14
Busca ao Dragão
Ciclo Um
O sol mal tencionara se levantar e uma humilde e singela luz se erguia no horizonte quando a porta do quarto se abriu e espalhafatosamente a criatura entrou girando no ar e pousou bem em cima da cama de Alixandra.
A raposa ergueu sua cabeça e rapidamente olhou para todos os cantos do quarto com seu olho feroz, como se estivesse à procura de alguma coisa. A raposa se posicionou de forma solene e esticou um pergaminho de aparência bem velha e cheiro muito forte.
- Venho por meio desta informar a Alixandra Pudim que sua presença se faz esperada na guilda de missões as 05:20h. Para uma busca de essencial importância. – Dizendo isso tão rápido quanto entrou saiu e a porta se fechou atrás dele.
- Aquilo era uma raposa com um tapa olho? – Belle obviamente era a mais aturdida de todas.
- O que aconteceu? – Reclamou Cassandra acordando.
- Alix tem uma missão. – Rosnou Nicole.
- Mas... Mas... – Alix ainda não acordara completamente. – O que foi isso?
- Uma busca... Uma missão me deixa dormir. – Nicole voltou a fechar os olhos. – São cinco da manhã...
- Agora é oficial. – Alix rosnou olhando pro pergaminho. – De acordo com isso eu sou Pudim.
- Cinco e vinte da manhã? – Belle olhou o pergaminho. – Você tem vinte minutos.
- mas o que é isso de missão? – Alix analisava o papel sem entender. – Eu não sou cadete. Não devia levantar antes das oito.
- Todo mundo faz isso. – Bocejou Cassandra. – Eles chamam qualquer bobagem de busca. Vai ver querem que você alimente as galinhas, sei lá...
- Por que você esta na minha cama? – Belle cutucou Cassandra, mas essa apenas a ignorou.
- Alguém vai comigo? – Alix perguntou.
- Não pode. – Cassandra puxou o cobertor por cima da sua cabeça. – A sala te deixa na porta.
- Não acenda a luz. – Pediu Nicole. – Se troca no banheiro.
Assim que Alixandra se levantou Belle entrou na cama dela.
Ciclo Dois
Durante todo o caminho a sala abacaxi reclamou da movimentação.
O uniforme de buscas era bem menor e mais fino que os outros uniformes normais e mesmo dentro do castelo estava relativamente frio.
Quando as portas se abriram Alixandra se surpreendeu com a quantidade de pessoas no enorme salão medieval iluminado por enormes tochas nas paredes e em pilares.
Alguns alunos estavam tão sonolentos quanto ela, mas a grande maioria era energética e apressada. Em grandes balcões de pedra os instrutores passavam e repassavam informações.
- O que eu tenho que fazer? – Alixandra perguntou para um dos garotos sentados em um banco.
- Você é nova aqui?
- Sim! – Respondeu um pouco tímida.
- Estranho mandarem alguém novo tão perto de um festival.
- Como assim. Estranho?
- O pessoal fica muito atarefado nessas épocas. Então deixam os novatos pra depois, quando tudo esta mais calmo.
- E nós temos que fazer muitas dessas missões?
- Aff! Quase metade do que a gente faz por aqui são buscas. Aqui é só o centro nervoso. Ainda tem as guildas de cada casa, sem falar que todos os professores são doidos pra te mandar pras buscas. Se bem que eles chamam qualquer busca. – O garoto imitou um dos professores fazendo Alix rir. - Charles, eu tenho uma busca pra você. Vá limpar os corredores do décimo quarto andar. Não ria não, eles chamam limpar os corredores de busca.
- mas porque chamam tarefas tão simples de busca?
- Acho que é porque os Brownies já fazem a limpeza e quando mandam a gente é alguma coisa extra do tipo, moldar seu caráter. Um exemplo são as armas. Eu estou vendendo esses cajados de nível Gama que eu fiz, da pra ampliar pro nível Delta.
- Eu não preciso disso. Já me deram um.
Os outros garotos deram risada.
- Acredite em mim você vai precisar. Todo o material básico que te dão é uma porcaria. Velhos, usados e ineficientes. Se você quer alguma coisa de qualidade vai ter fazer por si mesma ou comprar de alguém que faz bem. Eu não enfrentaria nenhum perigo com o material da escola.
- Porque iriam querer que a gente fizesse o próprio material pra enfrentar perigos?
- Provavelmente pra sentir na pele o que os soldados passam e não fazer material vagabundo. Você sabe que nós produzimos material pro exercito não é?
- mas e por que os alunos venderiam uns para os outros?
- Lei da troca equivalente. Principio básico da alquimia. Para tudo deve haver uma troca equivalente. Cada átomo deve ser reposto por um outro átomo no mesmo lugar.
- Puxa! Eu não tenho nenhum dinheiro pra comprar nada.
- mas por aqui não se trata apenas de dinheiro, podemos trocar itens e favores. Vamos fazer uma coisa, eu te dou esse cajado e você me este vale com um favor equivalente.
- Tudo bem.
Alix não tinha porque questionar e assinou o papel em troca do cajado.
- Você leva isso para o sujeito verde. – Ele indicou o homem que ela deveria entregar o pergaminho.
Alixandra foi para o enorme balcão onde estava um velho duende verde careca e curvado, com os olhos tão esbugalhados que não possuía muitas características humanas. Ele escrevia apressado com sua pena e um ar de poucos amigos retirava as velhas folhas de pergaminho de uma pilha desconjuntada que subia até o teto. Obviamente existia alguma mágica que a impedia de desmoronar.
- Com licença. – Alix chamou a atenção.
O velho duende parou e trocou de óculos para olhar melhor para Alix como se estivesse procurando uma moeda perdida de cima do seu balcão.
- Menina Pudim do quarto do pônei alado? – O duende pego um papel de outra pilha e olhou. – Poder indefinido, mas definitivamente acima de gama.
- Eu gostaria de comunicar um erro.
- Um erro? – Rapidamente pegou um corretor e começou a procurar pelo erro no papel. - mas que erro?
- É que o meu nome não é Pudim.
- Não? mas então aonde é que esta ela então.
- Bom! Eu sou ela, mas o meu nome não é Pudim com D é Putin com T.
- Você que dizer então que houve um erro ortográfico provavelmente por causa de uma confusão fonética. Pudim. Putin. Realmente muito engraçado.
- Não é pra ser engraçado. É pra ser corrigido.
- Bom... Em todos os registros que encontrei seu nome esta como Pudim. Você terá que encaminhar uma reclamação ao responsável pelos registros e alterar todos os documentos aonde você aparece. Provavelmente isso vai levar muito tempo e vai ter que passar por mais burocracia que eu me permito imaginar.
- E quem é o responsável pelos registros.
- Não faço a mínima idéia. Trabalho por aqui já faz mais de 40 anos e nunca precisei dessa informação. Alem disso você agora tem que fazer uma busca. – Ele analisou mais algumas folhas de papel. – Você começou agora, bem atrasadinha. Normalmente isso causaria alguns problemas, mas podemos te arranjar uma instrutora particular. Sinclair anda desocupada incomodando todo mundo desde que seus alunos morreram, foi uma lastima esse ano. Geralmente alguns conseguem completar o ano letivo.
Um enorme barulho atrás de Alix seguido por faíscas e fumaça a assustou. Uma enorme cobra com asas se debatia com os olhos girando no meio do salão enquanto tentavam controlá-la pulando em cima dela. A maioria apenas recolhia o que havia derrubado no chão com o susto.
O homem carimbou a folha e entregou para ela.
- Dirija-se ao balcão com o brasão indicado no pergaminho. Lá encontrara a sua tutora.
- Não tem ninguém aqui. – Alix apontou para o balcão vazio.
- Ela ainda não chegou. Ela não é muito pontual.
- Se ela não é muito pontual, porque eu tenho que acordar tão cedo.
- Só porque uma pessoa não é responsável com suas obrigações não é motivo para ser também.
- O senhor escreveu Pudim. – Observou Alix.
- Não vamos querer confundir a cabeça de alguns pobres burocratas com esses problemas existências.
- Não é um problema existencial.
- Se te chamarem de Pudim você atende?
- Sim! Mas...
- O próximo!
Ciclo Três
Alixandra ficou sentada no banco enquanto o tempo passava e o alvoroço diminuía, conforme a luz do sol entrava as tochas iam sendo apagadas. O frio e o sono se entrelaçavam inevitavelmente e o som a sua volta aos poucos se perdia.
Quando percebeu havia uma jovem mulher desinteressada no balcão mascando chiclete. Tinha uma aparência selvagem e parecia ter algo em torno dos vinte anos.
- Você é a Sinclair? – Perguntou Alix.
- Quem quer saber.
- Eu fui chamada pra uma missão e me disseram que você é a minha tutora.
A mulher revirou os olhos e lambeu os lábios.
- Impossível! Eu não tenho mais pupilos.
- Eu recebi esse comunicado esta manhã. – Alix entregou sem conseguir segurar um bocejo.
- Ora! Ora! Ora! Por isso que me mandaram trabalhar hoje. - Imediatamente ela pulou por cima do balcão e agarrou o pergaminho da mão dela. – Um papel cheio de letras. Eu detesto ler... Alixandra Pudim? Aonde é que eu ouvi falar desse nome antes? – Espantada revirou seus olhos. – Você é a garota do estádio que fez aquelas mãos. A tal que mandou o Dietrich pro hospital.
- Não foi bem assim. – Alix começou a acordar.
- Ouvi dizer que você consegue fazer uma Merazoma. Quem diria, uma Merazoma nessa idade. Garanto que não existe nenhum rapaz que consiga fazer isso. – Rapidamente ela pegou um papel e começou a escrever alguma coisa com a pena que de um dos rapazes que estava passando.
- Não é que eu tenha feito de propósito.
- Eu nem mesmo te reconheci. Não é mais aquela vara-pau. Estou vendo que esta usando uma coleira de farmako. Algum tratamento pra engordar?
- Sim! Eu estava bem ruinzinha quando cheguei no castelo.
- Tudo bem que essa é uma missão de nível branco. Só tem que pegar um pé de dragão amarelo. – Ela entregou o papel. - Vá até o armeiro e pegue seu equipamento básico. A gente vai se encontrar na saída oeste do salão de Atlas. – Antes que pudesse dizer alguma coisa saltou no ar como uma malabarista e foi embora.
Alixandra foi encaminhada para uma sala toda feita de pedra, cheia de armas nas paredes e iluminada por tochas. Um velho senhor e uma enorme tartaruga jogavam damas no centro da sala, por trás do balcão um homem enorme e musculoso, muito concentrado jogava cartas sozinho.
Alix sorriu timidamente para chamar sua atenção, ele sorriu de volta por trás de sua grande barba ruiva e voltou ao jogo.
- Com licença. – Insistiu Alixandra.
- Pode passar. – Respondeu cordialmente.
- Não! Não é isso.
- Virando a esquerda seguindo o corredor. A quarta porta.
- Eu acho que houve um mal entendido. Eu vim pegar equipamento para uma missão.
O homem parou para olhar ela atentamente, assim como o velho e a tartaruga e de acordo com os rangidos a armadura que estava do outro lado da sala também.
- Esta brincando comigo?
- Não!
- Foi o Carlitos que te mandou não foi?
- Não.
- Ele sempre foi ruim com brincadeiras. – Comentou a tartaruga. – Sempre esquece algum detalhe no meio.
- Não é brincadeira. – Insistiu Alixandra. – Eu realmente fui mandado aqui.
- Quem te mandou?
- Uma... Uma raposa com um tapa olho.
- Kitsune? – Reconheceu o homem.
- Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!! – Disse a armadura.
- Essa sim não tem a mínima graça. – Comentou a tartaruga.
- Uma vez ela foi mordida por uma piada. – Lembrou o velho. – Até hoje ela não entendeu.
- Não é uma piada. – Insistiu irritada mostrando o papel. – Me acordaram com esse documento.
- Aqui está escrito Pudim. – Observou o homem. – Seu nome é Pudim?
- Não! Meu nome é Putin.
- Então por que é que está escrito Pudim?
- Obviamente foi uma piada. – Analisou a tartaruga.
- Eu não sei. Foi um erro.
- Uma missão de principiante? Nessa época do ano?
- Eu entrei na escola faz pouco tempo.
- Você nunca foi à escola? – Se espantou o velhinho. – Com esse tamanho?
- Eu já fui na escola. Eu quero dizer que fui transferida pra cá.
- Ela não entendeu! – Sussurrou a tartaruga.
- Essa também não reconhece nem se for mordida. – Comentou o velhinho.
- Vocês poderiam me entregar o que eu preciso?
O homem pegou uma caixa de papelão empoeirada que estava embaixo de uma prateleira. – O vestiário das meninas fica subindo a escada.
- AAAAAAAAI! Alguma coisa mordeu a minha bunda.
- Foi a piada! – gritou a armadura.
- Piadas não mordem.
- É o que eu disse. – Suspirou o velho pegando uma das peças do tabuleiro e comendo literalmente. – Nem mesmo sendo mordida.
Ciclo Quatro
A caixa era pesada e a poeira deixou os braços de Alix coçando.
Dentro da caixa de papelão, havia uma outra caixa de metal com uma mochila e algumas roupas largas dentro. Ela colocou as luvas, colete, proteções e o elmo. Depois foi para o salão Atlas aonde havia uma enorme estatua de Atlas segurando o mundo nas costas. A sua volta nas paredes gigantescos mapas e por todo o salão expositores, com mapas, globos e sistemas solares.
Em volta da estatua no chão havia desenhado uma enorme rosa dos ventos. Alixandra procurou a saída oeste quando viu a sua tutora se equilibrando em cima de saturno em um enorme globo de bronze com o complexo sistema de rotação de todas as suas 18 luas.
- Você pode subir ai? – Perguntou Alix.
- Claro que sim. Pra que ser um globo desse tamanho se você não pode subir em cima? Como é que eu ficaria sabendo sobre os paises baixos?
Alix nem pensou em discutir com essa lógica. - O que são todos esses mapas?
- São versões de todos os mapas do mundo feitas pelos sábios mais famosos. Dizem que algumas versões representam mapas de outras terras paralelas. mas não tem tantos mapas assim por aqui.
- O que isso tem a ver com a missão?
- Nada! Eu estava com fome e tem café aqui perto. E não é uma missão, é uma busca. Você se importa se eu te chamar de Pudim?
- Meus amigos me chamam de Alix.
- Eu sei! O pessoal me chama de Sinclair, eu sei como isso é irritante. Meu nome é Denise, mas você pode me chamar de Dinamite.
- Muito bem. Dinamite! – Era estranho conversar com uma adulta que agia bem... Como um adulto agindo feito uma criança. - O que eu tenho que fazer?
- Nada demais, vamos até Sídhe pegar um pé de dragão amarelo.
- Sídhe? mas isso não fica em outro mundo?
- Ora! Ora! Ora! Não se espante, querida. mas Sephirot está ligado com mais de um mundo ao mesmo tempo. Vários castelos em vários mundos, interligados criando um castelo maior ainda.
- Eu ouvi falar sobre isso. mas essa é a minha primeira missão...
- Busca!
- Essa é a minha primeira busca e eu acho um porco puxado ir até Sídhe. Além disso, esse equipamento esta muito largo.
- O que é isso? Fica aqui na esquina. E quanto a seu equipamento é só ajustar. – Dinamite como ela mesma pediu para ser chamada tirou um cetro da mochila e o equipamento de Alix se encolheu.
- Agora ficou meio apertado.
- Meio apertado? Não está apertado o suficiente?
- Não! Não! Esta tudo bem.
Logo ao lado do salão dos mapas havia uma sala com um grande portão e em volta quatro estatuas de dragões chineses deitados no chão jogando um jogo de tabuleiro. Havia quatro pilastras vazias provavelmente das estatuas e as paredes eram pintadas com um desenho do fundo do mar que se movia. Alguns peixes saiam das paredes e nadavam pelo ar até entrarem novamente na outra parede. Também havia muitos jovens sentados nos bancos conversando entre si e comparando anotações. Aqueles estranhos Brownies estavam por toda parte e a maioria dos alunos usava uniforme de cadetes de uma ou outra casa. Todos os alunos usavam proteções, algumas parecidas com as dela e outras grandes e espalhafatosas.
Atravessando o portão pela primeira vez Alix pode ver Sídhe. O cenário era completamente diferente do que ela via todo dia ao acordar. O céu estava claro e as nuvens rosas com a luz do sol da manha, o outono em Sídhe deixava o bosque multicolorido como se todas as folhas fossem pétalas de flores com suas cores diferentes. Descendo a escadaria podiam ver um gramado levando para um bosque cercado de montanhas fechadas e ao longe algumas construções.
A instrutora não se interessou em contemplar a paisagem que ela já conhecia muito bem e entrou por uma trilha no bosque enquanto falava.
- Antes de qualquer coisa eu vou te ensinar o básico, o símbolo no seu uniforme indica seu nível e sua condição física. Ele esta vazio porque você não tem nível nenhum e caso sua condição fique critica ou a beira da morte será imediatamente transportada para a guilda.
- A beira da morte?
- Modo de falar. Aonde esta seu baralho?
- Meu baralho.
- Sim! Não te chamariam para uma missão sem ter um baralho que soubesse usar a mágica.
- Eu esqueci o meu baralho.
- Como assim esqueceu seu baralho?
- Ninguém me disse que precisava dele.
- Porque ninguém anda por aqui sem um baralho! Não sei se percebeu.
- Me desculpe.
- Essa é a sua arma? – Dinamite pegou o cajado e deu uma olhada. – Um bastão da codorna que deixa as criaturas estupefatas. Foi um trabalho bem feito. Qual é o nível dele?
- Eu não sei porque?
- De acordo com a sua ficha você é do nível Iota, uma arma de nível Delta não agüentaria nem cinco minutos com seu poder total. Cinco níveis acima é muita coisa. Você aprendeu a usar objetos mágicos não é mesmo?
- Sim! mas ainda estou aprendendo.
- Ele não é muito forte. Principalmente pra você não se machucar, mas se ficar na trilha não vai acontecer nada de mais. De qualquer modo não se aproxime muito dos animais quando sairmos dos muros. Esta vendo os muros além das arvores?
Alix concordou com a cabeça.
- Até os muros fica a área de treinamento. Todas essas criaturas que os alunos enfrentam aqui são conjurações como o jogo de cartas mágicas e as criaturas de estimação. Não precisa a se preocupar em matar ou machucar as criaturas, pois elas voltam. Agora pegue esse bastão e abra caminho até o portão.
- Como assim?
Dinamite pegou o bastão se aproximou de um grupo de simpáticas plantinhas que pulavam entre os arbustos e com um simples gesto eliminou tontas.
SPAZO
- Como você é iniciante não deve saber canalizar a energia direito geralmente é preciso de uns cinco ou seis batidas para funcionar. Como tenho experiência posso acabar com um grupo inteiro só com um golpe.
- Porque fez isso?
- Pra mostrar como seu usa o bastão.
- mas pra que serve ficar matando bichinhos?
- Eles não estão mortos. São conjurações. Daqui a pouco eles voltam.
- mas pra que serve isso?
- Serve principalmente pra canalizar sua energia num objeto mágico. Neste caso armas.
- Puxa! Lembrei que um garoto me disse hoje mesmo que é para que nós saibamos como os soldados se sentem. Isso me parece parte do treinamento militar.
- O que tem de militar em caçar bichinhos de mentira? Eu sei que dizem que as criaturas são pra segurança, coisa e tal, mas provavelmente isso é derivado daquela idéia dos nobres britânicos, trinta homens adultos e uma matilha de uns 50 cães pra caçar uma simples raposinha e ainda tem vez que eles perdem. Isso é muita incompetência. Ë claro que isso é típico de homens, nós garotas nunca faríamos isso.
- Matar bichinhos?
- Não! Falhar. – Ela devolveu o cajado. – Ele está calibrado para magias de confusão e atordoamento. Você só tem que deixar fluir.
Alixandra pegou o cajado e imitou.
SPAZO
Ela sentiu a energia e atravessar o cajado e sair no ar. Uma distorção circular saiu da ponta do cajado e se desfez no ar.
- Poderoso! – Dinamite bateu palmas. – Tem certeza que é a primeira vez?
O bosque da espiral como o chamavam não era um lugar tão ruim. Apesar de Dinamite elogiar a incrível habilidade de Alix ela não via nada demais em afastar as criaturas com o bastão. Facilmente chegaram ao muro que delimitava a área de treinamento. Do alto de um posto de observação nas muralhas, Dinamite mostrou para Alix o seu destino. Uma colina com grandes moinhos de vento.
- A partir de agora temos que tomar cuidado. – Alertou Dinamite. - Quanto mais longe do castelo e das trilhas, mais fortes e perigosas são as criaturas. Dizem que fazem isso como uma forma de segurança. Existem barreiras mágicas que impedem as criaturas de atravessar determinadas áreas, mas a idéia principal é impedir que alguém se aproxime o suficiente pra descobrir a primeira barreira. Seria algo como construir uma base secreta no meio de animais selvagens.
- Então se alguém se aproximar demais do castelo é atacado por um monstro? Isso não é perigoso pra uma pessoa inocente?
- Nenhuma pessoa inocente entraria em Avalon. A ilha é cheia de florestas fechadas e montanhas inóspitas e cercada por recifes. Só é acessível por um lado que está bem disfarçado.
- Isso me gera uma curiosidade. – Pensou Alix. – Puxa! A guerra mágica começou há pouco tempo, mas esse lugar existe a centenas de anos.
- Sim o castelo pertencia a uma antiga sociedade secreta de magia que já fazia um certo trabalho contra bruxos do mal e tinha uma certa influencia no governo. Quando os bruxos se organizaram e se revelaram, os magos não viram motivos pra continuar guardando segredo. Você vai aprender melhor nas aulas e lendo alguns livros. Eu não sou professora de historia, meu negocio mesmo é ação.
Alix percebeu que Dinamite não estava muito a fim de conversar. Ela estava ansiosissima esperando alguma que aparentemente ia aparecer do meio das arvores. Finalmente se depararam com uma estranha flor vermelha quase do tamanho de uma pessoa, com longos tentáculos verdes que usava pra se mover ligeiramente.
- O que é essa coisa?
- São liandras suporosas, uma versão maior e mais rabugenta daquelas liandras que você ficou tão incomodada que eu ataquei. Tome cuidado, pois elas espirram veneno. – As duas plantas correram em direção as duas.
- Rápido ela sentiu seu cheiro. Ataque!
SPAZO
Alixandra usou o bastão, mas diferente de tudo até agora ela não caiu. A flor se espremeu e abriu lançando o um líquido no ar que por pouco não pegou em Alix. Os galhos da criatura conseguiram segurar uma das pernas da garota e começaram a chicoteá-la. Foi preciso mais alguns feitiços para derrubar a criatura que a segurava antes que a segunda lançasse seu veneno. O coração de Alix pulava enquanto a segunda criatura se esvaia como um pneu furado. Dinamite pulava de contentamento batendo palmas.
- Ora! Ora! Ora! Agora você sabe a verdadeira sensação de um combate real. Não aquelas outras plantinhas fracas.
- Essas coisas são plantas?
- São!
- Puxa! Elas são plantas carnívoras?
- Não! Elas nem ao menos são mortais, mas causam um grande estrago, quando o veneno e os galhos principais te imobilizarem. Então com os galhos secundários que ficam na base da flor elas, rasgam sua roupa e através do seu reto retiram o bolo alimentar dos seus intestinos.
- ELAS IAM FAZER O QUE?
- Elas te seguram e...
- EU ENTENDI!
- Porque você esta tão zangada?
Ciclo cinco
Alix ferozmente adentrou a mata abrindo caminho com seu cajado apenas tentando se afastar de Dinamite que a seguia lentamente, pois parava sempre que encontrava frutaroses, estranhas criaturinhas que pareciam melancias e enormes morangos com rostos. As criaturas não apresentavam grandes perigos e eram facilmente repelidas pelo cajado de Alix.
Ela apenas seguiu o caminho reto para chegar até o moinho aonde terminariam essa irritante missão. Em uma estranha clareira percebeu que estava cercada de arvores secas, cobertas por musgo e fungos, que aparentemente se mexiam e exalavam um terrível odor. Para piorar a situação varias dessas arvores pela qual passara a estavam perseguindo e nem ao menos percebeu.
- Grande idéia. – Elogiou dinamite. – Correu até um grupo de Genliseas flamejantes. mas eu tenho que lhe dizer que provocar um grupo grande de criaturas para lutar contra todas de uma vez é uma atitude condenável.
- Provoquei? Quando foi que eu fiz isso?
- Eu estava muito bem vendo você cutucando tudo o que encontrava pela frente com seu cajado. Você realmente é muito corajosa, gosta de enfrentar perigos.
- É claro que eu não gosto de enfrentar perigos.
- Então porque saiu tanto da trilha principal? Não venha querendo me enganar, eu disse muito bem que quanto mais distante das trilhas pior são os monstros.
Assim que se afastaram da área arborizada, arvores começaram a tremer, fogo e fumaça começou a sair das aberturas no topo.
- Elas estão zangadas. – Dinamite observou com um sorriso de satisfação.
- O que nós vamos fazer agora? – Alix começou a ficar preocupada.
- Agora é o momento perfeito para usar sua geomancia. – Dinamite piscou.
Alix juntou suas mãos e se concentrou. Dinamite ficou extasiada ao ver as labaredas das Genliseas falhando diante do poder da garota. Ela colocou as mãos no chão e dois braços brotaram do chão agarrando uma das arvores.
- Buito bom! – Dinamite bateu palmas.
- Muito bom? – Alix se levantou desesperada olhando para as próprias mãos. – Não era pra ser assim. Eu queria braços gigantes.
- Mesmo? – Dinamite observou curiosa. – Mesmo assim ele ficou preso.
- Só um! – Alix gritou desesperada tentando se defender com seu cajado.
- Continue assim! – Dinamite gritou atacando as criaturas que vinham do seu lado.
Alix atacou desesperadamente, precisou de vários ataques para que a primeira criatura se desfizesse em pedaços, mas eram muitas criaturas e estavam cercando o local. O calor e a fumaça que saiam deles aos poucos estavam deixando ela tonta. As criaturas se debatiam e seus galhos retiravam grandes lascas umas das outras, seus troncos eram resistentes o suficiente para saber que facilmente arrancariam a carne de seus ossos. Apesar de serem lentos estavam se aproximando e logo ela não teria espaço para se mover e fugir.
Dinamite se divertia destruindo as criaturas no meio delas, para ela não havia problema em acabar com eles em um único golpe, nem em ser atacada varias vezes. Alix não estava nem um pouco preocupada com a segurança da instrutora e sim com o fato de que cercada daquela maneira não conseguiria vir em seu auxilio caso algo desse errado por mais fácil que fosse enfrentar as criaturas. E por falar em coisas que pudessem dar errado o cajado de Alix espatifou em meio a um de seus Spazos. Cansada demais e tonta com a fumaça mal percebeu como o cajado vibrava até explodir.
- Rápido pegue. – Dinamite jogou seu próprio cajado e começou a atacar as criaturas com as próprias mãos e pés o que demonstrou ser tão eficiente quanto já que ela acabava com as criaturas com único golpe.
Uma das criaturas soltou uma rajada de fumaça que fez Alix ter um acesso de tosse, o que dificultou que ela apanhasse o cajado que caiu no chão.
Antes que Alix pudesse pegar o cajado uma das criaturas finalmente conseguiu segurá-la pela perna. Seu aperto era terrível, muito mais forte que esperava e podia sentir o tronco áspero rasgando seu equipamento de proteção. Ela tentou alcançar o cajado, mas não conseguiu e a criatura a puxou.
Desesperada chutou com toda sua força conseguindo se livrar da criatura. Sua caneleira caiu como se fosse um trapo velho enrolado se agarrarem àquela perna de novo ficaria apenas o osso. As arvores não eram tão lentas nem Alix tão ágil, antes que pudesse se levantar outro galho a chicoteou a derrubando próximo de outra arvore que a agarrou pela cintura.
O desespero tomou conta do seu corpo. Gritou por Dinamite, mas essa não podia fazer nada por ela, sentiu outros galhos se enrolando nela. Outra arvore agarrou sua perna antes que pudesse chutar e a puxou violentamente.
O tronco principal era quente como um forno, se não forre pelo equipamento de proteção sem duvida alguma estaria toda queimada. Só havia uma coisa que podia fazer, juntou suas mãos se concentrou e com toda força empurrou a arvore que se aproximava pra agarrar outra parte do seu corpo.
SPAZO
Alix sentiu a energia sair do seu peito e percorrer seus braços até a criatura que explodiu em uma lufada de calor misturada com fumaça, cinzas e farpas de madeira que a atingira violentamente. Mais uma vez ela juntou as mãos se concentrou e segurou na arvora que a esmagava.
SPAZO
A arvore estourou e sem seu apoio caiu no chão. A arvore que segurava sua perna, puxou novamente. Ela teve um pouco de dificuldade para se posicionar, mas conseguiu.
SPAZO
Alix era mais eficiente sozinha do que com qualquer cajado, mas se machucava quando as criaturas explodiam e em pouco tempo já estava cercada, as criaturas atacavam incessantemente e seu equipamento estava estragado. Apesar do numero ter diminuído estava completamente cercada e conseguiram segurar um de seus braços o que impedia de executar seus ataques.
- Aqui pegue. – Finalmente Dinamite veio em seu socorro e jogou o cajado em sua mão. – Eu disse que aquele cajado não ia agüentar. Esse vai agüentar todo o poder do nível Iota.
SPAZO
Alix nem ao menos se concentrou pra sentir a energia fluir pelo cajado e explodir a criatura. Em pouco tempo conseguiu abrir caminho pra fugir.
- Tenho um plano. – Avisou Dinamite. - Vamos dar um tempo para eles entrarem em fila e pegamos um por um.
- Não! Vamos fugir logo de uma vez.
- Tudo bem! Você é a líder.
- Eu sou a líder agora?
Ciclo seis
- Tem certeza que essas são melhores? – Alix suspeitou se vestindo. São muito mais finas.
- Porque são mágicas.
- Elas são bem mais quentinhas, eu estava com frio.
- Eu já disse, elas são mágicas.
- Eu estava pensando. – Alix terminou de colocar as luvas e entregou os restos de sua proteção pra Dinamite. – Você não devia andar com as suas cartas mágicas?
- mas eu ando com as minhas cartas mágicas. – Dinamite mostrou o seu baralho. – É o baralho dos guerreiros da noite. Voltado para o ataque.
- E não teria nenhuma mágica que pudesse usar contra aquelas coisas?
- Ora! Ora! Como você é esperta! Eu nem pensei em fazer isso quando estava lutando. – Dinamite começou a gesticular e a lembrar da batalha.
Alix não tinha tempo para comemorar a batalha ou caçar javalis para fazer um churrasco como Dinamite queria, estava preocupada demais com a idéia de enfrentar um dragão. Com muita dificuldade convenceu sua tutora a usar as cartas mágicas ao que parece as cartas podiam ser equipadas nas armas e armaduras concedendo habilidades extras. Claro que isso já não podia ser feito, pois Dinamite estava com o equipamento básico que não podia equipar cartas e Alix não sabia como usar essas habilidades.
Os moinhos eram lindos e havia algumas pessoas transitando pelo local o que deu a entender que essa área não era freqüentada pelos monstros. Em um vasto jardim uma moça muito simpática veio falar com elas. Seu nome era Flink Wood uma das moradoras do território do castelo em Sídhe. Ela ara uma Dijin, menor que uma pessoa normal e com longas orelhas pontudas e com a pele semelhante à madeira e asas parecidas com as de uma mariposa.
Existiam outros tipos de Dijin com características relacionadas com outros elementos, não que Alix já tenha visto alguma Dijin antes, mas sempre ficava maravilhada ao encontrar pessoas de outras raças.
Dinamite perguntou se ela era responsável pelo jardim e lhe entregou o pergaminho. Muito alegremente ela chamou uma amiga e pediu para que fosse buscar o dragão amarelo.
- Estamos tomando chá de botão de rosas. Quer ir com a gente?
Em meio às flores as Dijins faziam um cheiroso churrasco em um forno de pedra. Dinamite e Alix se uniram a elas e aceitaram uma xícara de chá. Finalmente relaxada, a garota se espreguiçou na toalha xadrez cercada por flores e sentir o poder da sua coleira de Farmako vibrando em seu pescoço fazendo os arranhões e queimaduras causadas pela batalha desaparecerem.
Alix se espantou com o gosto do chá de botões de rosa e se entusiasmou com as outras guloseimas.
- Não coma isso! – Dinamite avisou quando ela pegou um bolinho.
- Porque não? – Perguntou Alix.
- Comida de Sídhe! Você vai vomitar.
- Por que? – Alix se virou pra Flink. – Do que são esses bolinhos.
- Cogumelos com erva de estrelas azuis. – Respondeu Flink.
- Esses cogumelos são venenosos ou alucinógenos.
- Não! Esses cogumelos são inofensivos.
Alix deu uma mordida e achou o gosto delicioso, como não havia comido nada o dia todo tentou se controlar a maioria das guloseimas eram vegetais e ela não viu nada de mais em se servir enquanto as Dijins comiam a carne que Dinamite a proibiu expressamente de comer. Ela se limitou a comer os vegetais e bolinhos com um pouco do molho que tinha um gosto muito interessante.
- O que você esta fazendo? – Reclamou Dinamite.
- Colocando molho no bolinho.
- Nem pense em comer isso.
- Tarde demais. Eu banhei quase todos os meus bolinhos aqui.
Neste instante duas Dijins surgiram carregando um vaso com uma grande flor.
- O que é isso? – Perguntou Alixandra comendo o bolinho encharcado.
- Um pé de dragão amarelo. – Responderam as duas ao mesmo tempo.
- Dragão amarelo é uma flor?
- Claro o que você pensou que era?
Alix muito zangada terminou de comer e se reclinou na toalha.
- Isso foi delicioso! – Respirou fundo. – Como é feito?
- Não pergunte! – Avisou Dinamite.
- Simples! – Flink explicou detalhadamente o processo toda orgulhosa, entre a farinha de batata e óleo de girassol só houve um ingrediente que Alix não sabia o que era.
- Ovos de Vivíncas frescos. Eu acho que nunca vi uma Vivínca.
- Eu disse pra não perguntar. – Avisou Dinamite.
- Elas estão trazendo mais Vivíncas pro churrasco.
Alix olhou curiosa para os estranhos pássaros, longos compridos, com penas verdes pequenas, semelhantes a escamas e sem bicos. Por alguns instantes um gosto ruim subiu pela sua garganta enquanto seu estomago revirava.
- Vivíncas são serpentes?
- Sim! – Flink concordou com a cabeça. - Existem muitas por aqui.
As Dijins pegaram as grandes serpentes e cortaram suas cabeças, depois despejaram o sangue quente no pote em que as Dijins muito animadas mergulhavam seus bolinhos como se fosse molho. Com muito cuidado separaram os ossos, a pele e as entranhas em baldes de madeira diferentes, depois lavaram a carne rapidamente jogando água em cima e colocaram nas brasas junto às outras carnes que já estavam terminando de assar.
- Pegue mais um pouco de sangue de Vivínca. – Flink ofereceu um bolinho pingando. – Você adorou.
Alix levou o pé de dragão Amarelo e completou a sua primeira missão, durante o resto do dia só bebeu água.
Ela nunca falou sobre o ocorrido.
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