Garotas
Ciclo um
A água escorria do chuveiro para o corpo de Alix, ela podia sentir a cada pulsação do seu coração o sangue percorrendo suas veias, assim como as mínimas gotas que caiam em seu rosto. A magia de Medhal parecia ter transformado todo o suor em poeira que impregnara em seu corpo.
Ela desejou ir para a grande piscina de água quente do banho feminino, mas estava cansada demais para andar até lá.
- Até quando vocês duas vão ficar ai? – Reclamou Yuki saindo do chuveiro.
- Não se preocupe. – Respondeu Belle sentada nos azulejos enquanto a água caia pelo seu corpo. – Nós nunca mais vamos por os pés naquele salão de novo.
- Eu não quero que vocês não voltem para o salão. – Yuki ficou mais aborrecida ainda. – Vocês estão muito fracas, precisam se preocupar com a sua saúde e treinar mais. Acha mesmo que vão agüentar o ritmo de Sephirot desse jeito?
As duas engoliram em seco e se preocuparam. Não sabiam quais eram as cargas do castelo, o próprio professor havia dito que elas estavam sobre avaliação.
- mas o Sr. Medhal disse que só faríamos se quiséssemos.
- E acha que quem não faz o condicionamento físico fica na moleza. Geralmente quem não vai pro condicionamento é porque possui alguma atividade física mais intensa ainda, como fazer parte de alguma equipe atlética como jogar basquete ou natação.
- E se ela estiver certa? – Choramingou Belle. – Acho que não vou agüentar esse lugar.
- Eu pensei que vocês gostassem dos idiotas. – Comentou Yuki. - Eles vão ficar tristes se vocês não voltarem.
- Idiotas, ela esta falando dos meninos?
- É! – Respondeu Yuki. – Eu achei que vocês estavam se divertindo.
- Foi divertido, não foi? – Alix sorriu. – E nós também não conhecemos muita gente por aqui.
- Puff... – Bufou Belle.
- Existe algum problema com a sua irmã? – Yuki falou com Alix. - Ela olha pros idiotas como se eles fossem comê-la.
- Ela esta assim desde que tivemos a aula de Magia negra. A professora despertou algumas coisas nela.
- Lucy Western? – O nome parecia despertar péssimas lembranças em Yuki.
- Qual é o problema? – Alix percebeu alguma coisa. - Ela fez alguma coisa em você?
- Lucy gosta de demonstrar os males da magia negra na pratica, mas no fundo ela é uma boa pessoa. Qualquer coisa que ela faça é pensando no nosso bem. Por mais horrível que pareça agora depois vai descobrir que só te deixou mais forte.
- E o que ela fez com você? – Belle perguntou quase engolindo o choro.
- Ela me violou e invadiu o fundo da minha alma. Eu a odiei por isso e não quis aceitar. mas agora eu percebo que o que ela tirou de mim estava corrompendo minha alma. O que ela fez com você?
- Ela me transformou em uma libertina e me obrigou a me masturbar. – Respondeu Belle cheia de amargura.
- É! Ela faz isso também. - Yuki fez uma expressão de recordação. – Vocês tiveram sorte de pegar ela em um dia bom.
- Como isso pode fazer algum bem pra mim?
- Acredite em mim. Eu sei. - Dizendo isso Yuki pegou sua bolsa e saiu do vestiário.
Depois de algum tempo de silencio Alix resolveu falar alguma coisa. - Eu tenho a sensação que esse lugar vai ser melhor do que você pensa.
Belle apenas continuou pensativa tentando compreender suas emoções.
As duas se vestiram e foram até a sala móvel. Quando a porta se abriu Alix e Belle puderam escutar uma voz bem conhecida. - Puxa vida, vocês ainda estão molhadinhas. Se quiser eu posso lhes arranjar uma toalha quentinha.
- Tulipa? – As duas se surpreenderam. – O que você esta fazendo em Binah? Eu pensei que você não saia da torre feminina.
- Eu não posso passar a vida toda em Netzah e havia um comentário que vocês estavam sendo torturadazinhas por Medhal então eu fiquei esperandinho vocês saírem do banhinho.
- Yuki acabou de sair do banho. – Comentou Belle.
- Eu sei! Eu acabo deixar elazinha com seus uniformezinhos na lavanderia.
- Ela pegou nossos uniformes? – Alix ficou surpresa. – Puxa! Eu nem percebi.
- Pra onde eu levo vocêzinhas?
- Qual é a dos diminutivos hoje? – Perguntou Alix incomodada.
- Não sei. Estou me sentindo meio “inho” hoje.
- E o que isso significa? – Perguntou Belle, no que a “sala” Tulipa respondeu com um suspiro de satisfação.
- Nem quero saber o que aconteceu. – Comentou Alix desconfiada. – O que nós temos que fazer agora?
- Temos toda manhã livre. – Belle olhou no programa que levava consigo.
- Eu receio ter que lhes dizer que já esta na hora do almoço. – Avisou a “sala” Tulipa. – mas não se preocupem garotas, eu levo vocês até o refeitório lá.
- Sem diminutivo dessa vez. – Observou Alix.
- Demoramos tanto tempo assim no chuveiro? – Se espantou Belle.
- Sim! Acho que precisamos de um relógio.
- Não ia adiantar. – Respondeu a “sala” Tulipa. – O tempo não corre da mesma maneira em todas as partes do castelo, sem falar que algumas magias acabam com os mecanismos.
- Você não falou com diminutivo de novo. – Observou Alix.
- Tudo para agradá-la meu anjo.
- Muito obrigada.
- Cassandra convidou a gente pra ver umas coisas mágicas que ela trouxe de Sídhe.
- Contanto que não tenha que ficar em pé.
- Agora vou ver se ainda encontro com minha querida Yukizinha. Tchauzinho.
- Tchauzinho! – As duas se despediram e as portas da sala se fecharam.
Ciclo dois
O vento frio e a chuva fizeram com que as portas do refeitório fossem fechadas, a maioria dos alunos gostavam de sair do almoço para os jardins por isso nesse clima apenas se alimentavam e iam embora, não sobrava muito clima para algazarras. Nesses dias podia se encontrar Lumina Mwangaza, Janus Volonaki e Rembrandt, tranqüilos apenas almoçando.
- Vocês ainda estão aqui? – Perguntou Yuki se sentando a mesa. – Ainda não terminaram de almoçar?
- Eu não. – Respondeu Rembrandt pegando uma torta de maça da bandeja de Yuki antes que ela pudesse reagir.
- Agora você é rápido. – Reclamou Yuki. – Ainda não aprendeu a pegar sua própria comida.
- Ele tem genes de barata. – Respondeu Lumina. – Ele tem que comer os restos dos outros.
- Por isso que não morre nunca. – Complementou Yuki.
- Do que vocês estão falando? – Protestou Rembrandt. – O doce esta novinho. Não é resto não.
- E você Janus? – Perguntou Yuki procurando no grande salão com os olhos. – Está esperando elas chegarem?
- Não enche. – Janus estava estatelado na mesa deprimido. – Eu nunca devia ter falado da orelha dela. Garotas têm essas coisas com orelhas e pés. Eu deveria ter lembrando como isso afeta a Cassandra e ela não é do tipo comum.
- Do que vocês estão falando? – Perguntou Lumina.
- Papai pediu que Janus e Rembrandt ajudassem na avaliação das irmãs pudim. – Respondeu Yuki.
- E porque não me chamou também? – Lumina ficou indignada. – Você sabe que eu odeio ficar de fora.
- Não se preocupe. – Acalmou Yuki. – Sua vez vai chegar. Você vai ser chamada por um professor.
- Como é que você sabe?
- Meu pai me contou.
- Como é que foi lá? – Lumina cutucou Janus esparramado no chão.
- Foi terrível, ela ficava olhando pra mim como se eu fosse um tarado que ia atacá-la a qualquer instante. E eu tentei tanto ser cavalheiro.
- Pra mim você foi um perfeito cavalheiro. – Observou Yuki.
- Ela quem? – Perguntou Lumina zangada por não saber do que estavam falando.
- Belle Pudim. – Gemeu Janus.
- Quem é ela? – Lumina não reconheceu.
- Uma das irmãs que vocês encontraram em Galita. – Yuki ficou curiosa por Lumina não reconhecer.
- Aquela que fez as mãos gigantes de terra?
- Não é ela. – Reclamou Janus.
- É a outra. – Explicou Yuki. - A que derrotou a sua amiguinha.
- A Maria? - Lumina reconheceu. – mas você não estava interessado na Nicole?
- Como se eu tivesse alguma chance. – Janus respondeu de forma sarcástica.
- Nicole disse que até namoraria você, se pedisse. – Observou Rembrandt.
- Não precisa se lembrar eu estava lá. Acho que no fundo ela sabe o que eu sinto e pisa nos meus sentimentos. Humilha-me com suas brincadeiras cruéis. Ela é cruel e mesquinha,
- Eu acho que não. – Defendeu Rembrandt. – Ela parece que gosta de você. Alem disso você tem esse perfil de estatua grega, Você é bonitão.
- Você disse tudo. Eu tenho uma cara de estatua velha, isso era bonito quando Policleto ainda estava vivo e esculpir em bronze era novidade. As garotas olham pra mim e vêem um patético representante do Helenismo, eu nunca entraria em uma “boys band”.
- Agora eu não faço a mínima idéia do que você esta falando. – Reclamou Rembrandt.
- As garotas gostam de você. – Replicou Yuki. – Eu já muitas deixando bilhetinhos de amor pra você.
- Et tu Yuki! As garotas são todas cruéis. Já não bastam todas aquelas meninas tirando sarro da minha cara? Eu vejo como elas me olham com o canto dos olhos e ficam dando risadinhas com as amigas e quando eu vou falar com elas saem correndo com a cabeça baixa.
- Eu já falei como você é idiota? – Yuki respondeu com rispidez.
- mas afinal o que é que você viu nela? – Perguntou Lumina.
- Ela é linda, frágil, delicada e indefesa como todas as garotas deveriam ser. Não como vocês que matam trolls a cabeçadas.
- Ei! Foi só uma cabeçada. – Reclamou Lumina. – E foi só uma vez.
- Todos os trolls que matei foi usando armas. – Yuki se defendeu.
- Viu o que falei? Elas são garotas que não vão me matar na primeira tpm.
- Isso foi só uma vez. – Relembrou Lumina. – Vai ter que jogar na minha cara todo dia.
- Péssimo exemplo. – Observou Rembrandt. – Essas duas quando perdem o controle costumam arrasar quarteirões.
- Como assim? – Perguntou Janus.
- Alixandra explodiu uma casa inteira em Galita e quase matou a todos nós. – Contou Lumina. – Depois acabou com um esquadrão inteiro de controle de arcanos e derreteu um camburão em segundos.
- Eu achei que era paia. – Janus ficou espantado.
- Não é não. – Confirmou Yuki. – Eu li o relatório e vi as fotos.
- mas quem fez isso foi a Alix que passou o dia se derretendo pro Rembrandt.
- “Ela” você percebe que esta se derretendo? – Yuki foi bem seca e sarcástica.
- Qual é o seu interesse nessa garota? – Lumina perguntou pra Rembrandt. - Já não basta ela quase ter matado a todos nós. Você ainda quase morre pra salvar a vida dela e ainda usa seu favor com Medhal pra trazê-la pra cá.
- Você estava lá. Do que você esta falando? – Perguntou Rembrandt um pouco zangado. –Ela precisava de ajuda. Eu faria a mesma coisa por você. Que eu me lembre fiz algo parecido.
Ofendida com a comparação Lumina se levantou e foi embora.
- Qual foi o problema? – Rembrandt perguntou pra Yuki desentendido.
- Você também é um idiota. – Respondeu Yuki.
Ciclo três
A porta da sala móvel abriu. Um delicioso cheirinho de pão assado se sentia no ar.
As duas olharam para o corredor largo e vazio, diferente de onde estavam há pouco. O chão e as paredes não eram enfeitados, as portas eram simples e modernas, mais à frente o sol entrava por grandes janelas.
- Sol? – Estranhou Belle. – mas acabamos de pegar uma chuva lá fora.
- Já esqueceu o que o Janus disse ainda hoje? O castelo está cheio de passagens mágicas pra outros mundos.
- Eu esqueci. – Belle fez uma careta.
- Não tem ninguém aqui. Geralmente tem sempre alguém esperando a gente.
- Vamos ver a paisagem pela janela, eu estou curiosa.
As duas se aproximaram da janela e olharam do lado de fora. A vista era ampla como se estivessem no alto de uma montanha, podiam ver florestas verdejantes e campos floridos, a direita uma grande cordilheira e a frente o mar infindável no centro de tudo uma gigantesca arvore toda rosada, a arvore era tão grande quanto as próprias montanhas da cordilheira e as pétalas das suas flores rosas flutuavam pelo ar até o parapeito da janela em que estavam olhando em meio a tudo pássaros bailavam no ar em graciosas coreografias.
Em um movimento súbito, um grupo de pássaros se virou em sua direção, conforme se aproximavam elas podiam ver melhor suas asas coloridas, sua pele rosada com belos desenhos coloridos pelo corpo, seus cabelos vermelhos e olhos brilhantes. Conforme se aproximavam suas formas ficavam cada vez mais distintas, pareciam crianças com estranhas asas e não pássaros. Dezenas de fadas entraram pela janela atravessando o corredor para sair por outra janela mais à frente. Suas delicadas vozes alegres e infantis podiam ser ouvidas em uníssono ao meio de rápidos comentários e risinhos.
- Fadas! Eram fadas. – Alixandra mal podia acreditar no que vira, apesar de todas as maravilhas que presenciou desde que estava no castelo de Sephirot nada a preparara para Aquilo. Belle apavorada se agarrava com todas as forças na amiga.
- Elas vão voltar? – Perguntou Belle tremula.
– Não se preocupem elas são inofensivas.
- Como é que você sabe? – Já viu alguma fada antes? Até agora tudo o que a gente achava que sabia não passa de besteira.
- Calma! Eu também estou estranhando esse lugar. É só você tentar um pouco que logo você se acostuma.
- Acostumar? Alguns professores moram aqui há anos e disseram que ainda se surpreendem com o que encontram nesse lugar.
- Hoje quando estávamos com os meninos foi divertido não foi? mas toda aquela correria e trepa-trepa foi um uma desgraça. Até agora aconteceram coisas boas e coisas ruins, vamos tentar aproveitar e nos divertir.
- Eu quero tentar Alix, eu juro que eu quero tentar...
- É tão difícil assim? Quero dizer, às vezes eu sinto tanta falta da minha mãe que eu quero explodir. Mas eu tenho que admitir que esse lugar não é pior do que era lá.
- Esse é o problema. Eu quero ir embora daqui, mas também não quero voltar. Eu não sinto falta da minha mãe, da minha casa, das minhas amigas e é isso que é o pior de tudo, é isso que dói mais. Eu sinto que eu não tenho um lugar.
Belle chorou e Alix a abraçou. Por alguns momentos se lembraram como se odiavam e as coisas haviam mudado completamente. Alix precisava de alguém para cuidar, para ter responsabilidades, para não pensar em sua situação, esse era o tipo de pessoa que ela era e Belle tinha perdido tudo inclusive sua identidade e já não sabia mais quem ela realmente era.
Ciclo quatro
Alix e Belle estavam esperando o aluno que as levaria para a próxima aula sentadas em silencio no corredor, quando uma garota de cabelos vermelhos esvoaçados e olhos arregalados, carregando um violino debaixo do braço surgiu no corredor andando no teto.
- Vocês são as duas que eu vim pegar.
- Eu acho que sim. – Respondeu Alix. – Meu nome é Alix e esta é a Belle.
- Que bom. – Respondeu a menina se curvando para velas. – Meu nome é Penélope, mas me chamam de Spunky.
- Por que te chamam de Spunky? – Perguntou Alix.
- Eu não sei.
- Como é que você anda pelo teto e a sua saia não levanta? – Perguntou Belle.
- Eu não faço a mínima idéia.
- Sabe pelo menos como nos levar até a próxima aula? – Perguntou Alix.
- Sim! Sim! Claro.
- Vamos ter que andar assim pelo teto? – Perguntou Belle?
- Espero que não. – Respondeu Penélope. – Não tenho idéia de como se faz isso.
Penélope levou as duas garotas até um conservatório que não possuía nada de extraordinário ou de aparência mágica.
Havia uma pequena orquestra formada por alunos para auxiliar o Maestro Pisani a ensinar as garotas. O maestro era um homem sóbrio e formal, não aparentava nenhuma habilidade mística ou excentricidade. Após os últimos ocorridos Belle parecia fora do corpo, estava renovada por encontrar um ambiente tão familiar. Ela se sentia de novo tendo suas aulas de musica no conservatório próximo a sua casa, quando tudo era mais simples e seguro.
O maestro Pisani ensinou o poder dos sons e das melodias, mostrando como a musica podia estimular os sentidos acalmando, irritando e animando.
Musicoterapia
Para muitas culturas, o som é a força divina que se manifesta através das vibrações rítmicas.
Uma das técnicas ligadas ao uso das leis naturais, a musicoterapia tem suas raízes na sabedoria cujas origens se perdem no tempo. O homem antigo desconhecia métodos organizados de “terapia dos sons”, mas, na verdade, nem precisava deles, pois conhecia e vivenciava espontaneamente a influência dos sons sobre.
O terror provocado pelos trovões, a tranqüilidade gerada pelo ruído de uma chuva fina, o enlevo produzido pelo canto de um pássaro, o êxtase a que se é conduzido pelo som de uma flauta: todos esses sentimentos são frutos de efeitos atraíam e exerceram forte influência sobre o ser humano.
São muitas as referências e numéricos os escritos relacionados à aplicação da música e dos sons na medicina. Na região próxima a Kahum, no Egito, foi descoberto em 1889 um papiro de aproximadamente 4500 anos que revelava a aplicação de um sistema de sons e de músicas, instrumentais ou vocais, emocionais e espirituais. Esse sistema incluía até mesmo indicações para algumas doenças físicas.
A mitologia grega também é rica em informações sobre técnicas terapêuticas de caráter musical. Asclépio, ou Esculápio para os romanos, filho de Apolo e deus da medicina, no qual acreditavam os gregos, descendia o próprio Hipócrates. Trava seus doentes fazendo-os ouvir cânticos considerados mágicos.
Homero, por sua vez, famoso historiados que precedeu Platão, afirmava que a música foi uma dádiva divina para o homem: com ela, poderia alegrar a alma e assim apaziguar as perturbações de sua mente e seu corpo.
Os gregos antigos chegaram a desenvolver um sistema bem organizado de musicoterapia, baseado na influência de certos sons, ritmos e melodias sobre o psiquismo e o somatismo do ser humano. Esse poder que se atribuía ao som, ou à música, denominava-se ethos e dividia-se em quatro tipos baseados nas quatro formas de temperamento humano. São eles:
Etho frígio que excita, gera coragem e mesmo furor;
Etho eólio que gera sentimentos profundos de amor;
Etho lídio que produz sentimentos de contrição, de arrependimento, de compaixão e de tristeza;
Etho dírico que gera estados mais profundos, de recolhimento e de concentração.
Em todas as culturas antigas, sejam elas egípcias, persas, gregas, indianas, chinesas, japonesas ou qualquer outra, existem importantes referências sobre terapia musical ou sobre a conexão entre música e transformação do estado de espírito. Entre os gregos, ainda, a flauta do semideus Pã ficou famosa não só pôr encantamento às pessoas como também pôr que eliminava os maus sentimentos acumulados no organismo.
Platão revelou especial admiração pelo estudo dos efeitos da música sobre os seres humanos e, em particular, pôr seus efeitos terapêuticos. Afirmava que “a música é o remédio da alma” e que chega ao corpo pôr intermédio dela. Ainda segundo o filósofo, a alma pode ser condicionada pela música assim como o corpo pela ginástica.
Aprenderam quais sons vocálicos harmonizam as energias e tiveram uma noção sobre como conjurar feitiços. Durante a musica algumas fadinhas entraram para dançar pelo teto com Penélope sem chegar a afetar as aulas de canto e respiração pelo diafragma, Belle tinha bastante experiência com aulas de musica e se saiu muito bem.
Ciclo cinco
Toda à noite Alix ia fazer um novo exame medico com a doutora Tibiriçá e receber uma nova garrafa de poção, ela sempre passava no quarto onde estava Dietrich e conversavam depois de ligar para sua mãe e contar as novidades. A principio ela sabia que sua mãe estava fingindo estar feliz ao telefone, mas conforme os dias iam passando isso ia mudando. Cada vez mais sua mãe estava mais alegre e saudável e de certa forma isso fazia com que ela sentisse cada vez mais distante. Sua mãe estava se adaptando a nova vida, mas Alix não sentia a mesma coisa, apesar de todas suas novas aventuras quando ficava sozinha naquela ala hospitalar, não podia deixar de sentir uma grande melancolia.
Naquela noite Derek estava jogando cartas na mesa ao lado da cama quando pressentiu a aproximação de alguém. Estava com uma mulher ao seu lado. Alixandra pensou que fosse a mãe dele pela forma terna como o olhava.
- Pode entrar pudim.
- Eu não queria incomodar.
- Tudo bem. – Disse Derek recolhendo as cartas. – Eu não estava fazendo nada de importante mesmo.
- Puxa! Como você sabia que era eu?
- Você tem uma maneira muito peculiar de andar, o cheiro dos medicamentos que você tomou é bem perceptível para o meu olfato aguçado, sua respiração estava muito forte e você não possui nenhum controle sobre sua aura, posso senti-la completamente a sete metros de distancia.
- Puxa! Me desculpe.
- Você diz muito isso: “Puxa!” O que significa?
- Não sei! È só uma expressão. Acho.
Com um sorriso a mulher se despediu e saiu do quarto com um rápido e amistoso aceno para Alix.
Derek percebeu o embaraço dela e mudou de assunto. – Ainda terá que fazer muitas dessas visitas à doutora?
- Eu não tenho certeza... Eu andei me esforçando mais do que devia e acho que não me recupero tanto quanto devia apesar da doutora dizer o contrario.
Uma leve batida se ouviu, era Érika batendo no batente da porta.
- Posso entrar?
- mas é claro. – Alix se levantou visivelmente embaraçada.
- Estou interrompendo alguma coisa? – perguntou maliciosamente.
- Só a passagem do ar. – Respondeu Derek.
- Eu estava fazendo um exame com a doutora e dei uma passadinha depois. – Alix respondeu sem nem ao menos ser questionada. – Só pra visitar.
- Você faz exames com freqüência? – Perguntou olhando para sua coleira de regeneração.
- Todos os dias neste horário. – Derek respondeu sem pestanejar. – Ela tem sido minha única companhia.
- É mesmo e o que vocês ficam fazendo? Eu só trouxe suas cartas hoje.
- Nós apenas conversamos e ele me da alguns conselhos sobre a escola. – Rapidamente Alix se despediu sem nem saber o porque.
- Porque vocês não aparecem no salão de entretenimento algum dia à noite, é muito divertido nunca as vi nos salões de jogos ou de dança. – Observou Érika. - Vocês sempre estão no quarto.
- Nicole e Cassandra não falaram nada disso pra gente. – Observou Alix. – Elas vão direto pro quarto com a gente.
- Elas não são, muito de andar em grandes grupos. Preferem a privacidade.
- Nicole? – Alix se espantou. – mas ela é tão comunicativa e atirada.
- Você já deveria saber que as imagens das embalagens não demonstram necessariamente seu conteúdo. – Érika deu um beijo em Alix e se despediu.
Alixandra caminhou pelos corredores da área hospitalar apressadamente sem entender porque saiu daquela maneira. Por alguns instantes ficou pensando se deveria voltar e falar com eles quando foi interrompida por um grito. Perdida em seus pensamentos ela se aprofundou pelos corredores por onde nunca havia passado.
Os gritos vinham de um quarto mais à frente e a voz parecia de certa forma familiar, cheia de curiosidade Alix se aproximou para ver quem poderia estar machucado. Aquela parte estava mais escura, provavelmente por algum problema com a luz. Alix olhou sorrateiramente pela fresta da porta e pode ver que quem estava gritando era Nicole e fazendo alguma coisa nela que não podia identificar o que era a pequena professora de magia negra Lucy Western. Por alguns instantes se questionou se era coincidência que estavam falando de Nicole a poucos momentos.
Nicole finalmente parou de gritar e ficou respirando ofegante e aparentemente com um grande alivio caiu no sono. Antes que pudesse pensar em qualquer coisa o rosto de Lucy apareceu na sua frente com seu olhar fixo sem piscar. Era a primeira vez que ficava tão perto dela e em um ambiente iluminado, realmente sua pele era tão branca que não parecia humana, muito menos que estivesse viva.
- Espionando tua companheira de quarto?
- Não... Não! Eu só estava passando... Eu fui visitar o Derek e...
- Dietrich?
- Sim ele.
- O que estavam a fazer? – Lucy fechou a porta e acompanhou Alix pra outra área mais iluminada.
- EU fui visitar ele. Então apareceu a irmã dele então sai de lá e acabei passando por aqui.
- Ela flagrou no ato? Espero que não fique grávida.
- Eu não estava... Eu não faço essas coisas.
- Vedo! Parece que ninguém faz neste castelo. Quer você vir fazer comigo?
- O que? Com quem?
- Nós duas ora! Gostaria de chamar mais alguém, mas como eu já disse ninguém por aqui faz isso neste castelo.
- Espere um pouco. Acho que estamos nos entendendo mal. Do que estamos falando? Fazer o que?
- Sexo ora. O que, mas seria?
- O que? Isso é impossível.
- Por que?
- Você é uma professora.
- Não penso em nenhum empecilho.
- Escute! A sra esta mudando de assunto.
Lucy puxou Alix pelo pescoço como se fosse um boneco de pano. – Se me chamar de sra de novo eu vou tirar todo o seu sangue. – Alix sentiu uma perigosa sinceridade naquelas palavras precisou de alguns segundos pra respirar. – O que aconteceu com Nicole?
- Uma velha maldição. Sou especialista em tratar dessas coisas, não precisa inquietar-se por ela. Peço discrição sobre o assunto. Se quiseres se inquietar com alguém, priorize sua irmã.
- Irmã? Esta falando de Belle? O que tem ela?
- Os grilhões dela são muito fortes e perigosos, já devem estar se restituindo.
- Você realmente retirou aquelas correntes não é mesmo?
- Sim e afinal ela pode sentir o que é a verdadeira liberdade. No entanto aqueles grilhões se formaram devido a anos de mentiras e a verdade às vezes pode ser mais dolorosa e assustadora que o cárcere.
- Então as correntes podem voltar piores?
- Provavelmente! Esse não é esse o problema.
- Então qual é?
- Ouvistes sobre depressão e síndrome do pânico?
- Sim.
- São moléstias que surgem com o aumento das informações e conflito com as crenças locais. Antigamente era mais fácil se acreditar em uma serie de preceitos e passar a vida toda imerso na ignorância, vivendo uma ilusão e acreditando que o mundo se limitava às fronteiras da sua parca visão de mundo. Hoje em dia temos muita informação e contato com outras culturas o que torna evidentes, as antigas patranhas que os governantes usavam pra controlar o povo, mesmo assim nem todos são como você que estão abertas para novas experiências e conhecimentos.
- Puxa! – era a única coisa que Alix conseguiu dizer.
- É muito cômodo ser instruída por seus pais e crer que detêm todas as respostas do universo, mesmo que em seu intimo essas respostas sejam não passem um chorrilho. Após todos esses anos Belle crera que fora instruída corretamente. Agora se deparou com um mundo abrangente, aquém de suas expectativas. Nunca a prepararam para confrontar decepções, muito menos que algumas de suas crenças fundamentais não são verdadeiras, é uma tarefa difícil se libertar após uma existência de cárcere. Principalmente quando a prisão não é física e os grilhões estão na mente e no coração. Provavelmente os que a criaram acreditaram que estavam protegendo-a do mundo criando essas amarras e restrições. Todavia ela experimentou a liberdade uma vez e vai querer de novo. Nosso dilema será se ela se apetecer de meios artificiais como eu fiz quando retirei seus grilhões. Aquele tipo de mágica usado repetidamente fará com que os grilhões sempre retornem, cada vez mais rápido e mais fortes, tornando-a gradualmente dependente.
- Como assim dependente?
- Desanuviar-se de uma fantasia não deixa de ser um sentimento de traição e de ter sido enganada. A principio ela não conseguirá se sentir bem sozinha e será atraída por métodos alternativos. Uma forte tendência entre os humanos é procurar ocultar mentira com um logro ou ilusão, mesmo que seja de modo artificial, como o uso sortilégios e químicas.
- Como drogas?
- A depressão, a desilusão, o vicio... Ainda não existe magia que possa curar estes males. Muitos sortilégios e poções podem apenas mitigar ou ocultar seus efeitos. Existem muitos livros que ensinam a fazer todo tipo de magia e alquimia, portanto ela pode chegar a esta opção sozinha e ingredientes não são difíceis de se obter nesse castelo.Todavia! O que pode ser remédio pro ganso vem a ser veneno pra marreca.
- Puxa! Então o que eu posso fazer?
- Livraste-se de tuas próprias correntes uma vez, já se instruiu de como executar tal feito! Agora deve compartilhar seu conhecimento com ela.
Alix pensou seriamente no assunto.
- Posso perguntar que tipo de maldição que Nicole tinha?
- Você mesma deve perguntar, ela se abrirá ao confiar em ti.
- Professora! – Alix chamou a atenção.
- Sim.
- Você estava brincando sobre aquele negocio de sexo não é mesmo?
- Apenas estava a te instigar. Todavia, se tiverdes interesse...
Com um tapa do bumbum Lucy se despediu e voltou pro quarto onde Nicole estava. Ela se despediu com um aceno, seus olhos azuis, seu sorriso infantil e sua pele branca davam um arrepio em Alix.
- Ao que parece mais uma nova corrente dourada está surgindo em seu coração. – Comentou um pequeno companheiro que se escondera nas sombras.
- Não será a primeira vez. – Respondeu Lucy. – Ira deperecer até a derroca, assim como as outras.
- Você não pode evitar as correntes pra sempre. – Respondeu das sombras.
- Porque não? Venho tendo êxito até agora.
- Você tem correntes ligadas em mim. Muitas.
- Todavia, subseqüentemente livrar-me-ei delas.
- Você não pertence apenas a você mesma. – Respondeu a s trevas. – Não existe uma única pessoa que pertença. Todos possuem uma relação uns com os outros. É por isso que podemos sentir alegria.
- E tristeza.
- E amor.
Ciclo seis
Alixandra e Belle estavam exaustas, seus músculos doíam com cada mínimo movimento que faziam e os Brownies buchas do banheiro deixaram suas peles ardendo.
- Acho que eu vou voltar pro banho. – Choramingou Alix. – Aquela água estava tão gostosa.
- Ficar muito tempo na água quente faz mal. – Respondeu Belle. – Alem disso eu já estou toda enrugada.
- Você ficou duas horas no banho enquanto eu ficava evacuando e tomando injeções naquela droga de enfermaria.
- Poupe dos detalhes. Você tem sempre que falar de coisas nojentas... Eu lembro daquela professora psicótica e do que ela me fez. Só de lembrar eu não consigo parar de lembrar.
- Eu pensei que você já tinha superado isso.
- Eu não consigo. Você não entende, isso é um grande problema pra mim.
- Entendo sim. Eu também fui controlada e por mais tempo que você. Não é uma experiência que você simplesmente se levanta, sacode a poeira e se esquece.
- Não é isso! A outra coisa... O que ela me fez sentir.
- Você esta excitada de novo? – Alix segurou uma risada.
- Já disse pra não falar assim! – Belle ficou vermelha como um pimentão.
- Desde quando você esta assim?
- Desde o condicionamento físico.
- Tanto tempo assim? mas por que?
- Os meninos ficavam me olhando e me agarrando. Essa sensação foi crescendo e aumentando.
- Eles não estavam te agarrando, foram muito cavalheiros. Em qual deles você ficou pensando?
- Nos dois. Eu não sei o que fazer, quando eu senti isso antes passou rápido, mas agora parece que piora a cada minuto. Eu era uma garota de boa família conseguia me controlar.
- Muitas das suas amigas iam pra rua do mercado e elas eram de boas famílias como você.
- Eu sei! Eu sei! Isso já era um problema pra mim naquela época.
- Sua mãe te ensinou que uma mulher não pode sentir prazer, que isso é uma coisa suja, coisa e tal... Você mesma me disse que queria esquecer tudo o que ela te ensinou e vamos admitir, sua mãe não era nenhum exemplo de realização pessoal.
Belle olhou pra ela com uma surpreendente recuperação e uma certa irritação.- Você nunca me disse o que sua mãe lhe falava sobre isso.
- Nós não conversávamos sobre isso. Eu não me interessava pelo assunto, minha mãe me contou tudo quando eu era criança, então como eu já sabia como tudo funcionava eu não me preocupava com essas coisas, eu deixei pra me preocupar na minha noite de núpcias com alguém que eu amasse.
- Então você nunca sentiu essas coisas? Essa vontade... Essa excitação.
- Claro, sempre! – Alix ficou espantada com a reação da amiga. Sabia que Belle tinha sido reprimida por uma educação castradora, mas não esperava que fosse tanto.
- E o que é que você faz?
- Toco siririca!
- O QUE?
- Você não? – Alix tentou não rir da reação da amiga com dificuldade.
- Eu? Nunca!
- Belle, isso não é normal. Tem um monte de hormônios e outras químicas em um processo supercomplicado envolvido nisso. Até pode te fazer mal.
- Eu não quero falar sobre o assunto. – Insistiu Belle.
- Pois eu acho que é esse o problema, por isso que você fica se remoendo. Vamos falar com as meninas.
Alixandra empurrou Belle relutante para o quarto onde Nicole e Cassandra estavam lendo tranqüilamente.
- Vocês nunca saem daqui? – Reclamou Belle.
- O que foi? - Perguntou Nicole. – Você parece incomodada com alguma coisa.
- Não é nada. – Belle se jogou na cama e cobriu a cabeça com o travesseiro.
- É alguma coisa com aquela vampira da professora Lucy. – Adivinhou Cassandra. – Eu posso até sentir.
- Não use seus poderes em mim. – Protestou Belle.
- Nossa! – Comentou Nicole preocupada. – Eu nunca a vi assim. O que aconteceu?
- Belle achava que bater siririca faz dela uma vadia e a professora obrigou ela a gostar disso durante algum tempo. Agora a cabeça dela esta toda confusa e cheia de culpa. Eu estava dizendo pra ela que é melhor conversar sobre o assunto afinal todo mundo fazia isso.
- Eu não falo sobre isso desde que sai de Nottingham. – Nicole puxou pela memória. – Pelo menos eu e todas as minhas amigas fazíamos desde cedo.
- Então você nunca fez licka licka, mediu a temperatura, deu uma roçadinha, chamou a Sebastiana, nem tocou uma siririca? – Perguntou Cassandra.
Belle respondeu com um olhar de reprovação.
- Desculpe! – Cassandra escondeu o sorriso com as mãos. – Não resisti.
- Não precisa se preocupar. – Consolou Nicole. – Mesmo que as garotas não falem sobre muito nesse assunto, todas fazem.
- Acho que é por isso que não falam. – Observou Cassandra. – Eu mesmo faço no mínimo duas vezes por dia.
- Como é que vocês fazem? – Belle começou a ficar curiosa.
- Você coloca o clitóris entre o dedo e o polegar e massageia, daí vai aumentando a velocidade. – Cassandra fez o gesto com a mão deixando Belle cada vez mais vermelha.
- Eu coloco o dedo indicador e o do meio e faço um movimento circular. – Comentou Alix Cassandra.
- Eu gosto bastante de usar água. – Nicole teve um arrepio só de pensar. – Em dois minutos com o esguicho do bidê eu chego nas nuvens. Você também pode usar o chuveirinho, é por isso que temos essas coisas no banheiro.
- Não é não! – Protestou Belle.
- Acho que o mais popular é o travesseiro. – Cassandra apontou pro travesseiro que Belle segurava maliciosamente.
- Travesseiro? – Belle olhou para ele sem entender. – Vocês estão brincando.
- Não! – Explicou Nicole. – Você coloca o travesseiro entre as pernas e deita pressionando ele entre os colchões, ou de ladinho mexendo os quadris.
- Eu comecei a fazer isso sem querer quando era criança. – Comentou Alix.
- Eu também gosto de fazer de joelhos ou de pé.
- De pé? – Perguntou Alix.
- Em pé, com o travesseiro entre as pernas e balançando os quadris pra roçar o clitóris no travesseiro e fazer pressão sobre ele quando ela quiser. – Explicou Cassandra com seu travesseiro de Belle. – Se masturbar é tão natural quanto sentir atração por outra garota.
- O que? - Belle olhou pro seu travesseiro e jogou longe.
- Toda garota uma vez já sentiu atração por outra garota e pensou em beijá-la. – Cassandra fez biquinho.
- mas você é grega. – Protestou Belle.
- Eu já beijei uma garota pra ver como era e sou 100% britânica. – Confessou Nicole. – Mais de uma pra falar a verdade e não sou sapata.
- Isso é super comum e todo mundo sabe disso, mas finge que não vê. As explicações especializadas vão desde a bissexualidade latente até influências sociais, frustração com o universo masculino, bla, bla, bla. Querem saber? Meninas pegam meninas desde tempos imemoriais, meus caros. Sempre foi uma alternativa saudável quando a pena por engravidar antes de casar era o apedrejamento seguido de morte (ou outro apedrejamento). A Ilha de Lesbos não é exatamente uma estrutura vulcânica que aflorou do mar semana passada. Os mitos estão aí. Só não vê quem não quer.
- Viu só? – Disse Alix com um sorriso. – Não tem nada demais. Falar sobre isso é até divertido. Eu mesma já tive vontade de beijar uma garota pra saber como é que era.
- É mesmo? – Belle ficou espantada. – Quem?
- Você. – Alix fez um biquinho ameaçando beijar Belle.
- Eu?
- Se quiser eu beijo Nicole agora. – Cassandra se inclinou e deu um pequeno selinho, correspondido nos lábios de Nicole. – Já toquei muita siririca pensando em você.
- É mesmo? Estou lisonjeada. – E Nicole respondeu com outro selinho.
- Ba! – Debochou Alix. – Bitoquinhas não são beijos de verdade. De onde viemos é um cumprimento comum. Eu mesma dava na minha mãe. Quero ver qual de vocês duas já deu um beijo de verdade.
Ambas levantaram as mãos indicando que já haviam dado.
- Eu tenho que confessar uma coisa. - Belle estava vermelha com a cabeça baixa. – Eu também já beijei uma garota. Um beijo de verdade.
- É mesmo? – Alix ficou espantada. – Quem?
- Régine! Queríamos saber como era beijar e praticamos. – Respondeu Belle. – Foi antes que eu começasse a ficar com essas idéias idiotas. A gente treinava com espelhos e laranjas... Também me acontecia bastante à coisa do travesseiro no meio das pernas.
- Viu só! – Nicole deu um abraço e um selinho em Belle. – Você é mais normal do que imagina.
- Parece que a única que nunca beijou ninguém por aqui fui eu. – Comentou Alix.
- mas não seja por isso. – Cassandra avançou pra Alix. – Eu não vou mentir, sempre tive vontade de te beijar também.
- De jeito nenhum. – Alix se protegeu com um travesseiro. – Meu primeiro beijo não vai ser com uma garota.
- Não seja boba. – Respondeu Cassandra - Todo mundo sabe que você já beijou o Rembrandt.
Alix teve um súbito choque.
- É verdade! Eu pensei que fosse um sonho. Desculpe.
- Por que esta se desculpando? – Perguntou Cassandra.
- Eu sei que você gosta de Rembrandt. Eu não tive a intenção.
- Não seja boba.
Cassandra pulou em cima de Alix pra lhe dar um beijo e as outras garotas ajudaram.
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