Capitulo quatro

04

Caça as Bruxas

Ciclo um

No final da tarde Alixandra resolveu terminar de pegar as coisas que havia deixado na outra casa, eram varias caixas de comida, em uma casa razoavelmente distante e era um grande esforço carregá-las com um único braço por isso fazia muitas paradas durante o trajeto.

Para seu assombro quando chegou na casa pode ver que havia gente dentro, sorrateiramente pegou uma das caixas de comida e saiu da casa. Sua sorte é que ela andava pelas áreas interditadas por causa do perigo de desabamento das casas e em particular da bomba que não explodira.

Como agora estava mais sorrateira levou mais tempo carregando a caixa e precisou parar muito mais vezes para descansar. Toda a comida que havia comido a deixou mais lenta.

Quando chegou a vala fora da área interditada estava exausta, mas não queria parar próximo ao cadáver e se esforçou mais ainda, pois estava muito perto. Quando pode avistar sua casa o horror tomou conta do seu corpo e ela deixou a caixa cair no chão a pior coisa que poderia acontecer aconteceu.

Os militares cercavam a casa de Alixandra.

Grandes caminhões do esquadrão de controle de Bruxas estavam parados a sua porta. Sem duvida nenhuma eram os mesmos homens que estavam na escola e levaram Belle naquela manhã.

Talvez as coisas não sejam tão ruins assim, o dia foi cheio de situações desesperadoras aonde se revelaram não tão ruins.

De dentro da casa saiu uma imagem aterradora: O Lebre. O mesmo Lebre que algumas horas atrás, havia ajudado a trazer comida e lhe dado o medalhão que controlou o calor em sua mão.

Ela esfregou os olhos, apavorada. Aquilo não fazia sentido, não podia fazer sentido o que o amigo do maior traficante do mercado negro estava fazendo no meio dos militares? E o pior de tudo: USANDO UM UNIFORME DE OFICIAL!

Atrás dele surgiram dois homens carregando alguma coisa grande, por alguns instantes ela tinha esperança de não ser verdade que fosse mentira. mas não era. Eles estavam com uma espécie de maca levando a sua mãe embora.

Ela tentou olhar enquanto colocavam sua mãe dentro da ambulância, estava com uma mascara no rosto ligada a um tanque de oxigênio e não parecia estar respirando.

Tudo estava acabado. Não havia mais nada a fazer havia perdido a sua casa e a sua mãe não restava mais nada. O professor Rocha tinha toda razão, os caçadores de bruxas estavam por toda parte, infiltrados em qualquer lugar.

Os homens entravam e saiam da casa retirando coisas e colocando em caminhões, toda a comida que havia conseguido, as coisas que pegou nas casas vizinhas e muita coisa dela própria. Não conseguia para de chorar enquanto olhava sua mãe partir com lagrimas nos olhos.

Para seu terror a situação piorou muito, de dentro da casa começaram a sair homens com cães de caça.

Eles já tiveram tempo o suficiente para reconhecer seu cheiro, eles iriam caçá-la como um animal.

Alixandra teve um pequeno descuido e tropeçou na caixa de comida, caindo e fazendo o cadáver rolar para cima dela.

Aquela visão da morte no escuro da noite a aterrorizou, sem pensar, largou o medalhão e tentou se proteger com as duas mãos; principalmente à direita.

Sentiu um clarão e quando abriu os olhos não havia nenhum sinal do corpo, apenas os vestígios de uma leve fumaça que foi dispersa pela brisa.

Levou alguns minutos até ela poder perceber.

Tinha poder para queimar até desintegrar o corpo de um homem adulto

Ciclo dois

Derek Dietrich com seu porte nobre tentava esperar de forma solene por alguma novidade, o que era muito difícil enquanto sua colega Maria Mercedes a todo o momento tombava pra cima dele tentando se manter acordada e na mesa ao lado os desajustados cadetes Rembrandt e Mwangaza ruidosamente jogavam cartas.

Esses dois eram as ultimas pessoas que se imaginaria como cadetes. Rembrandt possuía cabelos longos e negros, um olho azul e outro verde e metade do seu rosto era coberto por tatuagens, Lumina Mwangaza tinha olhos azuis bem puxados, cabelos brancos e pele morena, alem de sua aparência exótica ambos não possuíam nenhum porte militar. Quem visse acreditaria que não passava de uma dupla de bagunceiros fantasiados.

Derek não entendia porque esses dois foram enviados com ele, era o melhor aluno de sua geração, o mais jovem valete entre todos os arcanos menores servindo a rainha de Avalon. Apesar de famosos por suas habilidades eles eram irresponsáveis e insubordinados, suas missões eram famosas por acabarem em desastres e ele sentia que a qualquer momento seriam responsáveis por uma mancha em seu currículo perfeito.

A maior parte das missões dos cadetes consistia em ficar sentado em prontidão na central dos Arcanos como eram chamados oficialmente os magos do reino. Era um exercício de paciência e disciplina e contava muito no relatório das missões. Maria era nova e inexperiente, mas ao menos se esforçava, poderia passar o tempo como geralmente fazia com meditações e exercícios mentais. Só que nas ultimas horas teve que agüentar os dois fazendo caretas e jogando papeizinhos nele.

As caças as bruxas geralmente eram simples verificações de rotina sobre chamadas de paranóicos ou velhas fofoqueiras maldosas. Raramente tinham problemas com os místicos não registrados e o fato de Maria perder o controle naquela manhã o fez parecer um herói aos olhos do comando geral quando assumiu o controle. Ele não pode deixar de sentir pena de Maria que quase chorou por perder o controle. Ninguém realmente esperava que encontrasse duas bruxas aquele dia. Isso mesmo duas bruxas. Aquilo ecoava em sua cabeça o distraindo das mal-criações dos seus colegas. A garota com uma tipóia na classe em que ele estava testando os estudantes não saia de sua cabeça. Podia sentir o poder dela, o olhar dela denunciava que ela era a responsável pelo vandalismo, era uma marca de mão direita com sangue e ela estava com o braço direito em uma tipóia. Derek tentava tirar aquilo da sua cabeça, não era raro encontrar mais de uma bruxa na mesma escola e suas suspeitas devem ficar devidamente guardadas, não seria interessante se descobrissem que ele estava mais interessado em fazer um espetáculo e bancar o herói do que encontrar bruxas. Em mais algumas horas estaria de volta em casa sem nenhum perigo daqueles dois lhe causarem nenhum problema.

A capitã Inazuma era a responsável pelos cadetes e coordenava suas missões. Ela trouxe um oficial jovem e sorridente, lembrava aqueles dois baderneiros.

- Este é o Sargento Mcneil. – Apresentou.

Os jovens, também se apresentaram.

- Vocês podem me chamar de Lebre de Março. - Correspondeu sorridente.

Para seu desapontamento o olharam como se fosse tão interessante quanto um documentário sobre acasalamento de moscas. Com uma expressão desapontada entregou uma pasta para cada um com um relatório.

- Hoje, às 04:23h. No 14° distrito, foi relatado um ato de vandalismo, a perícia foi identificada como sendo de origem mística, que acredito ser uma manifestação de Mera. A suspeita foi identificada como Alixandra Putin, branca, 14 anos.

Derek olhou para a foto e sentiu um aperto no estomago, era a mesma garota que deixara escapar mais cedo. Sargento Mcneil continuou o relatório.

- Às 06:48h. Foi registrada no posto medico c48, com um grave ferimento cortante, aparentemente feito por ela própria. O corte chegou a atingir parte do osso cúbito, a enfermeira registrou tentativa de suicídio e notificou as autoridades escolares.

Maria fez uma cara de aflição, ao ver as fotos tiradas enquanto a garota estava inconsciente.

- Às 09:36h. Foi relatado um incidente de origem mística no colégio Petit Petre, como vocês sabem, às 10:58h. Foi feita uma busca por bruxas, no que terminou com a captura de Belle Trufeau, 15 anos, branca, poder nível Delta.

- Delta? - Mwangaza ficou impressionada. - Não me admira que você tenha perdido o controle. Isso não é coisa pra cadetes.

- Ela tem razão! - Inazuma consolou Mercedes. - Dietrich possui habilidades ao nível de um oficial.

- Por isso que vou precisar de vocês. - Mcneil olhou para Derek serio e preocupado. - Às 15:27h. No 18º distrito, encontrei a suspeita e confirmei que ela era uma bruxa. Ela possuía uma manifestação espontânea de Mera em nível Gama, que não podia controlar, contive a manifestação com um medalhão de proteção. Pude comprovar em primeira mão, que a tensão pode aumentar a força dela de forma imprevisível. De acordo com o relato da garota a manifestação já estava ativa a mais de 30 dias o que a motivou a tentar se livrar de sua mão direita.

- Ela tentou cortar a própria mão? - Maria ficou abismada.

- Isso quer dizer que ela é muito perigosa. - Disse Mwangaza com sangue nos olhos.

- Manifestações Mera, não costumam durar nem um segundo. - Comentou Derek. - Quanto poder ela teria se isso fosse verdade?

- Em torno de iota e Kappa. - Respondeu Mcneil.

- Isso é mais do que o Dietrich. - Comentou Mwangaza espantada.

- Isso é mais do que eu. - Respondeu a Capitã Inazuma.

- mas isso é impossível pra uma novata não registrada. - Maria estava assustada.

- O sr não deteve o poder dela com um medalhão de contenção? - Perguntou Mwangaza com um sorriso malicioso.

- Não é permanente! Ela pode retirá-lo e seu poder não vai durar muito tempo, eu só coloquei para ganhar tempo até chamar uma equipe especializada. Eu estava praticamente sozinho em uma área muito povoada. A destruição do lixo demonstrou que seu poder é mortal. Às 19:47h. Eu fui a casa dela com uma equipe avançada, mas ela não estava lá.

- Não pode encontrá-la pelo medalhão? - Perguntou Dietrich.

- Só temos uma área estimada, e é muito povoada, por isso precisamos de vocês.

- Pra que? - Perguntou Rembrandt desinteressado.

- Vão se infiltrar como simples transeuntes. - Respondeu Mcneil. - Vão abordá-la como se fossem apenas jovens normais.

Rembrandt assoviou chamando a atenção e apontou para o exótico rosto de Mwangaza, e as chamativas tatuagens no seu próprio rosto. - Ta falando serio?

- Esta de noite. - Justificou Mwangaza.

- Ela pode ser muito perigosa! - Advertiu Dietrich obstinado. Ele se sentia culpado por deixá-la escapar apesar de ninguém saber disso e estava disposto a usar quaisquer meios para se redimir. - O que faremos se ela perder o controle?

- Ela é um perigo para ela e todos os outros. - Mcneil acendeu um cigarro e pensou por um instante. - A única coisa que importa é pará-la. Não vejo nenhum motivo pra se arriscar capturando-a viva.

Ciclo três

Alixandra andava pelas ruas desolada carregando as poucas caixas de leite que salvara da ultima caixa de comida. Aquele foi o pior dia de sua vida, não conseguia tirar a idéia de que se tivesse terminado de cortar a sua mão aquela manhã nada disso teria acontecido. Ninguém pensaria que ela tinha tentado se matar, Belle nunca teria sido atacada pelos caçadores de bruxas, nunca teriam descoberto que Belle era uma bruxa, nunca teriam descoberto que ela era uma bruxa. Estaria em casa com sua mãe.

Belle ela não conseguia parar de pensar no que acontecera. Odiava Belle desde o primeiro dia que se conheceram, durante anos a humilhara e fizera sua vida miserável, sempre teve tudo fácil apesar de ser uma pessoa horrível e nunca se esforçar para nada. Queria que ela morresse, que um buraco abrisse na terra e a tragasse, que seu cabelo vistoso pegasse fogo e ela inteira morresse queimada, mas nunca o que aconteceu.

A imagem da colega salivando, sendo arrastada pelo chão, não saia de sua cabeça. Era culpa dela, era uma bruxa e agora tinha trazido problemas para todas as outras bruxas da escola. Eles fariam uma nova busca na escola. Como deixaram ela escapar provavelmente haveria outras, era obvio. Quantas outras não sofreriam o mesmo destino de Belle?

Quando se deu conta estava em uma rua familiar, podia ouvir o som de musica e a movimentação das pessoas. Era a festa do Vladimir, sem perceber havia chegado tão longe.

Sem pensar direito ela se aproximou e foi recebida com sorrisos alegres. Muitos rostos ela já tinha visto na escola, mas nem ao menos sabia seus nomes. Quando era uma criancinha e sua mãe estava bem ela fora a varias festinhas, nunca havia ido sozinha a nenhuma festa em sua vida e definitivamente aquela não era uma festinha de crianças.

Caroline e Anne Marie estavam por lá, geralmente elas não iam muito em festas, mas estavam particularmente animadas por causa da ausência de Belle. Não era segredo que Belle se esforçava pra tornar a vida dos outros miseráveis e algumas garotas preferiam ficar em casa ao encontrá-la em uma festa.

Tudo bem que elas estavam felizes com a ausência de Belle, mas todos na festa pareciam felizes com aquilo. Podia ouvir os murmúrios das conversas sobre a captura de Belle.

- Você parece triste com o que aconteceu! - Percebeu Anne Marie. - Você foi a maior vitima da bruxa, deveria estar feliz.

- Eu tento me convencer que ela mereceu. Ela era má, todo mundo sabe disso. Ela merecia. - Alixandra não agüentava mais, explodiu atraindo a atenção de todos na festa. - Mas... Mas... Foi Horrível!

A solidariedade de seus colegas foi imediata, um grande grupo se formou em volta dela, a ajudaram a se sentar e ofereceram salgadinhos e bebidas. Tinha álcool na bebida, mas ela não se importou estava exausta e faminta.

- Você tem toda razão. - Disse um dos rapazes. - Ela sofreu um destino muito pior do que a morte.

Aquela resposta foi um choque, não esperava que alguém concordasse com isso.

- Não acredito que exista crime que mereça um castigo tão horrível assim. - Outro comentou.

- mas tudo bem! - Caroline concluiu com um sorriso. - Afinal! Ela era uma bruxa, não era uma pessoa de verdade como você.

- Como eu? - Por um terrível instante a mente de Alixandra ficou branca, não sabia onde estava, nem o que estava acontecendo. – Do que vocês estão falando?

- Olha o que ela fez com você! – Disse uma das garotas que andavam com Belle.

- Comigo? – Se espantou Alixandra.

- Todo mundo sabe que ela te colocou mal olhado. – Disse Caroline.

- Mal olhado? – Ela estava com mal olhado? – Como assim?

– Você tem secado assustadoramente nos últimos tempos. – Explicou. - Seus olhos estão fundos até parece um zumbi.

Alixandra colocou as mãos nos olhos, as lagrimas haviam retirado a maior parte da maquilagem que colocara de manhã.

- Esta sempre cansada e com fome, dorme nas aulas e come aquela comida nojenta da escola. – Disse Anne Marie com uma expressão de piedade. – Olha só como você esta comendo.

Como ela esta comendo? Qual é o problema com o jeito que ela come? Ela esta com fome só isso!

- E pra piorar fez você tentar se matar. – Disse uma garota.

- Me matar? – Alixandra não tentou se matar, ela queria se livrar da mão maldita, do estigma que mostrava que ela era uma bruxa.

- Não precisa se preocupar. – Disse Vladimir carinhosamente. – Todo mundo já sabe o que aconteceu.

Vladimir tão gentil e carinhoso. Ela o adorava, ele não sabia que era uma bruxa, não sabia que era sua culpa que Belle teve destino tão horrível. Doía tanto enganá-lo. Ele nunca a perdoaria ele nunca aceitaria que ela é uma bruxa.

- Ora! Nenhuma pessoa de verdade pode ser tão mal assim. – Disse um sujeito com ar de entendido. – Bruxas são monstros!

- Monstros? – Se apavorou Alixandra. Ela não era má, amava sua mãe e só queria o seu bem, não era um monstro precisava de ajuda. A única coisa que fizera de errado fora envolver Belle, condenara uma inocente a um destino pior do que a morte. – Ela não era tão ruim assim. Tinha muitos amigos, fazia coisas boas.

- Encenação para se infiltrar entre nós. – Respondeu uma ex-amiga de Belle que ela já tinha visto varias vezes se prostituindo nas ruas do mercado negro. – Essas coisas se disfarçam das pessoas mais improváveis possível.

- Você tem um coração muito bom. – Disse Vladimir. – Por isso que ela queria destruir você.

- Viu o que ela fez na parede do corredor? – Comentou alguém.

- Os caçadores disseram que se fosse um corpo humano não seria capaz de ser identificado.

Corpo. Pensou. O Corpo do homem próximo à área interditada, ninguém nunca seria capaz de identificá-lo, ninguém nunca saberia o que aconteceu, agora era só uma pilha de cinzas espalhada pelo vento.

- Ela deixou a marca dela para amaldiçoar toda a escola. – Comentou alguém.

Amaldiçoar a escola? – Pensou Alixandra, ela só havia se apoiado na parede. Não era culpa de Belle, ela era a verdadeira bruxa, não havia maldição nenhuma, ela nunca tentou se matar. Ela estava sendo caçada, perdera sua mãe, não tinha para onde voltar.

Continuaram conversando sobre como a casa de Belle não foi afetada pelo bombardeio, como usava seus poderes para que seu pai fosse rico e outras coisas absurdas que ela tinha feito. Era tudo tão horrível. Alixandra se encolheu e cobriu os ouvidos, só queria que tudo parasse.

- Acho melhor te levar para um lugar mais tranqüilo. – Vladimir pegou Alixandra pela mão e levou para o segundo andar. Ele era gentil e compreensivo, sabia que ela precisava sair daquele lugar.

A casa de Vladimir uma dessas casas antigas e tradicionais aonde tudo é grande, no segundo andar a musica alta ficava abafada e ela já começou a se sentir melhor. Ele a levou para um quarto grande com uma cama de casal onde uma garota nua estava deitada de bruços ao lado de garrafas de bebida. Alixandra reconheceu imediatamente. Era a garota magra que sempre via nas ruas do mercado.

- Essa é a Michete. – Apresentou Vladimir. – Ela me contou que você anda fazendo negócios no mercado.

- Eu não sou uma das garotas do mercado. – Explicou Alixandra. Não queria que Vladimir tivesse uma idéia errada sobre ela.

- Não precisa ficar envergonhada. – Vladimir abraçou Alixandra e a levou pra cama. - Eu sempre gostei de você. Fiquei muito feliz quando eu soube que você era uma das garotas do mercado.

O toque carinhoso de Vladimir não parecia mais tão agradável assim.

- Você tem que acreditar em mim. – Implorou. – Eu também gosto de você. mas eu não sou uma das garotas do Mercado.

- Vocês vadias são sempre assim. Ficam fingindo que são boas garotas. Pode ser sincera comigo eu gosto de vadias.

- E ela? – Alixandra apontou para Michete que os olhava com sono, sem muito interesse.

- Ela pode se juntar à gente. Assim fica mais divertido.

- Eu sou muito magra e estou machucada. – Insistiu. – Meu corpo é feio.

- Eu não me importo.

Alixandra já não via mais motivos para resistir. Ela nunca ficaria com Vladimir, era melhor que ele pensasse que era uma das garotas do mercado do que uma bruxa.

- Eu sabia que você era uma vadia. – Disse Vladimir em tom de gloria enquanto retirava a roupa de Alixandra. – Assim como a sua mãe.

- Minha mãe? – Uma terrível energia subiu pelo corpo de Alixandra.

- Tal mãe, tal filha. Duas Vadias maravilhosas.

- MINHA MÃE NÂO É VADIA! – Com as duas pernas Alixandra chutou Vladimir para o outro lado do quarto e se levantou furiosa.

- Minha mãe é maravilhosa. Ela é um anjo ela é...

Ela não existia mais.

Alixandra por alguns instantes tentou compreender o que estava acontecendo, quando sentiu uma queimadura em sua perna. O medalhão estava derretendo. Lebre a enganara, a maldição da sua mão continuava. Correu e se fechou no banheiro, rezando para que ninguém tivesse visto. mas rezar pra quem? Ela era uma bruxa, a manifestação de tudo de ruim que existia. A única coisa que podia fazer era espalhar o mal e a desgraça por onde passasse.

Ela olhou para sua mão direita e para o curativo manchado de sangue, o corte não havia fechado. Nunca iria cicatrizar. Não precisava. Era só abrir o corte e deixar sangrar.

Ciclo quatro

Rembrandt tentava arrumar as bandagens feitas às pressas no seu rosto, mas elas insistiam em sair do lugar.

- Eu realmente tenho que ir fantasiado de múmia? – Reclamou! – Meu disfarce não esta muito convincente.

- Estamos em guerra! – Justificou Dietrich. – Tem milhões de lugares aonde pode se machucar nesta cidade.

- Duvido que incomode mais do que essa peruca e estes óculos. – Criticou Mwangaza tentando seus óculos de gatinho que ficavam caindo. – De que museu vocês tiraram essa coisa?

- Estamos chegando ao local da festa. – Informou Inazuma. – Vocês fazem uma busca e caso localizem o alvo nos informem e continuem com a tocaia. O alvo é potencialmente perigoso, vocês não devem entrar em contato com ele. O cadete Dietrich vai comandar a missão obedeçam todas as suas instruções.

- Positivo e operante senhor! – Rembrandt fez uma continência provocativa.

O furgão parou no final da rua. Todos estavam em roupas civis e ninguém suspeitaria que eram agentes. Capitã Inazuma e um sargento. Ficaram no carro. O sargento Mcneil era muito conhecido entre os estudantes que freqüentavam o mercado negro, pelo disfarce de “Lebre de Março” o traficante, por isso ficou na central.

- Não fomos convidados. – Se lembrou Mercedes preocupada.

- Não precisa de convite nesse tipo de festa. – Respondeu Mwangaza.

- Eu nunca fui a uma festa, não sei como me comportar. – Gemeu Mercedes.

- Então somos dois. – Disse Rembrandt com um sorriso.

- Eu já fui a muitos bailes de cadetes. – Se gabou Dietrich. – Fiquem próximos a mim, pois eu sei me portar.

- Me portar? – Zombou Mwangaza. – Isso não é uma daquelas reuniões de mauricinhos e velhas virgens. Você tem uma placa dizendo que é um quadrado.

- Ela tem razão. – Concordou Rembrandt. - Como sou seu amigo vou te dar uma camiseta com a frase: “Por favor, tirem esse prego da minha bunda”.

- Respeito comigo. – Reclamou Dietrich. – Eu sou seu superior. Nesta missão você presta contas a mim até pra ir ao banheiro. Quero ouvir “por favor”, e “Senhor”.

Mwangaza e Rembrandt prestaram continência e disseram em coro. – Por favor, senhor. Positivo e operante senhor.

- Sim senhor. – Mwangaza prestou uma continência. – Por favor, senhor permissão pra ficar longe do queima-filme senhor. – Dizendo isso virou de costas e foi embora.

- Não me deixe sozinha. – Pediu Mercedes.

- Eu vou te dar um tapa Maria. – Ameaçou Mwangaza enquanto as duas desapareciam na multidão.

Dietrich foi abordado por uma garota antes que pudesse ir atrás delas.

- Oxalá! – Disse a garota. – Um deus nórdico desceu a terra só pra me encontrar. Gostaria de dançar?

- mas é claro! – Respondeu Rembrandt. – Ele veio aqui exatamente pra isso. mas seja gentil porque á a primeira vez dele.

Dietrich ficou muito embaraçado e atrapalhado. mas acabou atraindo a atenção de outras pessoas.

- Eu não conheço você de algum lugar. – Perguntou outra garota já tomando liberdades. – Eu nunca esqueço de um rosto bonito.

- Eu acho que não! Eu sou de fora da cidade.

- Eu sei! – Reconheceu Anne Marie. – Você é o cadete que pegou a Belle, qual é o seu nome mesmo?

- Derek Dietrich! – Respondeu Rembrandt. – Eu sou um grande fã dele. Peçam um autografo.

- O que? – Dietrich ficou completamente desorientado, Rembrandt estragou o disfarce e ainda atraiu as atenções de todo mundo na festa.

- Grande plano senhor, senhor. – Rembrandt cochichou. – Atrair a atenção de todo mundo para que nós possamos localizar o alvo. Vamos chamar de operação João Bobo senhor.

Rembrandt saiu de perto enquanto Dietrich era assediado e foi curtir a festa.

- E ai rapazes aonde eu consigo uma bela cerveja?

- Cerveja? – Disse um dos garotos conversando. – Aqui nós tomamos pinga mesmo. – E entregou um copo.

– A famosa que matou o guarda. – Comentou Rembrandt. – Mé!

- Aonde você se machucou desse jeito? – Perguntou um dos sujeitos.

- É só uma queimadura.

- O que foi que te queimou desse jeito?

- Uma taturana. Elas queimam sabia.

- mas você esta todo enfaixado!

- Era uma taturana grande.

Ciclo cinco

Maria Mercedes não era a jovem mais interessada em festas. Teve uma educação familiar para se tornar uma esposa e mãe. Quando a oportunidade de se tornar uma oficial do exercito chegou, não foi a coisa mais interessante do mundo, a principio, quando começou a receber elogios e ter destaque em sua turma se tornou aos poucos ambiciosa. A idéia de se tornar um membro do alto escalão se tornou seu grande sonho. Um dia teria um grande escritório em uma central imponente, talvez em Camelot. Infelizmente suas habilidades eram em administração não em missões, era tímida e não fazia a mínima idéia do que fazer. Dietrich era a alma da festa, todos comentavam no herói que salvou a escola, ninguém se lembrava da patética cadete que ficou quieta em um canto choramingando. Maria agradeceu e ficou quieta escutando as historias sobre o maravilhoso cadete que capturou a terrível bruxa, A hedionda bruxa que enfeitiçou uma pobre garota, a pobre garota que havia tentado se matar cortando seus pulsos graças ao feitiço da bruxa, a pobre garota que estava neste exato instante com o anfitrião no andar de cima.

Ciclo seis

Lumina Mwangaza tirava um pouco de dinheiro de um bando de otários, em um pequeno jogo de bebidas. Os rapazes já estavam tortos com a bebida enquanto ela não tinha sido nem um pouco afetada.

- Lumina! Lumina! – Chamou Mercedes desesperadamente. – O que você esta fazendo?

- Nada demais Maria. – Enxotou a colega como se fosse uma mosca. - Na minha aldeia eu tomava três vezes isso por dia.

- Eu a encontrei! – Anunciou. – Esta no andar de cima.

- Ela morreu?

- Não! Eu quis dizer o andar de cima mesmo.

- Vamos encontrar os rapazes. - Mwangaza se levantou e colocou o copo nas mãos de Mercedes.

Rembrandt estava conversando com algumas pessoas em uma mesa.

- Nós a achamos. – Disse Maria entusiasmada.

- Que bom! - Respondeu Rembrandt olhando para o copo na mão dela. – Você andou bebendo?

- Não! – Protestou Mwangaza - Maria a achou, ela esta no andar de cima.

Dietrich pediu licença para a garota. Aparentemente dançar era mais interessante do que ele e pode se aproximar dos três reunidos.

- O que vocês estão fazendo? – Ele olhou para Mercedes pulando sorridente com um copo nas mãos. Ele pegou o copo e cheirou. – Maria! Você andou bebendo?

- Não! Pedro Bó! – Mwangaza estava ficando zangada. - Ela achou a garota.

- Você esqueceu o “por favor, senhor”. – Avisou Rembrandt.

- Não! Por favor, senhor. Pedro Bó senhor. – Repetiu Mwangaza. - Ela achou a garota. Por favor, senhor.

- Aonde ela esta? – Perguntou Dietrich excitado.

- No andar de cima. Por favor, senhor. – Respondeu Maria

- Não começa você também Maria. – Choramingou Dietrich.

- Desculpe senhor.

- Maria vão avisar a comandante. – Dietrich estava com olhos cheios de determinação. Ele nunca deixou ninguém escapar e essa não seria a primeira vez. - Eu vou subir pra confirmar o alvo.

Rembrandt foi junto.

- Aonde você vai? – Perguntou Mwangaza segurando o braço de Rembrandt.

- Ele disse vocês, mas não quem.

Dietrich subiu as escadas e começou a vasculhar os quartos quando escutou.

- Mama mia!

Era Dietrich parado na porta de um quarto.

- O que aconteceu? – Dietrich já esperava pelo pior.

- Esses dois ai. Mandando ver com tudo. – Respondeu Rembrandt.

- Rembrandt você pode fazer o favor de ser serio por um segundo? Temos que achar uma garota.

- Tem uma garota ali!

- Rembrandt!

- Podia ser ela.

- Vamos continuar a procurar.

- E ai garanhão. - Rembrandt chutou o pé da cama e jogou a foto de Alixandra para Vladimir e Michete. – Cadê?

- Ela ta no banheiro! – Respondeu Vladimir.

Dietrich olhou espantado para Rembrandt que fez uma reverencia teatral como se esperasse aplausos.

- O que ela esta fazendo lá dentro? – Perguntou Dietrich.

- Tomando banho pra se preparar pra mim. – Respondeu Vladimir.

- Isso é a prova de que não tem justiça neste mundo. – Rembrandt falou desolado. – Como é que um pereba desses, leva uma deusa dessas pra cama e nem beijo na boca eu já dei. O que eu preciso fazer pra conseguir uma garota assim?

- Depende do que tem a oferecer. – Michete fez sinal de dinheiro com as mãos.

- Há! – Rembrandt descobriu a roda. – Pagando tudo muda de figura. Agora está explicado. Derek me empresta uma grana ai? Senhor.

- Você não pode parar de pensar besteira por um segundo? – Reclamou Dietrich escutando atrás da porta.

- Eu não estou pensando besteira, estou em um grave dilema existencial. Seu pai é rico, você tem dinheiro?

Dietrich ignorou e continuou concentrado na porta.

- Na televisão eles fazem isso com uma arma na mão. – Comentou Rembrandt.

- Silencio! – Reclamou. - Estou tentando confirmar a localização do alvo.

- Quer que eu derrube a porta? – Perguntou Rembrandt.

- Nem pensar. – Protestou Vladimir. – Essa é a minha casa, não vão quebrar nada aqui.

Mal terminou de falar Rembrandt derrubou a porta. Alixandra estava com a mão direita mergulhada na banheira. A água estava vermelha de sangue e borbulhava. O banheiro estava cheio de vapor e por alguns segundos todos ficaram cegos, uma única coisa veio à mente de Rembrandt; “a mão direita”.

Rembrandt agarrou a mão direita dela e por alguns segundos pode ver bem dentro dos olhos dela. Medo. Desespero. Dor. Muita dor. Um grito de dor. Ele olhou para sua mão cheia de sangue escorrendo até o cotovelo e viu o corte no braço dela. Por reflexo a largou, caiu na banheira com água fervendo. A água transbordou por todo o banheiro. Ele pulou rapidamente para não se queimar e se desviou dela.

Ouviu-se uma palavra.

PAGOMA

O ar mudou rapidamente, o vapor se tornou gelado conforme ele entrava no banheiro. A água congelou e o frio mais terrível que já sentira dominou seu corpo. O sangue em seu braço cristalizou, o vapor se transformou em uma fina camada de gelo por todo seu corpo.

Dietrich retirou do bolso um cordão, com um frasco, com um líquido azul. Exatamente como fez com Belle. Este era o destino reservado para a bruxa.

Alixandra não podia ter o mesmo destino de que Belle, ela tinha o poder de destruir um corpo humano, era uma bruxa, seu destino era praticar o mal e espalhar a destruição. Ela preferia a morte a esse destino, mas a até mesmo a morte lhe havia sido negada. Ela levantou sua mão coberta de sangue e gritou.

O líquido azul borbulhou e quebrou o frasco.

Uma onde de choque saia do espaço entre os dois, o vapor era intenso e um estalo forte e constante era quase ensurdecedor. As paredes começaram a rachar, não se sabia se estava frio ou calor.

- Derek! - Rembrandt viu o medalhão de contenção no chão. – Ela derreteu o medalhão de contenção. PARA!

- Não! - gritou Dietrich lançando outro frasco de líquido azul que explodiu no ar. – Eu não vou perder!

Rembrandt saiu do banheiro e escutou um grito seguido de uma explosão.

KLITEVO CHEIMONAS

Metade da casa foi pelos ares.


Continua...

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