Capitulo dezesseis

16

O amanhã demora muito tempo


Ciclo Um

Alixandra e Belle chegaram cedo na ala hospitalar que para sua surpresa estava cheia de gente, a Madame Endora, o professor Kazam, o diretor Dietrich, a Sra Jones, um homem que apresentaram como o capitão Hand e a doutora Tibiriçá. Após os devidos cumprimentos Alix foi para uma sala separada por uma grossa parede de vidro com a doutora e madame Endora.

- Porque me chamaram aqui? – Perguntou Belle.

- Podemos precisar da sua presença para confortá-la caso o trauma seja muito grande. – Explicou a Sra. Jones.

- O que vocês vão fazer? – Belle ficou um pouco apreensiva vendo a doutora colocando eletrodos em Alix.

- Vamos fazer uma regressão para descobrir como ela manifestou o Merazoma. – A Sra. Jones continuou explicando. – Dentro da mente de sua irmã ele vai voltar no tempo e reviver os eventos daquele dia como se voltássemos um filme. O corpo dela vai ter as mesmas reações como batimentos cardíacos acelerados e outras coisas assim. Endora vai controlar a viagem enquanto a doutora monitora tudo nas máquinas.

Belle olhou para os gráficos nos monitores sem confiança. Madame Endora colocou Alixandra sentada confortavelmente e desenhou um pequeno símbolo no seu peito.

Por algum tempo se fez um silencio sepulcral e todos permaneceram imóveis até que imagens translúcidas começaram a aparecer na sala como uma projeção tridimensional. Belle pode reconhecer muito bem que era Galita.

- Focalize o momento em que ela encontrou Derek. – Pediu o diretor Dietrich.

Madame Endora concordou com a cabeça e vagas imagens de Derek, logo começaram a surgir imagens das memórias de Alixandra cada vez mais nítidas. Começaram a ver o momento em que Derek surgiu para fazer a busca por místicos no colégio.

- Não é esse o momento. – Comentou o professor. – Procure quando ela encontrou Derek e Rembrandt ao mesmo tempo.

Novamente as imagens se alteraram. Alixandra voltou ao momento em que retirara o curativo. Madame Endora começou a chorar incontrolavelmente.

- Horror, horror. Eu não posso suportar.

Repentinamente uma explosão de seqüências das memórias de Alixandra surgiu. A mãe de Alixandra Abryele doente sem poder sair da cama. Alixandra e sua mãe, escondidas durante o bombardeio de Galita. O momento em que ela foi despedida porque o hotel ia fechar. Os saqueadores das casas abandonadas. As queimaduras causadas por sua mão mágica. O mercado. A fome. Os caçadores de bruxas de quem ela se escondia. O momento em que tentou cortar o próprio braço. O corpo que encontrou na rua. O momento que e queimou a parede do corredor. A captura de Belle. A invasão dos magos a sua casa e a captura de sua mãe. A festa na casa de Vladimir. O momento em que Rembrandt arrombou a porta e a impediu de se matar.

- Meu deus! –A Sra. Jones se espantou. - Isso é horrível, como permitiram uma coisa dessas?

- Endora não vai suportar a pressão. – O professor Kazam flutuou em sua poltrona para a porta. – As emoções da garota são muito fortes.

- Eu exijo que parem com isso imediatamente. – Ordenou o capitão Hand.

A ilusão escapou quando o professor Kazam abriu a porta. Todos estavam dentro da casa de Vladimir no momento em que Derek e Rembrandt discutiam na sala ao lado.

- Tarde demais. – Reclamou a doutora Tibiriçá tentando fazer os aparelhos aparecerem novamente com sua mágica. – Eu perdi completamente o controle.

O professor Kazam entrou na mente de madame Endora que começou a se controlar, Alixandra se debatia enquanto a sua projeção lutava contra Rembrandt.

- Derek vai tentar conte-la com uma magia de inverno. – Observou o diretor. - Isso explica tudo.

Alixandra se levantou bruscamente e a madame Endora desfaleceu segurada pelo professor Kazam, os dois professores não conseguiram conte-la e ela se uniu à imagem que era transmitida.

- Eu posso sentir as emoções dela. – Gritou a sra Jones isso é terrível.

O diretor correu para auxiliar a doutora Tibiriçá a visualizar os controles dos aparelhos sobre a ilusão. Alixandra começou a lutar contra a imagem de Derek e a energia manifestada na mão da garota começou a crescer de maneira alarmante.

- A energia não esta fluindo do corpo dela. – Reclamou a doutora Tibiriçá - Isso não é possível.

- De onde ela esta tirando a energia? – Perguntou o capitão Hand.

- De nós. – Gritou o diretor. – Você não esta sentindo?

- Isso explica tudo. – Gritou o professor Kazam. – Ela tirou a energia infinita de Rembrandt por isso fez a Merazoma. Ela é uma mímica.

- Não deixem. – Gritou a doutora. – Podemos muito bem impedir que ela use nossa energia.

A energia continuava crescendo e as paredes do castelo estalavam e se despedaçavam.

- Ela esta retirando a energia do castelo isso ultrapassou um Merazoma. – Gritou o professor Kazam.

- Vamos sair daqui. – gritou a Sra. Jones - Ela vai terminar o Capitulo de memória sozinha.

- Ela esta morrendo. – Gritou Belle desesperada.

- Ela acredita que esta enfrentando Derek. – Gritou o diretor. – Vamos pará-la, temos poder pra isso.

A explosão foi absurda, pedaços da torre foram encontrados a vários quilômetros dali. Ninguém acreditava que o castelo de sephirot poderia ser afetado por magia alguma, muito menos dessa maneira.

Ninguém se feriu. Em meio aos escombros e fumaça a ilusão continuava mostrando a captura de Alixandra. Quando finalmente ela foi pega a ilusão se desfez e podia se ver que Belle abraçava e chorava em cima da amiga.

- Me desculpe, eu não sabia. – Soluçava Belle. – Eu não sabia.

Alixandra olhou para Belle com seu rosto vermelho e inchado.

- Eu fui horrível. – Chorava Belle. – Me desculpe.

- Tudo bem. – Disse Alixandra forçando um sorriso. – Tudo bem.

Ciclo dois

- Você é uma, o que? – Perguntou Cassandra enquanto pegava uma folha do prato de salada ao lado da cama.

- Mímica. – Respondeu Alixandra olhando sem animo para o seu prato cheio de comidas especiais que ela nem conseguia identificar.

- Nunca ouvi falar. – Comentou Cassandra balançando a cabeça.

- Eu nem quero comer. – Resmungou Alixandra. – Eu não agüento nem ficar de olhos abertos.

- Você é uma mímica, possui a habilidade de imitar as auras dos outros. – Respondeu o espectro transparente do professor Kazam ao lado da cama. – Por isso você usa a energia das pessoas que estão a sua volta.

- Isso explica as mãos gigantes no campo. – Disse Nicole entusiasmada.

- E o Merazoma. – Completou Belle.

- Exatamente. – Explicou o professor fantasmagórico. – Ela absorvia o mana de todas as pessoas a sua volta com energia mística.

- E a minha mãe? – Perguntou desolada.

- Principalmente a sua mãe. – Explicou o professor. – Ela também é uma bruxa e a que ficava mais perto de você.

- Isso afetou a doença dela? – Alixandra estava cada vez mais deprimida.

- Temo que essa habilidade agravou a doença da sua mãe.

Alixandra ficou deprimidissima.

- Não precisa ficar triste. – Disse Belle. – Agora sua mãe esta bem.

- Quão raro é isso? – Perguntou Cassandra.

- Não existe registro de uma mímica em Avalon a uns trezentos anos.

- E isso é bom? – Perguntou Belle.

- Não existe registro de mímicos que controlem essa habilidade. As propriedades da sua aura vão mudar como uma roleta russa dependendo de quem estiver perto. mas o estudo da magia evoluiu muito e você pode ser a primeira a aprender como controlar essa habilidade.

- Isso é ótimo. – Nicole bateu palmas. – Significa que você é um tipo de gênio não é mesmo?

Alixandra forçou um sorriso.

- Vamos descansar agora. – Anunciou o professor. – Meu horário de visitas esta acabando. Mesmo sendo uma projeção astral não posso ficar muito tempo na torre feminina.

As garotas se despediram do professor que se dissolveu no ar como se fosse fumaça.

- Não fique triste. – Sorriu Nicole. – Eu vi o buraco que vocês fizeram na torre. Vocês vão entrar na historia.

- Eu não fiz nada. – Gemeu Belle.

- Todo mundo pensava que Sephirot era indestrutível, agora Medhal já inventou uma centena de teorias de como reduzir o castelo a escombros. – Riu Nicole. – Agora ele quer ver todos os sistemas de segurança e refazer tudo do zero. O comando central vai ficar louco. Não vamos ver ele até depois do festival de inverno.

- Mesmo assim. – Alixandra não parecia se animar. - Eu não estou muito bem...

- É o stress pós-traumático. – Disse Belle preocupada. – Reviver aquele dia não foi nada fácil.

- Foi tão ruim assim? – Nicole continuava comendo.

- Pior. – Respondeu Belle.

- Você só precisa dormir que amanhã vai estar tudo bem. - Sugeriu Cassandra. - Eu cuido disso.

- Não espere! – Antes que Alixandra pudesse terminar.

YPNOS

Ciclo três

Alixandra acordou no meio da noite. Ela olhou pela janela para aquela paisagem que estava começando a conhecer muito bem. Resmungou que as garotas deixaram a luz acesa no meio da noite e ela acordou. Virou-se na cama e sentiu uma estranha diferença, esticando o braço e não sentia o fim do colchão, a cama estava grande demais.

Percebendo melhor, as camas das outras garotas não estavam ali, e do outro lado à parede estava longe demais, com algumas máquinas e pessoas olhando pra ela.

- Ela acordou! – Disse uma voz aterrorizante e conhecida.

- Nicole? - De novo não. Pensou Alix. Esse sonho de novo não.

- Não é um sonho. – Respondeu a criatura se erguendo ao lado da cama.

No escuro a criatura não passava de um vulto encapuzado, na claridade podia se ver claramente a pele cinza e decomposta do braço repugnante. O susto fez com que ela quase caísse da cama. Ao lado dela Cassandra mais velha estava inconsciente ligada aos aparelhos.

- O que aconteceu?

A mulher com cabelos brancos e olhos leitosos se sentou na cama e segurou sua mão gentilmente.

- Nós a trouxemos do passado para salvar o presente e o futuro. – Explicou. – Isso pode ser chocante pra você, mas somos seus amigos que envelheceram.

A mulher apresentou um por um os conhecidos. Nicole a criatura estranha coberta por uma capa, Cassandra adormecida, Janus um velho impaciente cheio de cicatrizes e com a cabeça quase rapada, Edson um homem grande e corpulento de barba, a ex-professora de magia negra Lucy Western e finalmente Lumina sentada ao lado dela.

Os Arcanoides.

- Lumina? – Alixandra analisou atentamente o rosto da mulher. – Você é a Lumina?

Alixandra se levantou rapidamente da cama e se afastou.

- De novo não. Esse sonho esta muito esquisito.

- Não é um sonho. – Gemeu a criatura horripilante que se dizia ser Nicole.

- Isso eu já sei! – Reclamou Alixandra se afastando da criatura. – O que aconteceu com Cassandra?

- Cassandra serve de elo para que você possa ficar aqui.

- mas da outra vez ela estava acordada.

- Outra vez? – Perguntou a mulher surpresa.

- Elas não se lembram. – Gemeu a criatura.

- Fique longe de mim! – Gritou Alixandra tentando se afastar.

Mesmo coberta a criatura era terrível de se olhar e o cheiro que exalava a deixava enjoada, tentou se afastar e tropeçou nos lençóis caindo de cara no chão. Quando se levantou seu lábio estava partido e o nariz sangrando muito. Não havia nenhuma duvida, a dor e o ferimento eram reais. Aquilo não era um sonho.

Lumina tentou ajudá-la, mas Alixandra não deixou e se levantou sozinha estancando o sangue com o lençol.

- Isso não pode ser verdade.

- mas é tudo verdade. O homem com um casaco amarrotado identificado como Janus se aproximou mancando.

- Então a minha versão mais velha esta neste exato instante tentando matar Derek.

Os rostos de todos olharam para ela espantados.

- C-como ela sabe? – Perguntou Lumina espantada.

- Deve ser como Lumina pensava. – Analisou Janus. – Ela não voltou realmente. Deve ser apenas algum revés de regressão.

- Já falamos nisso antes. – Reclamou Edson com sua voz cavernosa. – Eu gostaria que parassem de questionar a funcionalidade do meu plano.

- É! – Disse o velho Janus. - mas você mesmo disse que na simulação foi diferente.

- Não! – Gritou a criatura em um chiado. – Vocês a vêem jovem. Eu lhes alertei que ela já esteve aqui.

Ouve um momento de silencio.

- Edson! – Chamou o velho Janus. – Como é que ela esta então?

- Tem alguma coisa errada! – Alertou Edson. – O mostrador indica que seu corpo original esta inconsciente. Meus estímulos estão sendo inúteis.

- Cassandra usou uma magia Ypnos em mim antes de dormir. – Respondeu Alixandra com satisfação. – Meu corpo não vai acordar.

- O que? - O velho Janus olhou para Cassandra inconsciente na cama cheio de fúria. – Por que ela não nos contou?

- Você que é o irmão dela já deveria saber que Cassandra não se preocupa com mínimos detalhes. – Respondeu Alixandra.

Janus se aproximou dela mancando e decidido e a segurou pelos ombros.

- Preste atenção. Estamos no que seria o ano de 276 da era de Windsor se Avalon não tivesse caído. 30 anos depois do seu tempo. Entendeu?

- Já ouvi isso antes! – Zombou Alixandra. – Não vai me convencer.

- Analisamos todos os eventos e tudo culminou em um único momento da historia. Edson teve essa idéia maluca de que podia mandar você de volta no tempo e mudar a historia. Durante quinze anos ele criou uma tecnologia para fazer isso. Dietrich matou Rembrandt que possuía um vinculo de vida com o professor Kazam, isso iniciou uma reação em cadeia que deixou o mundo esta bagunça, Avalon caiu, o castelo de Sephirot quase foi destruído e nós bruxos somos caçados e queimados em fogueiras.

- Já disse que não vai me convencer. – Insistiu Alixandra.

- mas é verdade. – implorou Lumina. – Nós estamos 30 anos na frente do seu tempo.

- Não é isso! – Explicou calmamente. – Vocês não vão me convencer a matar o Derek.

Uma risada soou do fundo da sala e Alixandra pode ver a professora Lucy.

- Então foi tudo uma perda de tempo. – Riu jocosamente revelando sua aparência imutável.

- Querem minha ajuda? – Perguntou Alixandra.

Todos olharam sérios e preocupados para ela.

- Você pretende parar ele e salvar o futuro? – Perguntou o velho Janus. – Sem ajuda e experiência nenhuma?

- Que escolha você tem?

Janus olhou para Edson nos controles das máquinas de forma severa.

- Ela não vai acordar. – Confirmou Edson. – Já gastei mais da metade do tanque tentando. Mesmo se fizer de novo e acordá-la não terá tempo suficiente.

- Qual é o problema? – Se zangou Lucy. – Ela é a Alix! Apenas mais jovem e inexperiente.

- Ela tem razão. – Concordou Lumina. – Não existe porque duvidar se ela pode ou não fazer. Ela é a Alix. Se alguém pode fazer é ela.

- Alix já falhou antes. – Respondeu Janus.

- mas nunca desistiu. – Disse a criatura.

- E nós sempre estávamos lá pra segurar a peteca. – Completou Edson.

Todos olhavam com respeito e admiração para Alixandra. Isso lhe deu mais segurança. Aquelas pessoas não pareciam mais estranhos e sim velhos amigos.

- E então? – Perguntou Alix.

- Você é a líder. – Respondeu Lucy bebendo de uma pequena garrafa. – Sempre foi.

- Primeiro. – Alixandra afastou o velho Janus. – Eu quero fazer algumas perguntas.

- O que você quiser. – Respondeu o velho Janus com um suspiro.

- Pra onde foi Medhal?

- Ele morreu durante o festival de outono. – Respondeu Janus.

- No festival de outono? – Se surpreendeu Alixandra. – mas ele estava aqui da ultima vez.

- As coisas mudaram. – Gemeu a criatura. – Você mudou o futuro.

- Exatamente o que você fez? – Perguntou Janus.

- Como assim? – Estranhou Alixandra.

- O que você fez para alterar o futuro que você saiba?

- Eu impedi a briga entre Derek e Rembrandt.

- Que briga? – Perguntou Janus.

- Quando Derek e Rembrandt disputaram as cartas eles iam lutar e eu os impedi com as mãos gigantes.

- E o que era pra acontecer? – Perguntou Lucy pela primeira vez interessada.

- Vocês me mandaram encostar o meu selo no Derek pra ele morrer. – Alixandra fez uma pausa arrependida. – Eu experimentei e ele passou mal. Daí a doutora Tibiriçá ficou com a idéia de tirar meu selo, fazer uma regressão, daí eu fiz um buraco em uma das torres e descobriram que eu sou uma mímica...

- Está explicado! – Concluiu Janus. – Medhal estava ocupado nas reformas do castelo por isso conseguiram matá-lo.

Novamente Alixandra ficou surpresa com a informação.

- Algum problema? – Perguntou Lumina.

- O professor disse que eu sou uma mímica e que eu uso o poder das pessoas a minha volta.

- Sim! – Concordou Edson. Mostrando um tanque de metal. – Por isso que você pode fazer a viajem no tempo. Temos um tanque de mana só pra isso.

- Mas da outra vez vocês me disseram que eu manifestei o Merazoma porque vocês me controlavam do futuro.

- O continuo do espaço tempo deve ter feito isso para se adaptar a alteração da historia. – Explicou Janus. – O universo não permite idiossincrasias e se adapta criando adaptações plausíveis. Por isso que Nicole e Cassandra conseguem se lembrar das alterações no tempo. Elas existem em múltiplas realidades.

Alixandra tentou pensar um pouco, mas estava com dificuldade. As coisas estavam acontecendo muito rápidas e sua boca estava doendo.

- Porque Cassandra e a professora não envelheceram?

- Cassandra é uma Struldbrug. – Respondeu Janus. Ela envelhece cada vez mais devagar desde os vinte anos. Muitos acreditam que são imortais.

- E a professora? – Alixandra perguntou olhando para a professora que a encarava com um sorriso de satisfação.

- Porque eu estou morta. – Respondeu Lucy. – Morri aos dezenove aninhos. Já estava morta há 300 anos antes que você me conhecesse. Morta como Nicole.

- Não. – Respondeu a criatura se aproximando de Alixandra. – Não como eu. Ela é uma bebedora de sangue. Existe pela vida retirada dos outros.

- Assim como todo mundo que come carne ou plantas mortas. –Lucy retrucou.

- E você? – Perguntou Alixandra?

- Eu sou um Draugr. – Respondeu a criatura.

- Draugr! – Repetiu Alixandra. – Draugr. O que é isso? Nunca ouvi falar em um Draugr.

- Uma criatura amaldiçoada e descarnada que vive entre este mundo e o outro habitando um corpo descarnado e putrefeito. – Respondeu com sua voz horripilante. - Pior do que qualquer vampiro.

Alixandra queria conversar com Nicole, mas não agüentava nem ao menos olhar para as poucas partes visíveis pelos buracos da roupa rasgada. Nicole se curvou e se esgueirou para um canto escuro empestando menos a sala.

O que aconteceu com a Belle? – Perguntou Alixandra mudando de assunto.

- Morreu durante o parto. – Respondeu Lumina. – Bruxas não são aceitas em hospitais por isso ninguém podia fazer nada.

Alixandra sentiu um terrível calafrio subir pela espinha. Por alguns momentos sua garganta ficou fechada.

- Vocês têm certeza que tudo se resume a salvar a vida do Rembrandt e do professor?

- Tudo começou naquele momento! – Afirmou Janus.

Alixandra pensou no que podia fazer.

- O que vai acontecer exatamente?

- No dia em que você vai acordar durante o treino da corrida, na décima oitava curva entre os pilares do castelo, Rembrandt vai mudar as indicações e isso vai causar um acidente que vai matar a ambos.

- Vocês realmente têm certeza que Derek matou Rembrandt de propósito? – Perguntou Alixandra.

- A própria Maria me contou que Derek planejava a morte de Rembrandt, mas ela não levou a serio. - Disse Lumina.

- Não é o suficiente. – Respondeu Alixandra. – Pelo menos não pra mim.

- Eu mesmo verifiquei o local. – Respondeu Edson. – Além dos obstáculos da curva estarem adulterados, encontramos indícios que Derek saltou em cima de Rembrandt para que ele não escapasse. Só que ele próprio não foi capas de evitar.

- Isso esta muito vago. – Reclamou Alixandra. – Eu quero detalhes.

- Converse comigo. – Disse Edson. – Eu participei da montagem da pista, a oitava curva foi alterada e uma faixa de sinalização que era usada como obstáculo foi alterada para um ponto que não se possa fazer a curva em alta velocidade. Quando cruzarem ela ao invés de diminuir a velocidade, vão se colidir com ela e derrubar parte dos enfeites do castelo em cima da pessoa. Alem da batida e do soterramento ainda existe uma serie de materiais inflamáveis e explosivos que estavam no local.

- Então eu tenho que parar a corrida, arrumar a curva, tirar o obstáculo e o sinal da décima oitava curva e colocar o material inflamável em outro lugar?

- E desmascarar Derek. – Insistiu Lumina. – Ou então ele vai causar outro atentado.

Alixandra se esforçou para memorizar tudo.

- Se você quer mudar o futuro vai precisar da nossa ajuda no passado. – Lembrou Edson.

- Isso é fácil! - Sorriu Janus com uma faísca de lembrança nos olhos. – Eu faria qualquer coisa que uma garota bonita me pedisse.

- Faço minhas as palavras dele. – Respondeu Edson. – Eu era meio que bunda mole. É só pedir qualquer coisa pro meu eu jovem que eu obedeço.

- Comigo não tem problema. – Respondeu Lumina. – Éramos grandes amigas.

- Não! – Alixandra ficou indignada. – Não éramos mesmo. Você me odiava.

- Eu não lembro disso. – Lumina disse seriamente.

- Não olhe pra mim! – Se manifestou Lucy. – Eu estava presa na torre de Yesod naquela época, não podia fazer nada. A menos...

- O que? – Perguntou Lumina desconfiada.

- Se ela me arranjasse um pouco do sangue de Rembrandt... – Lucy disse literalmente lambendo os beiços. – Eu poderia sair da torre.

- De jeito nenhum. – Protestou Lumina zangada. – Não escute ela Alix.

- Então eu não posso ajudar. - Afirmou Lucy.

Alixandra olhou para a figura escondida nas sombras esperando alguma informação. Não acreditava que aquilo pudesse algum dia ter sido Nicole. Mesmo assim se esforçava pra ajudar.

- Não conte comigo. – Sussurrou tentando fazer a voz mais suave possível. – Não vai querer minha ajuda.

Por algum tempo ela contemplou as sombras tentando entender as atitudes daquela criatura. Será que agora ela estava com seus sentimentos machucados porque ela se afastou daquele jeito? Alixandra se voltou pra o velho Janus e confirmou todas as informações que deveria lembrar.

- Minha memória não é das melhores, mas eu espero lembrar.

- Você esta muito preocupada com isso. – Estranhou Edson. – Você sempre teve uma boa memória.

- Da outra vez que eu voltei eu lembrava de tudo perfeitamente, mas em determinado momento eu comecei a esquecer de tudo e as lembranças ficaram como um sonho.

- Foi quando você mudou o futuro? – Perguntou Edson.

- Sim! – Se lembrou Alixandra. – Por quê?

- Como eu já disse antes, quando se altera o tempo o fluxo do espaço tempo se altera para criar uma explicação plausível dos acontecimentos. – Explicou Janus. – Quando você alterou o futuro, aquela linha temporal nunca aconteceu e as lembranças do tempo que você passou aqui se tornou apenas um sonho. É por isso que Cassandra se lembra das outras linhas temporais vagamente.

- Cassandra. – Gemeu a figura encolhida nas sombras. – Cassandra possui um caderno ao lado da cama para anotar os seus sonhos. Assim que voltar escreva tudo o que você sabe antes que esqueça.

- Então é melhor mandar ela de volta agora. – Ordenou Janus.

Lumina lhe deu um abraço de despedida. Lucy e Edson lhe deram um aperto de mão e Janus fez um aceno com a cabeça da forma mais simpática que conseguia e Nicole continuou agachada nas sombras. A garota respondeu a todos com um abraço.

Alixandra se aproximou da sombria criatura e pode um de seus olhos mortos pelo capuz, tão cheio de tristeza e de dor. Por um momento toda a repugna que sentia se desfez e pode perceber Nicole. Ela não se importou mais com a aparência e deu um abraço na amiga.

- Por que esta me abraçando? – Perguntou Nicole.

- Porque eu sei que você vai ficar ao meu lado durante todos esses anos.

Nicole hesitou por alguns instantes e a abraçou. Alixandra podia sentir seu corpo frágil como madeira velha e podre tremendo e rangendo.

- Conte pra ela que é você que ela esperava. – Sussurrou no ouvido dela. – Conte que você sempre vai estar lá, não importa o que aconteça. Sempre que ela precisar. Diga que não vale a pena. Que ela deve aceitar a oferta de Lucy.

Alixandra sentiu seu corpo ser puxado pra trás por dentro do seu peito. Tudo começou a se desfazer e ela caiu vertiginosamente como se estivesse sendo puxada. De repente tudo parou. Ela estava na sua cama.

Ciclo quatro

Alixandra acordou e pulou para a cama de Cassandra a procura do caderno em sua mesinha de cabeceira. Rapidamente escreveu tudo o que lembrava que tinha acontecido e durante algum tempo ficou parada tentando se lembrar dos detalhes e fazendo anotações.

- O que aconteceu? – Perguntou Belle. – Você parece preocupada.

- Eu tive outro daqueles sonhos. – Respondeu revisando o que escreveu.

- Como o que você conheceu o Janus?

- Exatamente.

- E o que aconteceu dessa vez?

- Se o sonho estiver certo Rembrandt vai morrer hoje.

- Como? Quando? Onde?

- Em uma corrida na décima oitava curva, o resto eu não sei.

- Corrida eu não estou sabendo de nenhuma corrida.

- Droga! Eu esqueci de perguntar.

- Perguntar o que?

- Quando e aonde.

- Como foi que você esqueceu de perguntar?

- Eu fiquei confusa depois que me contaram que você tinha morrido.

- Como assim eu tinha morrido? Quem diabos iria querer me matar.

- Eu não disse que ninguém tinha te matado.

- Então como foi que eu morri?

- Você estava grávida e teve problemas no parto! Eu não sei direito.

- Eu estava grávida? mas grávida de quem?

- Eu não sei!

- Como assim não sabe? Quem você pensa que eu sou pra ficar grávida de pai desconhecido? A sua mãe.

Alixandra deu um tapa na cara de Belle e as duas ficaram quietas por alguns momentos.

- Me desculpe! – Disse Belle com toda sinceridade. – È que você me deixou nervosa com essa coisa.

- Acho melhor ficar de olho no Rembrandt pra qualquer coisa.

- Certo!

- Você vai até o Rembrandt e eu procuro Nicole.

- Sozinha? – Chorou Belle.

- Anda! – Alixandra pulou da cama novamente. – Não temos tempo.

- Você vai assim? – Belle apontou para a camisola de Alixandra.

Alixandra se trocou rapidamente e as duas correram para a sala móvel.

Encontraram a sala dos lírios que tinha poltronas brancas e uma mesinha de centro com um arranjo de lírios.

- Por favor. – Pediu Alixandra. – Pode nos levar até onde Nicole esta?

- Não! – respondeu prontamente. – Preciso de mais informações.

- E você pode procurar alguém? – Perguntou Alixandra.

- O Rembrandt. – Lembrou Belle. – O sujeito com um monte de tatuagens.

- Sim eu sei quem é! – Respondeu a “sala”. – mas não tenho certeza que posso ajudar. Sabe quantas pessoas tem neste castelo?

- Não custa tentar. – Disse Alix.

As garotas esperaram em silencio por alguma resposta da “sala” e acabaram se sentando nas poltronas chateadas.

- Não posso ajudar. – Finalmente respondeu a “sala” de Lírios. – O castelo esta muito movimentado neste horário.

- Ele pode levar a gente até a pista de corrida não é mesmo?

- Qual pista de corrida? – Questionou a “sala”.

- Uma que tenha mais de dezoito curvas. – Respondeu Alixandra.

- Eu sou apenas uma sala do castelo. – Respondeu indignada. – Não sei de nada sobre o lado de fora do castelo.

- Aonde encontramos alguém que possa encontrar os alunos.

- Os monitores e mestres das casas sabem exatamente aonde cada aluno esta e os zeladores mantêm constante monitoração nos alunos delinqüentes.

- É isso! – Gritou Alixandra. – Dietrich é da casa de discos. Belle você pode entrar em contato com ele e manter ele bem longe da pista de corrida.

- Dietrich? – Estranhou Belle. - Derek Dietrich? mas o que ele tem a ver com tudo isso.

- Ele é uma das pessoas que vai morrer na décima oitava curva. – Alixandra mostrou a anotação pra Belle.

- O professor Kazam? – mas como ele está envolvido nisso? Ele vai correr na poltrona dele?

A porta da sala se abriu.

- Onde estamos? – Perguntou Alixandra olhando para o vasto corredor luxuoso e enfeitado de vermelho e dourado.

- Na casa de discos. – Respondeu a “sala”. – A sala dos monitores é a terceira porta a esquerda.

- Vai lá! – Empurrou Alixandra.

- Sozinha?

A porta se fechou atrás de Belle.

Ciclo cinco

Belle estava sozinha no luxuoso corredor da casa de discos.

Era a primeira vez que andava sozinha pelos corredores desconhecidos do castelo. Podia jurar que os enfeites e quadros nas paredes estavam olhando para ela, até que a aldrava da porta coçou o nariz e continuou olhando para ela esperando alguma coisa. Belle levou um susto e quase pulou pra trás.

- Hã... Oi!

- Eu sou a Belle!

- Ola! – Respondeu a Aldrava. – Eu não me chamo Teodureto.

- Teo... O que?

- Teodureto!

- Hã... Ola Sr. Teodureto.

- Pode me chamar só de Dureto.

- Claro. – Belle tentou dar um sorriso simpático. – Dureto.

- Em que posso ajudá-la?

- Aqui é a sala dos monitores?

- Não! Aqui é a sala dos cadetes. Pode se dizer que são monitores, mas eu não os chamaria disso se fosse você.

- Por que não?

- Eles podem ficar tristes! As pessoas ficam tristes com muita facilidade. Eu não. Eu nunca fico triste, eu sou uma aldrava.

- Há... Você pode me dizer aonde esta o Derek?

- Não! mas talvez a Mercedes ou o Paolo possam.

- Mercedes? – Belle reconhecia vagamente aquele nome.

A porta se abriu revelando um grande salão com vários ambientes. O teto era alto, grandes tapeçarias vermelhas com o símbolo dourado da casa de discos cobriam as paredes. Uma grande mesa estava no centro e em volta vários ambientes separados. No fundo do salão próximo as grandes janelas vários sofás de veludo vermelho ao lado de estantes de livros aonde um rapaz magro e loiro de cabelos esvoaçados lia um livro. Ele se virou para Belle revelando seu olhar de constante surpresa e seus olhos brancos. Belle sentiu um susto tão grande que mal pode falar.

- Ola!

Apesar da estranha figura não dizer uma palavra Belle inexplicavelmente sabia que ele queria saber o que ela estava fazendo ali.

- Eu estou procurando Derek Dietrich.

Novamente ela pode sentir sem palavras que ele queria saber se o assunto era apenas com Derek ou se poderia ser qualquer um dos arcanos reais. Ela se sentia constrangedoramente invadida, mas não teve coragem de reclamar.

- Eu queria falar com o Derek mesmo. – Confirmou Belle tremula. – Eu ouvi que vocês têm um jeito de localizar todos os membros da casa de discos.

- O que você quer com o valete? – Perguntou uma voz doce e suave atrás de Belle.

Ela se virou e imediatamente reconheceu a cadete Maria Mercedes que havia ido até Petit Petre buscar por arcanos não autorizados. Apesar de sua aparência frágil e meiga Belle sentiu muito medo dela, em seus olhos podia ver que ela se lembrava muito bem de quem havia explodido uma carteira em sua cabeça.

- É assunto particular. – Foi a única coisa que Belle conseguiu pensar.

Maria olhou muito contrariada para Belle e analisou em um pequeno quadro que carregava debaixo dos braços com uma varinha.

- Muito bem eu posso te levar até ele. – Ela se virou para o rapaz e falou como se ele tivesse dito alguma coisa. – Tudo bem Paolo eu quero fazer isso.

Maria saiu marchando pelo corredor, por alguns instantes Belle não soube o que fazer e hesitou antes de seguir Maria.

No corredor Maria já estava entrando na sala móvel quando Belle surgiu correndo e rapidamente se despediu de Dureto. A cadete não parecia nada feliz com a presença de Belle. O ambiente da sala de pêssegos não estava nem um pouco agradável.

- Hã... Eu gostaria de pedir desculpas. Pela outra vez. Quando nos conhecemos.

- Tudo bem. – Não havia nenhum resquício de perdão na voz dela. – Eu compreendo a sua situação.

Maria olhava para o quadro atentamente, era um mapa da escola que se movia, podia se ver claramente os escudos da casa de discos se movendo, em particular um valete onde estava escrito Derek Dietrich. Conforme ele se movia Maria tocava no quadro com a varinha para que o mapa se movesse acompanhando o jovem cadete.

- Posso fazer uma pergunta? – Belle estava nervosa e cada vez mais aflita.

- Claro!

- Você pode ver todas as áreas do castelo com esse mapa?

- Não! Apenas as áreas autorizadas para os cadetes.

Belle deu uma bela olhada no mapa aonde apareciam vários outros nomes e escudos se movendo.

- Você pode ver todo mundo que esta lá pelo castelo?

- Sim! Como você pode ver.

- Então você pode achar qualquer pessoa que quiser?

- Não. Apesar de mostrar todo mundo ele só localiza os membros da minha casa.

- E existe algum mapa que localize todo mundo?

- Todo o corpo docente possui mapas que localizam todas as pessoas da escola, inclusive as que estão em áreas vermelhas.

- Puxa! – Disse Belle querendo dar uma boa impressão. mas sem nada passar pela sua cabeça.

A porta se abriu e saíram em um corredor no térreo aonde muitos cadetes da casa de discos andavam apressadamente carregando objetos e conversando. Pelas grandes janelas podia ver do lado de fora varias tendas montadas e pilhas de caixas. De relance ela pode ver Nicole e as outras garotas do clube de eventos.

- Posso fazer uma outra pergunta? – Continuou Belle.

- Claro! – Respondeu Maria apressadamente.

- O que está todo mundo fazendo?

- São os preparativos pro próximo festival do equinócio de outono que começa no próximo sábado.

- Todos parecem muito despreparados.

- Depois que você e a sua irmã explodiram um rombo na torre de Kéter o major Medhal mobilizou toda a casa de espadas pra reforçar a segurança e agora estamos fazendo o trabalho deles também.

- Ela não é minha... Nós não... Não foi de propósito.

- Eu sei! Já vi o que vocês fazem sem querer.

Belle quis desesperadamente mudar de assunto.

- Por que vocês usam símbolos diferentes nas roupas?

- Possuímos hierarquia. Os membros novos geralmente recebem o numero dois, conforme aumentam sua participação nas tarefas das casas recebem um aumento até o numero 10 ou se tornarem membros do corpo estudantil e receberem o titulo de arcanos menores reais.

- Então os títulos não são definidos por habilidade ou indicação?

- Só os do corpo estudantil. Eu passei de dois a dez logo no primeiro mês que assumi o cargo de representante de classe.

- Eu também era a representante da classe na minha antiga escola. Fui a mais votada.

- Aqui não é um concurso de popularidade. Você apenas se escreve pro cargo e se tiver mais alguém simplesmente dividem as tarefas.

Belle não soube dizer se era um insulto ou apenas um comentário.

- Então existem mais de um valente?

- Você já conheceu o Paolo. Também tem Gielgud e Dietrich.

- Então são três membros por titulo?

- Só entre os arcanos reais.

- Então são 21 arcanos reais?

- Como é que você sabe?

- Sete vezes três.

Maria ficou muito zangada com a resposta. Belle ficou um pouco chateada queria evitar a todo custo parecer orgulhosa.

- Então... Qual é o seu titulo?

- Eu sou uma dama.

- Isso é no mesmo nível que um Valete?

- Exatamente.

- Puxa! Que legal

Maria ignorou completamente o comentário de Belle. Finalmente chegaram até Dietrich que estava verificando uma lista de materiais de uma espécie de arquibancada que estavam montando.

- Senhor! – Maria chamou a atenção. – Esta arcanoide gostaria de falar com o senhor.

- Claro!- Respondeu prontamente. – Em que posso ajudar?

- É em particular respondeu Belle.

- Podemos cuidar disto sozinhos. – Disse um dos rapazes que estava com Derek apanhando a lista de materiais.

Ele hesitou por alguns instantes e acabou indo com ela. Belle puxou Derek pela mão até um local isolado. Ele a olhou sem muito interesse enquanto ela simplesmente não sabia o que dizer.

- Eu... Eu...

E agora? O que ela poderia dizer? Não poderia simplesmente dizer que Alix teve um sonho aonde ele e Rembrandt iam morrer na curva de uma corrida e ela ia ter que vigiá-lo. Ela própria não acreditava muito no sonho de Alix. Ela nem ao menos sabia o que estava fazendo naquele castelo. Tinha que pensar em alguma coisa e rápido.

- Eu... Eu amo você!

PÈSSIMO!

- O que? – Dietrich ficou tão atordoado como se ela tivesse batido na sua cara com uma pá. Provavelmente mais.

- Eu amo você! – Insistiu Belle. Agora não podia voltar a trás. – Desde a primeira vez em que nós nos encontramos.

- Mas... A primeira vez que nós nos encontramos eu te nocauteei com uma arma atordoante.

- Sim! Eu nunca me senti daquele jeito antes. – Belle começou a ter vontade de arrancar a própria língua.

- Você pode fazer sozinha, se quiser eu te empresto.

- Eu... – Naquele instante ela realmente queria um daqueles aparelhinhos que Derek usara para capturá-la para atirar nela mesma. – Eu sei que muitas garotas já devem ter se declarado pra você antes. Já deve estar enjoado de ouvir isso.

- Na verdade. – Derek começou a olhar para ela como se fosse muito interessante. – Você é a primeira garota que me diz isso.

- Mesmo? – Dessa vez a própria Belle ficou surpresa. Derek era de longe um dos rapazes mais bonitos da escola. Era um dos rapazes mais bonitos que já vira em toda sua vida. – mas você é tão bonito. Como isso é possível?

- Eu reparei que as garotas Eslavas têm um certo gosto pelo meu biótipo. – Derek começou a olhar para ela como se fosse muito interessante. – Não acho que deveria dizer uma coisa assim apenas pela minha aparência.

- Bem... Então podíamos nos conhecer melhor. – Belle viu a oportunidade perfeita. – Hoje à tarde podemos ir fazer compra e você pode me mostrar à cidade. Tenho uma lista que os professores me pediram.

- Eu acho que não. – Por um momento Derek começou a aparecer doente. – Eu tenho alguns preparativos pro festival.

- Por favor. - Belle agarrou o braço de Derek e falou da forma mais convincente que podia. – Você não vai me deixar andando sozinha e desprotegida em um lugar perigoso.

- Não é perigoso! - Ele começou a suar frio como se estivesse se esforçando muito pra falar. – Muitos alunos vão para a vila no final de semana.

- Por favor. – Belle podia sentira as mãos frias de Derek por debaixo das luvas, ela as pegou e tentou aquecê-las com seu rosto.

- Eu já disse que não posso. – Respondeu quase que ofegante.

Belle olhou para seus olhos azuis e tristes, sua aparência tão frágil, ela nunca havia realmente reparado em Derek.

- Posso te dar um beijo? – As palavras simplesmente saíram da sua boca.

- Eu nunca beijei ninguém antes. – Ele respondeu.

- Eu também.

Belle gentilmente agarrou seu rosto e tocou gentilmente seus lábios... Durante toda sua vida imaginou como seria seu primeiro beijo, não era com o grande amor de sua vida, nem seu príncipe encantado, mas pelo menos era com alguém tão belo quanto um príncipe. Ele provou sua boca delicadamente e aquilo era bom. Sua pele começou a se esquentar e seu coração parecia se acelerar. Não era um beijo romântico assim aquele instante durou uma eternidade e no momento seguinte parecia ter sido tão rápido. Ela abriu os olhos e agora ele parecia duas vezes maior e mais poderoso, muito mais bonito do que antes.

- Você parece bem. – Ela disse.

- Eu me sinto ótimo.

- Vai sair comigo então?

- Certo! – Disse como quem sente um grande alivio. – Eu levo você até lá mais tarde.

- Eu posso ficar com você agora?

- Sim! – Derek puxou um lenço pra limpar o suor do rosto. - Talvez você aprenda alguma coisa.

Quando voltaram Maria estava com o quadro partido tentando juntar os pedaços.

Ciclo seis

Lumina cresceu em um pequeno país da África, sua mãe era descendente de uma longa linhagem de sacerdotisas que procriavam com espíritos de Sídhe. Durante toda sua vida acreditou que era deusa e seus súditos sempre a trataram com reverencias e oferendas. Apenas poucas vezes saia do palácio para ver seus súditos e deixava alguns poucos afortunados lhe tocarem e se sentirem abençoados.

Quando a guerra chegou e seu palácio foi destruído, seus criados mortos e seu palácio tomado. Teve a triste tarefa de aceitar o fato de que não era nenhuma divindade e que deveria ter que tomar conta de si mesma vivendo nas ruas.

Quando foi encontrada pelo professor Kazam já estava acostumada a se vestir como um menino e a viver no submundo da cidade. Quando foi novamente obrigada a se vestir de garota e foi trazida ao castelo de Sephirot, lugar onde seu palácio podia ser facilmente escondido no canto do mais humilde dos salões finalmente pode extravasar suas emoções que controlara durante toda sua vida por causa de seus poderes e descobriu que seu coração estava cheio de ódio e frustração.

Durante um bom tempo Lumina odiou a tudo e a todos. Com a maior intensidade que conseguia, mesmo assim sempre havia quem retribuísse seu ódio com carinho e aos poucos passou a gostar de viver lá como nunca gostou do seu palácio. Manteve sua aparência de poucos amigos, mas na verdade era muito feliz e realmente não estava interessada em mais amigos. Os poucos que tinham já eram o bastante. Uma das poucas coisas que Lumina realmente não gostava era de ajudar nos preparativos dos festivais. Seu sangue borbulhava com as lembranças de quando ela era a razão dos festivais.

Por culpa das irmãs Pudim Medhal havia redirecionado todos os golens e criaturas mágicas que serviam o castelo para reforçar a segurança e todos os detalhes até os mais ínfimos como carregar coisas se tornaram obrigação dos alunos. Incluindo o trabalho de carregar coisas. Graças às proteções do castelo ninguém podia simplesmente usar magia para fazer com que as caixas e pacotes simplesmente flutuassem ou aumentar a própria força com reforço.

Após carregar uma caixa bem pesada por um longo trecho de tapetes amarelos, Lumina estava com seus ombros doloridos seu humor completamente destruído, para piorar no fim do corredor surgiu à pessoa que a alguns momentos ela estava maldizendo em pensamentos.

- Lumina! Lumina! – Gritou Alixandra. – Que bom que eu te encontrei.

- O que tem de bom nisso?

- Eu preciso da sua ajuda.

- Minha ajuda? Minha ajuda? Por que eu ajudaria você? Por sua causa eu estou tendo que trabalhar nesse estúpido festival.

- Minha causa? – Alix ficou espantada. – mas por quê?

- Depois que você explodiu a torre norte ontem, Medhal ficou maluco e colocou todo mundo pra refazer a segurança de Sephirot. Agora só sobrou os alunos pra essa droga.

- Todo mundo? – Alix pensou por alguns instantes. – mas tem gente fazendo a segurança do festival?

- Isso agora é trabalho da casa de discos. Até a casa de espadas foi mobilizada pra essa reforma de segurança idiota.

- Casa de discos? Então Derek é o responsável pela segurança das corridas?

- Claro! Quem mais seria?

- Lumina eu preciso que você me leve até uma pista de corrida que tenha mais de dezoito curvas.

- Pista de corrida com mais de dezoito curvas? Do que você esta falando.

- existe alguma pista, com mais de dezoito curvas aonde alguém pode morrer em um acidente se mudarem a sinalização ou indicação sei lá. A pessoa não conseguiria fazer a curva em alta velocidade.

- Só a corrida de tapetes! O que você esta tramando?

- Eu preciso chegar ate lá urgente. Pode haver um desastre.

- Que desastre? Ninguém vai corre até a semana que vem. O caminho nem deve estar pronto ainda.

- Aonde é que é? – Insistiu Alix. – Eu preciso chegar na décima oitava curva da pista.

- Eu não sei! – Lumina percebeu que a garota realmente estava preocupada. – A corrida da à volta no castelo a pista é enorme.

- Então me leva até o começo que eu me viro.

Lumina não discutiu, a garota estava ofegante e visivelmente muito preocupada com alguma coisa. Como a curiosidade é maior que o cansaço e a raiva Lumina decidiu levar a garota até lá.

- Vamos até o parque de Beth a maioria dos esportes do festival começam lá.

Assim que a porta da sala móvel se abriu às garotas entraram em um dos inúmeros salões de jogos do castelo onde muitos alunos estavam entretidos e do lado de fora podiam ver a montagem das barracas e dos enfeites do festival.

- Essa é a pista de tapetes.

Lumina apontou para o céu mostrando grandes aros e faixas de pano coloridas que se estendiam pelas torres.

- Espera ai! – Alix teve um choque quando viu. – Essa é uma corrida no ar? Eles vão voando?

- Sim! – Respondeu Lumina sem muito interesse. – Eu mesma sou uma das melhores concorrentes.

- Vocês voam por esses aros em vassouras?

- Não seja ridícula! Voamos em tapetes. Vassouras iam deixar a nossa bunda toda ralada.

Alix fez um momento de silencio desconcertada. Antes que pudesse dizer alguma coisa as duas foram interrompidas por uma forte explosão que deu um baita susto em Alix. Vários alunos pararam o que estavam fazendo para olhar de onde vinha a enorme nuvem de fumaça branca.

- São os idiotas do clube de psicociência. – Comentou Lumina olhando com desdenho.

- E o que eles fazem?

- Um monte de besteiras! mas foram eles que montaram a pista da corrida de tapetes.

Alixandra se levantou com um pulo. Um grupo de garotos estava discutindo animadamente sobre alguma coisa enquanto uma estranha máquina trepidava soltando a nuvem de fumaça branca.

- Vocês fizeram a pista de tapetes? – Perguntou Alixandra aflita.

- Claro! - Respondeu um garoto com a roupa e o rosto sujos de graxa e fuligem. – Esta interessada nos gênios arquitetônicos por trás de tal obra?

- Não eu preciso chegar na décima oitava curva.

- Décima oitava? – Exclamou outro dos garotos que começaram a cercar Alix. – Não seria melhor fazer a corrida inteira?

- Não! – Respondeu aflita verificando as anotações que tinha na mão que Lumina tentava ver pelo seu ombro. – Eu só preciso chegar na décima oitava curva.

- Mas qual décima oitava curva? – Perguntou outro dos garotos.

- Como assim qual? – Alix estava ficando nervosa. – Quantas décima oitavas curvas vocês tem.

- Cinco! – respondeu uma garota que parecia um garoto. – A cada dia vamos mudar a pista, vão ser cinco pistas.

- Uma montagem genial. – Elogiou o primeiro garoto.

- Ei garotas! – Gritou uma voz familiar.

Lumina e Alix se viraram e entre os alunos que estavam se aglomerando em volta do aparelho estava Janus.

- Janus! – Correu Alixandra. – Eu preciso falar com Cassandra.

- Qual o problema? – Janus percebeu a aflição dela.

- Eu tive outro daqueles sonhos. Aonde esta ela?

- Ela foi ver o Rembrandt testar a pista da corrida de tapete.

- O que? – Alixandra ficou desesperada. – Você tem que impedi-lo rápido.

- mas eu...

- Janus Agora! – Gritou Alixandra com toda força.

Janus não pensou duas vezes e saiu em disparada.

- Qual é o problema? – Perguntou um sujeito mais velho que parecia o líder dos garotos que mexiam na máquina.

- Tem um problema na décima oitava curva, a sinalização pode estar fora de lugar. – Alixandra já estava quase chorando.

- Mesmo que a sinalização esteja errada eu não acho que vai ser um problema tão grande. – Comentou o rapaz corpulento. – Thomas!

Um garoto franzino que aparentemente estava mais preocupado com as peças que mexia do que com o mundo a sua volta olhou curioso.

- Você que entende da pista, leva essas garotas até a décima oitava curva. – Ordenou o sujeito limpando a graxa das mãos.

- Qual? – Thomas já se levantou pegando um daqueles estranhos quadros mapas e tirando uma varinha da roupa.

- O que estão correndo agora. – O sujeito pegou alguns rolos e entregou pra ele. – Essas meninas acham que não é seguro.

- mas nós examinamos toda a segurança a menos de três horas. – Comentou Thomas.

- Não importa! – Reclamou Alixandra. – Me leve até lá.

Ciclo sete

Cassandra olhava animadamente para os tapetes.

- Eu adoraria andar nesses tapetes, mas eu tenho muito medo de altura.

- Eu também tinha. – Comentou Rembrandt pegando um dos tapetes e estendendo no ar. – A melhor coisa que você deve fazer é terapia de exposição. Com o tempo se acostuma e perde o medo.

Rembrandt saltou com toda a força em cima do tapete que se dobrou.

- Esse daqui esta ruim Bruna. – Comentou com a cadete de discos que estava verificando outros tapetes.

- Mesmo assim eu tenho medo. – Comentou Cassandra esticando outro tapete para que Rembrandt pulasse em cima. – Esses tapetes são muito pequenos.

Neste exato instante chegou Derek e Belle.

- O que é isso? – Perguntou Belle?

- São tapetes voadores. – Responde Derek. – São fabricados em Sephirot e usados pelos Arcanos. Fazemos corridas para estudar e aperfeiçoar suas habilidades.

- Ei Derek. – Chamou Rembrandt. – Eu vou testar a pista, que tal uma corridinha.

Belle teve um súbito aperto no peito e agarrou o braço do Derek. Todos em volta olharam com um grande espanto.

- Derek não tem tempo para perder com bobagens!

Derek confirmou com a cabeça.

- Alem disso, se você esta testando a pista não deveria correr e sim ir calmamente para assegurar o caminho.

- Ela tem razão. – Confirmou Derek. – Você é muito precipitado.

- Vocês mesmos fizeram a verificação de segurança. – Reclamou Rembrandt. – Isso foi ainda essa manhã.

- Não quer dizer nada respondeu Belle mostrando a língua. – Correr sem uma volta de reconhecimento é coisa pra idiotas.

- A gente pode fazer uma coisa! – Pensou Rembrandt saltando no tapete e se voltando pra Cassandra. – Eu te levo pra dar uma volta rapidinha. Assim seu medo diminui.

- mas bem devagar não é? – Ordenou Belle. – Não vai arriscar o pescoço da minha amiga.

- Tudo bem. – Cassandra respondeu subindo animadamente no tapete. – Eu não gosto de velocidade mesmo.

- Tudo bem Derek? – Rembrandt perguntou pra Derek.

- Tudo bem então. – Respondeu Derek.

Belle puxou Derek pelo braço e foram embora.

- Eles estão juntos? – Perguntou Cassandra.

- Não sei. – Desconfiou Rembrandt coçando o queixo. – O Derek não parecia estranho pra você?

- Deve ser o amor.

- Ele não me parecia apaixonado. Parecia mais enzubizado.

- Ele ainda não se recuperou dos ferimentos. – Concluiu Cassandra. – Sabe como ele anda fingindo que não tem nada. Ouvi dizer que viram as costas dele sangrando durante uma aula.

- Essa coisa de querer ser durão ainda vai matar ele. - A uma boa distancia pode-se ver Janus correndo e acenando. – Aquele é o Janus.

- Sim o próprio.

- O que será que ele quer?

- Esta fazendo sinal pra ficarmos parados. Ele provavelmente não quer que você me leve.

- E o que a gente faz?

- Vamos sair correndo. – Cassandra se deitou no tapete se agarrando forte e fechando os olhos.

- PAREM! – Gritou Janus.

- Pega a gente. – Gritou Cassandra.

Rembrandt segurou os cordões do tapete se curvou sobre Cassandra mantendo-a segura.

- Vamos lá Janus.

Quando Janus se aproximou partiram em disparada pelos aros luminosos de sinalização da pista. Janus não pensou duas vezes agarrou um tapete e jogou no ar para is atrás deles.

Ciclo oito

- Não acho que haveria um problema na curva. – Comentou Thomas pegando um pesado tapete no deposito de materiais.

- Pra que é isso? – Reclamou Alixandra ajudando a carregar o tapete para a sala móvel.

- É o único jeito de chegar até a décima oitava curva.

Alixandra olhou para Lumina para ver se ela ajudava, mas estava mais interessada em olhar para suas cartas.

- O que esta fazendo? – Perguntou Alix.

- Tive a sensação de que vou precisar delas.

- Vamos até o setor de vídeos.

- Setor de vídeos? – Perguntou Alixandra.

- São as salas de exibição. – Respondeu Lumina escolhendo as cartas minuciosamente.

- Exibição de que?

- De filmes. – respondeu Thomas.

- Vocês têm salas de cinema por aqui?

- Nós temos salas de cinema por aqui. – Respondeu de forma bem grosseira.

A porta se abriu revelando um largo corredor com vista para a torre da frente, existiam enormes passarelas ligando as torres e um dos aros luminosos com faixas de pano balançando com o vento bem à frente.

- Parece tudo bem! - Olhou Lumina sem interesse.

- Verifique. – Ordenou Alix.

Thomas deu um sorriso tímido e se encolheu olhando os papéis que carregava debaixo dos braços.

- Parece tudo bem.

- Tem certeza? – Insistiu Alixandra.

- Não parece nada errado. – Comentou Thomas. – os sinais para reduzir a velocidade e o sinal da curva estão no lugar.

- Que sinal para reduzir a velocidade? – Perguntou Lumina.

- O que é aquele sinal? – Apontou Thomas

- Os dois sinais são pra curva adiante. – Respondeu Lumina subindo no parapeito.

Thomas ficou alarmado e preocupado.

- Acho melhor conferir a indicação da próxima curva. – Thomas saiu correndo e olhou mais adiante. – Isso esta errado. A indicação da curva está aberta demais, assim em alta velocidade podem bater.

- Rápido! - Gritou Alix. – Vamos mudar.

- Eu preciso de um feitiço de transmutação. – Thomas enfiou a cara procurando alguma coisa em sua mochila.

- Aqui! – Gritou Lumina jogando uma carta pra Alix.

- Vamos! - Thomas pegou o tapete e esticou no parapeito. – Vou precisar de ajuda.

- Isso é seguro? – Alixandra perguntou aflita apalpando o tapete que estava parado no ar.

- Anda logo. – Reclamou Lumina empurrando Alixandra pro tapete e mostrando uma carta. – Eu seguro você se cair.

Alixandra tentou se agarrar ao tapete que lentamente se aproximou de um dos aros luminosos. Para sua surpresa quando se aproximaram pode ver que os aros não passavam de luz e que podiam ser atravessados.

- Segure a faixa que vamos puxá-la pro lugar certo. – Disse Thomas.

Alixandra não gostou nada da idéia de soltar o tapete e usar suas mãos para segurar outra coisa. Principalmente as faixas que eram seguras por finas cordas que não davam nenhuma segurança. Usando a carta Thomas encostou sua varinha e lançou um feitiço que alterou a aparência da placa. O tapete tremeu e por alguns segundos Alixandra pode ver claramente que estavam a algumas dezenas de metros do chão.

- Por favor, anda rápido.

Alixandra abriu os olhos e pode ver uma gigantesca gárgula de pedra sentada em um dos telhados das passarelas segurando o tapete com sua enorme mão.

- O que estão fazendo? – Perguntou com sua voz cavernosa.

- Estamos arrumando os sinais da pista. – Respondeu Thomas tremulo entregando os rolos de papel pra a gárgula que começou a olhar sem interesse.

- Alguém vem vindo. – Gritou Lumina.

- Eles vão bater no material inflamável. – Gritou Alix.

A gárgula aparentemente sabia do que Alix estava falando e rapidamente largou o tapete e os papéis, velozmente voou para proteger a área onde estavam as caixas com material inflamável. Assim que Rembrandt atravessou o sinal da décima sétima curva a sinalização se soltou. Alixandra e Thomas rapidamente tentaram segurar as pilastras que caiam, mas o tapete não suportou o peso e começou a perder o controle.

No momento em que fizeram a curva Cassandra viu o que estava acontecendo e gritou. Rembrandt tentou desacelerar quando foi surpreendido por um chute de Janus que os lançou diretamente nos sinais.

Kallo Brumas protetoras

Lumina esticou sua varinha e a carta desapareceu em uma nuvem branca e macia, tão densa que envolveu os três como um colchão. Alixandra e Thomas não conseguiram mais segurar a pilastra e a soltaram. Alixandra não pensou duas vezes juntou suas mãos, se concentrou e se inclinou no tapete contra a enorme pilastra.

Merazoma

A pilastra se desfez em cinzas antes que caísse nas passarelas abaixo. Thomas tentou controlar o tapete e segurar Alixandra ao mesmo tempo, ele tentou subir com o tapete, mas escorregou pelo telhado da passarela e caiu. A nuvem de Lumina se deformou e conseguiu segurar o tapete antes que Thomas perdesse o controle completamente.

O braço de Alixandra parecia que quase tinha sido arrancado. Ela não estava preparada para usar uma Merazoma.

As lembranças do sonho começaram a mudar, começaram a se tornar menos vivas como as de um sonho e ficaram mais difíceis de serem recordadas em detalhes.

A nuvem se dispersou e todos foram colocados suavemente no chão.

Ciclo nove

Nicole e as outras garotas do clube de eventos estavam muito entusiasmadas com a montagem do concurso de beleza, elas haviam preparado tantas surpresas e atrações para o evento que agora estavam preocupadas que todos os outros ficassem ofuscados inclusive a festa do equinócio que deveria ser a atração principal. Algumas garotas insistiam que Nicole deveria fazer parte do concurso, mas pra isso deveria deixar de participar da parte administrativa coisa que ela se negava por achar muito mais divertida.

As garotas estavam entusiasmadamente alterando a agenda de atrações quando Yuki e um grupo de cadetes de espadas entrou no clube de forma solene e imponente.

- Nicole! O major Medhal anseia por sua presença na sede do templo de espadas. – Yuki anunciou como uma verdadeira mensageira oficial.

- Que chique. – Comentou Nicole. – Parece até que eu estou sendo convocada para salvar a nação. Vou falar com o ministro da guerra.

- Pra que ele quer falar com você? – Perguntou Violet que havia trazido um enorme pacote de biscoitos.

Todas olharam curiosas para Yuki que declarou muito constrangida. - Não! Eu não sei o motivo.

- Provavelmente alguma coisa a ver com a segurança. – Concluiu Érika.

- Isso não deveria ser tratado com você? – Nicole encarou Érika.

- Não necessariamente. – Érika respondeu se servindo dos biscoitos. – Deve ser alguma coisa que você esta mais envolvida do que eu.

- Então eu vou me retirar com minha guarda particular. – Elegantemente Nicole se levantou e deslizou a frente da constrangida Yuki e os outros cadetes.

Nicole acompanhou Yuki até a torre central de Tifereth onde ficavam os centros nervosos de todos os Templos. Era a primeira vez que Nicole andou pela área do Templo de espadas e ficou surpresa com a aparência de academia militar que eles possuíam. Ela se surpreendeu ao entrar em uma sala de reuniões e encontrar tantos rostos familiares sentados em cadeiras, Alixandra, Belle, Cassandra, Rembrandt, Lumina, Janus e Thomas um garoto que ela não fazia a mínima idéia de quem era.

- Por favor, queira se sentar. – Gentilmente Medhal ofereceu uma cadeira. Muito confusa ela se sentou enquanto ele pedia para que Yuki não saísse da sala com os outros cadetes.

- Posso saber o que esta acontecendo? – Nicole perguntou muito curiosa.

- Nesta manhã as 08:12h. Aconteceu um acidente em uma passarela na área de Iod envolvendo esses alunos e uma conversa sobre conspiração e sabotagem da pista de corrida de tapetes. – Relatou severamente.

- mas eu não estava lá. – Nicole se defendeu. – Eu não tenho nada com isso.

- Eu também. – Belle se manifestou.

- A Sala de Lírios me comunicou que você estava fazendo a citada conversa sobre alguém que ia morrer e uma sabotagem especificamente na décima oitava curva de uma pista de corrida. – Belle engoliu seco enquanto Medhal continuou. - Também disse que você ia distrair Derek Dietrich para que ele ficasse longe da pista e não é nenhum segredo que você não apenas passou o dia com Derek, como o impediu de ir a pista de corrida.

- A sala é quietinha, mas alcagüete. – Alix resmungou baixinho.

- E o que eu tenho a ver com isso? – Nicole falou como quem não tem nada a temer.

- Você é colega de quarto delas e eu soube que se tornaram muito amigas e costumam andar juntas. – Respondeu Medhal.

- Ele anda espionando a gente? – Janus desabafou indignado. – Ele nem é inglês.

Medhal ignorou e continuou falando com Nicole.

- Eu convoquei todos os possíveis relacionados a esse incidente para esclarecer tudo. E ninguém vai sair daqui até que eu tenha informações concretas sobre o que esta acontecendo.

- Alixandra prevê o futuro. – Belle respondeu prontamente sem pestanejar.

- Belle! – Reclamou Cassandra.

- Ninguém me disse que era segredo.

Medhal olhou muito desconfiado. – Isso é verdade?

- Ela teve um sonho aonde viu que Derek e Rembrandt iam morrer na décima oitava curva da corrida. mas não sabia qual.

- Isso já havia acontecido antes? – Medhal ficou muito interessado.

O interrogatório se tornou uma conversa onde todos ficaram interessados. Primeiro a historia foi contada aos pedaços e de forma confusa, mas Medhal insistiu que contassem duas vezes e cada vez pedia por mais detalhes. O clima ruim desapareceu e ninguém mais acreditava que iam receber alguma punição. Alixandra tentou omitir que Derek era o culpado, mas acabou sendo pressionada tanto por Medhal quanto Lumina que perceberam que ela estava escondendo alguma coisa.

- mas como a morte de Rembrandt afeta o professor? – Duvidou Lumina que não gostou nem um pouco de escutar que iria se tornar amiga de Alix.

- Impressionante. – Comentou Rembrandt claramente preocupado. – Quando o professor sofreu o acidente a força vital dele foi ligada a minha enquanto ele se recupera. Realmente se eu morrer seu corpo pode ainda não ter se recuperado o suficiente para sobreviver sozinho.

- E quem é esse tal de Edson? – Insistiu Lumina.

- Meu segundo nome é Edson. – Respondeu o tímido garoto que até então apenas escutou. – Thomas Edson. Como o inventor. Eu também sou bom com máquinas. Mais do que com magia.

Ouve um certo silencio.

- Ainda tem alguns erros nesse sonho. – Criticou Nicole. – Eu duvido que ainda vou estar viva daqui a 50 anos.

- Não foi 50 anos no meu sonho... – Respondeu Alix. – E você não estava viva era uma espécie monstro, um Draugr.

Nicole quase caiu da cadeira ao escutar aquilo. Foi como o prenuncio da sua própria morte.

- Calma! – Apaziguou Alix. – Foi só um sonho. Não quer dizer que aconteceu de verdade.

- Existem muitos tipos de sonhos premonitórios. – Explicou Medhal. - É comum que acontecerem sonhos entre as premonições. O fato de Derek ser assassino pode ser apenas uma acusação inconsciente por ele ter te atacado em Galita. A viagem no tempo pode talvez ser uma resposta que sua mente considere racional para a previsão. Também não é raro o controle de sonhos para que eles se tornem lineares, existe até esse exercício para vocês fazerem daqui a alguns graus.

- Então o senhor acha que esta tudo bem? – Perguntou Belle aliviada.

- Mesmo assim eu não vou arriscar. – Anunciou Medhal. – Se o sonho não for sonho existe alguma conspiração que esta usando Derek e provavelmente vai tentar de novo. Alguém sugere um plano de ação?

Todos naturalmente olharam para Alix.

- Podemos montar um grupo para vigiar o Derek e proteger o Rembrandt. – Respondeu Alix.

- Idéia brilhante. – Elogiou Medhal.

- Essa era a hora de dizer que a idéia era ruim. – Cochichou Janus. – Não de incentivar esse maluco.

- mas eu gosto da idéia. – Alix deu um risinho. Depois de tanto tempo era muito bom ser levada a serio. – Podemos formar um grupo e nos chamar de Arcanoides.

- Não vai ter confusão? – Perguntou Cassandra. – Afinal todo mundo já chama a gente assim.

- Pelo contrario. Precisamos de um disfarce. – Sugeriu Nicole. - Vamos criar um grupo pra competir no festival. Então eu vou competir no concurso de beleza e ainda vou poder entrar em qualquer lugar por causa do clube de eventos.

- Ótima idéia. – Concordou Lumina. – Derek não vai resistir a duelar com Rembrandt e vai entrar também. Alem disso eu precisava de um grupo para participar da corrida mesmo.

- Vocês vão precisar de um professor para ser tutor do grupo. – Comentou Medhal. – Eu não posso porque já cuido de uma casa e só posso nomear alunos dela.

- Então temos que encontrar um professor pra nos dar autorização. – Janus começou a pensar em alguém.

- No que eu vou me inscrever? – Perguntou Cassandra.

- Acho bom todo mundo participar do torneio das cartas. – Opinou Rembrandt. – Assim vamos estar em todos os lugares.

- Belle pode pedir pra Claude fazer uniformes pra gente. – Sugeriu Cassandra.

- Vocês estão levando isso a serio ou brincando? – Belle percebeu que estavam entusiasmados demais com a competição.

- Belle tem razão. – Lembrou Alix. – Os rapazes podem ficar de olho no Derek enquanto estiver no dormitório dos meninos. Belle o que você fez pra convencer o Derek pra andar com você.

- Eu... - Belle quase explodiu com todos olhando pra ela. Seu rosto ficou vermelho como se fosse morrer. – Eu o pedi em namoro.

- O QUE? – Gritou Janus. – POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?

- Silencio! – Chiou Nicole. – Ela esta fazendo trabalho de espionagem. E o que foi que ele disse?

- Ele disse que sim.

- O QUE? – Novamente gritou Janus.

- Ótimo! – Piscou Alix.

- OTIMO? PORQUE OTIMO?

- Como namorada dele ela vai ter todo o tempo possível pra ficar com ele. – Explicou Alix.

- Isso é obsceno! – Protestou Janus. – Esta sugerindo que a sua própria irmã se submete a algo tão degradante como ser a namorada do Dietrich?

- Ela não é minha irmã. – Corrigiu Belle.

- Viu só! Ela já não te considera mais a sua irmã.

- Você não quer fazer Belle? – Perguntou Alix.

- Não! Tudo bem. – Respondeu Belle desistindo de explicar a relação entre ela e Alix.

- Como assim tudo bem? – Protestou Janus.

- Cala a boca Janus. – Ordenou a Cassandra.

- Muito bem. – Continuou Medhal. – Eu vou colocar um grupo especial pra ficar com Derek. Vou justificar que é para ajudar na segurança.

- Pode contar comigo. – Yuki se ofereceu.

- Ótimo! – Sorriu Medhal. – Vou assinar uma autorização para que você possa participar do grupo das Arcanoides.

A declaração os afetou de forma violenta. Eles estavam divagando sobre a idéia de forma informal e brincalhona, não esperavam realmente levar a serio.

- O que? – Yuki se surpreendeu. - mas eu pretendia entrar no time de Conjurabol.

- Tudo bem! – Permitiu Medhal sem compreender exatamente quais as intenções dela. - Com Janus, Lumina e Rembrandt no seu time vai estar com uma vantagem muito boa.

- E eu? – Perguntou Thomas até então esquecido.

- Você vai ser nosso trunfo. – Avisou Alix. – Ninguém sabe que você esta com a gente.

- Sr! – Rembrandt levantou a mão. – Estamos só divagando sobre a idéia. Não pretendíamos fazer um grupo de espiões, ou seja, lá o que for. – Todos os outros concordaram com ele.

- Como temos um certo relacionamento eu vou revelar uma informação confidencial. – Todos prestaram a atenção. Medhal podia ser exagerado, mas era muito serio. – Durante o festival desse ano teremos vários convidados muito importantes entre eles o Ministro do exercito e o príncipe Arthur.

- Príncipe Arthur? – Até Yuki ficou impressionada.

- O mais jovem membro da casa real decidiu se tornar um Cavaleiro para melhorar as relações entre os Magos do estado e isso será revelado para a imprensa durante o festival. – Medhal andou pela sala olhando severamente para todos. – Essa foi uma atitude muito responsável e importante para um garoto da idade de vocês. Não preciso dizer o quão importante é isso para todos nós e qualquer alusão ou suspeita de conspirações e assassinatos devem ser informados e investigados. O mais rápido possível.

Aquela informação deixou todos no mínimo estupefatos ia acontecer alguma coisa muito importante e agora todos estavam intimados por Medhal para formar um grupo e competir nos jogos do festival de outono.

- Vocês podem resolver tudo sozinhos agora. - Medhal se levantou. – Alixandra eu quero que vá falar com Divina e Cassandra, vou pedir para fazerem um teste para verificar se você também é uma Struldbrug mesmo.

- O que é um Struldbrug? – Perguntou Cassandra.

- Lembrem-se. – Avisou o capitão. - Que a partir de agora essa conversa é assunto oficial.

Continua...

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