Palavrinha do Autor


- Mensagem do Autor -
Rak K Nai

Esta historia que você esta para ler é baseada em fatos reais. Apenas os nomes dos personagens, lugares, datas e fatos foram alterados para proteger o autor de processos eventuais por calunia e difamação. Algumas das imagens não correspondem necessariamente com o texto, são apenas piadinhas pra tornar a leitura agradável.


O bicho laranja


Pra quem perguntou o que é esse bicho que sempre fica aparecendo quando eu coloco uma mensagem já explico: é só uma imagem que eu uso de avatar. (Não, eu não sou laranja nem tenho chifres desse tamanho, mas tenho essa expressão de inteligente) Se você leu até aqui e agüentou todas as minhas besteiras, já posso concluir que não vai parar mais. (Muito, muito, muito, muito, obrigado) Confesso que adoro escrever e contar historias, estou muitississimo feliz que você tenha lido até aqui. Recebi alguns posts reclamando que ainda não viram a dita escola de magia e outros pedindo para que eu não faça uma cópia de Hogwarts, alguns elementos são inevitáveis, mas eu me esforcei ao Maximo para que o castelo de Sephirot fosse o mais original possível. (Admito que acabei colocando coisa demais e não sei se vai dar pra falar de todo o lugar apenas nessa historia, será que vai haver arcanoides II a revanche? Ou seria a vingança? Talvez o resgate quem sabe?)


Finalizando

Agora chega de escrever bobagem e vamos a historia. Lembre-se que passar muito tempo na frente do computador faz mal, leiam um pouco e descansem seus olhinhos depois. Também não esqueça de colocar posts dizendo o que achou do capitulo ou algum defeito que não gostou.



NÃO ESQUEÇA DE ME MANDAR SUA OPINIÃO

Criticas São sempre bem aceitas


- Índice -

As Arcanoides
O equinócio de Outono

A menina Magica

Em que Alixandra perde o controle do seu poder mágico.

Medo

Em que Alixandra teme ser descoberta pelos caçadores de Bruxas.

A rua do Mercado

Em que Alixandra tenta conseguir comida para sua mãe doente.

Caça as Bruxas

Em que Alixandra vai a uma festa e encontra os caçadores de bruxas.

Encurralada

Em que Alixandra enfrenta os caçadores de Bruxas.

Sephirot

Em que Alixandra reencontra Belle a caminho do castelo de Sephirot e conhecem suas colegas de quarto.

O Sonho

Em que Alixandra tem sonho sobre o futuro.

Exames

Em que Alixandra e Belle fazem exames medicos e escritos.

A magia de Alixandra

Em que Alixandra faz sua primeira magia.

Lições de Magia

Em que Alixandra começa a ter lições de magia e conhecer o castelo..

Magia Negra

Em que segredos são revelados e as meninas reencontram Janus e Rembrandt no condicionamento físico

Adaptação das garotas

Em que Belle tem dificuldades pra se adaptar a vida no castelo.

Cartas Magicas

Em que Rembrandt ensina Alixandra a jogar e as garotas vão a biblioteca.

Busca ao Dragão

Em que que Alixandra sai em sua primeira missão e conhece o mundo das fadas.

Vida encantada

Em que as garotas começam a ter aulas com ou outros alunos.

O amanhã demora muito tempo

Em que Alixandra tem outro sonho do futuro e mete seus amigos em uma confusão.

O olho da Bruxa

Em que vão passear pela cidade e Belle adquire um baralho muito raro.

A cidade magica

Em que Alixandra passeia com Rembrandt e vê um jogo de conjurabol.

A nova colega de quarto

Em que as arcanoides tem uma surpresa e conhecem mais sobre o castelo.

Sonhos de uma noite de outono

Em que as arcanoides enfrentam uma ameaça que não esperavam.

O futuro esquecido

Em que Alixandra fica presa no futuro.

Epílogo

Em que se conclui a primeira aventura das arcanoides.

Clique aqui pra ler o primeiro capitulo.

Capitulo um

01

A menina mágica

Era uma vez uma menina.

Às vezes quando se sentia melancólica se lembrava com saudades de um sonho que teve quando era criança, um sonho com um menino mágico que tinha um olho de cada cor. Um menino que prometeu que um dia voltaria e a levaria para seu mundo mágico. Muitas vezes ela queria que aquele menino aparecesse para levá-la para um mundo maravilhoso aonde ela aprenderia magia e se tornaria uma bruxa boa, mas a menina havia crescido e pensava que crianças crescidas não deveriam mais acreditar em mágica.

Ela adorava todas as coisas mágicas, mas não acreditava nelas. Não podia. Afinal mágica era coisa de criança. Mesmo que o menino tivesse existido já não se lembraria mais dela. Não existem coisas como crianças que não crescem, lugares maravilhosos, fadas e bruxas.

Quando se cresce deve se parar de acreditar nessas coisas. Era isso que ela acreditava que era o que diferenciava as crianças dos adultos.

Só que ela estava errada.

Ciclo Um

Alixandra acordou com uma terrível dor nas costas e nas pernas. Ela olhou para a Janela que estava com os vidros quebrados; os casacos felpudos e cobertas que lhe cobriam durante a noite caíram durante seu sono e estavam ao lado da cama. Não queria se levantar, nem mesmo para se cobrir novamente. mas ela tinha que se levantar. A dor em seu corpo causada pelo frio durante a noite, continuaria por todo o dia. Olhou para sua mão direita, que estava no balde vazio ao lado da cama. A água evaporara durante a noite, ia precisar de mais para se esquentar na noite seguinte.

Logo ao entrar no banheiro, se deparou com sua figura magra e cadavérica no espelho, escovou seus dentes, fracos e amarelos, então se lembrou porque evitava sorrir. Tinha vergonha deles. Ela achou aquilo engraçado por alguns momentos, sentir vergonha era algo que não podia se dar ao luxo há muito tempo. Com um pouco de maquiagem escondia suas olheiras; aparentava ser do tipo de garota que usa um estilo mais sombrio. Ela tinha muita maquiagem. Assim como roupas.

Na gigantesca pilha de roupas, escolheu roupas novas e quentes para usar por baixo das roupas de escola, esquentava bastante e impedia que as pessoas percebessem como ela estava magra. No quarto de Alixandra podia se encontrar as mais refinadas maquiagens e perfumes, as mais valiosas jóias e vestidos, assim como raras tapeçarias e obras de arte. Os bens mais cobiçados podiam ser encontrados em sua casa espalhados no chão.

Quando ouve o terrível bombardeio surpresa que praticamente devastou todas as cidades litorâneas por toda a costa do mar negro, muitas pessoas abandonaram suas casas com tudo dentro temendo novos ataques. Em meio aos saqueadores Alixandra aproveitou para “ajudar” seus vizinhos e guardar suas coisas até que voltassem. O que não aconteceu.

Todos os dias, saia com os saqueadores para ver se ainda encontrava alguma coisa. A cada dia havia mais soldados nas ruas e as fronteiras fortificadas já diminuíam a ameaça de um novo ataque aéreo. Nos últimos meses havia recolhido tanta coisa que sua casa parecia até um deposito de coisas usadas. Como morava em um bairro considerado nobre, recolheu os mais valiosos bens que qualquer um poderia cobiçar. mas estavam em tempos de guerra, em uma cidade devastada e sem recursos, artigos de luxo não valiam nada. Logo surgiu o arrependimento de não ter pegado o que realmente importava... Comida.

O dia estava frio e nublado, não haveria sol para entrar pela janela e provavelmente choveria durante o dia, com muito esforço ela empurrou o armário para tapar a janela. A cada dia ela estava mais fraca e com tonturas. Por dois dias não comera nada, precisava comer alguma coisa.

Foi à cozinha preparar o café da manhã, no armário só havia a comida da sua mãe e ela não podia ceder a tentação. No quintal não havia nada na horta ou no pequeno pomar para comer. No inicio dos saques quando pode entrar livremente nas casas abandonadas para recolher comida, nunca imaginaria que acabaria nesta situação. Ela acreditava que tinha comida suficiente para anos, todos os perecíveis como carnes e vegetais tiveram que ser comidos antes que estragassem e boa parte da comida foi perdida graças a sua mão direita.

Ela colocou a comida da mãe na panela, geralmente levaria horas até o prato estar pronto, mas ela tinha a mão direita, a maldita mão direita que tanto lhe causava problemas, era o único momento em que tinha alguma utilidade. Ela tocou a palma da mão no fundo da panela e em poucos segundos estava pronto. Ela sentiu o fundo da panela amolecer por alguns instantes... Sua mão estava ficando pior.

Lagrimas escorreram por seu rosto quando lembrou de toda a comida meio estragada que ela jogou fora nos primeiros meses, mas que ainda era comestível. O ultimo vez fora terrível, ela comia apenas na escola e toda comida que conseguia guardava para sua mãe. Não queria que soubessem a situação terrível em que estavam e guardava toda comida para ela para fingir que tinham fartura.

Estava cedo o suficiente, ela podia verificar o lixo das outras casas a procura de alguma coisa. Os tempos não andavam muito bons pra ninguém e desperdício de comida não estava na moda, o Maximo que podia contar era com os restos de comida no fundo de uma embalagem. Alguns ratos estavam reunidos aquilo geralmente era um bom sinal. Aquela manhã não foi tão ruim uma caixa de leite coalhado e soro. Os ratos estavam em cima de algumas verduras que cheiravam forte, mas ainda tinham muitas partes boas.

A manhã tinha sido gloriosa, ha muito tempo não tinha uma refeição tão boa só precisava de um pouco de carne. Ha muito tempo ela não comia carne, lembrava de ter ouvido que na china comiam carne de rato. Talvez...

Ciclo dois

Galita era uma cidade litorânea cheia de belas construções antigas cercada por montanhas, florestas e um belo mar azul. Um verdadeiro paraíso que vivia basicamente do turismo. O mundo parecia em paz. Para os moradores de Galita, a guerra havia sido nos últimos anos uma idéia vaga, quase uma ficção. Coisa de tempos remotos ou de lugares distantes, dos quais mal se ouvia falar.

Um lugar maravilhoso onde a Senhora Anne todas as manhãs enquanto o céu ainda estava um pouco escuro saia para passear com seu cachorrinho August um belo basset com pedigree que já tinha participado de vários concursos. As pessoas andavam dizendo que depois da guerra aquele bairro já não era tão seguro para se andar sozinha pelas ruas. Mesmo depois do bairro se desvalorizar e de todos os vizinhos mudarem, mesmo depois do bombardeio, a senhora Anne não fugiu.

- Podemos não ser um país muito rico, mas temos um povo muito forte. Logo a guerra terminará. – Anne era muito patriota e sempre conversava com seu cachorro enquanto passeava. – Muitos fugiram com medo e as ruas andam cheias de pedintes.

Só para confirmar suas expectativas, encontrou uma das piores desclassificadas chafurdando no seu lixo.

- Olhe para isso August. – O cachorrinho fungou concordando. - Aqueles marginais jamais me expulsarão de minha própria casa. Alem disso já estou velha demais pra sentir medo. Não é mesmo.

August concordou. Anne se aproximou e começou a reconhecer a triste figura.

- August! Aquela não é a filha daquela mãe solteira? Abryele Putin! Ela desgraçou o nome de uma da mais respeitável família da cidade, não era de se espantar que tenha esse final. Sempre fora uma criança largada que corria pelas ruas sem nenhuma classe ou supervisão.

A senhora Anne não pode evitar um mal estar e uma vontade de vomitar ao ver aquela garota raquítica lambendo as embalagens de comida. Enojada ela esperou discretamente que a garota fosse embora para evitar o encontro com tão patética figura. Ela era uma mulher educada, sua família apesar de um começo humilde se tornou muito importante na alta sociedade e uma coisa que aprendera todos esses anos era a ter descrição e evitar qualquer tipo de escândalo ou mesmo inconveniência.

- Também não é de se espantar que escolheu nosso lixo para furtar. – Comentou para o cachorro. - Mesmo com todos os problemas do país eu me recuso a sacrificar qualquer conforto que meu dinheiro possa proporcionar nesse fim de vida.

Por uma mórbida curiosidade espiava com o canto dos olhos como se observasse ratos comendo.

- A menina evita usar a mão direita e não tinha muita habilidade com a esquerda. Talvez esteja machucada. – August concordou. – Se estavam com tantos problemas eu ajudaria com o maior grado. Até mesmo acolheria a menina se fosse o caso. Qual é o nome dela? Alessandra... Alixandra... Eu sou uma velha sozinha e aquela menina precisa de educação, desde como se portar a como se vestir. E ela podia ser uma boa companhia pra você. Gostaria de ter uma amiguinha August?

A senhora Anne não era uma pessoa ruim e nunca negaria um prato de comida ao pior dos criminosos se pedisse. Ela ficou por alguns instantes imaginando o bem que faria para aquela garota e teve uma terrível vontade de abordá-la.

A menina não percebeu que uma ratazana grande e ameaçadora se aproximava do seu rosto. Aterrorizada a velhinha ficou sem palavras a única coisa que a menina podia fazer era tentar aparar o terrível animal com sua mão direita.

Naquele instante, milhares de coisas passaram pela cabeça da pobre senhora, a idéia da menina agonizando em um hospital por causa de um daqueles ratos apertou seu estomago. Nem ao menos entendeu o que aconteceu.

Uma lufada de ar quente a jogou pra trás e a fez cair no chão no instante seguinte viu uma terrível fogueira aonde antes era seu lixo.

Por alguns instantes ela procurou os aviões que estavam bombardeando, mas não havia nada.

A menina levantou e saiu correndo desesperada.

A velha tentou compreender o que estava acontecendo, estava machucada e teve dificuldade em se levantar.

Quando se aproximou seu coração disparou e compreendeu o que estava acontecendo, no asfalto derretido a marca da mão da menina. Tudo fazia sentido.

Ela correu desesperada para chamar as autoridades. Só uma coisa ecoou em sua mente e pela primeira vez em 30 anos ela sentiu medo.

Bruxaria.

Ciclo três

Alixandra estava sentada espantada olhando pra o inferno flamejante que ha poucos segundos era uma pilha de lixo. Olhou para o animal que a atacara e a assustara. O rato não passava de um torrão de carvão irreconhecível. Então olhou para sua mão direita, suas unhas estavam longas e podia ver as marcas dela na pele de tanto que forçava para manter o punho cerrado.

Seu coração batia acelerado, sem pensar apoiou sua mão direita no chão e escorregou, sujando sua roupa com o asfalto líquido. Seu queixo doeu e doeu com a batida. Com toda velocidade se levantou e correu para a casa antes que alguém a visse, pelo menos ainda tinha o leite talhado.

Chegando em casa o pânico diminuiu e voltou a pensar quando teve que colocar o leite no chão para abrir a porta, só podia usar a mão esquerda, estava muito ansiosa, deveria ter verificado se alguém a tinha visto. mas agora já era tarde demais. Para seu terror havia uma pessoa quase em frente a sua casa. Como ela não o tinha visto? Era um rapaz, talvez um pouco mais velho do que ela. Ele estava olhando pra ela. Ele tinha visto tudo... Como podia ter sido tão descuidada. Alixandra perdeu o equilíbrio derrubando o leite. Todo o trabalho havia sido em vão. Aquele garoto havia visto tudo, ia contar sobre sua mão. Sua vida estava acabada.

Quando a garota voltou a si, percebeu que ele estava a sua frente com a mão estendida, oferecendo ajuda pra se levantar. Era um estrangeiro, alto e bonito, seu cabelo era comprido, coisa que os garotos de lá não usavam, vestia roupas diferentes. Tinha um olho de cada cor, um mais belo que o outro. mas o que fez sua respiração parar foram as marcas em sua pele. Metade do seu rosto, descendo pelo seu pescoço e sua toda mão estendida era coberta por tatuagens. Não apenas tatuagens de marinheiro ou de algum jovem rebelde. Aqueles símbolos pareciam ser de bruxaria.

Ele se aproximou e ela recuou assustada, novamente perdeu o equilíbrio e com o susto tentou se segurar com sua mão direita. Aconteceu novamente. Mal se deu conta e parte dos pequenos degraus que ficavam na frente de sua porta estavam enegrecidos e queimados assim como parte do chão, a grade do portão que tentou se segurar havia se derretido como uma lamina incandescente em manteiga. Nem pode se firmar. O rapaz continuou olhando com uma certa curiosidade e permaneceu oferecendo sua mão para ajudá-la a se levantar.

- Oi! – O rapaz sorriu. - Não precisa ter medo de mim. Tenho certeza que você é mais do que capaz de se defender.

Alixandra ficou estática sem saber o que fazer.

- Até quando vai me deixar esperando?

Receosa ela esticou o braço e apanhou sua mão. Com muito cuidado ela fechou a mão direita e a afastou dele.

- Puxa! Minha mão... Eu... ela...

- Tudo bem! Eu vou tomar cuidado.

Alixandra estava gelada e tremia como um cachorrinho recém-nascido.

- Você esta com frio? – Perguntou o rapaz.

- N-Não.

- Posso perguntar por que esta tremendo?

- E-eu não sei.

- Então somos dois! Já temos alguma coisa em comum.

- V-você veio me levar?

- Se quiser que eu te leve para algum lugar eu posso te levar.

Ele deixou Alix desconcertada.

- V-você viu... Você viu... Vai contar pra eles? Você vai contar pra eles que você viu o que eu fiz?

- Se quiser que eu guarde segredo eu não conto pra ninguém.

- Eu... Eu quero sim. Eu posso te pagar... Espere! Espere!

Alixandra correu para dentro da casa. Ela pegou muitas coisas nas casas dos vizinhos. A maioria eram coisas para garotas, mas todas tinham valor. Os vasos eram muito grandes, havia troféus, medalhas e pequenas estatuas de ouro. Jóias... Ela tinha jóias em sua prateleira, tantas jóias que não tinha mais aonde guardar. Ela pegou um pequeno baú e o encheu até a boca de jóias. Aquelas jóias não tinham documentos, por isso não tinham muito valor de troca. Era difícil negociar jóias sem documentos e as com nomes gravados tinham que ser alteradas. Mesmo assim tinham valor. E ele era estrangeiro. Teriam que ter mais valor em outro país. Ele tinha que aceitar aquelas jóias.

- Tome! – Alixandra entregou a caixa nervosa. – Eu peguei algumas coisas das casas abandonadas. Se isso não for o suficiente eu posso oferecer outra coisa.

- Não precisa!

- Eu posso conseguir mais. Se quiser volte outro dia que eu consigo mais.

Ele olhava para ela com interesse. Talvez estivesse interessado em seu corpo. Garotos são assim. Alixandra sorriu com a intenção de agradá-lo, foi um reflexo voluntário, ela não queria que ele visse seus dentes. Ninguém se interessaria por uma garota em estado tão deplorável.

- Posso perguntar quem são eles? – O garoto a interrompeu.

- Os caçadores de bruxas.

- Então é disso que você tem medo?

Ele tinha um sorriso simpático. Não estava nem um pouco interessado ou preocupado com os caçadores de bruxas.

- Você é um bruxo?

- Não!

- O que são essas coisas no seu rosto?

- Isso? Eu tenho desde que era bebê. Colocaram em mim pra fazer um sacrifício ou qualquer coisa assim...

- Foram bruxas? O império do Sol? Escutei que faziam sacrifícios, mas pensei que era bobagem.

- Foi o que me disseram.

- Deve ter sido horrível! Você odeia bruxas por causa disso?

- Não! Nem me lembro.

- Me desculpe! Eu tenho medo de você. Eu... Eu tenho que ir agora!

- Se você tiver algum problema e eu puder ajudar. Sua mão...

- Ela já esta sob controle! Eu me assustei, foi só isso.

- Espere! – O garoto retirou um pacote que carregava dentro de uma sacola, que Alixandra nem mesmo tinha percebido. - Por minha culpa você derrubou seu leite. Não é muito, mas espero que...

Timidamente o rapaz foi embora carregando a caixa de jóias sem nem ao menos olhar o que tinha dentro. Alixandra abriu a caixa que ele tinha lhe dado. Havia uma pequena caixa de leite achocolatado, dois sanduíches embrulhados, um salgadinho, uma barra de cereais e uma fruta. Para ela aquilo valia mais do que todo seu armário de jóias.

Ciclo quatro

O quarto de dona Abryele era alegre e aconchegante diferente do resto de toda casa que era triste maltratado.

Fazia muito tempo que ela estava doente e se movimentava apenas entre o quarto e o banheiro. Dormia tanto que já não conseguia distinguir o dia da noite. Ela ficava muito triste ao ver sua dedicada e amorosa filha cuidando dela, mas sempre se esforçava pra dar um sorriso.

Alixandra a acordou para tomar o café da manhã e seus remédios como fazia toda manhã, provavelmente voltaria a dormir por mais algumas horas enquanto sua filha estava na escola, por isso com muito esforço se mantinha acordada para ficar com sua filha.

O sorriso das duas era maravilhoso e por alguns instantes esqueciam de todos os problemas e conversavam sobre o futuro glorioso que em breve teriam quando Alixandra terminasse os estudos e sua mãe melhorasse.

Abryele tinha muita dificuldade de comer, mas se esforçava e não deixava sua filha perceber nenhum problema mesmo que doesse muito para engolir.

Alixandra estava sentada ao lado da cama de sua mãe muito feliz, quando se levantou escorregou no tapete. Com um sorriso Abryele se virou para ampará-la segurando sua mão direita quando para sua surpresa sua filha virou o corpo abruptamente e atingiu o chão com o rosto.

Abryele ficou espantada com aquela atitude, seu nariz sangrava abundantemente e tinha uma expressão de horror. Com lagrimas nos olhos ela correu para fora do quarto.

Ela não entendeu nada, nem tinha forças pra correr atrás da filha, apenas ficou se perguntando o que aconteceu e porque havia um cheiro de queimado no quarto.

Ciclo cinco

Alixandra segurava o cutelo enquanto olhava para sua mão direita, a maldita mão direita. Ela era culpada por tudo de ruim que acontecia.

Sua mãe sempre lhe contou historias sobre os bruxos como eram maravilhosos e faziam coisas fantásticas. Dizia que seu pai era um poderoso feiticeiro e que provavelmente estava com problemas, mas um dia voltaria. Quando pequena seu sonho era se tornar uma bruxa e sempre se zangava quando as pessoas diziam que os bruxos eram malignos e emissários do demônio. Conforme os anos passaram foi deixando de acreditar nessas bobagens. Ela tinha os ouvidos bem afiados e quando se é criança as pessoas tem o habito de falar como se você não estivesse por perto ou não pudesse compreender. Seu pai não era um bruxo. Não passava de um aventureiro que abandonara sua mãe quando ela era apenas um bebê. Bruxaria era coisa de contos de fada e pessoas ignorantes e supersticiosas.

Ha poucos anos ouvia falar sobre os Magos do Reino unido, da rainha de Avalon e a guerra de Camelot contra o império do Sol, mas sempre achou que não passava de títulos pomposos de militares contra um bando de fanáticos religiosos.

Mesmo quando a guerra chegou, a histeria sobre o ataque das bruxas não fez com que acreditasse. Os aviões que invadiram a cidade e as bombas que caíram eram criações do homem. Não havia nada de sobrenatural naquilo. A caça as bruxas dos militares não passava de uma desculpa para acabar com possíveis rebeldes ou opositores políticos. Todos que eram educados sabiam disso. Ela era uma garota educada ia fazer faculdade e se tornar uma pessoa importante, não era uma ignorante que culpava coisas como o demônio. Existiam muitos motivos racionais para a guerra e bruxos malignos não era um deles.

Mas á poucos dias isso mudou. A palma da sua mão direita esquentou assustadoramente como se fosse um ferro de passar e a cada dia piorava. Ela era uma bruxa e não havia nada de bom nisso. Tudo o que diziam sobre os bruxos serem malignos e possuídos pelo demônio era verdade. Não podia mais usar a mão direita, não podia pedir ajuda a ninguém se descobrissem ela seria levada para um campo de concentração e sua mãe ficaria sozinha. mas o pior de tudo era que aquilo estava ficando muito perigoso se tivesse tocado em sua mãe ela estaria com uma queimadura terrível ou talvez coisa pior.

Ela só teria que baixar o cutelo e tudo estaria resolvido, já não usava essa mão há muito tempo, seus dedos já estavam atrofiados de tanto forçar o punho fechado. Poderia falar que sofrera um acidente, todos sabiam quanto ela trabalhava duro, que sua mãe estava doente e todos os seus sacrifícios. Todos teriam pena dela e seria bem tratada, teria ajuda. Nunca precisara de ajuda quando tinha as duas mãos, mas agora...

Até então ela pode cuidar da mão e até ter alguma utilidade, mas agora ela um perigo para sua mãe. Sua mãe que fez tanto por ela e que a amava. Ela não podia permitir que nada de machucasse sua mãe, nem ela mesma.

Ela baixou o cutelo com toda força.

Não foi o suficiente.

Ciclo seis

Lumina Mwangaza olhava desanimada pela janela fazendo desenhos com sua respiração. Em meio aos comportados jovens cadetes da improvisada central dos Arcanos ela se destacava como uma rosa vermelha em buquê de margaridas. Tinha olhos azuis bem puxados, cabelos brancos e pele morena, além de sua aparência exótica, o que mais chamava a atenção era sua falta de porte militar. Quem visse acreditaria que não passava de uma bagunceira fantasiada debruçada no sofá.

- mas que frio! – Resmungou. – Eu pensei que Galita fosse o balneário da eslavia. Nem parece que estamos no final do verão.

- São as conseqüências do ataque do Império do Sol. – Explicou A comportada Maria Mercedes que sentava ao lado. – Existe uma camada de partículas magnéticas bloqueando o sol.

- Se eu soubesse disso não teria vindo. – Bufou desanimada.

- Rembrandt chegou! – Maria comentou apontando para o garoto alto com um olho de cada cor entrando no salão, terminando de abotoar sua farda. Lumina teve menção de chamá-lo, mas ele foi abordado por uma garota oriental com olhar de poucos amigos que ela conhecia muito bem.

- Por onde você andou? – Yuki Ogami perguntou visivelmente irritada.

- Eu dei uma volta. – Respondeu com muita tranqüilidade. – Eu não fui muito longe. Só quis esticar as pernas.

- O que é que você tem na cabeça? – Bufou dando um tapa na testa dele. – Tem idéia da situação deste lugar? Não faz muito tempo que este lugar foi atacado pelo Império do Sol, também conhecido como Império da Magia! Magia! Compreende? As pessoas estão assustadas e entram em pânico só com a menção da palavra bruxa. A ultima coisa que precisam é de um cabelo com símbolos de bruxaria estampados na cara. E ainda saiu com suas roupas civis. O que você tinha na cabeça?

- Desculpe! – Rembrandt se lamentou. – Eu deveria ter pensado nisso.

- Deveria mesmo! – Concordou a garota menos zangada. - Ainda bem que eu e Lumina te acobertamos. Se Derek descobrisse estaria fazendo um escarcéu até agora.

- Então eu agradeço.

- Eu não te acobertei de graça. – Yuki gemeu curiosa. - Como é que esta lá fora?

- Estatisticamente falando o lugar não esta tão destruído assim. mas os poucos lugares atingidos foram feios o bastante. Parece que miraram em áreas com muitos prédios ou grandes construções como mansões e mercados. Nenhum alvo em particular. Acho que queriam apenas aterrorizar a população e conseguiram. Praticamente não há ninguém nas ruas.

Lumina se aproximou e se dirigiu a Rembrandt.

- E então? Encontrou o que procurava?

- Acho que sim! – Respondeu pensativo.

- Trouxe alguma coisa pra mim? – Lumina já esticou a mão.

- Encontrei uma caixa de jóias numa pilha de escombros. – Rembrandt puxou um bracelete de prata com pequenos diamantes. – Acho que vai gostar disso.

- E o meu? – Yuki o intimou e recebeu um colar. Não era tão valioso quanto o bracelete. - Como é que ninguém achou isso antes?

- Estava em uma área delimitada ao lado de uma bomba que não detonou.

- E o que você estava fazendo chafurdando uma pilha de escombros ao lado de uma bomba que não detonou? – Yuki perguntou desconfiada.

- Pegando um presente pro seu pai. – Rembrandt tirou do casaco um pequeno dispositivo metálico.

- Um cartucho incendiário! – Yuki começou a ficar dando pulinhos de ansiedade. – Acho que é uma FG-40 ou 48.

- Cuidado! – Disse Maria aflita. – Isso é perigoso.

- Eu desativei. – Rembrandt respondeu em um tom enjoado.

- Eu não acho que é uma boa idéia. – insistiu Maria. – Se alguém descobrir podem obrigar vocês a devolver tudo alem da bronca que vão tomar.

- Então é melhor você se esforçar pra ninguém ficar sabendo. – Rembrandt colocou nas mãos de Maria dois brincos de esmeraldas que pareciam azeitonas. – Vão pensar que você é cúmplice.

Maria engoliu todas suas palavras e timidamente escondeu os brincos olhando como ficava no reflexo do seu polido distintivo de cadete.

- Nem tudo são flores. – Rembrandt puxou um pedaço de madeira queimado com uma espécie de enfeite um pouco derretido e entregou para Yuki que estava admirando o cartucho incendiário. – Pode fazer uma analise disso?

- Nem preciso de análise pra dizer que isso foi causado por magia. Posso sentir nos meus ossos. – Yuki apanhou da mão de Rembrandt. – Isso é um enfeite de portão não é mesmo?

- Exatamente!

- Metade dele fora derretido como se tivesse se aproximado de uma fonte de calor intenso, como uma fornalha ou lava vulcânica. Um incêndio não faria isso e uma explosão o teria deixado todo retorcido.

- Então o império atacou com magia alem da nuvem bloqueando o sol? – Maria já ficou preocupada.

- Não! – Rembrandt já a aliviou. – Isso foi feito por uma pessoa da cidade. Alguém que não consegue controlar seu poder.

- Se a sua teoria esta correta e existe uma pessoa que pode fazer isso sem controlar seu poder é um perigo para ela mesma e os outros. – Yuki guardou o enfeite. – Essa pessoa deveria ser encontrada e detida.

O clima descontraído acabou com a entrada de vários oficiais. Arrumaram uma lousa e um mapa. Os cadetes se acomodaram para escutar as instruções do vigoroso capitão Hand. Ele fez uma breve apresentação dos outros oficiais e começou.

- Todos vocês já devem saber a atual situação. Estamos na cidade de Galita em Taurica, um dos muitos estados que fazem parte da Eslavia. A Eslavia é um dos maiores paises do mundo. O maior da Europa. Ocupando grande parte do território oriental e um pouco da Ásia. Alem do seu exercito que pode ser contado em dezenas de milhões, também existem muitos interesses comerciais por esta área. Camelot esta muito contente com o fato de se unirem a aliança e esta disposta a ajudar de todas as formas possíveis. Até pouco tempo a Eslavia não se interessava em fazer parte da união de Camelot, que compõe o governo mundial, nem em fazer parte da aliança de Avalon para combater a crescente ameaça do Império do Sol, que movidos pela idéia de que os que tem poder místico são superiores as pessoas comuns, começaram uma onda de conquista e opressão nos países subdesenvolvidos aonde se passam por divindades e não ofereciam muita resistência. A principio não demos importância, mas o império cresceu se tornando tão vasto e influente que começou a ameaçar todo o mundo civilizado. Acreditávamos que tínhamos a ameaça sob controle. A situação mudou recentemente com o ataque as cidades costeiras pelo Mar Negro. Acreditamos que o objetivo do inimigo é desestabilizar a Eslavia, separando seus estados para facilitar uma invasão. Também foi uma oportunidade de demonstrar o seu poder militar em uma tentativa de nos intimidar.

Uma secretaria pegou uma pilha de papeis com as indicações dos grupos e começou a distribuir.

- A srta. Madison esta distribuindo seus grupos e itinerários. Vocês estão aqui porque como todos os paises que servem a bandeira de Avalon, os místicos estão sendo reunidos para as recém construídas facilidades de Holloway. Vamos dividir os grupos aonde irão a cada escola fazer uma pequena palestra sobre os Arcanos e os magos do reino em geral. Alguns vão para escolas mais afastadas outras mais perto. Nosso objetivo é mostrar sua formação e criar confiança em nossas tropas. Vocês irão acompanhados de um pequeno esquadrão de controle de bruxas e faremos uma vistoria de rotina em todas as classes a procura de algum possível espião infiltrado. Quero o nome de todos os alunos ausente para um esquadrão seja enviado imediatamente para uma averiguação em suas residências.

- O que? – Reclamou Lumina com suas ordens. – Eu e Rembrandt vamos ficar no quartel? Eu vou perder toda a ação.

- Apesar de suas habilidades não é uma cadete efetiva. – bronqueou o capitão Hand. – Da próxima vez, tome providencias. Alem disso recebemos uma chamada de que existe um mago não identificado com alto poder destrutivo nas redondezas e aparenta ser uma menina da idade de vocês. Não sabemos o que é e não vamos arriscar.

Lumina se calou e se sentou emburrada.

- Quando estiverem fazendo inspeção quero que tenham muito cuidado. Não se deixem enganar por rostos bonitos e inocentes. Já tivemos muitos soldados mortos por bruxos disfarçados de mulheres indefesas e crianças. Qualquer resistência deve ser respondida com força total. Procurem agir com a maior discrição e não se esqueçam de que as pessoas estão assustadas, não quero nenhuma insinuação de que somos caçadores de bruxas.

Continua...

Capitulo dois

02

Medo

Ciclo um

Era uma manhã fria e cinzenta.

As pessoas caminhavam para seus trabalhos com a cabeça baixa com poucas esperanças de uma vida melhor, as ruas estavam molhadas e cheias de destroços. Em algumas casas usavam panos e pedaços de madeira no lugar das paredes. O vento assoviava uma triste e melancólica melodia.

De uma casa simples e rústica que muitos acreditariam estar abandonada saiu uma garota de cabelos despenteados e com um lenço na cabeça com uma expressão de extrema preocupação.

Por alguns instantes podia se ver as manchas de sangue na toalha enrolada em seu pulso. Após fechar a porta escondeu o braço direito dentro das vestes.

Próximo a sua casa cortou caminho pelo cerco do exercito. Uma bomba caíra sem explodir e todo um quarteirão fora isolado, mesmo assim era o caminho mais rápido para chegar na escola.

Para seu susto bem visível havia um cadáver de um homem. Alixandra nunca vira um cadáver em toda sua vida. Era bem magro e podia ver visivelmente as linhas do esqueleto em seu rosto. Por alguns instantes parecia que ele estava dormindo e a qualquer momento ia acordar.

O susto de encontrar o cadáver fez com que todos as preocupações saíssem de sua mente. Ela não comia direito há muito tempo e estava sangrando abundantemente; a idéia da morte lhe aterrorizou.

Havia uma tenda medica próximo há escola para auxiliar as pessoas. Uma enfermeira jovem e sorridente estava atendendo um grupo de velhos com sorte ele estaria ocupada demais para fazer perguntas.

Alixandra nem percebeu o tempo passando quando a enfermeira a abordou, ela estava tonta e o som de tudo parecia abafado. Já não sentia frio, todo o seu corpo estava quente.

- O que aconteceu? - Perguntou a enfermeira limpando o sangue do seu rosto. Já esquecera que tinha caído de cara no chão e machucado o nariz.

- Eu cai! - Respondeu tirando o braço enrolado na toalha gotejando sangue.

A enfermeira delicadamente retirou a toalha e viu o corte que praticamente jorrava sangue.

- Você caiu? - Perguntou olhando para a menina como se não acreditasse muito naquilo.

- É! Eu cai! - Enfatizou a menina.

A enfermeira usou uma seringa e a dor parou momentaneamente, ela costurou o corte que ainda sangrava e depois o limpou.

Alixandra implorava mentalmente para que ela não se aproximasse de sua mão, nem que pedisse para ela abrir. A enfermeira usou muitas bandagens e fez uma tipóia para ela pendurar o braço.

- Eu quero que você descanse e coma um pouco.

- Eu tenho que ir para a escola.

- O doutor vira em alguns minutos, eu levo você até lá.

Alixandra ficou preocupada por alguns instantes, mas talvez estivesse exagerando. A tipóia seria uma bela desculpa para não usar aquela mão.

O suco de laranja era muito forte, ela pensou como o correto seria diluí-lo em água e comentou para a enfermeira, que discordou. - Se quiser mais pode tomar o quanto agüentar.

O sanduíche de atum estava muito gostoso e a enfermeira deixou que ela levasse alguns para casa.

Alixandra não via a hora de entregar os sanduíches para sua mãe.

Ciclo dois

Alixandra acordou deitada em uma cama muito confortável e com muitos cobertores em cima do seu corpo. Ela se preocupou que havia dormido demais e perdido algumas aulas, mas a doce enfermeira disse que ia com ela explicar tudo na escola.

Chegando na escola a enfermeira foi conversar com a diretora enquanto ela foi para o refeitório.

Como todo o resto do país a escola estava em recessão e só havia macarrão e sopa de feijão para comer aquele dia. Ela estava morrendo de fome, nem ao menos olhou o que ia comer, uma incrível sensação de felicidade encheu o seu corpo.

Por alguns minutos pensou que nada podia mudar aquilo, até que Belle Trufeau surgiu.

Belle era pessoa que Alixandra menos suportava na face da terra.

Ambas se conheceram desde o primeiro dia de aula do primário.

Belle já se gabava por ser rica, bonita e bem tratada, sempre dizendo que sua família a tinha colocado em uma escola publica para ter uma criação mais humilde entre as pessoas comuns. Não funcionou. Na verdade a família Trufeau não era tão nobre e rica quanto Belle alardeava.

Todo mundo sabia que em um colégio nobre ela seria só mais uma na multidão e não teria nada do que se pavonear. Quando Belle era visitada por sua prima Régine que possuía muito mais dinheiro isso ficava muito claro.

Régine estudava em um colégio de elite e dizia humildemente que algumas famílias podiam pegar a fortuna da sua família e dar pra caridade que ainda descontariam do pagamento do imposto de renda.

Belle detestava a sua prima, nunca podia se gabar de nada, pois ela sempre tinha em dobro e não dava a mínima importância. Muito pelo contrario. Régine adorava as pessoas comuns e gostava de fazer “turismo” entre os pobres como Belle dizia.

Para piorar a situação ela e Alixandra ficaram amigas, Régine adorava a sua mãe e varias vezes veio visitá-las. Ela adorava o ambiente de amor e liberdade que existia entre as duas e confessava que invejava um pouco. Aquilo fazia com que todos os problemas do mundo fossem embora.

Principalmente revelou que Belle acima de tudo a invejava. Seu pai estava sempre ausente ou viajando, uma vez quando voltou de uma longa viajem sua filha não o reconhecera e sua mãe estava mais interessada em eventos sociais do que em sua própria filha. Em toda sua vida Belle nunca recebera um beijo ou um abraço dos pais.

Alixandra ficou com muita pena dela quando escutou aquilo a primeira vez e tentou demonstrar sua simpatia com a colega o que só piorou as coisas. Quando Belle descobriu que era alvo de pena, desenvolveu o mais profundo ódio por Alixandra e se declarou sua inimiga mortal. Para Belle pena é o que sentimos para humilhar e menosprezar as pessoas colocando no mais baixo patamar possível, abaixo até mesmo de baratas, o sentimento mais mesquinho que cruel que se podia sentir por outra pessoa.

A idéia de que aquela menina mal educada e desqualificada tinha qualquer sentimento de piedade por ela era um insulto que nunca poderia ser perdoado.

Durante anos o relacionamento das duas era assim, os últimos anos em que a situação foi piorando era praticamente uma benção que as duas nunca mais se encontraram na mesma classe. mas nos intervalos quando se encontravam não era raro que Belle a provocasse, seu assunto preferido eram as insinuações de que ela era uma bruxa. A principio Alixandra considerou aquilo de certa forma lisonjeiro. As bruxas eram poderosas e tinham poderes mágicos, podiam transformar aquela chata em um sapo, explodi-la em um milhão de pedaços com uma bola de fogo. Uma bola de fogo que ela tinha em sua mão direita.

Alixandra pensou em Régine para esquecer da mão amaldiçoada, ela havia partido para o outro lado do país quando a guerra chegou. Não se viam há anos. Nunca ficou sabendo como ficou doente e nunca mais se encontrariam de novo.

Ciclo três

Vladimir era o garoto mais maravilhoso de toda a escola aos olhos de Alixandra, sempre fora de certa forma o rival de Belle. Filho de uma família rica geralmente confrontava seu comportamento quando a encontrava incomodando os outros.

Alixandra nutria uma paixonite por ela há muitos anos, era rico, bonito e dois anos mais velho. Seu primeiro amor e por ela seria o único. Infelizmente ele nem ao menos sabia que ela existia. Todos na escola diziam que ele e Belle faziam um belo casal e boatos sobre um namoro entre os dos dois vira e mexe pipocavam nos corredores da escola. Aquilo despertou o ódio no coração de Alixandra. Até então ainda tinha uma certa simpatia por Belle. A idéia de uma mãe fria e um pai vivo ausente devia ser horrível, mas não importava o sofrimento que ela pudesse ter não deveria ser maior do que o dela. Ficar com a pessoa que ela amava, mesmo que secretamente era insuportável.

Belle quis reclamar da forma como ela comia, quando foi interrompida por Vladimir que defendeu Alixandra. O que não era muito raro. O que foi inusitado foi ele se sentar ao lado dela e oferecer um lanche.

Vladimir havia trazido uma luxuosa caixa com um delicioso almoço acompanhado de suco de uva. Desde que a recessão começara se tornou comum que os alunos mais abastados trouxessem comida de casa muito melhor que a servida na escola. Ele tinha um sorriso simpático e um cheiro muito gostoso.

- Você está bem? – Perguntou.

Alixandra balançou a cabeça concordando. Estava com a boca cheia de comida.

- O que aconteceu com seu braço?

- Eu cai! – Respondeu nervosa

Vladimir percebeu que ela não queria tocar nesse assunto.

- Eu vi você outro dia no mercado.

- Mesmo? – Perguntou com os olhos arregalados. – O que estava fazendo lá?

- Fui me encontrar com uma amiga, talvez você conheça.

- Eu acho que não. Não falo com as garotas do mercado.

- Entendo! As garotas que vão ao mercado não querem que ninguém saiba que elas vão lá.

- É que muitas garotas que vão ao mercado vão... Vão... Você sabe.

- Sim! Eu sei! – Fez-se silencio por um instante. – Você sabe que eu vou fazer uma festa lá em casa, não é mesmo?

- Festa? Segunda-feira.

- Meus pais estão fora da cidade e eu não gosto de ficar sozinho. Alem disso, nesses tempos difíceis precisamos nos divertir, existem pelo menos cinco festas todas as noites.

- Eu não vou poder ir. – Respondeu sinceramente.

- Não precisa se preocupar. – Ele olhou pra ver se estavam sendo vigiados. – Belle não vai estar lá.

- Por que não?

- Porque eu não gosto de garotas como Belle, eu gosto de garotas como você.

Alixandra pensou angustiada por alguns instantes. Aquilo era o que ela sempre quisera ouvir, mesmo assim tinha muitos problemas para poder ir.

Vladimir chamou a atenção de Caroline e Anne Marie, as duas melhores amigas de Alixandra que estavam observando em um canto e também as convidou para a festa. Quando ele foi embora, as duas estavam ansiosissimas para ir a festa, e felicíssimas em saber que Belle não apareceria.

A boa noticia fez com que não se interessassem muito em saber exatamente o que aconteceu com seu braço e se satisfizeram com a historia que ela caiu.

O almoço fora muito agradável, com a barriga cheia Alixandra se sentia muito bem. Aparentemente as coisas estavam melhorando.

Ciclo quatro

Na entrada da sala de aula Alixandra fora informada que a diretora queria vê-la. Um monte de bobagens passou por sua cabeça, Chegando lá a Sra. Araújo foi muito amável e gentil. Amável e gentil até se tornar inconveniente. Quis saber como ela estava, sua mãe e se alguém batia nela, por algum motivo a diretora insistia na idéia absurda que ela era maltratada e apanhava de alguém. Alixandra contou sobre seus problemas financeiros, a doença da mãe e o emprego de faxineira que havia perdido por causa da guerra. mas não da mão, ela não falou nada na mão.

Aos poucos as palavras confortadoras da atenciosa diretora começaram a ter outra conotação. A Sra. Araújo não estava simplesmente sendo simpática pela situação de petição em que ela se encontrava, deixou bem claro que muitas outras garotas estavam na mesma situação por causa da guerra. Na verdade ela acreditara que Alixandra tinha tentado o suicídio, deixou bem implícito que a enfermeira havia lhe dito isso.

Alixandra se sentiu traída pela enfermeira, queria levantar e gritar o que realmente estava acontecendo, contar sobre sua mão amaldiçoada, que era uma bruxa, como estava sempre tentando se esconder o tempo todo, como se queimara dezenas de vezes acidentalmente, como preferia perder a mão pra sempre a continuar mais algum segundo naquele tormento.Mas continuou em silencio escutando o sermão. A diretora ofereceu ajuda e dispôs a visitar a sua casa, mas ela não pode aceitar. Alguém poderia ver as manchas de queimado em forma de mão espalhadas pela casa, ela teria que explicar como os pertences das famílias que fugiram com medo de outro bombardeio foram parar em sua casa, ela teria... A mão estava quente de novo. Em breve tudo começaria novamente.

Alixandra saiu em silencio do gabinete da diretora.

No caminho para sala de aula Alixandra encontrou com Belle Trufeau que não perdeu a chance de provocá-la. O colégio Petit Petre era um lugar muito pequeno e a noticia de que Vladimir havia convidado Alixandra pessoalmente, para sua festa e ela Belle Trufeau não estava convidada, logo chegou a seus ouvidos.

A rusga das duas garotas era mutua e começara desde cedo.

No primeiro dia em que se conheceram, Belle gostou de Alixandra e até pensou que poderiam ser amigas. Alixandra contava historias de como seu pai havia sido um bruxo e um monte de maravilhas que sua mãe contara sobre mágica. Naquele mesmo dia Belle voltara pra casa empolgada por conhecer alguém tão interessante e louca pra contar tudo o que aprendera sobre magia.

Para sua surpresa sua mãe não gostou nada disso e ficou muito zangada com ela. Desde então a mãe de Belle lhe ensinou como Magia era uma coisa ruim, todo o mal que as bruxas faziam e como aquela menina era uma mentirosa e que seu pai na verdade havia fugido antes de Alixandra nascer.

As mães das duas já se conheciam, ambas eram de famílias respeitáveis, mas a mãe de Belle se casou com um aristocrata enquanto Abryele a mãe de Alixandra ficou grávida de um desconhecido que desapareceu antes da filha nascer.

Ela ficou com muita raiva por ter sido enganada e sua mãe ter ficado tão brava com ela. Tão brava que sempre se zangava a ponto de colocá-la de castigo apenas por falar com Alixandra. Conforme Alixandra afirmava as mentiras sobre seu pai e fazia apologia às bruxas, a raiva que sentia aumentava, principalmente porque ela tinha receio que Alixandra realmente fosse uma bruxa e pudesse fazer alguma coisa com ela.

Belle sempre se esforçava pra se destacar na escola e agradar seus professores para deixar seu pai orgulhoso, selecionava seus amigos sempre de acordo com a escolha de sua mãe e exibia suas posses e agia como sua família mandava para ser uma garota exemplar. Mesmo assim Alixandra sempre estava fazendo pouco dela, a chamava de puxa saco e ria pelas costas dela.

Outra coisa que a incomodava era a pena que todos tinham dela por ser pobre e trabalhar. Belle trabalhava dez vezes mais do que ela e desde muito cedo, os rigores da etiqueta e as dezenas de tarefas extras que a família lhe impunha não eram nada fáceis, ela não tinha tempo de ter amigos e se divertir como também não podia. Existiam maneiras especificas de como uma dama poderia se divertir e poucas eram realmente divertidas.

Após o inicio da caça as bruxas e as historias das coisas terríveis que faziam com as bruxas, Alixandra parou de espalhar suas mentiras e finalmente Belle começou a se sentir um pouco vingada.

- Finalmente começou a mostrar as suas manguinhas não é mesmo bruxa?

- Não sei do que esta falando!

Belle encurralou Alixandra na parede que se apoiou com a mão direita para que ela não percebesse o calor anormal que vinha de suas mãos.

- Você andou enfeitiçando, as pessoas contra mim, andou jogando mal olhado em mim.

- Você é ridícula.

- Meu pai é rico! Lê mandou comprar esse amuleto cigano. - Belle colocou a mão dentro das vestes e puxou um cordão de couro com uma bolsinha bem amarrada na ponta. – Qualquer coisa que você faça vai se voltar contra você.

- Eu sempre soube que você era idiota. mas jogar dinheiro fora em uma bobagem como essa, mostra como você é tão burra quanto parece. – Alixandra teve vontade de agarrar aquele amuleto ridículo e transformá-lo em cinzas na frente dela. Só pra ver a cara dela.

- Você vai ver quando te pegarem. Os caçadores de bruxa, vão te levar pra Holloway, e quando chegar lá, vão te dar tantos choques na sua cabeça, que seu cérebro vai virar pudim. Então eles vão te estuprar de todas as maneiras possíveis, isso é... Se alguém realmente se interessaria pelo seu corpo murcho.

– Acha mesmo que essa bolsinha fedorenta vai impedir qualquer bruxaria por menor que seja? Seu pai provavelmente achou isso jogado na rua e te deu só pra você não encher o saco dele. Afinal... Todo mundo sabe que ele não gosta de você mesmo.

Belle segurou uma cara de choro e novamente guardou o cordão.

- Meu pai gosta muito de mim. Você e sua mãe vão ser pegas pelos caçadores de bruxas.

- Se alguém tentar me pegar eu vou fazer com que eles levem você no meu lugar. Daí é você que vai pra Holloway.

- Você vai ver saco de ossos. Você ainda vai ver. – Belle saiu correndo quase derrubando o material escolar que estava carregando, provavelmente para a sala dos professores para bajular alguém.

Alixandra colocou sua mão na tipóia novamente e percebeu que o curativo estava úmido de sangue. Ela olhou para a parede pra ver se havia uma mancha de sangue. Sim havia uma mancha de sangue e em volta da marca da mão dela uma terrível mancha de queimado quase do tamanho dela. Ela pensou em alguma forma de limpá-la, mas a queimadura era profunda, tão profunda que chegava até o outro lado da parede apesar dela não saber disso.

Ela correu para a sala de aula com um terrível pensamento: Eles iriam descobrir que era ela e a levariam para Holloway.

Ciclo cinco

As aulas foram um verdadeiro tormento, Alixandra não conseguiu escutar nenhuma palavra do que os professores diziam, apenas segurou o lápis com a mão esquerda enquanto tentava tirar os pensamentos pessimistas da sua cabeça. Todos os professores foram muito gentis com ela e ignoraram sua falta de atenção, provavelmente por ordem da Sra. Araújo. Finalmente chegou a ultima aula e poderia ir pra casa.

Em determinado momento o professor se levantou e terminou a aula mais cedo. Alixandra estranhou que o tempo passara tão rápido e guardou o seu material de volta na mochila.

O professor anunciou a Sra. Araújo e comentou que devido a um incidente estavam fazendo um exame e agora verificariam a turma 3y. Alixandra ficou alarmada, a primeira coisa que pensou foi na mancha de queimado que deixara no corredor. mas não era possível, era coisa da sua cabeça.

A diretora entrou com um rapaz alto e bonito, um verdadeiro príncipe nórdico com traços fortes cabelos loiros e olhos azuis, vestindo um vistoso uniforme. As garotas soltaram comentários graciosos e fizeram piadinhas.

- Este é o cadete Derek Dietrich. – Apresentou a diretora. - Ele veio com o esquadrão de Arcanos para conversar com vocês.

Aquela noticia foi como uma facada no peito de Alixandra. A Sra. Araújo acenou para ela com um sorriso amigável e a cada movimento de mão sentia que uma faca entrava em suas costas. Eram os caçadores de bruxa. Eles vieram por causa da queimadura na parede. Eles vieram pegá-la.

- Acredito que seja melhor que você fale com os alunos cadete.

Ele fez uma leve referencia e começou a falar.

- De acordo com a 48° lei arcana, todos os místicos, (pessoas com habilidade sobrenaturais, para-normais, mediúnicas, etc...) deveriam se registrar a ordem arcana para servir a rainha de Avalon, devido a atual guerra do leste ocidental. Devido a uma denuncia de um possível Mago não legalizado estamos fazendo um exame surpresa entre os estudantes de Galita para averiguar a possível existência de Magos não oficiais, ou seja, indivíduos com habilidades místicas sem instrução.

Ao ouvir aquilo Alixandra sentiu como se estivesse se afogando. O ar parecia pesado como água e começou a ter dificuldade para respirar. Denuncias. Alguém havia visto a marca na parede e a denunciara. Teria sido a Sra. Araújo? Sentia que o cadete a encarava com interesse.

Cristina uma amiga de Belle e também uma das alunas mais inconvenientes e provocadoras levantou a mão. Era.

- É verdade que os bruxos são levados pra um campo de concentração?

- Não! Essa afirmação não passa de um boato sem fundamento. Todos os magos registrados são levados a uma academia da ordem arcana para aprender a usar suas habilidades místicas.

- Eu ouvi dizer que em Holloway, sofrem uma lobotomia, para se tornarem escravos descerebrados nos campos de batalha? – Continuou Cristina.

- Eu não conheço a instituição Holloway, mas não é um campo de concentração; e não acredito que façam lobotomias por lá.

- mas você nunca foi pra lá. – interrogou Cristina.

- Sim.

- E é verdade que existem bruxos que sofreram lavagem cerebral?

- Sim! mas só os muito maus.

- Então você não tem nenhuma certeza que eles não fazem isso.

- Não!

- Foi o que eu imaginei que você ia dizer. – Cristina conseguiu soltar alguns risos.

- A instituição de Holloway é um centro de ensino avançado aonde místicos inexperientes recebem instrução para se tornarem magos oficiais. Não acredito que isso aconteça.

- Isso é o que você diz. Apesar de nunca ter ido até lá. – Cristina conseguiu soltar mais alguns risos.

Outro aluno levantou a mão.

- Meu pai me disse que essa coisa de mágica é balela e que o governo faz propaganda pra enganar a população e esconder a verdade.

- E os vídeos no noticiário que passam na televisão? – Perguntou Cristina.

- É tudo efeito especial. – Respondeu o garoto. – Meu pai sempre diz que a gente não pode acreditar em vídeos.

- Acredito que se seu pai não acredita em provas em vídeos também não acredita em fotos, áudio, documentos escritos e considera todas as evidencias históricas de nossa civilização questionável. – Arremedou o Cadete.

- Não é bem assim. – Protestou o aluno. – Meu pai acredita em provas escritas. Se for um documento escrito ele diz que é verdade.

- Então seu pai não acredita em uma cena em vídeo, mas acredita no que alguém escreveu em um pedaço de papel? - O cadete soltou algumas risadas e deixou o aluno sem respostas.

Alixandra não conseguia rir, estava apavorada e para piorar a situação o cadete não parava de olhar pra ela, dessa vez com desconfiança. Ele sabia que havia alguma coisa errada.

- Eu ouvi dizer, que os inimigos capturam os nossos soldados e fazem sacrifícios em nome dos seus deuses, depois colocam um demônio dentro dos cadáveres e eles viram vampiros que bebem sangue e comem carne crua. - Um aluno conseguiu soltar alguns comentários bem interessantes.

- Essa informação é procedente. – Confirmou o Cadete. – As criaturas conhecidas como Vetala ou Baital podem entrar dentro de um corpo humano e reanimá-lo. Muito Vetalas são usados em combate ou como excelentes espiões no corpo de nossos soldados, já que as memórias permanecem no cérebro do morto. Invariavelmente os Vetalas não agem exatamente como as pessoas originais e são obrigados a se alimentar de sangue e carne crua. Devido a extensas pesquisas se confirmou que os Vetalas não são capazes de sobreviver sem sangue. Muitos soldados mortos em batalha são usados para alimentar os soldados Vetalas do inimigo.

- Você já encontrou algum Vetala por acaso? – Perguntou Cristina.

- Sim! – Respondeu o Cadete. – Minha mãe foi transformada em um vampiro Vetala há alguns anos, para se infiltrar em nossas forças e foi descoberta enquanto se alimentava do meu sangue; e da minha irmã.

A resposta do cadete foi seria o suficiente para toda a classe levar a serio. Ninguém mais se sentiu confortável para fazer perguntas.

- Mais nenhuma pergunta?

A sala permaneceu em um silencio fúnebre.

O cadete pegou um pequeno objeto parecido com uma travessa de pudim tecnológica com uma redoma de vidro cheia de um líquido azul e o colocou em cima da mesa.

- Este é um medidor de mana, a energia que exala dos magos. Colocando sua mão direita na redoma o líquido azul ira absorver qualquer quantidade de mana residual no seu corpo e os sensores na tela irão indicar o nível. Os níveis de energia mística são definidos em uma escala baseada no Alfabeto grego que varia de Alfa, o mais baixo até o Omega.

Os olhos de Alixandra não conseguiam sair do aparelhinho que ele carregava, ela mal conseguia respirar, podia sentir o calor vindo de sua mão direita, suava incontrolavelmente. Não queria parecer nervosa, tremia incontrolavelmente.

O cadete parou diante de um aluno e ele colocou a mão no aparelho, nada. Ele passou para o próximo e nada. Eduardo tinha um sorriso jocoso quando colocou a mão na redoma e o líquido azul brilhou como se fosse uma lâmpada, um símbolo apareceu no visor “Alfa”.

A classe toda se assustou, o clima alegre e brincalhão acabou. Alixandra não conseguia respirar quando o cadete olhou para ela, ela podia sentir. Ele sabia que ela era a bruxa.

Ciclo seis

Maria Mercedes era exatamente o contrario de Derek Dietrich, era delicada e tímida, sua voz suave e insegura davam muito conforto para a turma da 2Y. Geralmente não era muito boa em falar com as pessoas, mas aquele dia em particular estava muito bom. Como sempre Belle conduzia toda a turma como se fosse uma simpática rainha. O clima estava descontraído e afável, ela explicou o uso do medidor de mana e todos ficaram ansiosos por usá-lo.

Ela anotava o nome de todos os alunos que tocavam na redoma, as garotas soltavam risinhos e alguns garotos faziam comentários no fundo da sala.

Rosa uma das grandes amigas de Belle colocou a mão na redoma e a luz azul acendeu, todos ficaram nervosos, com um sorriso nervoso e forçado ela perguntou o que aquilo significava.

- O nível Alfa aparece quando a pessoa tem a mínima manifestação possível de energia mística. - Maria delicadamente explicou alegremente. – A maioria das pessoas vai manifestar o nível Alfa por milhões de motivos. Apenas o fato de ficar perto de um Mago lhe daria o nível Alfa. Até mesmo se eu encostasse uma maçaneta na redoma apareceria o nível Alfa.

- Como eletricidade estática? – Perguntou Belle

- Exatamente! – Respondeu Maria com um sorriso contagiante. – Do mesmo jeito que pequenos objetos grudam em uma roupa que acabou de sair da secadora.

Novamente a sala ficou animada, todos agora queriam colocar a mão na redoma pra ver a luz se acendendo. Quando alguém colocava a mão e a luz acendia uma ovação saia de toda a sala como uma grande festa.

Finalmente chegou a vez de Belle. Todos os amigos de Belle conseguiram acender a luz, ela nunca ficaria para trás é claro que acenderia a luz e até muito mais. Belle colocou a mão na redoma e antes mesmo de tocá-la a luz se acendeu. Todos aplaudiram. Ela tocou a mão e o líquido azul começou a soltar bolhas como se estivesse em ebulição. O visor mudou para beta, é claro que ela faria muito melhor, mudou para gama, delta. Belle se sentiu cansada e tirou a mão.

Houve uma tremenda saudação de toda a classe, até mesmo Maria colocou a prancheta debaixo do braço pra aplaudir com o resto da classe. Belle se sentia melhor do que todo mundo.

Ciclo sete

Nome e numero. – Ordenou o cadete Dietrich.

Havia um silencio mortal na sala 3y; muitos alunos suavam; mesmo com o terrível frio que se fazia aquele dia. Eduardo olhava para a redoma como se ela fosse sugá-lo para dentro. A diretora disse o nome e o numero de Eduardo que parecia pronto pra vomitar.

A cada mão colocada, a tensão aumentava. Alixandra sentia o calor da sua mão aumentando, atravessando a roupa, queimando o seu peito. O cadete periodicamente olhava para ela com um olhar de interesse.

Novamente a luz se acendeu. Era Estefani a garota mais inteligente da classe. Ela levantou a mão e perguntou logo após falar seu nome e numero.

- A luz acendeu! – Afirmou o obvio. - O que isso significa?

- Nada! – Respondeu o cadete Dietrich.

Toda a classe levou um susto. Uma ovação de gloria veio da 2y. Ninguém sabia o que significava, mas, a tenção só aumentou. Alixandra sentiu a sua menstruação vindo, suas pernas ficaram moles. Estefani perdeu o interesse em fazer mais perguntas. A cada ovação da classe ao lado a tenção ia aumentando.

Cristina colocou a mão na redoma e o líquido ficou vermelho. Alixandra sentiu o tempo parar. O cadete Derek soltou um suspiro irritado. Outra ovação vinda da 2y aumentando a tenção.

- O que isso quer dizer? - Cristina parecia que ia chorar.

- Que você esta grávida! - Respondeu, e levou o detector de mana para a mesa da diretora, então começou a regulá-lo.

Cristina ficou vermelha como um pimentão e abaixou a cabeça com um sorrisinho. Outra ovação da 2y. Dessa vez toda a classe parecia mais aliviada. Menos por Alixandra. O cadete continuava olhando para ela. Tentava com todas as forças virar seu rosto, fingir que não tinha nada demais, mas não só conseguia desviar o olhar dele para a máquina. Nem percebeu a Sra. Araújo ao seu lado.

- Você esta bem? – Perguntou a diretora.

Alixandra fiou desnorteada por algum momento, desviando seu olhar para o cadete a máquina. A maior ovação possível, veio da 2y, alguns alunos sorriram outros ficaram apreensivos. A diretora ficou perturbada por alguns momentos e com seu tom cordial voltou a falar com Alixandra.

- Você não parece bem querida!

Por alguns instantes Alixandra não sabia o que pensar. - É que veio!

- Agora? – Perguntou compreensiva.

- Preciso ir pra casa. – Disse Alixandra.

A diretora pegou sua mochila e a entregou.

- Cadete! Alixandra precisa ir pra casa.

- Por que? – Perguntou desconfiado enquanto fazia o líquido da redoma voltar a ficar azul.

- Um pequeno problema feminino. Ela não esta passando muito bem.

O cadete olhou para ela de uma forma bem diferente. Não havia mais desconfiança no seu olhar.

- Tudo bem. – Disse o cadete. – Só ponha a mão direita na redoma e pode ir embora.

- Ela esta com a mão direita machucada. – Disse a diretora.

- Não é problema respondeu o cadete.

Um grito se ouviu vindo da 2y e em seguida uma serie de fortes estalos.

- A bruxa! – Gritou Cristina.

Começou um alvoroço por toda a 3y a tenção imediatamente acabou.

- Acalmam-se! – Gritou a diretora.

Dois homens passaram correndo pela porta da sala.

Ninguém mais estava nas carteiras os alunos alvoroçados falavam todos ao mesmo tempo. Um estrondo seguido de uma rachadura na parede. Todos ficaram em silencio assustados.

- Por favor! – Gritou o Cadete. – Todos em fila indiana, para o pátio.

- Eu vou evacuar as outras salas. - A diretora correu para fora da sala.

- Todos! Saiam rápido e em ordem. – Ordenou o cadete.

Uma fila se formou, todos saiam da classe em direção a saída. O cadete ficou em posição barrando o caminho para a sala 2y. Alixandra pegou a sua mala e apressadamente saiu de cabeça baixa. Quando passou pelo cadete ele agarrou seu braço.

- Espere!

Alixandra sentiu que seu coração ia parar. Ela olhou para dentro dos seus olhos azuis e se perdeu dentro da imensidão. Ela sentiu que ia cair e ele a segurou. Sentia-se um pequeno passarinho ferido nas mãos de um gigante.

- Eu vou com você.

Ele era alto e bonito como um artista de cinema. Nunca pensara que existia alguém assim no mundo real. Nunca encontrara uma figura tão imponente. O cadete praticamente a carregava até o pátio. Muitas pessoas olhavam para ela sendo escoltada pelo cadete. Os gritos aumentaram.

- Você esta bem? – Perguntou o cadete.

Alixandra respondeu com um aceno de cabeça.

Para surpresa de todos Belle surgiu gritando. Ela estava sendo segura por dois homens vestidos com roupas bem protegidas como homens bomba usando longos bastões com laços. Eles a seguravam com dificuldade enquanto ela gritava que seu pai era rico e que todos pagariam por aquela humilhação.

Belle que tanta classe demonstrava estrebuchava como um cavalo selvagem, seus cabelos estavam despenteados e sua roupa rasgada. Os homens a seguravam com muita dificuldade como se ela fosse muito mais forte do que os dois juntos. Ela soltou um grito e varias janelas quebraram, muitos alunos começaram a correr pra fora da escola. Uma cadete apareceu chorando com o rosto sangrando e segurando uma arma. Era Maria.

O cadete Dietrich olhou para aquilo e também sacou uma arma de suas roupas. Retirou uma espécie de medalhão com vários cristais cheios de líquido azul e enrolou no pulso. Belle gritava e tentava avançar, mas o medalhão aparentemente lhe causava dor. O cadete puxou o gatilho e um fio saltou da arma para o corpo de Belle que estrebuchou como se estivesse sendo eletrocutada. A cadete também atirou.

Alixandra ficou horrorizada, era muito pior do que imaginava. Belle foi alvejada por alguns minutos, dois homens com armas grandes como metralhadoras entraram pelo portão, tomaram posição e atiraram.

Alguns estudantes aplaudiram, outros pareciam nauseados. A bruxa foi pega alguns diziam. O cadete Dietrich entregou um lenço para a cadete que estava sangrando e chorando.

- Não precisam se preocupar que tudo esta sob controle. – Disse Dietrich. - Ela estava perturbada, mas vai ficar bem.

- Ficar bem? – Comentou uma voz por trás de Alixandra. – Esses caras estão brincando? Seria melhor se tivessem atirado pra matar.

- Eu já vi isso antes! – Comentou outra voz. – O cérebro dela virou pudim. Ela nunca mais vai acordar de novo.

- Pelo menos a bruxa que queimou a parede da escola foi pega.

Belle jazia caída no chão com os olhos vazios e espuma escorrendo pela boca. Os dois homens armados também estenderam varas com laços e os quatro a arrastaram pelo pátio para um camburão parado do lado de fora da escola. Alixandra correu horrorizada.

- Eles pensam que foi ela. – Pensou! – Eles a pegaram no meu lugar. Eu a enfeiticei pra ir no meu lugar. Era eu que devia estar lá e agora Belle nunca mais vai poder contar a verdade.

Nas proximidades de casa cruzou novamente com o cadáver jogado no chão. Ninguém havia retirado ele do lugar.

Ela não conseguia pensar em mais nada.

Continua...