Capitulo dez

10

Lições de Magia


Ciclo Um

Como sempre o Professor recebeu Belle e Alixandra com uma xícara de chocolate com bolo e pãezinhos de queijo. Cassandra foi com elas para auxiliá-las.

- Eu prefiro aquele chazinho. – Comentou Belle.

- Eu receio que agora que você já não precisa mais dele, aquele chá não terá mais o efeito agradável que tinha antes.

Belle aceitou e tomou um gole do chocolate.

- Agora que vocês já estão mais aclimatadas e aceitam melhor a idéia de Sephirot como um lar eu já posso ter essa conversa com vocês.

As duas concordaram.

- Vocês já tiveram tempo de analisar os prospectos que lhes passei e terem uma idéia sobre as casas e templos. As escolhas pras casas geralmente são feitas na primavera, mas vocês podem escolher quando quiserem. – Respondeu o professor.

- Eu prefiro deixar pra primavera. – Alixandra devolveu o prospecto.

Belle olhou os folheto e Alix por alguns instantes e acabou também devolvendo o dela.

- Eu acho que prefiro continuar uma aracnóide por enquanto.

- Professor. O senhor é mestre de alguma casa? – Perguntou Alix.

- Não! Pode se dizer que eu sou o mestre e tutor dos arcanoides.

- Posso perguntar o que o Senhor ensina? – Perguntou Alix.

- Eu ensino transmutação.

- E o que é isso?

- Toda a matéria seja física ou espiritual possui um certo padrão de vibrações, eu ensino a usar a Alquimia para reajustar essas vibrações alterando as propriedades da matéria transformando uma coisa em outra.

- Você quer dizer química?

- Não. Também se usa física e química, mas alquimia é uma ciência mais complexa.

- E pra que isso serve?

Kazam fez um gesto e um pãozinho voou para sua mão, depois passou os dedos por ela e o pão se tornou uma bola de borracha que ele jogou no chão e entregou para Belle que só não caiu da poltrona porque Cassandra a segurou.

- Para você transformar uma pedra em uma bola, água em suco, um cachorro chato em uma bota, fazer qualquer coisa.

- Então isso é mágica. - Comentou analisando a bola.

- Eu pensei que você já soubesse tudo sobre esse assunto. - Comentou olhando pra Cassandra que deu de ombros com um sorriso maroto. O professor esperava que ela tivesse ensinado alguma coisa para as garotas.

- Na verdade não! – Confessou Belle. – Eu não entendo porque tem uma escola de magia tão grande, não é só fazer uma mágica e “pufe” a gente fica sabendo tudo sobre o assunto?

- Muito bem. - Kazam chamou a atenção de Alix que esta absorvida analisando a bola. - Você também preste atenção nisso.

- Como o Senhor ganhou seus poderes mágicos? - Perguntou Alix escondendo a bola.

- Poderes? - Perguntou Kazam. - Que poderes?

- As coisas que o senhor faz. Transformar coisas, flutuar essa cadeira. Usa uma jóia mágica, um medalhão... Seus poderes foram passados pelo seu pai...

Kazam coçou a cabeça pensando um pouco, olhou para os lados despreocupado, analisou o menino de cima a baixo e depois disse: - Você já viu uma prova de ginástica olímpica?

- Sim, na televisão.

- E você viu as figuras lindas que as ginastas fazem com as fitas enquanto dançam?

- Sim, eu vi.

- E você consegue fazer igual?

- Não.

- E por que você não consegue fazer igual?

- Porque elas são atletas e eu não.

- Exatamente! Elas são atletas que passaram anos treinando seu corpo e se aperfeiçoando para conseguir participar dessas provas na televisão. Se você começar a treinar agora e se exercitar todos os dias, acha que um dia você vai se tornar um atleta e conseguir participar de uma prova e aparecer na televisão?

- Acho que sim.

- A mesma coisa acontece com a mágica. Não se ganha poderes mágicos é preciso aprender como se faz e depois ter anos de pratica pra se fazer direito.

Kazam pegou um bloco de anotações e um lápis.

- Se eu pedir para você me escrever algo neste papel você pode fazer para mim?

- Sim, eu posso.

- E se eu pedir pra você escrever em latim?

- Eu não sei escrever em latim.

- Eu sei escrever em grego. – Cassandra levantou a mão.

- Engraçadinha! Não se faça de besta.

- Me desculpe.

- mas sabe escrever na língua em que estamos falando? – O professor continuou falando para Belle e Alix.

- Sim! Eu aprendi na escola. – Continuou Alix.

- Exatamente. E se eu te ensinasse latim? Você conseguiria escrever neste papel?

- Se eu aprendesse e mexesse meus dedos eu acho que conseguiria.

- O que você faria se não soubesse escrever?

- Eu acho que faria um desenho.

- E ficaria boa?

- Eu acho que não. Eu não sei desenhar direito.

- Então se soubesse desenhar você faria uma obra de arte?

- Eu acho que sim.

- Eu não gosto da sua atitude. Eu acho isso... Eu acho aquilo... Você precisa ter certeza das coisas, mesmo que corra o risco de estar errada.

- Me desculpe.

- Se você aprender e se esforçar pode fazer qualquer coisa que se interessar.

- Mesmo?

- Se um poeta usar esse lápis ele vai escrever uma bela poesia, se for um sábio deixara um grande ensinamento, se for um desenhista fará uma obra de arte, um apaixonado faria uma carta de amor, um cozinheiro escreveria uma receita ou simplesmente uma pessoal normal apenas uma anotação no papel.

Alixandra olhou para o lápis pensando no que faria com ela.

- O que vai fazer então? - Perguntou Kazam.

- Eu acho que... - Kazam já interrompeu a frase com um sonoro e irritante EEEEEEEEEEEEEEEEE!...

Belle não conseguiu segurar uma risada.

- Eu não vou fazer nada. - E devolveu o lápis empurrando ele com a mão.

- O mesmo acontece com os objetos mágicos, algumas pessoas sabem usar outras não. Pode se fazer sujeira, uma bela obra de arte, guardar pra depois ou simplesmente deixar pra lá como você fez com o lápis que eu lhe dei.

Ela se sentiu como se tivesse sido reprovado em um teste por ter devolvido o lápis.

- Não fique triste por não se interessar por um lápis, não estamos falando de lápis e sim de mágica o importante é que se interesse em mágica.

- Eu me interesso por mágica. – Ressaltou Alix.

- É muito importante que você se interesse e goste do que esta fazendo. Pois se não tiver interesse ou gosto pelo que esta fazendo não importa que passe a vida tentando aprender ou se esforçar, nunca vai conseguir.

- Eu já disse que me interesso. Não existe nada que eu me interesse mais no mundo todo.

- Não diga uma coisa dessas levianamente, se esforçar para fazer algo que não esta realmente no seu coração é uma das piores coisas que um ser humano pode fazer a si mesmo. Perdi a conta de tantas pessoas que eu vi se arruinando por tentarem inutilmente fazer o que não lhes combinava pelos motivos errados.

- Então esta dizendo que é melhor eu desistir?

- Eu também não quero que você desista logo assim que encontrar algo que não consiga fazer. Se esforçar muito é bom e mesmo as coisas que gostamos de fazer às vezes podem ser não sempre agradável; fazer algo que sempre lhe causa sofrimento que é errado não importa o motivo. Sempre se deve pensar bem antes e depois de fazer algo. Às vezes você pode não gostar da primeira vez e apreciar depois e vice-versa.

- Você pode gostar de alguma coisa e depois nem querer ver ela pintada de ouro. - Completou Cassandra.

- Exatamente.

- Eu quero aprender mágica. - Implorou Alixandra. - De verdade.

- Você tem que saber que mágica não é aquela coisa de desenhos animados aonde se sacode uma varinha mágica e diz umas palavrinhas bonitas que tudo vira realidade, não é só apertar um botão que vai funcionar como uma lâmpada. Nada é só apertar um botão pra funcionar. Pra acender uma a simples lâmpada precisamos de centenas de profissionais pra fazer a lâmpada, vender a lâmpada, construir o sistema elétrico que vai da usina de força até a lâmpada desde os fios até a própria lâmpada, profissionais para instalar o sistema elétrico, construir a usina de força e operar a usina de força.

As garotas refletiram sobre o assunto, realmente parecia simples acender a luz com um botão, mas realmente é um processo muito complicado e precisa de muita gente.

- Antes de tudo você vão me dizer se são pessoas praticas.

- O que? - A pergunta pegou Alixandra de surpresa.

- Você é uma pessoa pratica?

- Como assim pratica?

- Você gosta de fazer as coisas da maneira mais simples? A resposta mais curta é a melhor? Você não gosta de perder tempo com formalidades? Aceita o que todo mundo aceita sem questionar?

- Algumas vezes sim e outras não.- Alixandra puxou pela memória. - Eu acho que não... - Kazam a interrompeu novamente com um sonoro e irritante EEEEEEEEEEEEEEEEE!...

- Você não acha nada, não tem nada que foi perdido pra ser achado. Ou você é uma pessoa pratica ou não é.

- Ta! Então eu não sou pratica.

- Ótimo! Pessoas que se acham praticas geralmente são menos espertas do que macacos, se não podem usar alguma coisa como ferramenta ou pra comer, logo jogam em um canto e nunca são realmente capazes de tirar algum proveito real.

- Então pra você ser pratica é uma coisa ruim?

- Todos nós temos três ou quatro talentos que nascemos com eles e temos que descobrir quais são. Para tudo o que a gente acha difícil e complicado de fazer sempre existe uma pessoa que considera aquilo fácil e simples de ser feito. A praticidade das coisas é relativa para quem possui tendência à determinada habilidade. Quem tenta ser pratico em todos os aspectos da vida sempre acaba limitando a própria vida.

- Então ser pratica é bom, mas ser pratica demais é ruim?

- Tudo demais é ruim. Sempre se deve ter um pouco de tudo para viver a vida plenamente.

Ciclo Dois

O professor esticou a mão e uma bandeja com um pote de ouro e uma jarra flutuou para a mesa.

- Vocês estão cientes dos tipos de energia que existem no seu corpo?

- Não. – Responderam as duas.

- É obvio que já perceberam que seu corpo emite calor, eletricidade e uma infinidade de substancias químicas. Existem vários tipos, energias vitais, espirituais, psíquicas, elementais, emocionais etc... A energia que produz a magia é chamada de mana. Sabem o que é?

- Não. – Responderam as duas.

- Mana é uma forma de energia mística encontrada em todas as coisas, diferente do prana que é uma energia infinita e constante que é apenas remanejada a mana é finito, ele é produzido pelos cinco elementos e usado para alterá-los e com ajuda de outras energias pessoas que produzem um alto nível de mana podem alterar a realidade a sua volta apenas com a própria vontade.

- Como assim, alterar a realidade? – Perguntou Belle levantando a mão.

- Eu vou dar um exemplo mais simples. Vocês já sabem o que significa o termo “manifestação espontânea?”.

Alix levantou a mão receosa. – É quando você faz mágica sem saber que esta fazendo?

- Exatamente! A grande maioria das pessoas é capas de fazer magia em um nível muito baixo, consideramos essas adormecidas e as classificamos como Alfas. Um típico caso de magia espontânea pode acontecer por acaso... – O professor procurou na estante e um relógio voou para sua mão. – Bom... Esse relógio esta quebrado ou funcionando.

- Está quebrado. – Respondeu Belle. Em seguida os ponteiros do relógio começaram a girar e o vidro se reconstruiu.

- Como eu acredito que esse relógio esta funcionando ele voltou a funcionar. mas isso porque eu entendo a mágica, uma pessoa normal faria esse relógio funcionar com a mágica apenas porque acredita que esta funcionando. mas você não acredita que esse relógio esteja funcionando por isso que ele para de funcionar. – O professor entregou o relógio para ele e novamente o vidro se rachou. – Isso acontece o tempo todo, as pessoas que tem o poder adormecido fazem aparelhos quebrarem e funcionarem usando mal esse dom sem nem ao menos saber porque.

- Mas... – Pensou Alixandra. - Se tem tanta gente assim, porque não vemos essas coisas acontecendo o tempo todo?

- Vocês vêm, mas não percebem. A realidade como conhecemos não passa de um consenso geral, se alguém conseguir mudar o consenso geral a realidade toda como a conhecemos vai mudar. Principalmente porque a realidade que conhecemos não é exatamente a realidade.

- Porque nós podemos mudar a realidade? – Perguntou Alixandra entusiasmada.

- Um bom exemplo e um exercício disso é em nossos sonhos aonde podemos facilmente reordenar o mundo onírico. Infelizmente as energias contrarias no mundo físico já não são tão maleáveis.

- mas o sonho é sonho! – Concluiu Belle. – Ele não é de verdade.

O professor parou de arrumar a bandeja e olhou serio pra ela.

- Já comeu alguma coisa em um sonho?

- Já.

- E sentiu o gosto?

- Sim.

- Tocou?

- Sim.

- E sentiu a textura?

- Também.

- Viu, cheirou ou escutou alguma coisa?

- Sim.

- Então como é que você não acredita que alguma coisa que você viu, escutou, cheirou, tocou e provou não é de verdade?

Belle se conteve para não discordar daquele argumento que ela considerou de no mínimo lógica fraca.

- Acima de todas essas coisas existem mais duas coisas que vocês devem aprender a controlar a sua aura e o soma, que é o acumulo de todas as energias que saem do seu corpo. Cada pessoa possui um tipo único e exclusivo de soma que lhe garante facilidade para alguma área.

O professor encheu o pote com o líquido viscoso e transparente da taça e colocou uma rodela que parecia feita de papel no líquido.

- Como eu já disse cada pessoa possui uma facilidade, um dom natural, seja em esportes, artes ou matemática. O mesmo acontece com os magos, cada um possui uma facilidade para uma especialidade. - Ele segurou as mãos de Belle. - Agora Belle eu quero que você coloque suas mãos em volta do pote. Quero que esvazie sua mente e se concentre no seu corpo. Magia não pode ser facilmente explicada com palavras eu vou mostrar como se controlam as energias do seu corpo e as focaliza em seu soma. Depois você pratica sozinha.

Belle colocou as mãos no pote e fechou os olhos, o professor gentilmente colocou suas mãos em volta. Após alguns momentos a rodela começou a mudar e ficar mais visível. Quando soltou sua mão Belle estava exausta e ofegante.

- Você possui um soma de transformação, significa que tem facilidade para fazer transmutações e alterar sua aura. – O professor mostrou a rodela que agora parecia plástico e colocou rodela que parecia de papel. - Agora que aprendeu a manifestar seu soma, você pode treinar sozinha.

Belle concordou se recostando na poltrona como se mal pudesse respirar.

Alixandra passou pelo mesmo procedimento, ela sentiu todas as suas energias aos poucos percorrendo o seu corpo e se alinhando. O professor fez de uma maneira que ela pudesse compreender como era feito, controlar energias que ela nunca havia percebido que tinha realmente não é uma coisa que se pode explicar facilmente com palavras. Alixandra sentiu que lentamente cada parte do seu corpo que produzia energias se manifestava lentamente mostrando pra ela como fazer. Ela sentiu que se passaram horas, a sensação era agradável, detalhada e lenta, quando finalmente reuniu toda energia na palma de suas mãos estava exausta.

- O que aconteceu? – Perguntou exausta. Quando o professor Kazam largou sua mão sentiu que toda sua energia foi sugada de uma vez.

- O papel girou feito um redemoinho e parece que virou plástico. – Explicou Belle.

- Interessante! – Analisou o professor. – Manipulação e transformação.

- Eu posso fazer os dois? – Perguntou Alixandra.

- Não! – Respondeu o professor. – Manipulação é a minha habilidade e transformação é a da Belle, você possui especialização.

- O que é isso? – Perguntou Alixandra.

- Existem tipos comuns de aura como: reforço, emissão, manipulação, materialização e transmutação. Alguns poucos são chamados de especialização, pois são tão raros que nem vale a pela classificar. mas eu já desconfiava que você tivesse um dom raro.

- E qual é?

- Vamos descobrir depois, com o tempo. Não se preocupe com isso.

O professor pegou um bloco e fez algumas anotações.

- Sua preocupação agora é participar das aulas de magia. Agora que já sabem focalizar sua energia corretamente vão conhecer seus professores. Venham para o meu escritório no horário marcado de acordo com o roteiro que vocês tem. Um aluno vai levá-las a cada classe para que conheçam o caminho.

Ciclo Três

Alix vestiu o uniforme para a primeira aula de magia. O professor Kazam entregado um detalhado programa com horários, uniformes e locais em que deveriam estar. Nicole e Cassandra ensinaram quais eram os uniformes que o programa se referiam.

Os uniformes de Sephirot não eram usados apenas por estética, alem dos uniformes para aulas com atividade física como o maio para natação, roupa para dança, a roupa de ginástica, a proteção para exercícios pesados, uniforme de combate, roupas para jardinagem, aventais para alquimia e muitas outras roupas.

- Afinal, pra que tantas roupas? – Alixandra estava espantada.

- São roupas pra ocasiões especiais, como rituais e feitiços. Também existem as versões para o inverno e o verão. – Respondeu Nicole.

- Eu não acho que tenha tantas roupas assim. – Comentou Belle olhando arrumando seu armário. – Acho que vou pedir mais roupas pra Claude, não tem nenhum vestido de festa aqui.

- Vestido de festa? – Estranhou Alix. – Pra que?

- Tem festas aqui? – Belle perguntou espantada.

- O tempo todo. – Respondeu Nicole. – Vamos ter um baile no equinócio de outono e outro no dia das bruxas.

- Dias das bruxas? – Alix ficou um pouco melancólica

- Claude me disse que mesmo com o uniforme eles deixam a gente usar assessórios. Nicole você tem alguma coisa?

- Finalmente! – Suspirou Nicole. – Cassandra não se interessa nem um pouco por isso. Por ela nem trocava de roupa.

- Pra mim isso é bobagem. – Desdenhou Cassandra encolhida em seu canto do lado da cama. – Não sei que graça vocês vêem nisso.

- Estou curiosa. – Ponderou Alix. – Eu fico imaginando como serão as aulas. Nós vamos ficar em salas de aulas como em uma escola normal?

- Na maioria das aulas convencionais, sim. – Respondeu Cassandra enquanto Belle e Nicole se perdiam no armário.

- O que são “aulas convencionais?” – Perguntou Alix.

- Matemática, Biologia, literatura, historia... Essas coisas.

- mas não tem nada disso no programa que o professor nos deu.

- Isso é porque vocês entraram no meio do ano. – Cassandra se levantou pra ver o programa. – Essas aulas são uma espécie de preparo ou até mesmo avaliação pra determinar se estão preparadas pras aulas. As aulas de magia não são relacionadas à idade ou serie e sim habilidade. Como eu aprendi magia em Sídhe existem muitas disciplinas em que eu estou muito avançada.

- Então você fica em uma turma com alunos mais velhos?

- Como eu disse nas aulas de magia é tudo misturado. Você pode ter a mesma aula com alunos de nove e dezoito anos.

- Nove e dezoito? – Alix ficou espantada. – Tem gente dessa idade estudando no castelo?

- Você não viu porque passou a maior parte do tempo nas áreas e horários em que se encontram as pessoas da nossa idade. – Explicou Cassandra. – Sephirot cuida do ensino de magos de todas as idades, desde o ginásio até o ensino superior pra especialização em magia e temos um setor especial pro primário com alunos que despertaram suas habilidades mágicas precocemente e precisam de cuidados especiais por não ter pais ou serem muito poderosos. Você vai ver todo mundo no próximo festival.

- Então eu acho que não há nada pra me preocupar.

- Eu não diria isso. – Cassandra analisava com cuidado o programa. – Vocês têm alguns exames médicos bem chatinhos. Aqui diz que vão te fazer desintoxicação e lavagem. Você esta fazendo um tratamento de recuperação bem radical, não sei se você pode andar por ai mesmo com essa coleira de regeneração.

- Eu me sinto melhor a cada dia. – Observou Alix.

- Por acaso você estava à beira da morte? – Brincou Cassandra.

Ciclo Quatro

Cassandra acompanhou as duas para a primeira aula. Belle usava uma capa e jóias reluzentes. Alix simplesmente colocou seu chapéu de Bruxa.

- Vocês irão até o lugar combinado no programa e lá encontrão um aluno selecionado pra auxiliar os professores e até mesmo vocês. – Explicou Cassandra. – Hoje quem vai com vocês sou eu.

- Como foi a sua avaliação? – Perguntou Alix.

- Muito fácil. – Cassandra fez cara de tranqüilidade. – Eu já sabia mais da metade do que eles têm pra ensinar. Assim eu fiquei fora de muitas das aulas básicas.

- Mesmo assim você deve conhecer os professores?

- Isso depende. Não sei se eu já disse, mas Sephirot ensina desde o primário ao nível superior, existem mais de oitenta professores e entre eles muitos instrutores da parte militar da academia, acho que nem mesmo o professor Kazam e o diretor conhecem todos eles.

- Belle já se encontrou com alguns dos nossos professores. – Lembrou Alix. – O que você achou deles?

- Nem me fale. – Só de lembrar Belle teve um arrepio. – A maioria parecia ser pessoas normais, mas alguns eram saídos pro próprio inferno.

- Não se esqueçam que nem todos os professores são humanos, alguns são criaturas mágicas, outros são mestiços e alguns são quimeras. – Explicou Cassandra.

- Quimeras? – Estranhou Belle. – Já ouvi isso antes. Não é um bicho da mitologia grega?

- A Quimera era um monstro cujo corpo era feito de vários animais: leão, cabra e cobra, ainda por cima cuspia fogo. Todas as criaturas compostas de partes de várias criaturas unidas por mágica como homens-fera se chamam quimeras.

- Homens-fera? – Se surpreendeu Alix. – Eu pensei que fossem apenas historinhas pra assustar crianças.

- Não! – Respondeu Cassandra. - Dizem que os exércitos do Império do Sol estão cheios de quimeras meio homens e meio as criaturas mais horrendas que se possam imaginar. O pior é que as quimeras têm uma força para magias, que é extraordinária.

- E o que são as irmãs Puro-osso? – Perguntou Belle.

- Não sei e não quero saber. – Respondeu Cassandra. – Elas me dão arrepios.

- Eu pensei que você tinha sido criada no meio de Trolls. – Observou Alix. – Não deveria se assustar com nada.

- Trolls tem carne entre a pele e seus ossos. E elas não me assustam. Me dão aflição.

Ciclo Cinco

Ao lado de uma fonte com a estatua de Vênus no centro o professor Chang meditava sob o sol. Diferente dos outros professores ele não usava nem uma roupa de mago ou de cavalheiro inglês e sim uma túnica e um turbante indiano com um contrastante par de óculos escuros e luvas sem dedo de couro marrom.

Cassandra deu uma parada brusca segurando as duas.

- O que foi? – Perguntou Alix espantada.

- Vocês ficaram de encontrar alguém na praça de Vênus e olha quem esta lá. – Cassandra não era tão energética ou falante na presença de outras pessoas e tanto Alix quanto Belle já haviam percebido isso. – Ele é o professor Chang Chains.

Professor Chang? – Perguntou Alix.

- Sim! – Respondeu com um sorriso simpático. – Espero que não se incomodem por encontrá-las do lado de fora, é que ultimamente os dias andam nublados e chuvosos e eu queria aproveitar um pouquinho de sol antes que as nuvens voltem.

- Anda fazendo sol em Sídhe. – Cassandra comentou timidamente.

- Não é a mesma coisa. – Respondeu se espreguiçando. – Vocês já conhecem a fazenda.

- Nós vimos de uma das torres. – Respondeu Alix.

- mas não é a mesma coisa ver e estar não é mesmo?

- Vamos andar até lá? – Perguntou Alix. – Me pareceu um pouco fora do castelo.

- Pelo que eu saiba andar não mata ninguém desde que Pheidippides foi de Maratona até Atenas, e diz à lenda que ele não andou e sim correu. Mesmo assim a fazenda fica aqui do lado e não cerca de 40 quilômetros como Maratona e Atenas.

As garotas passearam pela fazenda com o professor Chang Chains, conheceram os pomares, as hortas, as plantações, os viveiros de peixes no lago, os pastos nas colinas e descobriram que todas essas tarefas eram feitas com o auxilio dos alunos. Belle ficou muito interessada no haras e em aprender a montar a cavalo, já Alix queria participar de tudo e conhecer todos os aspectos da natureza naquele exato instante. Cassandra até então nunca tinha tido nenhum interesse pelas atividades agrícolas, mas o entusiasmo de Belle era contagiante.

Durante o passeio o professor ensinou os fundamentos básicos da magia, que a Mágica envolve o uso da mente humana para causar uma alteração: Mudança no mundo, mudança do próprio indivíduo, mudança para com os outros. Que a mágica esta em toda parte de varias formas e pode ser encontrada em qualquer lugar.

A magia em Sephirot era usada em varias maneiras, na forma de feitiços, conjurações, encantamentos e através de poções rituais e objetos mágicos. Alguns encantamentos precisavam de entoações que precisavam ter um equilíbrio entre a energia da alma e dos sons vocálicos. Algumas poções eram apenas formulas químicas outras possuíam feitiços embutidos e até mesmo círculos mágicos. Círculos mágicos é o nome dos desenhos ou conjunto de símbolos em formulas gráficas para se fazer determinadas magias.

Alguns objetos como as cartas mágicas possuíam todos esses elementos em sua confecção, do mesmo modo que os alunos ajudavam na fazenda e afazeres do castelo, também ajudavam na montagem dos objetos mágicos, desde o projeto a testes de uso. Alguns materiais eram mais suscetíveis para acumular determinados tipos de energia do que outros, os desenhos das cartas mágicas eram feitos com pó de ouro e jóias preciosas para dar a capitação de energia correta.

O professor fez algumas demonstrações. Deu muitos exemplos e comparações com a natureza que estava a sua volta. Ele ensinou os diferentes tipos de magia que existiam e como eram definidos, os feitiços, as poções, os objetos encantados, os encantamentos e muitas outras partes teóricas que só seriam postas em pratica com no mínimo noção das outras aulas.

As garotas seguiram o professor a manhã inteira enquanto ele filosofava e contava a historias, na volta passaram pelos jardins de Aleph como nunca fizeram antes, era lindo, havia pequenas pontes de atravessando riachos, lindos bancos de madeira, arranjos em pedra e flores por toda parte. Algumas pessoas passeavam pelo lugar e outras ficavam apenas sentadas paradas.

- Isso daqui é um clube de campo? - Perguntou Belle de brincadeira.

- Esta parte do castelo é como um retiro que serve para despertar a Paz e o Silêncio Interior, junto com a natureza agreste e em contato com as plantas nativas. Invés de brincarem e praticarem esportes, por aqui as pessoas fazem trabalhos manuais e meditam nos campos.

- O que é meditam?

- Meditação é um verbo, um ato. Eu medito, ele medita, nós meditamos... Meditação é olhar pra dentro de você mesmo.

- ...

- Normalmente, sua consciência está repleta de coisas o tempo todo, você esta pensando e se lembrando de muitas coisas, mesmo quando você está dormindo, sua mente está funcionando, sonhando. Continua sempre pensando, continua com suas preocupações e ansiedades. No fundo, ela está se preparando para o dia seguinte. Isso nós chamamos de estado não meditativo.

- Por que não estamos meditando.

- Correto.

Alix ficou feliz em saber que estava certa.

- Observação é meditação. O que você observa é irrelevante. Você pode observar as árvores, pode observar o rio, pode observar as nuvens, pode fechar os olhos o olhar pra dentro de você mesmo, isso é meditação.

- E como eu faço isso? – Só pra variar Alix era quem mais prestava atenção.

- Muitas pessoas pensam que meditação significa sentar-se com as pernas cruzadas. Este é apenas uma pequena parte da meditação. Nem ficar quieto é necessariamente serenidade. Por exemplo, quando uma pessoa está com raiva e decide não conversar, externamente pode parecer quieta, mas por dentro de modo algum está quieta.

- O que é serenidade?

- Você não sabe de muita coisa.

- Eu ainda estou na escola.

- Serenidade ou ficar sereno é ficar calmo e tranqüilo ao mesmo tempo, agora neste exato momento você esta sereno, tranqüilo e sem preocupações, muitas pessoas não entendem o que é isso porque nunca estão tranqüilas.

- Eu não fico muito serena normalmente.

- Pois precisa pra meditação. O que importa é limpar a sua mente. É simplesmente ser, sem fazer nada, nenhuma ação, nenhum pensamento, nenhuma emoção. Você apenas é puro prazer. Corporalmente, mentalmente, em nenhum nível - quando toda a atividade cessou e você simplesmente é, apenas sendo.

- É como brincar de não pensar em nada?

- Só se não estiver fazendo nada. Você pode meditar com uma tarefa, fazendo artesanato, lendo um livro. Se você estiver concentrado em uma única coisa sem pensar em mais nada vai estar meditando. A coisa importante é que você seja observador, que você não tenha se esquecido de observar que você está observando... Observando... Observando.

- Eu faço isso quando vejo filmes no cinema. – Comentou Belle.

- Acredito que você gosta dessa porcaria de televisão, eu não consigo imaginar nada mais maçante do que ficar parado durante horas na frente de uma caixa que fica nos bombardeando de raios catódicos.

- Você não gosta de assistir filmes?

- Prefiro ler o livro, é mais rápido.

- Como pode ser mais rápido? Um filme tem duas horas e o livro do mesmo, geralmente possui mais de 100 paginas.

- Eu leio mais de 100 paginas em menos de meia hora.

- E se um filme não tiver livro?

- Um filme tem que ser muito ruim pra não ter um livro dele.

Alix quis mudar de assunto para não incomodar o professor.

- Então o pessoal vem aqui só para ficar meditando?

- Não, eles também aprendem a cuidar das plantas, trabalhar na fazenda, andar a cavalo, fazer alguns trabalhos manuais... Você vai encontrar algumas esculturas por ai que foram feitas pelos alunos.

Belle se aproximou de uma escultura com muito cuidado.

- Ela não vai me morder nem coisa assim não é.

- Nem todas as estatuas estão enfeitiçadas. E algumas apenas registram as coisas sem necessariamente se mover. – Chang tirou os óculos olhou pra Belle com interesse. – Eu sei que eu sou seu primeiro professor e que não estão acostumadas com magia, eu mesmo ainda não me acostumei totalmente e vivo a vida toda no meio da magia. Você esta com muitos problemas pra se adaptar a vida em Sephirot?

- Não é só o fato da magia. – Explicou Belle acanhada. – Eu sempre tive alguém cuidando de mim e é estranho ficar sozinha.

- Você não sabe cuidar de você mesma?

- Não.

- Isso é mau. Isso é muito mau. - Chang fechou os olhos e balançou a cabeça como o medico que se depara com um caso perdido. - Se você não sabe cuidar de você mesmo quem é que vai cuidar?

- Eu ainda sou criança, um adulto que vai cuidar de mim.

- Quando eu era pequeno não tinha essa coisa de adultos e crianças você era novo e pequeno, depois ficava grande e forte, se vivesse o suficiente era velho e doente. Depois morria. No Maximo se dizia bebê, criança e adulto. Agora inventaram pré-adolescente, pós-adolescente sei lá onde isso vai dar. Eu acredito que isso tudo é invenção de comerciantes pra vender mais coisas e as pessoas acabam levando a serio. - Ele deu um olhar serio pra garota. - O que você acha?

- Hã... Nada.

- Estou vendo que você é uma pessoa de opiniões fortes.

- Não se preocupe. – Cassandra consolou Belle. – Quando você tiver a terceira visão vai ser capaz de perceber quando existe um espírito em uma estatua.

- Terceira visão? – Os olhos de Alix brilharam.

- A terceira visão permite que vocês consigam ver o plano dos espíritos. Não se apressem, com o tempo eu vou ensinar a vocês.

Com um simpático sorriso o professor se despediu e as garotas foram almoçar.

Ciclo Seis

Após encher a sua bandeja com sua usual ração especial sem gosto distinguível Alix correu para a relva na tentativa de tentar meditar.

- Se vamos fazer um pinique é melhor usarmos uma toalha. – Nicole olhou para Cassandra e pegou sua bandeja.

- Eu não pretendia fazer um piquenique. – Explicou Alix.

- Sapão! – Chamou Cassandra aumentando sua voz com as mãos.

Uma simpática criaturinha verde e de olhos arregalados vestindo um avental e com um mata moscas amarrado na cintura surgiu por entre os arbustos cheirando e piscando como se procurasse alguma coisa.

- Em que Sapão pode ajudar vossa histericidade.

- Estamos precisando de uma toalha pra um piquenique. – Cassandra pegou um lenço e entregou para a estranha criatura que o mordeu, cheirou escutou e o sacudiu até crescer e se tornar uma toalha listrada.

- Como você fez isso? – Perguntou Alix impressionada. A criatura respondeu olhando para Alix como se não entendesse o que ele era ou porque estava ali falando com ele.

- Sapão essas são minhas amigas Alix e Belle Pudim. – Apresentou Cassandra.

- O que ele esta fazendo? – Perguntou Alix enquanto ele a empurrava e a puxava pelas pernas.

- Ele esta tentando fazer você se curvar perante a minha presença. – Explicou Cassandra enquanto Nicole fazia uma reverencia. – Sapão elas já fizeram uma reverencia pra mim hoje.

Sapão parou de puxar Alix, mas continuou olhando pra ela e Belle de forma desconfiada.

- Ele não é um Brownie nem um duende. – Observou Belle.

- Ele é uma espécie de Imp. – Explicou Cassandra. – Ele era meu servo quando estava em Sídhe. Como não queria ficar sozinho me seguiu até aqui.

- E onde é que ele estava? – Perguntou Belle. – Nunca o vi por aqui.

- Ele mora com outros Imps no subsolo aqui ao lado e trabalha no castelo à noite. – Contou Nicole. – Alguns Imps são uns pentelhos que gostam de pregar peças, mas ele é bonzinho.

- O que ele esta fazendo agora? – Sapão começou a empurrar Alix pra baixo.

- Não devem ficar com a cabeça acima de vossa mamilosidade. – Respondeu obrigando Alix a se curvar.

- Tudo bem Sapão. – Cassandra o puxou. – Eu sou a mais baixinha, elas não vão conseguir.

- Quer que eu traga um trono vosso diminutosidade?

- Não Sapão.

- Quer um bolinho de amora? – Ofereceu Belle.

- Muito obrigado. Madame. – Sapão aparentemente esqueceu do mundo enquanto comia o docinho.

- Ele tem muitos poderes mágicos? – Perguntou Belle interessada.

- Tantos poderes quanto um mago adulto. – Disse Cassandra fazendo carinho em Sapão. – Ele é muito prestativo. Às vezes...

- Nicole, você não prefere ficar com as suas amigas? – Perguntou Belle.

- Vocês são minhas amigas. – Respondeu comendo sorridente.

- Antes você ficava mais com as garotas do clube de eventos. Ultimamente você passa a maior parte do tempo com a gente.

- Qual é o problema?

- Não precisam mais de você agora que o festival esta perto?

- Elas não vão morrer sem mim. E eu quero aproveitar que hoje esta fazendo sol.

- Espero que fique assim no festival. – Desejou Alix.

- Não se preocupe. – Respondeu Nicole. – Estamos preparando um feitiço de clima para garantir sol durante os sete dias do festival, vamos criar um escudo em volta do castelo que vai fazer com que até a mais densa das nuvens se abra e de a volta no vale, garantindo um céu claro.

- Isso deve ser incrível. – Comentou Belle.

- Que nada! – Retrucou Cassandra. - Feitiços climáticos são dos mais fáceis de se fazer.

Sapão concordou com a cabeça.

- Eu pretendia praticar um pouco de meditação. – Comentou Alix. – mas eu acho que um piquenique esta bom.

Assim elas continuaram a comer.


Continua...

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