12½
Cartas Mágicas
Ciclo Um
Belle acordou muito melhor e mais disposta no dia seguinte, era fácil perceber que ela ainda não estava boa. Ela trocava cada vez mais de uma alegria contagiante para uma melancolia profunda e cada vez com mais freqüência. Alix estava muito preocupada com Belle, pois com mais freqüência ela ficava melancólica após um curto momento de descontração ou alegria, apesar de ter melhorado muito desde que chegou ao castelo sua condição estabilizara em uma condição longe de ser boa. Temia que ela ficasse com uma doença sem tratamento mágico e de difícil solução. As sessões com a professora Izma já não pareciam surtir o mesmo efeito e nada no castelo parecia interessá-la alem dos livros e das roupas.
Particularmente após a aula de Yoga Teurgica com a professora Izma que ensinou a canalizar toda energia do corpo e concentrar a aura para curar o corpo e o espírito, Belle estava particularmente mais animada.
- Você parece bem. – Alix quis entrar sutilmente no assunto.
- Por que? Como eu devia parecer?
- Que coisa! – Alix reclamou da resposta grosseira. – Eu estou preocupada com você. Você anda melancólica, fechada e como se não tivesse amigos. Eu estou preocupada com você. Você é muito importante pra mim, eu te amo como se fosse minha própria irmã me magoa te ver dessa maneira.
Belle parou por alguns segundos de cabeça baixa.
- Desculpe que você se sinta assim por minha causa, mas eu não acho que seja tão ruim.
- Porque não?
- Por que Nicole tem a mesma coisa.
- O que?
- Não reparou que Nicole é como eu?
- Como você? Como assim?
- Você a vê sempre bem humorada, se entrosando com todo mundo... mas que amigos ela tem alem da gente?
- Ela tem muitos amigos. Ela...
- Então porque ela morava sozinha com uma garota que não falava com ninguém. E ela nunca saia do quarto pras brincadeiras com as outras garotas. Não venha dizer que ela ficava lá por causa da gente.
- Tem razão. Como eu não percebi isso antes? – Alix se sentou no chão desolada. - Nós também não somos as melhores no quesito fazer amigos.
- Eu sempre pensei que você fosse.
- Eu? Quando?
- Quando a gente era pequena. Você sempre estava falando com todo mundo e todo mundo gostava de você. Só de uns tempos pra cá que você parou.
- É mesmo? Eu nunca reparei.
As duas ficaram em silencio por alguns momentos sentadas no corredor.
- Recentemente eu encontrei a professora Lucy. – Aquilo automaticamente chamou a atenção de Belle. – Ela disse que você pode vir a procurar alternativas pra se livrar de suas correntes. Ë o que você procura em todos esses livros que você anda lendo?
Belle concordou com a cabeça.
- Eu acho que sei o que fazer. – Alix abriu um sorriso.
- O que?
- Se Nicole tem a mesma coisa que você, então vou curar vocês duas.
- Como é que você vai fazer isso?
- Com a sua ajuda. Se me disser qual é o problema eu tenho certeza que posso ajudar. É tão difícil pra você viver entre magos e feiticeiros?
Belle pensou por alguns instantes.
- Meu pai sempre disse que magia não existia, quando eu voltei da escola toda entusiasmada porque havia uma garota que dizia que o pai era um bruxo e falava coisas muito legais sobre magia minha mãe ficou muito zangada comigo, ela disse como bruxos eram ruins e tudo era mentira. Eu fiquei com muita raiva de você aquele dia. E depois, você sempre continuou falando de magias e outras coisas...
Belle respirou profundamente pra continuar sem conseguir segurar as lagrimas que corriam pelo seu rosto.
- Eu sinto como se tivesse entrado no inferno e todo mundo é gentil e simpático dizendo que o lugar não é tão ruim assim, mas o mar de fogo e os caldeirões vermelhos estão lê e eu sinto que a qualquer minuto vou cruzar uma porta e dar de cara com Murava ou Chernobog. Eu não acho que pertenço a esse lugar, aquele quarto, aquela cama, essas roupas. Sinto como se nada disso fosse meu.
- Acho que eu entendo melhor do que você pensa.
Belle se surpreendeu.
- Já faz um certo tempo que eu não sentia que a minha vida não era minha e pra falar a verdade eu ainda me sinto isso assim.
- Verdade?
- Se nós nos unirmos a Cassandra e Nicole podemos nos tornar uma família. Logo que chegamos aqui, eu tive aquele sonho aonde nós éramos ou seremos as amigas possíveis no futuro. Talvez seja um sonho premonitório, definitivamente significa alguma coisa essa idéia de que mudamos o futuro para que nós duas entrássemos em Sephirot para ficarmos juntas.
- Agora que você falou... Nós estamos aqui porque Rembrandt pediu pro Sr. Kazam não é mesmo? Talvez você deva perguntar a ele porque fez isso?
- Por que ele fez isso? – Alix pensou um pouco. – Eu não sei, mas vou perguntar depois. Lembre-se do que a professora Divina disse, nós podemos controlar nosso destino isso significa que o destino existe só não é imutável.
- Então estávamos destinadas a ficar em Sephirot?
- Não! Estávamos destinadas a nos encontrar. Mesmo que seus pais continuassem mentindo pra você uma hora ou outra iria descobrir que você tem habilidades mágicas.
- Eu não entendi aonde você quer chegar.
- A professora Lucy contou que você vivia uma mentira e mostrou aquele monte de correntes que a prendiam. A sua vida realmente era tão boa assim?
- Na verdade eu me sentia bem miserável.
- Nós estamos em um castelo encantado de verdade, voamos em tapetes mágicos, andamos por uma fazenda, falamos de garotos e fizemos guerra de travesseiros. Eu sei que também aconteceram coisas ruins e até mesmo assustadoras, mas não houve coisas boas também?
- Tem sido bastante divertido às vezes... mas eu penso muito no depois. Ficamos alguns anos aqui e depois? Minha família me expulsou eu não tenho pra onde ir. Eu não consigo parar de pensar nisso.
- Não se preocupe. Você pode ficar comigo e com a minha mãe. Você pode ser a minha irmã de verdade. Belle você é uma maga. Você nasceu com essa magia e não me diga que uma habilidade que nasceu com você é uma coisa ruim.
- Sabe. Eu realmente estou me sentindo melhor.
Ciclo dois
Um dos problemas com a magia é que ela tem vida própria e pode ser completamente imprevisível. As pequenas lâmpadas dos enfeites para os salões durante o festival de outono foram enfeitiçadas para pareceram pequenos vaga-lumes e um marcador foi criado para que elas não se perdessem na área aonde poderiam agir. O problema dos marcadores é que se colocassem muito pertos a área das lâmpadas aumentava e elas vagavam para onde queriam e acabavam se confundindo e perdendo seu ponto original. Conseqüentemente apesar de todos os poderes mágicos, quando se arrumassem os enfeites no salão teriam que usar trigonometria e Rembrandt detestava isso.
Durante algumas horas de tentativa e erro ele havia colocado a maioria dos enfeites apenas usando sua intuição e bom senso. É claro que nem sempre dava certo e no final, após tantos problemas acabava puxando um lápis e um pedaço de papel pra calcular o espaço. O bom da mágica é que existiam feitiços muito eficientes para se medir e calcular planos geométricos. Infelizmente era necessário fazer a conta com as medidas e os cálculos.
Rembrandt preferiria mil vezes carregar coisas e montar barracas, mas esses trabalhos simples e braçais, infelizmente qualquer golem ou estatua animada poderia fazer, mas quando se tratava do uso do intelecto apenas um humano poderia fazê-lo. E cada vez mais Rembrandt se convencia de que ele não era esse humano.
No meio de uma das tarefas mais chatas que encontrara em sua vida, Alixandra surgiu.
- Estou incomodando? – Perguntou timidamente.
- Por favor, me incomode. – Rembrandt largou os últimos objetos dentro da primeira caixa que encontrou.
- Tudo bem você fazer isso? – Perguntou Alix.
- Eu termino depois. Nem é minha obrigação fazer isso mesmo. Só estou ajudando o clube de eventos.
- Nicole te pediu?
- Não, o Janus.
- E por que ele te pediu pra fazer isso?
- Porque ele queria impressionar a Nicole.
- Há...
- Em que posso ajudar.
- Eu queria aprender a jogar as cartas arcanas.
- Vamos para uma mesa lá fora.
Os dois saíram do salão e forma para o jardim no terraço.
- Rembrandt eu queria saber o que você acha da Cassandra?
- Eu acho que ela é muito legal. Por que?
- mas o que você acha dela como garota?
Rembrandt parou o que estava fazendo e pensou.
- Ela é jeitosinha. Faz o gênero ninfetinha, delicadinha, pele branquinha, rostinho de anjo... Eu diria que ela tem uma beleza mediterrânea.
- Você namoraria com ela?
- Quem? A Cassandra?
- É!
- Cassandra Volonaki? Irmã de Janus Volonaki?
- Essa mesmo.
- De jeito nenhum.
- Por que não?
- Porque ela é a irmã do meu melhor amigo e uma coisa que você não faz é mexer com a irmã do amigo. Alem do mais tem alguma coisinha naquele narizinho ateniense dela que conforme bate a luz ela fica a cara do Janus. E uma garota que tem cara do seu melhor amigo é dose.
- Faz sentido, já que eles são irmãos.
- mas por que esse interesse?
- É que eu não me importaria de namorar o irmão de uma amiga por mais que se parecessem.
- Há... Você ta a fim do Janus. Porque não disse antes? Tudo bem que ele não tem muita cara de homem. mas vocês garotas não ligam. Vivem se beijando, se agarrando. Existe um código de ética que não permite que nós homens façamos isso fora de um estádio.
- Não. Eu não estou a fim dele. Alem do mais eu acho que ele gosta da Nicole.
- Eu também. Só ele que diz que não sabe.
- mas qual é o problema de namorar a irmã do seu melhor amigo?
- Até a namorada dele tudo bem, afinal tem aquelas coisas da Grécia antiga no sangue, mas a irmã não tem condições.
- Por que? Me de uma razão?
- Se eu namorar a irmã dele ele vira meu cunhado. E a nossa amizade não fica a mesma coisa. Não se pode dar determinadas liberdades pra um cunhado.
- Isso é idiota. E aonde é que fica o amor?
- Exatamente o amor fraternal que um homem tem por um amigo como se fosse por um irmão. E se ele é meu irmão, conseqüentemente a irmã dele também é e daí vira incesto.
- Você não vai me convencer com esses argumentos.
- Então não tem porque insistir nessa conversa.
Ciclo três
Durante toda à tarde Rembrandt ensinou as regras e os macetes de como se jogavam e duelavam com as cartas mágicas em uma das rústicas mesas de madeira com bancos feitos de troncos de arvore que existiam nos jardins de Aleph. Alixandra se surpreendeu com a quantidade de possibilidades de jogos e utilidades das cartas mágicas.
As cartas eram chamadas de laminas e divididas em duas categorias, 22 arcanos maiores e 56 menores. Os arcanos menores eram de certa forma parecidos com baralhos normais eram divididos em quatro tipos, geralmente elementos como água, ar terra e fogo, mas existiam muitos outros tipos de baralhos com as mais excêntricas variações de elementos como raio, pedra e máquina. Os arcanos eram divididos em duas categorias, os arcanos normais que possuíam um numeral cabalístico de um a dez e quatro laminas de Arcanos reais. As laminas também eram dividias em duas categorias com inúmeras vertentes, laminas mágicas e laminas de criaturas. Os arcanos maiores eram muito complexos e difíceis de se identificar já que geralmente eram mistos de magias e criaturas com vários elementos diferentes.
Existiam três tipos diferentes de baralhos e de jogos: simples, intermediário e avançado. Os baralhos mais avançados possuíam laminas complexas que precisavam de requisitos e outras laminas para funcionarem em conjunto ou mesmo para serem usadas, por isso nos jogos avançados se espera que o jogador seja capaz não apenas de contar as laminas para saber exatamente sua posição no baralho como também deve ser capaz de rapidamente embaralhar de forma a ter a combinação mais eficiente.
Havia muitas formas de se jogar laminas mágicas, Rembrandt ensinou para Alixandra o modo básico oficial que podia ser jogado de duas maneiras: com ou sem os arcanos maiores. O objetivo é simular uma batalha real e desenvolver as habilidades estratégicas dos jogadores, por isso o selo do olho separa uma quantidade de mana que será usada para comprar as laminas. Cada lamina possui um gasto de energia diferente. Muitas laminas de nível avançado chegam a gastar energia por cada rodada. Para se manter existe uma forma muito interessante cada lamina convocada passa a valer mais energia do que foi usada para convocá-la, por isso é mais interessante convocar duas laminas fracas para trocá-las por uma lamina bem forte.
Uma das coisas que diferem os jogos mais avançados é a quantidade de energia usada, por isso no jogo básico não é permitido a compra de arcanos maiores, apenas a troca de laminas. Existiam quatro maneiras de colocar as laminas no jogo, viradas para cima em forma ativas ou para baixo em forma de trunfo, ambas poderiam ser colocadas em forma de alerta e espera. Cada maneira que se usava a carta despertava uma habilidade diferente.
O objetivo é usar a magia para atacar o oponente, na primeira jogada os jogadores convocam obrigatoriamente uma lamina no campo, na segunda jogada podem tirar uma nova carta e tomar uma atitude, seja atacar a carta do adversário ou qualquer outra coisa. Como na primeira jogada já se sabe qual é a lamina no campo já se pode começar a formular uma estratégia com as cinco cartas que se tem nas mãos. Também existe o fato da força das cartas ser relativa, um três de água pode facilmente derrotar um seis de fogo dependendo das suas habilidades. Basicamente o jogo acaba quando um dos jogadores fica sem mana ou sem laminas pra jogar.
- Puxa! E o que foi aquilo de saírem correndo no meio do campo pra se baterem?
- Aquele é um dos modos do jogo intermediário. – Explicou Rembrandt. – No jogo intermediário alem de mana também se tem à quantidade de vida ou sangue que deve ser retirada. Um dos modos de duelar no método intermediário permite a interação ativa dos jogadores, assim podemos desviar das magias e atacar diretamente o adversário.
As laminas não eram usadas apenas para duelar e adivinhação, cada lamina possuía um complexo feitiço embutido que normalmente levaria muito tempo e esforço para aprender e conjurar, mas nas laminas bastava apenas passar sua energia como se fosse uma bateria.
Muitos alunos usavam suas cartas constantemente para fazer feitiços que normalmente não seriam capazes de fazer durante anos. As coisas não eram tão simples quanto parecia, era preciso treino e muita concentração para controlar a magia das cartas. Era necessária uma permissão dos professores pra usar as cartas e uma autorização especial para poder usar os arcanos maiores que tinham poderes e habilidades fortes e complexas demais para que os estudantes dos primeiros anos pudessem usar. Um aluno despreparado que usasse uma magia de arcano maior poderia ter toda sua energia sugada de uma vez até a morte e mesmo assim não ser o suficiente para conjurar a lamina.
- Esta lamina é o lacre do olho que tudo vê. O primeiro a colocar uma define a limitação para o uso das laminas. – Rembrandt mostrou uma carta dourada com um símbolo de um olho no meio. – Ele cria um circulo em volta dos jogadores que limita a quantidade de mana que as magias podem absorver dos nossos corpos, protege os jogadores e impede que o efeito das magias saia de dentro da área de jogo. Sem o lacre uma batalha viva pode facilmente levar a morte. Existem varias maneiras de se usar o lacre, para diferentes tipos de jogos.
Alix verificou a carta. Era a primeira vez que ela tocava em uma carta mágica, ela podia sentir uma pequena comichão como uma eletricidade estática que arrepiava a pele. Rembrandt explicou que ela era muito especial, pois a carta podia sentir a magia dela. Não era qualquer aluno que podia conjurar uma carta usando as mãos como Derek e Rembrandt, geralmente os alunos usavam varinhas, cajados e outros objetos mágicos que possuíssem uma quantia de mana acumulada. Os professores ficavam muito zangados com os alunos que desobedeciam e puniam selando sua magia.
- Eu vou convocar um campo pequeno que vai permitir fazer convocações menores. – Ele anunciou e desta vez usando uma varinha conjurou.
Kallo
Os símbolos saíram da carta e giraram em volta deles. – Campo pequeno. – Após ouvir o pedido os símbolos se uniram em um pequeno circulo como o que girava em torno dele no duelo contra Derek, com as mãos ele definiu o tamanho do circulo na mesa.
As criaturas convocadas por Rembrandt surgiram do tamanho de ovos. Alix ficou espantada com o realismo delas, ela podia tocá-las e senti-las.
Rembrandt explicou que era um dos efeitos do selo do olho que tudo vê. Se ele quisesse as criaturas poderiam ser intangíveis como sombras. Apesar das conjurações serem baseadas em criaturas de verdade e poderem falar e agirem como se tivessem vontade própria não eram criaturas vindas de nenhum lugar. Na verdade não passavam de manifestações do próprio ego do mago que as invocou. Quanto mais disciplinada fosse a pessoa mais controle das criaturas teria, manifestações rebeldes eram sinais de falta de autocontrole.
Esse era outro grande problema tanto no uso cotidiano das cartas quanto nos duelos ao vivo, pois por mais forte que fosse seus poderes e melhor sua estratégia, existia a possibilidade de não ter controle sobre as criaturas.
Alixandra ficou com muita vontade de experimentar, mas Rembrandt se negou a ensinar isso a ela antes de ter o consentimento de um professor. Por mais bobo e simples que isso fosse ele já tinha uma longa lista de falta com os professores e eles já haviam adquirido o habito de puni-lo severamente por pequenas infrações. O que ele considerava acidentalmente inevitável.
- Eu preciso te fazer uma pergunta. – Alixandra abordou seriamente assim que Rembrandt desfez o feitiço e restou apenas algumas laminas espalhadas pela mesa.
- Tem alguma coisa que você não entendeu?
- Não! É sobre o dia em que nos encontramos.
- O que tem?
- Eu queria saber o que você pensa de mim.
- Eu acho você legal. È bonita e agradável.
- Não! Eu quero saber se você me trouxe aqui porque quer dormir comigo.
- De onde você essa idéia?
- Naquela festa eu sei que você viu as garotas que se vendem e se por acaso você pensou que eu sou uma delas está enganado. mas se me trouxe aqui eu seja sua amante ou coisa parecida eu não vou me negar.
- Nossa! Eu nem lembrava disso, me esqueci completamente de tudo isso quando e a vi com o pulso aberto na banheira.
Alixandra sentiu um grande embaraço por causa daquilo, preferia ter sido confundida com uma das garotas da rua do mercado.
- Não precisa ficar assim. Todo mundo já sabe da sua situação desesperadora. Pelo menos eu sei.
- Puxa! mas porque você fez tudo aquilo por mim? Me deu seu sangue e sua magia arriscando sua vida, ficou comigo e ainda fez com que viéssemos para Sephirot e ficássemos com Nicole e Cassandra.
- Que exagero! Eu não arrisquei a minha vida. Apesar de não ter idade pra doar sangue e ter ficado um pouco fraco eu não arrisquei minha vida em nenhum momento. Os médicos nem deixariam.
- Puxa! Ainda bem.
- Como você sabe de tudo isso?
- Lumina nos contou.
- Eu normalmente diria que faria a mesma coisa por qualquer garota bonita e depois de passar mais de 20 horas em uma cama de hospital com você eu mentiria se dissesse que não queria muito te ver de novo, por isso pedi pra Medhal te trazer até aqui, pedi pro professor Kazam te colocar no mesmo quarto de Nicole e Cassandra e pedi pra que cuidassem de você.
- Puxa! Você é bem influente por aqui.
- Na verdade eu gastei todos os meus favores nisso. – Rembrandt deu uma leve risada. – Eu nunca realmente pensei que usaria esses favores. Se ainda estiver interessada em ser minha amante eu não vou reclamar.
Alixandra ficou chocada com a sinceridade daquela resposta apesar do leve tom de brincadeira. Afinal ela mesma havia se proposto e Rembrandt se demonstrou ser um cavalheiro, mas nem um pouco bobo. Milhões de coisas se passaram pela cabeça dela naquele instante. Ela se indagou se ele poderia realmente gostar dela ou se apenas gostara da proposta. Ela lembrou de Cassandra que aparentemente gostava dele, de Lumina que aparentemente o maltratara por causa dele, de Belle, da sua mãe e um monte de outras coisas que nem ao menos tinham a ver com o assunto.
- Algum problema? - Rembrandt estava preocupado com a estranha reação dela.
- Não! Eu...
- Você ainda não se recuperou completamente. Quer que eu vá pegar um pouco d’água? Quer que eu te leve até a ala hospitalar?
- Alguma coisa pra beber seria bom.
Rembrandt saiu e deixou as cartas que Alix ficou olhando. Ele usava o baralho dos magos, ao invés de quatro elementos específicos possuía cartas de todo tipo de elementos, mas com temáticas diferenciadas, cavaleiros e magos da luz, guerreiros e magos das trevas. Aquelas figuras imponentes e poderosas não pareciam combinar muito com ele. Era tão divertido e tão gentil.
Ciclo quatro
Nicole estava usando um feitiço muito útil para pintar as faixas de enfeites para pintar bandeirolas. O pincel enfeitiçado memorizava o trabalho que ela havia feito em uma bandeirola e repetia sozinho em todas as outras, só precisava fornecer a tinta pra ele.
- Nicole! – Chamou Alix. – Eu queria conversar com você.
- Me ajude a levar essa caixa de latas de tinta vazias. – Nicole pediu pra uma das garotas ficar em seu lugar e indicou quais tintas usar.
- Ainda bem que você quer conversar. – Comentou Nicole sussurrando. - Eu precisava falar com alguém sobre o que eu estava pensando.
- No que?
- Você já reparou que dezesseis e dezessete são respectivamente dez e seis e dez e sete juntos?
- Eu nunca pensei nisso.
- mas porque será que é só o dezesseis em diante? Por que não dizemos dezedois e dezecinco, dizemos doze e quinze?
- Eu não tenho certeza se isso é realmente importante. – Alix deu de ombros.
- Tem alguma coisa a incomodando? – Nicole piscou desconfiada. – O que é mais importante do que a origem do nome dos números?
- Vocês do clube de Eventos tem experiências com garotos, não é mesmo?
- Não sou adivinha como a Cassandra, mas sinto que tem alguma coisa relacionada ao que você ia falar com o Rembrandt.
Alix tentou contou sua conversa com Rembrandt.
- Você disse pro Rembrandt que queria ser amante dele?
- Eu disse seria, não que queria.
- E como é que foi?
- Como é que foi o que?
- Vai me dizer que você disse pro Rembrandt que queria ser amante dele e continua virgem?
- Rembrandt não é assim. Alem do mais ele não pareceu que levou muito a serio. Eu espero.
- HO! Não vejo a hora pra contar isso pra Cassandra.
- Você nem é louca! Cassandra gosta do Rembrandt ela não vai me perdoar.
- Claro que vai. mas se te incomoda tanto por que disse isso pra ele?
- Eu não sei! Foi a primeira coisa que surgiu na minha cabeça. Eu só queria saber por que ele me trouxe pra cá.
- E porque ele te trouxe?
- Ele disse que queria me ver de novo.
- E a Belle?
- O que tem a Belle?
- Você contou pra ela que você queria ser amante do Rembrandt?
- De jeito nenhum, ela ia morrer.
- Então você contou pra mim por falta de opção? Agora magoou!
- Não fale assim. Você sabe que você é minha amiga e só que eu não posso contar pra elas.
- Então é só um segredo entre nós duas? Nunca tive um segredo entre amigas. – Nicole pediu para que uma sala móvel de serviço aparecesse, era obvio que as salas móveis normais não eram boas pra carregar coisas ou levar lixo, pois estavam sempre cheias de moveis e arranjos.
Surgiu uma sala completamente diferente das outras, era toda coberta de lona e com sinais de muito movimento no chão, sem falar de um forte cheiro de poeira. As duas colocaram a caixa dentro e saíram.
- Você conhece a Lumina? – Perguntou Alix puxando assunto.
- Não sou especialista, mas sei muito sobre ela.
- Qual é a da Lumina? Ela parece que me odeia.
- Lumina e Rembrandt foram criados juntos pelo professor Kazam e a Sra. Jones. Ela é praticamente uma irmã pra ele e por sua causa ele quase morreu.
- Quase morreu?
- Você não sabe?
- Não sei o que?
- Depois que doou sangue pra você, Lumina disse que vocês dois ficaram nus dentro de um saco de dormir por quase vinte horas pra impedir que você congelasse. A perda de sangue e a magia que ele usou em você deixou a vida dele por um fio. Quando chegaram em Londres ambos foram hospitalizados. – Nicole colocou a mão na boca em sinal de silencio. – Informação sigilosa, não pode contar que eu lhe falei.
- Eu não tinha pensado nisso. Ele ficou comigo durante toda viagem de Galita até aqui?
- Você estava inconsciente não é?
- Sim.
- Durante todo o tempo que passou com Rembrandt?
- Isso mesmo.
- E continua virgem?
- Completamente.
- E o outro lado? Você estava inconsciente.
- Pare de brincar. Rembrandt não se aproveitaria de mim desse jeito.
- Tem razão. Ele faria o serviço completo. Acha que com os poderes de cura dele ele pode refazer um hímem?
- Por que você sempre leva pra esse lado?
- Sou uma garota de Nottingham.
- Que raio de resposta é essa?
Repentinamente uma enxurrada de estranhas criaturas cruzou o corredor jogando coisas nas duas. Eram estatuas bolas, globos, dados, vasos de flores, chaleiras e a mais vasta coleção de itens diversos saltitando e se contorcendo como se fossem de borracha.
Logo em seguida um grupo de estudantes com uniformes das casas de paus surgiu correndo atrás dos objetos. Um rapaz muito parecido com Janus parou e ajudou as duas a se levantarem.
- Vocês estão bem? – Perguntou o rapaz.
- Prometeu? – Reconheceu Nicole imediatamente. – O que esta acontecendo?
- Fomos invadidos por um bando de guaxinins, eles estão fazendo a maior bagunça e pregando peças em todo mundo.
- Guaxinins? – Se espantou Alix. – Eu pensei que fossem Brownies ou Quimeras.
- Não! São guaxinins mesmo.
- De onde vieram esses guaxinins?
- Da aula de transformação. Eles passaram nas provas e estão comemorando.
- Guaxinins fazem aulas de transformação?
- Sim! – Nicole riu da surpresa de Alix. - Temos um monte de alunos guaxinins nessa escola.
- Então existem animais falantes nesta escola?
- Já ouviu aquelas historias antigas sobre animais falantes como se fosse a coisa mais comum do mundo?
- Sim!
- É a coisa mais comum do mundo.
- Mas... Mas... De onde eles vêem?
- Você não sabia? Eles são Púcas. Pode se dizer que é um tipo de fada que se transforma em gente e animais e vivem disfarçadas entre os humanos. Acho que faz sentido já que humanos e fadas também são animais.
- E esses animais mágicos... Púcas! Vivem entre as pessoas normais sem ninguém perceber?
- Um monte de criaturas mágicas vive entre as pessoas comuns sem serem percebidos. Metade dos irlandeses na verdade são leprechauns.
- Você esta brincando comigo?
- Não! É verdade. Eles são muito comuns, principalmente em comunidades afastadas e grandes centros urbanos.
- mas eu nunca ouvi falar disso.
- Claro! Magias de ilusão são as mais comuns, é usual que quando as pessoas passem por comunidades ou cidades de duendes, fadas ou púcas pense que encontrou uma cidadezinha subdesenvolvida e isolada. O mundo é maior do que a gente pensa.
- Você chamou ele de Prometeu, conhece ele?
- É o irmão mais velho do Janus e da Cassandra.
- Mesmo? E eles tem mais irmãos?
- Não. São apenas três.
- Eu acho que tem muita coisa pra aprender sobre esse lugar.
- Eu moro aqui bem antes de você e estou longe de saber de tudo.
Os Guaxinins voltaram se transformando, saltando e jogando coisas enquanto eram perseguidos pelos cadetes. Alix e Nicole fugiram rindo e gritando da enxurrada de criaturas e objetos estranhos.
A biblioteca de Sephirot era muito conhecida entre os magos, por conter livros que eram considerados proibidos e secretos em muitas culturas. Os avanços do império Britânico e as guerras ajudaram os magos a conseguirem muitos exemplares raros e existia um verdadeiro exercício de pesquisadores traduzindo e convertendo antigas escrituras para o inglês.
Só sobre budismo existia praticamente um salão inteiro livros como o cânone Bön tinha mais de 200 volumes, apenas suas copias e traduções ocupavam estantes inteiras. Alix ficou espantada com o tamanho gigantesco da biblioteca, os corredores de livros pareciam ruas, corvos e ratos de óculos cuidavam do lugar, muitos alunos liam sentados em cima das mesas, outros deitados no chão e até em esteiras romanas.
- Como é possível ter uma biblioteca tão grande? – Alix não era a maior aficionada por livros, mas o lugar era impressionante, o quarteirão aonde ela morava podia ser colocado facilmente dentro do salão principal.
- Ela possui livros de todas as partes do mundo e de todas as épocas. – Explicou Nicole. – Eu soube que nas sessões restritas você pode até encontrar livros de mundos paralelos.
- Puxa! Mundos paralelos? – Repetiu Alix. – Você esta falando Sídhe?
- Não! Sídhe fica aqui ao lado, é fácil encontrar livros de lá. Estou falando de lugares mais distantes.
- Agora eu me perdi!
- Existem quem acredite que existam outras dimensões paralelas a esta, com um mundo igualzinho ao nosso, mas diferente.
- Como assim? Igual, mas diferente?
- Você conhece a rede do tempo e os emaranhados das possibilidades não é mesmo?
- Sim a professora Divina nos contou.
- Pois bem, acreditam que toda vez que passamos por um grande emaranhado de possibilidades um novo mundo nasce aonde tudo aconteceu diferente.
- Então vocês querem dizer que existem realidades alternativas aonde uma pessoa deveria ir pra direita quando foi pra esquerda?
- Não coisas pequenas. Só as grandes. Por exemplo. – Explicou Cassandra. Imagine que o rei Arthur morreu na batalha de Salisbury então surgiu um mundo paralelo ao nosso só que aonde Avalon não se tornou um império e os magos ainda vivem escondidos controlando o mundo das sombras como se fossem pessoas normais.
- Rei Arthur Pendragon morrer em Salisbury? – Reclamou Nicole. - Isso é tão idiota quanto os historiadores que suspeitam que a rainha tinha um caso amoroso com sir Lancelot.
- O caso é que acreditam que essas realidades alternativas existam e que os Grãos Mestres são capazes de viajar por esses mundos e trazem vários livros de lá. – Continuou Cassandra. – Já ouvi que muitos alunos comprovaram existem livros contando versões alternativas da historia por aqui.
- Não seria apenas o caso de um livro de historia falso? – Perguntou Belle.
- Sim! – Respondeu Nicole. – mas daí perderia toda a graça.
Neste momento uma rata de quase um metro, usando um sóbrio vestido azul cheio de babados com uma touca e delicados óculos de leituras.
- Eu nunca a vi por aqui srta. – Comentou a rata. – E sou capaz de lembrar de todos os alunos assim como todos os livros que já entraram nessa biblioteca,
- Vocês têm algum livro de realidades alternativas? – Perguntou Belle.
- Ficção ou não ficção?
- Ela esta brincando. – Respondeu Alix. – Ela esta dizendo que existem livros que trouxeram de outras realidades alternativas pra cá.
- Os livros de que trouxeram de outras realidades ficam no terceiro andar, possuem alguma preferência?
A resposta da rata atordoou as garotas por alguns instantes.
- Estamos procurando livros sobre cartas mágicas. – Pediu Nicole.
- Vocês querem livros vindos de outras realidades que falem de cartas mágicas? – insistiu a rata.
- Não! – Respondeu excitada. – Queremos livros dessa realidade mesmo.
- Umph! – Bufou a rata como se elas subitamente deixassem de ter qualquer interesse. – Ficção, não ficção, estudo. Autor preferido, tema em particular...
- Queremos livros que falem sobre as cartas, guias de baralhos... Essas coisas.
A rata bateu palmas e fez sinal para um dos coelhos menores que correu em direção a elas com um baralho nas mãos. - Meu nome é Oswald, em que posso ajudá-las?
- Um coelho de colete e óculos? – Alix se maravilhou. – De onde tiram essas coisas?
- De alguma livraria em Londres provavelmente. – Respondeu Nicole.
- Tem coelhos gigantes trabalhando em Londres? – Duvidou Belle.
- Provavelmente, ninguém ia prestar atenção neles por lá.
As garotas se apresentaram. - Eu procuro por um livro sobre cartas.
- Suponho que queira ajuda para escolher um baralho e suas amigas vieram aconselhá-la.
- Puxa! Você acertou em cheio.
- He, he! Eu apenas me interesso pelas garotas... Digo! Pessoas que gostam de jogar cartas. – Oswald fez um gesto para o seguirem. – As laminas ou cartas mágicas, chegaram no ocidente por volta de 700 anos atrás com os ciganos, ninguém sabe exatamente qual é sua origem. Algumas lendas dizem que há 6000 anos o deus Thot entregou o segredo das cartas mágicas com junto com a escrita para os homens no antigo Egito, por isso que seu poder é tão grande e suas habilidades tão precisas.
- As cartas mágicas são egípcias? – Nicole ficou espantada.
- Qual é o problema? – Perguntou Alix
- Os antigos egípcios eram necromantes, sua magia é proibidissima. – Respondeu Nicole.
- Eu já ouvi essa palavra antes. – Comentou Alix. – O que significa? Eu sei que não é coisa boa.
- Até eu sei disso Alix. – Reclamou Belle. – Os necromantes são os piores tipos de praticantes de magia negra, eles mechem com os mortos, eles fazem zumbis e todo tipo de horror. - Belle teve um arrepio só de pensar.
- Isso é verdade. – Oswald confirmou com uma risadinha. – Apesar de famosos por suas magias negras e trabalhos com cadáveres nem todos os egípcios antigos eram necromantes, alguns foram grandes mestres da luz e da magia branca, acreditamos que as cartas mágicas são um bom exemplo disso. Originalmente as laminas eram feitas varias camadas de bronze e precisavam de um complexo ritual para invocar seu poder. Hoje graças as micro-correntes de feitiços até crianças como vocês podem invocar sua magia. Sabiam que cada carta possui em media 7 camadas de feitiços sobrepostos em camadas de micro-círculos de magia feitos em material condutor de mana.
- puxa! – Alix olhou pra carta que ele mostrava. – Deve dar um trabalhão fazer uma carta.
- Bota trabalho nisso. – Confirmou Oswald!
Chegando a sessão de cartas Oswald mostrou uma coleção de livros com indicações de cartas. Cada volume mostrava um tipo de baralho e explicava o que cada carta fazia, sua origem e como funcionava.
- Para usar um baralho completamente você deve decorar um livro inteirinho. – Disse Nicole puxando um volume. – Esse é o baralho que eu uso, ainda não decorei todos os aspectos das cartas, mas vou chegar lá.
Alix folheou as paginas de um volume surpresa. – mas quantos tipos de baralho existem para escolher?
- mas de 100. – Observou Belle contando os volumes.
- E esses são apenas as cartas principais que Sephirot produz em massa, Os grandes magos fazem suas cartas para terem maços exclusivos. – Com um sorriso mostrou um exemplar de “Cartas exclusivas de magos famosos.”
- Puxa! mas como eu vou escolher? – Alix já não estava tão feliz. - Eu não imaginava que existissem tantos baralhos assim e com tantas caretas diferentes...
- Se existem mais de 100 tipos de baralhos deve haver quase 10000 tipos de cartas diferentes. – Observou Belle olhando os livros na prateleira.
- Nem tanto. – Tranqüilizou Nicole. – Muitas cartas são praticamente as mesmas. O selo do vento das laminas elementais, o escudo das tempestades das feiticeiras gregas e a barreira do ar se encontram em cinco baralhos diferentes são exatamente a mesma carta com o mesmo efeito só que com nomes diferentes.
- Puxa! Você sabe tudo.
- Nem vou fingir que sei do que estão falando. – Resmungou Belle enquanto folheava um exemplar de 100 usos para cartas mágicas, os 10 pode e 90 não pode.
- Alem disso. – Continuou Nicole. – Existem os baralhos avançados que exigem um profundo conhecimento das cartas e das estratégias. Sem falar nos baralhos proibidos.
- Proibidos? – Belle se interessou. – Porque são proibidos?
- Alguns tipos como o baralho dos demônios exigem muitos pactos e sacrifícios pra realizar sua magia. – Nicole mostrou o livro com uma tarja preta com letras vermelhas bem grandes de aviso. - Você pode perder a própria capacidade de usar magia ou a própria vida em um simples duelo amistoso.
Muito interessada Cassandra pegou o livro e as letras do aviso se iluminaram como lâmpadas. – Eu sei que existem muitos demônios em baralhos, mas nunca pensei que existisse um baralho só de laminas com demoníacas.
- Aonde se consegue um desses? – Belle teve um arrepio.
- Não se consegue. Esses baralhos são proibidos, os livros estão aqui para estudar caso se encontre alguém com um baralho desses. – Nicole respondeu tirando o livro de Cassandra e o levantando fora do seu alcance. Como Cassandra era um pouco baixinha e Nicole bem alta não insistiu muito em tentar pegar o livro. –E caso encontre alguém com um desses baralhos você não vai ser idiota de enfrentá-lo. Você vai correndo denunciá-lo para os magos do reino.
- Acredito que existe gente que estuda as cartas só pra ter uma vantagem sobre o adversário. – Belle conclui mostrando um exemplar de Guia de estratégia para jogos de cartas mágicas para Alix.
- Olha isso aqui! – Cassandra mostrou um dos livros proibidos. – Ë o baralho de Sutra.
- Um baralho baseado no Kamasutra? – Perguntou Nicole correndo pra olhar.
- O que é Kamasutra? – Perguntou Alix.
- É A antiga arte hindu do prazer e do êxtase. Uma espécie de Yoga sexual. – Nicole mostrou o livro cheio de ilustrações. - Já pensou nessas cartas em um combate ao vivo?
- Como vocês sempre conseguem essas coisas sem vergonha? – Belle reclamou.
- Vai dizer que você não quer ver? – Nicole provocou.
- Não sei porque essa porcaria fica exposta pra todo mundo ver. – Belle protestou. – Aqui é uma escola, por que tem esse tipo de coisa aqui?
- Temos todo o tipo de material para que tanto nossos alunos quanto nossos pesquisadores possam ter acesso a todo tipo de informação e conhecimento. – Respondeu Oswald ajustando uma escada para subir na prateleira.
- Pelo menos não é um daqueles livros que pulam na sua cara. – Suspirou Belle.
- Livros que pulam na sua cara? – Se interessou Alix. – Como aqueles livros mágicos de desenhos animados?
- As laminas mágicas foram baseadas em grimorios que os antigos usavam em guerras. – Oswald balançou um livro. – Elas foram criadas para que grandes e complexos encantamentos fossem feitos com agilidade.
- Deixa eu ver. – Alix pegou o livro e o abriu sem nenhum aviso. Toda a biblioteca a sua volta desapareceu dando lugar a um campo em guerra. Homens armados corriam a sua volta ao som de explosões e gritos, por um relance ela pode ver magos entoando com seus livros abertos e gigantescas criaturas flutuando no ar em meio a fumaça. Uma horda de estranhas criaturas correu em sua direção era tudo tão rápido e intenso que mal pode compreender tudo que estava acontecendo. Por reflexo ela se desviou e se encolheu dando uma forte cabeçada na estante de livros. Quando percebeu estava encolhida no mesmo lugar que antes.
- Leitura realista não? – Belle pegou o livro e entregou a Cassandra. Apesar de se controlar Belle ainda evitava se aproximar muito de tudo que é mágico.
- Você já tinha visto esses livros? – Alix se espantou.
- Foi sem querer. Não sabia que existiam.
- O que você precisa é disso. – Oswald surgiu com um pequeno exemplar de Como escolher seu baralho ideal. – Aqui existe um método de definir qual é o melhor tipo de baralho pra sua personalidade. Ë um teste aonde você responde as perguntas e faz um calculo para definir qual é o seu baralho iniciante e o ideal avançado.
- Isso é bom. Eu usei este livro também. – Comentou Nicole.
- Nicole é uma das melhores jogadoras entre as arcanoides. – Cochichou Cassandra.
Alixandra olhou para o livro e não pode deixar de lembrar de Rembrandt e seu baralho de magos da luz e das trevas. Será que aquele tema tão contrastante era o que combinava com ele como dizia no livro? Ela abriu e viu uma foto se movendo. - As fotos se mechem?
- Você não devia usar toda essa sombra nos olhos. – Comentou a mulher da foto. – Você tem um rosto tão bonito.
- Eu já disse que esse livro dá bons conselhos? – Perguntou Oswald.
- Eu vou levar esse livro. – Decidiu Alix.
- E eu vou levar esse. – Cassandra mostrou o livro do Kamasutra. – Tem um desses que a gente entra dentro?
- Vocês não têm vergonha mesmo! – Resmungou Belle tão vermelha quanto um tomate.
As garotas passaram um bom tempo na biblioteca e ficaram até a noite conversando sobre os livros e as cartas mágicas.
Ciclo seis
Existem muitas atividades no castelo para se fazer após o toque de recolher. Alem dos quartos as alas residenciais possuíam salão de jogos, leitura, dança, cozinha e muitas áreas de estudo e lazer. Alguns lugares eram mais freqüentados por alunos e outros pelos professores. Existiam varias áreas na torre, a área Junior onde ficavam as alunas de 11 a 14 anos, a área intermediaria em que elas moravam de 15 a 18, os seniores possuíam varias áreas, pois os cadetes seniores ficavam na área designada de sua casa fosse paus, copas, ouro ou espadas, também havia uma área para os seniores arcanoides e o corpo docente do castelo tinham grandes apartamentos mobiliados.
As garotas foram abordadas por Érika que fez questão que se reunissem com as outras garotas no salão principal do dormitório feminino. Durante todo o tempo em que ficaram no castelo Alix e Belle iam direto pro quarto e como Nicole e Cassandra também tinham esse habito não encontraram motivos para mudar.
No caminho Alix e Belle se surpreenderam com tudo que havia na torre leste de Netzah, nunca haviam ido alem do corredor do seu quarto e da casa de banhos. No caminho passaram por vários salões aonde as garotas treinavam feitiços, passos de dança e brincavam nos salões de jogos. O salão principal era um misto de todos os outros salões aonde se podia fazer qualquer coisa, as garotas tomavam chá, liam, conversavam, estudavam e em geral brincavam.
Alix se surpreendeu de nunca ter sido formalmente apresentada para as amigas de Érika e Nicole que sempre estavam com elas.
Rita Baker era a aluna mais alta e mais velha da turma. Era muito atlética e ótima cozinheira, também fazia parte do clube de ginástica e de culinária. Assim com Alix e Belle ela não vinha de uma família de místicos e se encantava com tudo o que via no castelo.
Annie Mercouri era a mais tímida e inteligente da turma cuidava da administração do clube de eventos. Sua família tinha uma longa linhagem de alquimistas.
Michele Acqua era quase tão meiga quanto a própria Érika.
Amara Benigni era amiga inseparável de Michele, um pouco mais e velha e superprotetora com todas as garotas.
Mina Boyer era 10 vezes mais animada e entusiasmada que Nicole, mas também divertidamente estabanada.
Raye Avini era a segunda no comando, excessivamente seria e mandona, mas ficava muito tímida na presença dos garotos.
Selene Banai era a melhor amiga de Raye e ao contrario dessa era muito sonhadora e descolada na presença dos garotos. Nesses momentos ela se unia a Mina Boyer e as duas já começavam a disparar seus comentários e piadas de duplo sentido.
Um sábio já disse uma vez: Se quiser se sentir bonita, ande com pessoas mais feias do que você. Alix se sentia o verdadeiro patinho feio, todas aquelas garotas eram mais bonitas do que ela e definitivamente Belle não destoava no meio delas. Cassandra claramente se sentia acanhada e desconfortável sempre que reuniam mais do que cinco pessoas e também não estava no melhor dos seus dias com Alix. Ambas se separaram do grupo e encontraram outra conhecida lendo atentamente uma pilha de livros. Era Maria Mercedes.
- UÉ! – Você não esta com seu violino, nem com a Lumina. – Comentou Cassandra tentando ser agradável.
- E vocês não estão com as cintilantes. – Respondeu seca.
- Cintilantes? – Perguntou Alix.
- A turma da Lady Nicole. – Respondeu.
- Lady Nicole? – Alix estranhou.
- Lady Nicole de Newcastle! – Maria parou de ler e olhou com um ar de desaprovação. – Não sabe o nome da sua própria colega de quarto?
- Você esta estranha. – Observou Cassandra. – Você esta com algum problema?
- Estranha eu? Por quê?
- Você não esta gentil. – Respondeu Cassandra. – Você sempre é gentil.
Maria parou um pouco como se estivesse estudando a observação de Cassandra. Ela parecia ter ficado muito zangada com aquilo, mas começou a ser gentil e pediu desculpas pelo seu comportamento.
- Não precisa se desculpar! – Sorriu Alix. – Todo mundo tem seu dia de mau humor. – Nem ao menos terminou de falar, foi subitamente atacada por uma inusitada figura.
- Pudim! – Gritou Penélope Spiner, mais conhecida como Spunky enquanto saltava em cima de Alix. – Quanto tempo.
A passagem pelo salão principal foi muito agradável. Graças a Alix, Cassandra conseguiu se soltar um pouco mais e fez amizade com Spunky.
Alix estava realmente interessada em usar suas novas cartas e logo começaram a jogar. Em pouco tempo Alix já estava mais habituada ao jogo e já estava dando mais trabalho pra perder algumas partidas.
Desde aquele dia de vez em quando as garotas passaram a freqüentar o salão principal e fazer mais amizades. As irmãs Pudim ficaram conhecidas por serem simpáticas e amigáveis.
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