – Isso é perigoso.

- Eu desativei. – Rembrandt respondeu em um tom enjoado.

- Eu não acho que é uma boa idéia. – insistiu Maria. – Se alguém descobrir podem obrigar vocês a devolver tudo alem da bronca que vão tomar.

- Então é melhor você se esforçar pra ninguém ficar sabendo. – Rembrandt colocou nas mãos de Maria dois brincos de esmeraldas que pareciam azeitonas. – Vão pensar que você é cúmplice.

Maria engoliu todas suas palavras e timidamente escondeu os brincos olhando como ficava no reflexo do seu polido distintivo de cadete.

- Nem tudo são flores. – Rembrandt puxou um pedaço de madeira queimado com uma espécie de enfeite um pouco derretido e entregou para Yuki que estava admirando o cartucho incendiário. – Pode fazer uma analise disso?

- Nem preciso de análise pra dizer que isso foi causado por magia. Posso sentir nos meus ossos. – Yuki apanhou da mão de Rembrandt. – Isso é um enfeite de portão não é mesmo?

- Exatamente!

- Metade dele fora derretido como se tivesse se aproximado de uma fonte de calor intenso, como uma fornalha ou lava vulcânica. Um incêndio não faria isso e uma explosão o teria deixado todo retorcido.

- Então o império atacou com magia alem da nuvem bloqueando o sol? – Maria já ficou preocupada.

- Não! – Rembrandt já a aliviou. – Isso foi feito por uma pessoa da cidade. Alguém que não consegue controlar seu poder.

- Se a sua teoria esta correta e existe uma pessoa que pode fazer isso sem controlar seu poder é um perigo para ela mesma e os outros. – Yuki guardou o enfeite. – Essa pessoa deveria ser encontrada e detida.

O clima descontraído acabou com a entrada de vários oficiais. Arrumaram uma lousa e um mapa. Os cadetes se acomodaram para escutar as instruções do vigoroso capitão Hand. Ele fez uma breve apresentação dos outros oficiais e começou.

- Todos vocês já devem saber a atual situação. Estamos na cidade de Galita em Taurica, um dos muitos estados que fazem parte da Eslavia. A Eslavia é um dos maiores paises do mundo. O maior da Europa. Ocupando grande parte do território oriental e um pouco da Ásia. Alem do seu exercito que pode ser contado em dezenas de milhões, também existem muitos interesses comerciais por esta área. Camelot esta muito contente com o fato de se unirem a aliança e esta disposta a ajudar de todas as formas possíveis. Até pouco tempo a Eslavia não se interessava em fazer parte da união de Camelot, que compõe o governo mundial, nem em fazer parte da aliança de Avalon para combater a crescente ameaça do Império do Sol, que movidos pela idéia de que os que tem poder místico são superiores as pessoas comuns, começaram uma onda de conquista e opressão nos países subdesenvolvidos aonde se passam por divindades e não ofereciam muita resistência. A principio não demos importância, mas o império cresceu se tornando tão vasto e influente que começou a ameaçar todo o mundo civilizado. Acreditávamos que tínhamos a ameaça sob controle. A situação mudou recentemente com o ataque as cidades costeiras pelo Mar Negro. Acreditamos que o objetivo do inimigo é desestabilizar a Eslavia, separando seus estados para facilitar uma invasão. Também foi uma oportunidade de demonstrar o seu poder militar em uma tentativa de nos intimidar.

Uma secretaria pegou uma pilha de papeis com as indicações dos grupos e começou a distribuir.

- A srta. Madison esta distribuindo seus grupos e itinerários. Vocês estão aqui porque como todos os paises que servem a bandeira de Avalon, os místicos estão sendo reunidos para as recém construídas facilidades de Holloway. Vamos dividir os grupos aonde irão a cada escola fazer uma pequena palestra sobre os Arcanos e os magos do reino em geral. Alguns vão para escolas mais afastadas outras mais perto. Nosso objetivo é mostrar sua formação e criar confiança em nossas tropas. Vocês irão acompanhados de um pequeno esquadrão de controle de bruxas e faremos uma vistoria de rotina em todas as classes a procura de algum possível espião infiltrado. Quero o nome de todos os alunos ausente para um esquadrão seja enviado imediatamente para uma averiguação em suas residências.

- O que? – Reclamou Lumina com suas ordens. – Eu e Rembrandt vamos ficar no quartel? Eu vou perder toda a ação.

- Apesar de suas habilidades não é uma cadete efetiva. – bronqueou o capitão Hand. – Da próxima vez, tome providencias. Alem disso recebemos uma chamada de que existe um mago não identificado com alto poder destrutivo nas redondezas e aparenta ser uma menina da idade de vocês. Não sabemos o que é e não vamos arriscar.

Lumina se calou e se sentou emburrada.

- Quando estiverem fazendo inspeção quero que tenham muito cuidado. Não se deixem enganar por rostos bonitos e inocentes. Já tivemos muitos soldados mortos por bruxos disfarçados de mulheres indefesas e crianças. Qualquer resistência deve ser respondida com força total. Procurem agir com a maior discrição e não se esqueçam de que as pessoas estão assustadas, não quero nenhuma insinuação de que somos caçadores de bruxas.

Continua...

5 comentários:

Anônimo disse...

oie!
estou no capitulo 29, mas vou comentar nesse capitulo pois a pagina não carrega!
olha, seu texto está lindo!
esta ficando cada vez mais interesante
xau

Anônimo disse...

Oi!

Comecei a ler sua historia hoje e estou amando, nao quero ser chata, sei que voce nao ta querendo revisar antes de terminar.
So preste um pouco mais de atençao a pontuaçao. Sei que a vírgula é uma porcaria, mas...
é so isso mesmo. Por que de resto sua historia ta otima.
Abraços

Angel Greenleaf

Anônimo disse...

Olá. Comecei a ler seu texto. A história é muito boa e creio que vc terá um bom livro qd terminar. Contudo, existem muitos trechos confusos. Essa é uma característica de quem escreve depressa, ou pensa muito à frente do que está escrevendo. Há também muita repetição de palavras no mesmo parágrafo e uma certa dificuldade com pontuação. Nada de muito grave, que uma boa revisão não resolva.
Sua história é boa e vc deve continuar. Se vc quiser, mandarei um trecho revisado para compreenda melhor o que estou falando.
Um abraço e sucesso na sua empreitada.

Anônimo disse...

Só para constar, estou começando a ler seu livro, espero gostar. Saiba que tem meu apoio( não que valia muito) pra seguir este caminho!

Anônimo disse...

Oi Ithamar!!!!Axei vc nem sei como e vou começar a ler seu livro agora, pode contar com minha opnião.Eu tb gosto de história de fantasias, estou escrevendo uma "The world beyond Imagination"(num sei se esta certo rsr)O mundo Além da Imaginação. Uma série, na verdade, de 6 histórias de ficção fantastica, posso te mandar uns trechos depois pra vcm ver o q axa, mas falta mt pra mim terminar.Vou ler com td carinho sua história e espero gostar.Txaus,Abrasu!